BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
Comissão Portuguesa de História Militar
XXIV COLÓQUIO DE
HISTÓRIA MILITAR
NOS 600 ANOS DA CONQUISTA DE CEUTA
PORTUGAL
E A CRIAÇÃO DO PRIMEIRO SISTEMA MUNDIAL
PROGRAMA
17 DE NOVEMBRO
10H30
| SESSÃO SOLENE INAUGURAL
Presidida por sua
Excelência o Ministro da Defesa Nacional
Oradores:
Tenente-General Alexandre de Sousa Pinto
Presidente da Comissão
Portuguesa de História Militar
SExa. o Ministro da Defesa
Nacional (a confirmar)
Entrega
do Prémio Defesa Nacional 2014
11H45 | CONFERÊNCIA DE
ABERTURA
Conferencista
convidado
Arq. João Barros Matos
«Do mar contra a terra.
Mazagão, Ceuta e Diu,
primeiras fortalezas abaluartadas da expansão portuguesa»
primeiras fortalezas abaluartadas da expansão portuguesa»
12H30 – 14H30 | ALMOÇO
14H30 | I SESSÃO
Moderador:
Prof. Doutor Pedro Soares Martinez
Professor Catedrático
Jubilado da Faculdade de Direito
da Universidade de Lisboa
Oradores:
Coronel Prof. Doutor Luís Alves de Fraga
«A estratégia nacional portuguesa na
definição de uma vocação nacional
(1415-1975)»
Tenente-Coronel Mestre Abílio
Lousada
«A reorganização do
aparelho militar português no contexto da conquista de Ceuta
e a transformação dos assuntos da guerra na Europa do século XV»
e a transformação dos assuntos da guerra na Europa do século XV»
Coronel David
Manuel de Matos Martelo
«Os velhos do Restelo»
18 DE NOVEMBRO
10H30 | II SESSÃO
Moderador:
General António
Eduardo Q. Martins Barrento
Ex-Chefe do Estado-Maior do
Exército
Membro efectivo do Conselho
Científico da Comissão Portuguesa de História Militar
Oradores:
Prof. Doutor João
Gouveia Monteiro
«Luzes e sombras na
operação militar da tomada de Ceuta, em 1415»
Dr. Vitor
Viana Pinto
«Espionagem e transmissão
de informação inteligente no Portugal da primeira metade
do século XV – Ceuta um ‘estudo de caso’»
do século XV – Ceuta um ‘estudo de caso’»
Mestre António
Carlos Martins Costa
«A renovação dos estudos de história
militar portuguesa do século XV»
13H00 - 14H30 | ALMOÇO
14H30 | III SESSÃO
Moderador:
Prof. Doutor Luís
Aires Barros
Presidente da Academia das
Ciências de Lisboa e Sociedade de Geografia de Lisboa
Oradores:
Mestre D. Elise Cardoso
«A logística militar à
época da conquista de Ceuta»
Mestre Roger
Lee de Jesus
«Abastecer a Guerra noutro
Oceano: o Armazém das Armas de Goa em 1545-1546»
Coronel José
Paulo Ribeiro Berger
«A Importância dos modelos
no planeamento das operações militares – Conquista de Ceuta»
Tenente-Coronel Mestre João
José Brandão Ferreira
«Ceuta: o início da escola de geopolítica portuguesa»
«Ceuta: o início da escola de geopolítica portuguesa»
19 DE NOVEMBRO
10H30 | IV SESSÃO
Moderador:
Tenente-General António
de Jesus Bispo
Membro efectivo do Conselho
Científico da Comissão Portuguesa de História Militar
Oradores:
Prof. Doutor Augusto
Moutinho Borges
«Construtores da muralha de Ceuta: S.
João de Deus quotidiano, tempo e espaço»
Dr. Jaime
Regalado
«O Armamento de Fogo no
Início da Expansão: O Estado da Arte em Portugal»
Mestre D. Inês
Meira Araújo
«Um retrato das forças
portuguesas em Marrocos: guerra e armamento (século XV)»
13H00 – 14H30
| ALMOÇO
14H30 | V SESSÃO
Moderador:
Prof. Doutora D. Manuela
Mendonça
Presidente da Academia
Portuguesa da História
Oradores:
Coronel Manuel
Fernando Ribeiro da Silva
«D. Pedro de Meneses – 1.º Capitão de Ceuta»
Mestre Nuno
Simão Ferreira
«A missão militar chefiada
pelo Brigadeiro Vasco de Carvalho a Ceuta, no ano de 1942»
Coronel Prof. Doutor Rui
Carita
«A
conquista de Ceuta e a génese da Expansão Europeia da época Moderna.
Ceuta
e os capitães da ilha da Madeira»
20 DE NOVEMBRO
10H30
| VI SESSÃO
Moderador:
Almirante Nuno
Vieira Matias
Presidente da Academia de
Marinha
Oradores:
Dra. D. Maria
de Jesus Pessanha Caimoto Duarte
«A tomada de Ceuta. Avis uma dinastia
messiânica?»
Mestre António
Pedro da Costa Mesquita de Brito
«O combate na prática e na
teoria – As 'artes da guerra' renascentistas»
CMG José
António Rodrigues Pereira
«De Ceuta para o Atlântico.
As viagens de descobrimento
sob a direcção do Infante D. Henrique»
sob a direcção do Infante D. Henrique»
13H00 | SESSÃO DE
ENCERRAMENTO
Orador:
Tenente-General Alexandre
de Sousa Pinto
«Nuno Álvares Pereira e a
conquista de Ceuta»
Comissão Portuguesa de
História Militar
Palácio da Independência –
Largo de S. Domingos, 11 –
1150-320 Lisboa
Telm. 964779799 | E-mail: cphistoriamilitar@defesa.pt | www.cphm.pt
O principado de Zouheir
Helena Matos,
Observador, 15 de Novembro de 2015
Combater o terrorismo
pressupõe o tempo longo dos pactos e a resiliência que nasce das convicções.
Ora nós vivemos o esboroamento do centro e trocámos as convicções pelas
indignações.
Não, não me apetece pela quinquagésima vez o «somos
todos» qualquer coisa, mais o facebook às riscas e a Marianne a chorar. Já
sabemos como vai ser não é? Lembram-se do Charlie Hebdo? Éramos todos tão
livres, não éramos? Pois éramos. E claro que não se pode ter medo, que a França
é a pátria da Liberdade, que mesmo ferida se vai levantar… Pois, mas em Julho
deste ano, meio ano após os atentados, o editor do Charlie Hebdo anunciou que
aquele jornal não voltaria a publicar desenhos satíricos de Maomé. Ficámos
um bocadinho menos «charlies» não foi? E o bom Charlie vai fazendo as suas
caricaturas com os bispos do costume e até entreviu no nosso governo de
esquerda uma espécie de vitória sobre o nosso passado colonial, não foi? Pois
é, com um bocadinho de esforço quase que se pode dizer que o Charlie continua
na mesma. Afinal, cada um acredita não no que quer mas sobretudo no que
precisa. Há quem goste de acreditar que continua novo apesar das rugas. Nós
precisamos de acreditar que continuamos livres.
Portanto, agora que a onda está aí de novo, mais as
flores, as velas e o Imagine, prefiro fazer de conta que não engulo em seco
diante das imagens daquela gente outra vez pendurada numa janela para não
morrer (lembram-se do 11 de Setembro?) e daquele rapaz arrastando um corpo pelo
meio da rua (uma rua de Paris!), para me poupar à irritação daquele momento que
não tarda em que cairemos no processo da voz passiva que nos leva do óbvio –
terroristas matam – ao grotesco das pessoas que «acabaram por falecer» na
sequência de actos alegadamente praticados por terroristas. Actos esses pressurosamente
transformados em respostas às políticas do Ocidente. Do Ocidente que quer o
petróleo. Do Ocidente que intervém. Do Ocidente que não intervém. Do Ocidente
que desenhou as fronteiras. Do Ocidente que fez as cruzadas… enfim uma espiral
retroactiva em que as culpas nunca se expiam antes se exponenciam. (No nosso
portuguesíssimo caso junta-se a tudo isto, segundo Ana Gomes, a demora de
Cavaco Silva em indigitar António Costa. Mas não creio que, para já, a
comunidade internacional se sinta capacitada para ponderar essa tese).
Há algo de grotesco nesta forma de ver o mundo em
que o outro – aquele que por uma qualquer razão nos odeia ou ataca – é sempre o
elemento neutro. Ele por ele nada faz. Os seus actos são sempre o resultado de
algo que nós, os nossos pais, os nossos avós e os nossos antepassados fizeram,
pelo menos até àquele polémico momento em que o Neandertal se terá cruzado no
planeta Terra com o Sapiens sapiens. Dir-se-á que isto é pateta. Pois é. Mas o
problema das visões patetas é que o seu simplismo constitui-se como argumento
eficaz na justificação do injustificável: com os terroristas reduzidos à
condição de consequência dos nossos actos, a responsabilidade pelo terrorismo
deixa de ser dos terroristas pois é transferida para aqueles que o sofrem.
Não é por acaso que após os atentados terroristas
vivemos uma sensação de desconcerto, como se não fosse justo nem lógico
fazerem-nos aquilo. Na verdade para nós não é. Mas só para nós. Do ponto de
vista do terrorista não só tudo aquilo faz sentido como é lógico: são actos
tácticos de uma estratégia com objectivos próprios.
O terrorista não é uma marionete puxada pelos fios
dos actos presentes e passados dos outros. Muito menos é alguém que buscando os
mesmos objectivos de justiça dos não terroristas apenas se enganou no caminho.
O terrorista existe independentemente de nós.
Recordo como este exercício de ver o terrorista
como um resultado e não como um sujeito dotado de vontade própria era
particularmente penoso no caso dos atentados da ETA, em Espanha. Primeiro a ETA
matava por causa de Franco. Depois veio a Transição a ETA passou a matar ainda
mais (é exactamente durante a Transição que a ETA é mais mortífera: 84 mortos
em 1979 e 93 em 1980) mas tal, dizia-se, explicava-se pelo combate à herança do
franquismo presente no aparelho de Estado. A Espanha tornou-se democrática e a
ETA continuava a matar militares, polícias, políticos e empresários mas isso
devia-se à ligação dos militares ao passado, dos polícias à repressão, daqueles
políticos à direita e dos empresários ao dinheiro. A ETA continuava a matar.
Politicamente as balas entravam em nucas de direita e de esquerda. Mas havia
sempre uma culpa da sociedade espanhola para explicar mais uma bomba e mais uma
bala: eram os presos da ETA que não podiam estar todos juntos na mesma prisão;
era o tribunal que os condenava; era o artigo no jornal que os tinha ofendido;
o empresário que não pagava o imposto revolucionário… E quando não se percebia
que ligação haveria entre a vítima e os seus verdugos aventava-se que a vítima podia
ser um informador. Ou um narcotraficante, porque a ETA queria o País Basco
livre de drogas.
A par dos atentados, a ETA desdobrava-se em várias
organizações legalíssimas e activíssimas no combate à violência (das
autoridades policiais, claro) e de promoção dos direitos humanos, (dos
terroristas obviamente). Advogados, professores universitários e jornalistas
desdobravam-se, em Espanha e fora dela, em concentrações e conferências de
denúncia destes graves atentados à democracia. Ainda por aí andam folhetos em
que ilustres participantes portugueses se propunham mediar entre a ETA e o
intransigente Estado espanhol.
Até que a 10 de Julho de 1997 a ETA sequestrou
Miguel Ángel Blanco, um vereador do PP em Ermua, e deu dois dias ao Governo,
então presidido por Aznar, para reagrupar os presos da organização
(independentista e não terrorista, segundo boa parte dos órgãos de
comunicação). A 13 de Julho o cadáver de Miguel Ángel Blanco era descoberto e
nasceu o chamado Espírito de Ermua em que para lá do PSOE e do PP terem
estabelecido uma espécie de pacto de regime no combate ao terrorismo a
sociedade espanhola deixou de procurar as culpas das vítimas em cada atentado.
Resultado: a ETA foi derrotada. Mas só a ETA,
porque o discurso do terrorismo, enquanto resposta automática e não como
estratégia de vontade própria, esse apenas mudou os protagonistas do seu
enquadramento.
Agora que os mortos se contam na França de Hollande
e não na América, para mais de Bush, resta-nos pelo menos a esperança de que
esta diferença geo-política nos poupará ao destravamento delirante das teorias
da conspiração mas não será suficiente para nos livrar do momento em que os
atentados deixam de ser atentados para se tornarem mediaticamente falando na
resposta os que fizemos, fazemos ou pensamos vir a fazer.
Quer isto dizer que não
acredito nas promessas de união para combater o terrorismo, promessas
reiteradas dramaticamente nestes dias? Na verdade não acredito que este seja o
momento Ermua da Europa. E não acredito por duas razões. Em primeiro lugar
porque combater o terrorismo islâmico implica não apenas, como no caso da ETA,
cooperação internacional – alguém ainda se lembra dos «santuários» da ETA em
França e de como eles acabaram? – mas coordenação internacional. Mais difícil
ainda de conseguir, e aqui chego à segunda razão, ou melhor dizendo ao segundo
conjunto de razões: combater o terrorismo islâmico pressupõe intervenções
militares e policiais que só se fazem com o tempo longo dos pactos e a
resiliência que nasce das convicções.
Ora nós vivemos o esboroamento do centro e trocámos
as convicções pelas indignações: às primeiras imagens de uma operação mal
sucedida e aos primeiros homens caídos, político europeu algum fora do Reino
Unido resiste às «manifestações pela paz», até porque logo os seus rivais
usarão esse apelo como argumento eleitoral.
Politica e mediaticamente
falando (o que é quase a mesma coisa), a Europa e em parte os EUA alienaram o
incómodo estatuto da soberania pelo simpático (mas mortífero) conceito de
principado. Ou seja, os seus cidadãos sonham ser ricos, cultos e livres e
acreditam e sobretudo querem acreditar que podem manter a sua segurança e a sua
dignidade através da distribuição das suas sobras e estabelecendo alianças com
outros para que estes primeiro combatam por si e depois para que não a ataquem
(qualquer comparação com a Roma da decadência não é casual).
Por isso, se me pedirem um símbolo destes dias eu
não escolho a Torre Eiffel, nem as flores, nem as velas mas sim um rosto que
não vimos. O de Zouheir. Quem é Zouheir? O segurança que impediu a entrada
de um dos terroristas no estádio onde decorria o França-Alemanha. Esperar-se-ia
que o rosto deste homem que evitou a catástrofe implícita ao rebentamento das
bombas dentro do estádio estivesse na capa dos jornais. Afinal foi um dos
heróis dessa sexta-feira. Pois foi e por isso tem medo. Medo que se vinguem
nele ou na sua família por ter feito o que devia fazer.
sábado, 14 de novembro de 2015
Begonha: «especialista em terrorismo»?
Luís Lemos
O general Rodolfo Begonha, dito «especialista em
terrorismo», foi um dos comentadores da SIC na noite dos ataques terroristas de
Paris.
Na linha politicamente correcta, diz o
«especialista em terrorismo» que não se trata do islão mas de um certo islão.
Este general, pelos vistos, além de ser
«especialista em terrorismo», é especialista em islamismo.
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
O suicídio português
João José Brandão Ferreira, Oficial Piloto Aviador
Portugal está a suicidar-se por quatro ordens de razões:
Pela demografia; pela emigração; pela imigração e pelo desleixo, incompetência e ignorância política.
O que se passa com a demografia é verdadeiramente suicidário. Com a população residente estabilizada, nos últimos 25 anos, entre os 10 e 10,5 milhões de habitantes, o País está a envelhecer paulatina mas consistentemente, devido ao aumento da esperança de vida da população e, em simultâneo, com a diminuição da taxa de natalidade e do índice de fecundidade das mulheres.[1]
Tal vem ocorrendo desde 1960, mas com um agravamento acentuado a partir dos anos 80/90, do século passado.
Dados de 2014 revelam que a taxa de fecundidade geral (filhos por 1 000 mulheres em idade fértil) foi de 34,3 – contra 95.7, em 1960 (46.5, em 1990); o número de filhos por 1 000 habitantes foi de 7.9 – contra 24.1, em 1960 (11.7, em 1990) e o índice de fecundidade, que é de 1,23 – contra 3.2, em 1960 (1,57, em 1990).
Este último índice é muito preocupante pois a renovação das gerações exige no mínimo, o valor de 2,1 filhos por mulher. Esta taxa é a mais baixa de toda a Europa.
Uma situação muito difícil de reverter.
Cada vez se tem filhos mais tarde (o 1.º filho é hoje concebido em média aos 30 anos de idade) e tudo isto tendo em conta que a taxa de mortalidade é muito baixa – 3,5 óbitos por mil nados vivos, um excelente resultado – o que, infelizmente é contrabalançada com o elevado número de crianças mortas em acidentes vários, cujas causas não vamos analisar.
As razões que se apontam para este descalabro são apenas as económicas.
Ora isto é uma mentira miserável (enfim, mais uma).
Estas razões são apenas uma parte pequena da equação.
Se assim não fosse, desde Afonso Henriques que não havia filhos…
As razões prendem-se com um conjunto complexo de factores que têm a ver com a evolução da sociedade, que quase ninguém quer assumir pois são politicamente incorrectos e quadram mal com muitos espíritos e a opinião publicada.
Têm a ver, sobretudo, com o facto de as mulheres terem começado a trabalhar massivamente, fora de casa; com a generalização dos métodos contraceptivos não naturais; a luta pela emancipação feminina (seja isso lá o que isso for); o hedonismo; a liberalização dos costumes; a promoção do aborto e da homossexualidade; o ataque à família tradicional e ao cristianismo, etc…
Até o desenvolvimento da Segurança Social, por estranho que possa parecer, contribuiu aparentemente, para a quebra demográfica no Ocidente já que, antigamente, a segurança social eram os filhos…
Não quer dizer que muito do caminho que se percorreu não tenha sido positivo, tão pouco que, muito do ocorrido, possa ser considerado escandaloso, anormal ou fruto de má intenção – embora tenha havido bastos atentados à Moral, aos bons costumes, cedência a experiências sociais duvidosas, a modismos ideológicos e escamoteamento do Direito Natural.
Mas cada medalha tem o seu reverso e como diz o povo, não se pode ter sol na eira e chuva no nabal, em simultâneo…
Sobretudo os poderes constituídos e as grandes instituições da sociedade e do Estado, devem pensar em cada momento, nas consequências futuras das decisões, das modas e das novas ideias.
Isto não tem nada a ver com conservantismo retrógrado, mas apenas com bom senso. E também com coragem para alertar e actuar, atempadamente.
Por tudo isto os problemas da demografia são complexos, têm muitas vertentes e tocam muitos campos. E têm uma péssima relação com o tempo…
Os órgãos de soberania portugueses parece, finalmente, terem acordado para o problema, mas olham para esta magna questão de uma maneira ínvia: por um lado quase só alegam a sustentabilidade da Segurança Social; e por outro desculpam-se com aquele facto para defenderem a imigração!
É preciso ser-se mesmo muito mau político!
O problema da demografia negativa e do envelhecimento da população – um país ainda é definido por um território, uma população e um Estado – é muitíssimo agravado pela emigração e a imigração.
*****
A emigração é um fenómeno recorrente em Portugal, com maior expressão em tempos de crise, seja ela política, social, económica ou financeira, sobretudo a partir da independência do Brasil, em 1822.
Até então, e desde 1415, a sangria da população resultava das necessidades dos «descobrimentos e conquistas», e povoamento e defesa das novas terras que se foram integrando na Coroa portuguesa.
Sem embargo de não se poder considerar a ida para o Ultramar como «emigração», dado que todas as parcelas do «além-mar» eram território nacional.
A partir do «Grito do Ipiranga» brasileiro, começou a verificar-se correntes de imigração para aquele país, para os EUA e ainda, com menor expressão, para meia dúzia de outros países.
Voltou a haver picos de emigração nos primeiros 30 anos do século XX e em meados dos anos 60, da mesma centúria.
Porém, actualmente, os nacionais que abandonam o País, são já em quantidade superior ao pico do ocorrido nos anos 60, quando se apontava a principal causa ser o regime «fascista» e a «guerra colonial». Outras despudoradas mentiras.
Ora o actual fluxo é por demais preocupante, sobretudo se considerarmos que a maior percentagem dos que agora se ausentam, é jovem e qualificada. E a maior parte deles se puder, não volta.
Eis alguns números: Em 1960 emigraram 32 138 nacionais, tendo o pico dos anos sessenta ocorrido, em 1966, com 120 239; o número caiu para 66 360, em 1970 e 25 207, em 1980. Na década de 2000, manteve-se uma média de 25 000, para em 2011 saltar para 100 978 e sempre a subir até 2014, onde se registaram 134 624 saídas!
Um outro índice a reter é o de emigrantes por mil habitantes: em 1960 eram 3.6; em 1970, 7.6; em 1980, 2.6; em 2000, 2.1; em 2011, 9.6 e, em 2014 atingiu os 12.9!
*****
A imigração piora as coisas e só não piora mais porque os seus números não são demasiado expressivos (uma «brincadeira» se comparado com o que se passa além-Pirenéus), e porque grande parte deles serem ainda de matriz portuguesa – caso dos oriundos dos ex-territórios ultramarinos.
O outro factor resulta dos portugueses serem possivelmente, o povo menos racista à face da terra. Eis alguns números:
Em 1960 havia 20 514 residentes estrangeiros e, em 1970 24 703; em 1980 duplicou
para 50 750, duplicando novamente, em 1990, para 107 767; o mesmo se verificou na década seguinte, 207 587, em 2000; idem para 2010, com 443 708, tendo a partir daí (tem a ver com a crise e a falta de emprego) decrescido, atingindo a cifra de 390 114, em 2014.
Em 1980 a percentagem de residentes estrangeiros relativamente à população portuguesa era de 0.5%; em 1990 subiu para 1.1%; em 2000 já era 2.0%, para atingir o pico de 4.3%, em 2009, e descendo para 3.8%, em 2014.
O maior contingente vem do Brasil, Cabo Verde, Ucrânia, Angola, Guiné, S. Tomé, Roménia, China e Reino Unido.
Outro aspecto, para que apenas chamo a atenção, tem sido a atribuição da nacionalidade portuguesa, cujos requisitos reputo de demasiado «liberais», bem como a emissão de vistos de permanência e estatuto de asilo.[2]
Como exemplo, em 2004, foi atribuída a nacionalidade portuguesa a 1 413 estrangeiros dos mais de 11 000 que a solicitaram. Mas o seu número subiu em flecha, pois em 2011, já 89 642 estrangeiros a obtiveram, e 84 250, no ano seguinte (apenas foram recusados 2 248 e 2 396, respectivamente). Ou seja cada vez há mais «portugueses» apenas de nome…[3]
Ora todos estes cenários juntos são fogo, pois não só levam à diminuição e desequilíbrio demográfico acentuado, com os problemas sociais inerentes; à destruturação e desaparecimento da família tradicional e à acelerada dissolução da matriz cultural portuguesa.
No nosso caso está ainda a contribuir para a desertificação de todo o interior do Continente, com a concentração da grande maioria da população numa faixa de 50 Km que vai de Braga a Setúbal.
No Algarve a população estrangeira radicada, poderá até, ultrapassar a curto prazo a portuguesa…
Toda esta situação, que pode ficar dramática de um dia para o outro, é agravada pela crise financeira, económica e social, que a falta de tino político, desregramento moral e inadequação/falhas, do Regime/Sistema Político, em vigor.
Ora em cima de tudo isto, apostar numa política de acolhimento «liberal» e desregrada de multidões de migrantes que estão a invadir literalmente a Europa, é de uma irresponsabilidade e insanidade mental, arrepiante.
*****
Por último e mais grave de tudo – pois está na origem de quase todos os nossos males – temos um grande desleixo, ignorância e incompetência política, patenteado por este regime republicano, semi-presidencialista, baseado num documento escrito e aprovado sobre coacção «revolucionária» – um papiro extenso, a que chamaram de «Constituição», eivada de erros, desacertos, utopismos e tornada anti-democrática, pelo menos por um artigo que obriga a que a sua revisão seja sempre na forma republicana do Estado –, dominado pela partidocracia omnipresente, cujas ideologias e modo de actuação têm sido desajustadas e muito negativas para o País.
E, como pano de fundo, uma grande falta de amor a Portugal, à sua História e à matriz cultural e fundacional do povo português.
O «desleixo» é pois, e sobretudo, com o nosso país e sobre a imperiosa afirmação e defesa do seu objectivo nacional, permanente e histórico, primordial: garantir a sua independência em ambas as suas formas cruciais: a individualidade e a identidade. E uma não se sustém sem a outra.
Esta é a questão sacramental que temos que colocar até assentarmos que ela não faz mais sentido: nós queremos continuar a ter individualidade e identidade própria – e arrostar com os sacrifícios que tal possa implicar – como Nação dos Portugueses, ou não?
Os membros dos órgãos de soberania que há muito elegemos e que deixaram, faz décadas, de terem, aparentemente, preocupações de Patriotismo, Geopolítica e de Geoestratégia, se não servem para equacionar e tentar resolver estas questões, ou o fazem, sistematicamente de modo errado, então não servem para nada.
As eleições onde, sistematicamente, metade do eleitorado não participa, apenas concorrem, então, para legitimar um equívoco.
É nisso que estamos.
[1] Dados «PORDATA».
[2] A situação talvez mais escandalosa, por indecorosa, prende-se com a naturalização de jogadores de futebol, para eles poderem jogar na seleção nacional…
[3] Últimos números obtidos na notícia da Lusa, de 25/02/2013.
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