Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 26 de Julho de 2015
Não era difícil prever o desastre que é António Costa. Os
primeiros indícios chegaram com o culto da «inteligência» caseira, que se
destaca pela portentosa falta da dita e atabalhoadamente tentou converter um
amorfo funcionário do PS no D. Sebastião de 2014. Os sinais acentuaram-se
durante o combate contra Seguro, raro momento em que, por comparação, este se
assemelhou a um estadista promissor ou, vá lá, a um ser vivo. Chegado à
liderança do partido, o dr. Costa continuou a provar com espantosa frequência
que a inabilidade na gestão de uma autarquia não basta para governar um país.
Não era difícil prever o desastre: difícil era adivinhar a respectiva dimensão.
Comentadores magnânimos atribuem o fiasco a factores
externos, da prisão de Sócrates ao advento do Syriza. Na sua generosidade,
esquecem-se de acrescentar que, sozinha, a brutal inépcia do dr. Costa, que
possui a firmeza da esparguete cozida, transformou cada eventual obstáculo numa
cordilheira inultrapassável.
Sobre Sócrates, o dr. Costa começou tipicamente por
avaliar mal o «sentimento» popular e defender com tremeliques de orgulho as
proezas do preso 44 enquanto primeiro-ministro. Uma bela manhã até desceu a
Évora. Meses depois, numa exibição de objectividade sem precedentes, o dr.
Costa criticou um governo de que ele próprio fez parte e jurou, sem jurar, não
repetir a excursão alentejana.
Sobre o Syriza, o dr. Costa já disse tudo e o seu oposto,
de acordo com o que tomou pelo clima do momento. Qualquer hipotético avanço dos
maluquinhos que fingem mandar na Grécia tinha o dr. Costa, dez minutos
decorridos, a erguê-los ao estatuto de farol da Europa. Em vinte minutos, os
avanços recuavam estrategicamente e a apreciação do dr. Costa também: uma
ocasião, apelidou o Syriza de «tonto». Mas isso foi antes do referendo, em que
o Syriza voltou a ser sublime. E o referendo foi antes do acordo, em que o
glamour do Syriza regressou a níveis da peste bubónica.
Nos intervalos dos Grandes Temas, o dr. Costa
desdobrou-se a opinar acerca de temas minúsculos, naquele português de causar
inveja a Jorge Jesus e sempre no lado errado do discernimento: o «investimento»
público (promete muito), a austeridade (é uma péssima opção), a autonomia dos
autarcas (quer reforçá-la), a «lusofonia» (acha-a linda). Nos intervalos dos
intervalos, passeou o currículo democrático e arranjou uma guerra interna com
as «bases» do PS, que consultaram as sondagens e desataram a questionar a
infalibilidade do chefe. As cambalhotas em volta dos (inacreditáveis)
candidatos presidenciais não ajudaram. Nem os abraços aos socialistas franceses
que, afinal, conspiram para varrer Portugal do euro. Nem nada.
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