BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

segunda-feira, 1 de junho de 2015


A destruição da Instituição Militar
está quase concluída...

As barbaridades contra os militares continuam!


João José Brandão Ferreira, Oficial Piloto Aviador



«As únicas nações que têm futuro,
as únicas que se podem chamar históricas,
são aquelas que sentem a importância e o valor
das suas instituições e que, por conseguinte,
lhes dão apreço».

Tolstoi

O Ministro da Defesa, sobre quem qualquer adjectivo de urbanidade passou a ser estultícia, veio anunciar, no dia em que Vasco da Gama chegou ao Tejo, vindo da Índia, que iria desbloquear a promoção de 6 088 militares e que tal implica a despesa de 6,8 milhões de euros.

Diversos órgãos de comunicação social fizeram eco das declarações, pondo enfâse e «entoação», na ideia de que se trata de um tratamento preferencial, que o custo é pesado, deixando subentendidas várias criticas veladas.

Todos se comportam como se estivessem a fazer algum favor à Instituição Militar (à «tropa» como, eufemisticamente, usam apelidar), ou aos seus profissionais que são, desde Afonso Henriques, os primeiros servidores da causa pública.

E o que mais doí é que não há um único general ou chefe militar no activo, que venha a terreiro colocar as coisas como elas são.

Desde há 40 anos que raros foram aqueles que deram o peito às balas e tenham reposto a verdade dos factos e das intenções, e com o seu silêncio permitiram que basbaques da classe política e jornalística desconsiderassem, distorcessem, mentissem, prejudicassem e até humilhassem, não só a eles próprios, como a Instituição que integram e, supostamente comandam.

E já nem falo das ocasiões em que a soberania do País foi beliscada (e tem sido muito) e os mesmos aos costumes disseram nada, fazendo tábua rasa dos juramentos que fizeram.

Este melífluo ministro da defesa (e sua equipa), de falinhas mansas e untuosas, teve o despautério de apresentar uma medida, que deveria ser normal e automática, como sendo uma grande coisa, sem referir que o ora anúncio, que devia ter vergonha de fazer, apenas decorre da escabrosa e injustificada medida que o governo de que faz parte tomou, em 2011, de congelar as promoções nos três Ramos das Forças Armadas e que ia do simples soldado aos generais de três estrelas (e que vinha a ser preparado do governo anterior).

Os únicos que não foram «congelados» foram os de quatro estrelas, os quais poderiam ter entrado para a História se algum deles tivesse tido a coragem e a sageza de afirmar não querer receber a promoção enquanto a normalidade não fosse restabelecida!

Uma medida, aliás, muito mais gravosa do que o malfadado decreto-lei 353/73 (que regulava a passagem dos oficiais milicianos ao quadro permanente), que está na origem do golpe de Estado ocorrido em 25/4/74!

E não se esqueceram de referir o custo quando, do anterior (e o actual despacho n.º 5505-B/2015 reitera, e onde aberrantemente o MDN assina na companhia do secretário de Estado da Administração Pública) se estabeleceu que todas as promoções a haver, não aumentavam a despesa global orçamentada para o pessoal!

É evidente que não devemos culpar apenas o inefável ministro, hífen Branco por mais esta aberração demagógica – a juntar às mais recentes extinção do Fundo de Pensões dos Militares; idem para o Complemento de Pensão de Reforma; a borrada em que continua a Saúde Militar; a destruição e apropriação do IASFA e a promulgação, hoje mesmo, do novo Estatuto dos Militares das FA, pelo PR, facada que culmina (por enquanto) o início da desmontagem da Instituição Militar iniciada no primeiro governo de Cavaco Silva.

As responsabilidades repartem-se pelo Governo (os anteriores também não foram melhores, neste âmbito, mas nunca se chegou tão longe), onde se destacou o Ministério das Finanças que, na sequência do que se fez no consulado do ministro Santos Silva – conhecido na gíria por «hiena trotskista» (Governo Sócrates), numa incrível inspecção que fizeram aos Ramos – e que também não mereceu, na altura, qualquer oposição da hierarquia militar – tem continuado na mesma senda.

Aquilo representou um completo atestado de incompetência (até ao próprio ministro) e uma espécie de usurpação de funções!

E, claro, o primeiro-ministro que é o responsável máximo por toda a política de defesa nacional – se é que tais termos se podem aplicar, actualmente, em Portugal.

Na sua arenga aos «Filhos da Escola» – termo pelo qual os nossos marinheiros gostam de se tratar – no tal dia em que a Armada comemora o seu aniversário, na data maior da sua vetusta História – que levou Toynbee a considera-lo divisória na época pré e pós – gamica – o personagem que o estrago – maior laranja arranjou para tutelar a Defesa, elogiou a Marinha afirmando que «todas ou grande parte das suas missões são missões de serviço público».

Mas então era suposto serem o quê? E aquelas que ficaram de fora («todas ou grande parte»), são o quê?

E saiu-se também com esta tirada: «está a generalizar-se em Portugal a ideia da importância do Mar para Portugal».

Deve ser por isso que não se descobre um canal televisivo que tenha dado sequer uma notícia ou imagem do Dia da Marinha…

É incrível como a memória é tão curta, a desfaçatez tão comprida e a cobardia tão extensa – até a costumam confundir com «prudência», «bom senso» e, até «sentido de estado»…

De facto a natureza humana não muda mesmo.





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