João José Brandão Ferreira Oficial Piloto Aviador
«O que não funciona vai
dando para o que não existe.»
Autor desconhecido
A frase expressa na introdução do seu último
livro, pelo professor Cavaco Silva, defendendo que o seu substituto na
Presidência da República tivesse experiência em política internacional,
provocou uma pequena tempestade política num copo de água. Não devem ter mesmo
mais nada para fazer.
Vejamos, a afirmação em si, é de uma evidência
cristalina e simultaneamente confrangedora, não representando qualquer ideia
política original, pensamento profundo sobre qualquer assunto ou decisão que
possa influir seja no que for.
É aquilo que em termos científicos se poderia
designar por «vulgaris de Lineu» e na gíria castrense, de «generalidades e
culatras».
Mas logo vários pelotões de políticos e
comentadores vislumbraram na oração presidencial, intenções capciosas sobre os
putativos candidatos ao cargo e sei lá que mais maquiavélicos pensamentos. Não
há pachorra.
Lembramos que a extraordinária lei eleitoral de
que usufruímos, apenas impõe a um eventual candidato que seja português (até
ver) e que tenha mais do que 35 anos. Não exige mais nada (nem sequer um
registo criminal limpo), a não ser 7 500 assinaturas de pessoas que devem estar
assaz preocupadas se os candidatos que apoiam sabem alguma coisa de política
externa….
Ofereço uma ideia: optem por ter um rei, que
além de ter de saber dessa matéria, tem o problema da sucessão resolvido!...
Um a zero na imbecilização do povo.
*****
O ministro da Defesa fez um despacho em que
delega cerca de 90% (ou será mais?) das suas funções ao alvedrio da sua secretária
de Estado.
Porque o fará?
Para que é preciso então, um ministro?
Já se sabia das preocupações que Sua Ex.ª tem
com o governo da sua firma de advogados (e eu a julgar que uma coisa seria
incompatível com a outra, até em termos de disponibilidade), mas que diabo
alguma coisa há-de ter para fazer no edifício do Restelo. Será que necessita do
seu precioso tempo para outras actividades, agora que se aproximam épocas
eleitorais?
Ou trata-se apenas de passar a assumir
publicamente a importância que dão à Defesa – que se resumiu sempre e apenas,
às Forças Armadas – e que agora como estas estão a caminho da exaustão,
atira-se-lhes com um «para quem é, bacalhau basta»?
Se assim for, porque poupa na austeridade e não
desaparece de vez, leva a Dr.ª Berta consigo e designa um director geral com o
título de «Presidente da Comissão Liquidatária»?
Não entenderá que é mais honesto e consentâneo?
Dois a zero, na tal imbecilização.
*****
Um conselheiro de Estado perdeu (depois de ter
recorrido para a Relação), um processo que intentou em tribunal contra um
cidadão por se sentir difamado por ter intuído que lhe tinham chamado traidor à
Pátria, por alguns factos ocorridos no seu passado já longínquo. Continua,
porém, conselheiro de Estado, apesar do assunto ser pouco conhecido no país, já
que a comunicação social praticamente não fez eco do que se passou.
Felizmente que o julgamento terminou desta
forma, senão os cerca de um milhão de compatriotas, mobilizados nas últimas
campanhas ultramarinas (o caso tem a ver com este conflito) ficava em maus
lençóis por não terem seguido o exemplo em causa. Podendo inferir-se até, que
seriam eles os traidores…
Mas não se tendo, por douta sentença, seguido
este caminho, ficam as perguntas seguintes: porque é que as autoridades do
país, na altura (referimo-nos ao pós 25 de Abril de 1974) consubstanciados na
Junta de Salvação Nacional e no Movimento das Forças Armadas, não «arrecadaram»
os que se tinham portado como o queixoso para os julgarem sobre o que tinham
feito, como se fez, por exemplo, com alguns daqueles que foram na Legião Portuguesa
lutar nas hostes napoleónicas, em 1807?
E como se permitiu, depois deste «pecado
original», que a pessoa em causa e muitos outros, ocupassem altos cargos em
órgãos de soberania?
E como é que se permite que um cidadão nestas
condições (mesmo que eventuais crimes já tenham prescrito) se possa candidatar
ao mais alto cargo da Nação?
Porque não existe qualquer censura social e
quase toda a gente lhe aperta a mão?
Três a zero, a aumentar a imbecilização do povo.
*****
Quase clandestinamente o parlamento votou a
favor da ida de Eusébio da Silva Ferreira para o Panteão Nacional.
A coisa foi feita algo envergonhadamente e
quando nada o faria supor.
Pudera, depois do «pai da democracia», cheio de
verdete por o «Pantera Negra» nunca ter dito mal do professor Salazar, o mais
apropriado que achou por bem dizer, após o passamento do ídolo do futebol, foi
tentar achincalhá-lo com um «bebia whisky ao pequeno-almoço», que se poderia
esperar?
Lamentavelmente nada de institucional existe
para definir quem tem direito a dormir o sono eterno no antigo templo de Santa
Engrácia, ficando tudo à mercê das maiorias parlamentares do momento.
Será até curioso, um dia ver o que acontece
quando se der um movimento para tirar de lá alguém…
Mas o que gostaríamos de focar nesta crónica é,
tão só, uma notícia veiculada nos órgãos de comunicação social, e com origem,
ao que se sabe, num deputado do PSD, que comentando a novidade – que alguns
órgãos de comunicação social propalaram acriticamente – saiu-se com esta tirada
digna de Horácio, Tucídides, quiçá, Virgílio: «Eusébio é o primeiro português
que vai para o Panteão e que não nasceu em Portugal»!
Gostaram?
Então nasceu onde, pode-se saber? Lourenço
Marques, capital de Moçambique, onde chegámos em 1497, e que fez parte de todas
as Constituições portuguesas desde 1822, era território pária? E ninguém
esfrega um pano encharcado no «fácies» destes broncos?
Quatro a zero na imbecilização do povo!
******
A Escola Secundária «C+S de Cascalhais de Baixo»
está com o ar condicionado avariado há um mês. Resultado, manifestação de
professores e alunos à frente da escola sendo, amiúde, os portões da dita cuja
fechados a corrente e cadeado; cinco minutos de imagens nas televisões (todas à
excepção do 2.º canal); os comentaristas espraiam-se em voluptuosa verve;
clama-se para que o ministro da pasta respectiva se apresente no parlamento, a
fim de ser interpelado (às vezes ele vai) e, não raro, se pede a demissão do
chefe do governo; chovem acusações de que o Presidente da República não tem
opinião sobre coisa alguma, (aliás, quando ele fala, é o que se sabe…).
Os exemplos podiam multiplicar-se por «ene
factorial» (N!).
Em contrapartida, a Força Aérea, a Marinha e o
Exército – este último consegue bater os outros dois aos pontos – estão numa
situação dramática, com falta de tudo, sem verba para se sustentarem, sem
pessoal, com os equipamentos (que restam) quase todos parados e não há uma voz
neste país (as das associações militares ouvem-se baixinho), que exale um «ai»
de preocupação a começar pelas chefias militares que quando abrem a boca é para
exprimirem um ar de «tranquilidade».
Deve ser por ser segredo de Estado, não vá o
inimigo dar-se conta!...
No fim do reinado do rei, Senhor D. João V – e
não se podia alegar então, haver falta de verba – os sentinelas chegavam a
pedir esmola à porta dos quartéis.
Deve ser por isso, que agora, os estão a
substituir por empresas de segurança…
N! a zero na imbecilização do povo
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