BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

sábado, 1 de novembro de 2014


General Espírito Santo:

Um chefe militar valoroso


João José Brandão Ferreira Oficial Piloto Aviador

Ultimamente uma parte considerável da minha vida é passada entre hospitais e cemitérios. É, indubitavelmente, um ciclo da própria vida…

Porém, nada agradável.

O meu distinto camarada e historiador militar tenente coronel Abílio Lousada, outro bragançano dos quatro costados escreveu um belo texto (que merecia publicação) sobre o general Espírito Santo, falecido no pretérito dia 16 de Outubro, aos 79 anos de idade.

Este texto diz quase tudo sobre este ilustre militar e académico, ficando muito difícil acrescentar algo mais.

Espírito Santo era um português telúrico que ganhou jus a ficar na História do Exército Português e na memória das várias instituições de que fazia parte.

Artilheiro de origem, era um profundo conhecedor da História Militar Portuguesa e o «ADN» do Exército Português estava-lhe entranhado em todas as fibras do seu ser.Artilheiro de origem, era um profundo conhecedor da História Militar Portuguesa e o «ADN» do Exército Português estava-lhe entranhado em todas as fibras do seu ser.

O general Espírito Santo aprendeu muito na «Escola» de dois outros ilustres chefes militares, os generais Bettencourt Rodrigues e Firmino Miguel. Embora estejamos em crer, que mais na do segundo do que na do primeiro.

Foi um militar completo, com experiência de tempo de paz, crise e guerra, passando pela difícil experiência do 25/4 e «PREC», sem mácula que se conheça.

Foi vasta também, a sua experiência de organizações internacionais de defesa, nomeadamente a NATO.

E era conhecido e apreciado pela lhaneza de trato, boa disposição e intimismo que colocava nas relações pessoais.

Era outrossim um homem de família e o desvelo com que se empenhava no acompanhamento do crescimento dos netos, era notório.

A sua folha de serviços justifica por si só (independentemente de eventuais injustiças, ainda pendentes), a atribuição da alta condecoração – a Torre e Espada – sem necessitar de qualquer distinção honorífica por exercício de função (neste caso de CEMGFA).

Nunca afrontou também, publicamente, – na esfera institucional haverá, todavia, muita coisa para se conhecer – qualquer figura política, integrando-se naturalmente naquilo que se denominou de Estado de Direito Democrático.

Por tudo isto se percebe mal, porque os órgãos de soberania – Governo, Assembleia da República e Tribunais – não se fizeram representar no funeral de uma alta figura do Estado, que nunca deixou ficar mal a Nação, a República e as Forças Armadas.

O Presidente da República fez-se representar pelo chefe da Casa Militar e escreveu uma mensagem no sítio da Presidência (infelizmente o PR ainda não entendeu que uma mensagem destas só deve ser colocada no éter informático depois de ser assumida de viva voz…).

Cabe aqui perguntar, a talhe de foice, quais são os critérios que levam a que um cidadão português (sublinho o português, não vá um dia destes, colocarem lá um[2] qualquer cidadão do mundo!) tenha direito a ser sepultado no Panteão Nacional. E se um militar também faz parte dos elegíveis.[1]

E devemos regozijar-nos já que não houve nenhum escriba (enfim, que tivesse topado), ou força política que se tenha atrevido a contestar as honras militares dispensadas, nomeadamente pelos custos das salvas de artilharia, ou pela «violência» que representa mobilizar cidadãos soldados, a um domingo, para irem fazer essa coisa paleontóloga que tem o nome de ordem unida, sem sequer lhes pagarem horas extraordinárias.

Deve referir-se que o Exército esteve à altura dos acontecimentos.[2]

Meu General foi um privilégio tê-lo conhecido e o «João» lembrá-lo-á para sempre.



                                                                Laus Deo.


[1] Sim, eu sei que o General Humberto Delgado está lá mas, convenhamos que não foi por ser militar ou por feitos militares.

[2] Lembramos como «curiosidade» que, nesta acção, o número de praças empenhado, representou cerca de 2% da totalidade das existentes em todo o Exército…





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