BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

sábado, 28 de março de 2015


Comportamentos (militares e civis) insólitos,

num país insólito


João José Brandão Ferreira Oficial Piloto Aviador

«O que não funciona vai
dando para o que não existe.»
Autor desconhecido

A frase expressa na introdução do seu último livro, pelo professor Cavaco Silva, defendendo que o seu substituto na Presidência da República tivesse experiência em política internacional, provocou uma pequena tempestade política num copo de água. Não devem ter mesmo mais nada para fazer.

Vejamos, a afirmação em si, é de uma evidência cristalina e simultaneamente confrangedora, não representando qualquer ideia política original, pensamento profundo sobre qualquer assunto ou decisão que possa influir seja no que for.

É aquilo que em termos científicos se poderia designar por «vulgaris de Lineu» e na gíria castrense, de «generalidades e culatras».

Mas logo vários pelotões de políticos e comentadores vislumbraram na oração presidencial, intenções capciosas sobre os putativos candidatos ao cargo e sei lá que mais maquiavélicos pensamentos. Não há pachorra.

Lembramos que a extraordinária lei eleitoral de que usufruímos, apenas impõe a um eventual candidato que seja português (até ver) e que tenha mais do que 35 anos. Não exige mais nada (nem sequer um registo criminal limpo), a não ser 7 500 assinaturas de pessoas que devem estar assaz preocupadas se os candidatos que apoiam sabem alguma coisa de política externa….

Ofereço uma ideia: optem por ter um rei, que além de ter de saber dessa matéria, tem o problema da sucessão resolvido!...

Um a zero na imbecilização do povo.

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O ministro da Defesa fez um despacho em que delega cerca de 90% (ou será mais?) das suas funções ao alvedrio da sua secretária de Estado.

Porque o fará?

Para que é preciso então, um ministro?

Já se sabia das preocupações que Sua Ex.ª tem com o governo da sua firma de advogados (e eu a julgar que uma coisa seria incompatível com a outra, até em termos de disponibilidade), mas que diabo alguma coisa há-de ter para fazer no edifício do Restelo. Será que necessita do seu precioso tempo para outras actividades, agora que se aproximam épocas eleitorais?

Ou trata-se apenas de passar a assumir publicamente a importância que dão à Defesa – que se resumiu sempre e apenas, às Forças Armadas – e que agora como estas estão a caminho da exaustão, atira-se-lhes com um «para quem é, bacalhau basta»?

Se assim for, porque poupa na austeridade e não desaparece de vez, leva a Dr.ª Berta consigo e designa um director geral com o título de «Presidente da Comissão Liquidatária»?

Não entenderá que é mais honesto e consentâneo?

Dois a zero, na tal imbecilização.

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Um conselheiro de Estado perdeu (depois de ter recorrido para a Relação), um processo que intentou em tribunal contra um cidadão por se sentir difamado por ter intuído que lhe tinham chamado traidor à Pátria, por alguns factos ocorridos no seu passado já longínquo. Continua, porém, conselheiro de Estado, apesar do assunto ser pouco conhecido no país, já que a comunicação social praticamente não fez eco do que se passou.

Felizmente que o julgamento terminou desta forma, senão os cerca de um milhão de compatriotas, mobilizados nas últimas campanhas ultramarinas (o caso tem a ver com este conflito) ficava em maus lençóis por não terem seguido o exemplo em causa. Podendo inferir-se até, que seriam eles os traidores…

Mas não se tendo, por douta sentença, seguido este caminho, ficam as perguntas seguintes: porque é que as autoridades do país, na altura (referimo-nos ao pós 25 de Abril de 1974) consubstanciados na Junta de Salvação Nacional e no Movimento das Forças Armadas, não «arrecadaram» os que se tinham portado como o queixoso para os julgarem sobre o que tinham feito, como se fez, por exemplo, com alguns daqueles que foram na Legião Portuguesa lutar nas hostes napoleónicas, em 1807?

E como se permitiu, depois deste «pecado original», que a pessoa em causa e muitos outros, ocupassem altos cargos em órgãos de soberania?

E como é que se permite que um cidadão nestas condições (mesmo que eventuais crimes já tenham prescrito) se possa candidatar ao mais alto cargo da Nação?

Porque não existe qualquer censura social e quase toda a gente lhe aperta a mão?

Três a zero, a aumentar a imbecilização do povo.

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Quase clandestinamente o parlamento votou a favor da ida de Eusébio da Silva Ferreira para o Panteão Nacional.

A coisa foi feita algo envergonhadamente e quando nada o faria supor.

Pudera, depois do «pai da democracia», cheio de verdete por o «Pantera Negra» nunca ter dito mal do professor Salazar, o mais apropriado que achou por bem dizer, após o passamento do ídolo do futebol, foi tentar achincalhá-lo com um «bebia whisky ao pequeno-almoço», que se poderia esperar?

Lamentavelmente nada de institucional existe para definir quem tem direito a dormir o sono eterno no antigo templo de Santa Engrácia, ficando tudo à mercê das maiorias parlamentares do momento.

Será até curioso, um dia ver o que acontece quando se der um movimento para tirar de lá alguém…

Mas o que gostaríamos de focar nesta crónica é, tão só, uma notícia veiculada nos órgãos de comunicação social, e com origem, ao que se sabe, num deputado do PSD, que comentando a novidade – que alguns órgãos de comunicação social propalaram acriticamente – saiu-se com esta tirada digna de Horácio, Tucídides, quiçá, Virgílio: «Eusébio é o primeiro português que vai para o Panteão e que não nasceu em Portugal»!

Gostaram?

Então nasceu onde, pode-se saber? Lourenço Marques, capital de Moçambique, onde chegámos em 1497, e que fez parte de todas as Constituições portuguesas desde 1822, era território pária? E ninguém esfrega um pano encharcado no «fácies» destes broncos?

Quatro a zero na imbecilização do povo!

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A Escola Secundária «C+S de Cascalhais de Baixo» está com o ar condicionado avariado há um mês. Resultado, manifestação de professores e alunos à frente da escola sendo, amiúde, os portões da dita cuja fechados a corrente e cadeado; cinco minutos de imagens nas televisões (todas à excepção do 2.º canal); os comentaristas espraiam-se em voluptuosa verve; clama-se para que o ministro da pasta respectiva se apresente no parlamento, a fim de ser interpelado (às vezes ele vai) e, não raro, se pede a demissão do chefe do governo; chovem acusações de que o Presidente da República não tem opinião sobre coisa alguma, (aliás, quando ele fala, é o que se sabe…).

Os exemplos podiam multiplicar-se por «ene factorial» (N!).

Em contrapartida, a Força Aérea, a Marinha e o Exército – este último consegue bater os outros dois aos pontos – estão numa situação dramática, com falta de tudo, sem verba para se sustentarem, sem pessoal, com os equipamentos (que restam) quase todos parados e não há uma voz neste país (as das associações militares ouvem-se baixinho), que exale um «ai» de preocupação a começar pelas chefias militares que quando abrem a boca é para exprimirem um ar de «tranquilidade».

Deve ser por ser segredo de Estado, não vá o inimigo dar-se conta!...

No fim do reinado do rei, Senhor D. João V – e não se podia alegar então, haver falta de verba – os sentinelas chegavam a pedir esmola à porta dos quartéis.

Deve ser por isso, que agora, os estão a substituir por empresas de segurança…

N! a zero na imbecilização do povo





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