João
José Brandão Ferreira, oficial piloto aviador, 14 de Outubro de
2017
12/10/17 (dia da
chegada de Cristóvão Colon às «Índias»)
«A ingenuidade é
o humilde parasita da ignorância»
Ortega y Gasset
Agora
que passaram as eleições autárquicas e o Orçamento para 2018 está quase pronto,
é possível que já reste tempo e querer para o governo – sobretudo ao seu
ministro entre todos o primeiro, pois é ele o responsável ante todos, pela
política de Defesa Nacional (se é que alguma) – verter um pouco da sua atenção
sobre o estado para – caótico em que se encontram as Forças Armadas (FA) em
geral e o Exército, em particular.
Como a
resolução dos problemas deve começar por cima deve apontar-se para o MDN, o Dr.
Azeredo Lopes, cuja prestação tem sido singularmente desastrosa e está debaixo
de fogo de tudo e todos, há basto tempo.
Sem
embargo, e como pano de fundo, é necessário dizer isto: nós não temos, nem
tivemos, nenhum ministro da Defesa, pois esta não existe como um todo. A Defesa
Nacional está reduzida às FA e por isso nós apenas temos um ministro das, ou
para, as FA!
Em
segundo lugar a classe política em geral, tem demonstrado, com invulgar fulgor,
pouco perceber de Defesa Nacional e de FA, e acha que aquela, e estas, não têm
razão de existir desde que regressámos do Ultramar; consideram não haver
ameaças (e se houver a NATO defende-nos, ah, ah, ah e a UE também, um ah, ah,
ah, ainda maior) e que os militares são uns seres esquisitos, chatos,
quadrados, que gostam de brincar às guerras e custam dinheiro que faz falta
noutros âmbitos. Como se tem visto.
Finalmente
os Partidos Políticos que são organizações inqualificáveis e que já levaram,
grosso modo, o País por quatro vezes à beira da tragédia nos últimos 180 anos –
e, tomem nota, hão-de levar uma quinta vez – não têm ninguém que saiba o mínimo
de Defesa Nacional e sobre a Instituição Militar tão pouco, que queira
prestar-se ao sacrifício, que julgam não estar à altura das suas ambições.[1]
Por
isso é que existe sempre uma grande dificuldade em escolher uma figura para a
função que é, aliás, tida como a maior das maçadas.
Em
tempos o cargo de MDN ainda era visto como trampolim para o de MNE, ou outro
voo qualquer. E, até ao Dr. António Vitorino, ainda engalanavam o título de MDN
com o ministro de Estado ou vice-primeiro ministro. Mas isso foi chão que deu
uvas e, de qualquer modo, agora a coisa está bloqueada.
E como
quiseram e querem, arredar os militares de quaisquer funções que não estejam
estritamente ligadas ao «quartel», nunca lhes passou pela cabeça colocar um
militar em tal função governativa (e raramente noutra).[2]
Diga-se
em abono da verdade que não seria fácil encontrar um militar com «jeito» para a
função e não levantasse logo anticorpos aqui e ali, nomeadamente no seio dos
oficiais generais e entre Ramos.
Relembra-se
que o MDN, não existe, mas apenas o ministro para a tropa (isto é, para a
controlar, reduzir e asfixiar).
Só o professor
Salazar conseguiria nomear e aguentar um militar na função, durante 20 anos
tendo ele sido promovido, no lugar, de capitão a coronel…
Mas
tendo em atenção que a situação agora está a ficar assaz de má; não se
vislumbra ninguém no PS que possa ir para o lugar, a não ser o eterno
candidato, Dr. Miranda Calha (conhecido por «pisca-pisca»), que as sucessivas
lideranças partidárias têm rejeitado, vá-se lá saber porquê; o actual secretário
de Estado Perestrello ainda não saber se consegue levantar a nota ou não, desde
a sua última prestação e o rebento do defunto Dr. Soares, apesar de ostentar
uma recruta de três meses, em Mafra, ter perdido hipóteses desde que começou a
ameaçar galhetas no «cara-livro» (em inglês «facebook»); o PCP não se querer
meter neste «bagaço» (chiça!), e a Joana Amaral Dias, que teria todo o gosto,
imagina-se, em passar revista às tropas grávida e nua, já não pertencer ao
Bloco Canhoto, a coisa não está fácil.
Mas,
tendo em conta a reconhecida esperteza saloia colorida a maquiavelismo, do
optimista Dr. António Costa, vamos atrever-nos a especular sobre se não estará
na base da sua mente de estiloso oportunista, querer empurrar um militar para a
fogueira do granel em que estamos metidos e assim aliviar encargos à sua
querida coligação gerigoncial.
Não me
parece haver falta de putativas vítimas.
A
opção, a dar-se, teria que ser por razões óbvias, num oficial na situação de
reforma. Mas também não ponho as mãos no fogo por isso…
Não se
vislumbrando ainda um familiar ou amigalhaço do peito (é normalmente por aí que
a escolha começa) vai ter que se fazer um giro no horizonte para lobrigar quem
possa estar em condições de aceitar o cargo.
A
primeira escolha que ocorre é a do director do IDN, major-general Viana. Já
está há algum tempo afastado das lides militares, tem feito um trabalho seguro,
discreto e politicamente neutro, dentro do Instituto e já teve tempo de
adquirir uma visão global das coisas.
Tem o
óbice de só ter duas estrelas, mas isso para políticos que nem sabem distinguir
os postos, é de somenos importância, e as sequelas da sua ultrapassagem na
promoção já estarão esbatidas.
Segue-se
um eventual adjunto militar do primeiro-ministro que tenha caído no goto de
algum proeminente político, neste caso do PS, mas tal não parece ter hipóteses
de acontecer pois, por norma, os PM ignoram olimpicamente tais personagens.
Haveria
um, que por acaso é do meu curso, que tem boas capacidades para o cargo mas
teve o azar de lhe calhar o «Agente Técnico» Sócrates, na rifa, pelo que pode
apanhar por tabela. Além disso é por demais inteligente, para se ir envolver em
tais andanças.
A
maior parte dos ex-chefes militares, ou outros generais e almirantes, pelo que
julgo saber, se fossem convidados para um cargo destes nem se dignariam
responder e alguns teriam até movimentações anormais no cólon e inversões de
fluxo no piloro…
Há
porém, um ainda recentemente criado grupo, cujo acrónimo é GREI (Grupo de
Reflexão Estratégica Independente), constituído apenas por oficiais generais,
onde um eventual «recrutamento» pode ainda ser tentado. Passe a propaganda.
É
preciso dizer que este grupo de cidadãos militares que enquanto no activo
tiveram um estatuto cívico de «capitio diminuto», agravado pelo desprezo
político e falta de defesa institucional, tem toda a legitimidade em existir e
nada obstar à sua respeitabilidade. E qualquer intervenção cívica neste âmbito,
feita com competência e boa intenção, só há que louvar.
O
próprio general Ramalho Eanes teceu loas, publicamente, aquando do aparecimento
do GREI, numa curta intervenção, «muito à sua moda».
Acontece,
porém, que alguns dos seus mais proeminentes membros vieram apoiar pública e
explicitamente um dos candidatos à Presidência da República, nas últimas
eleições, precisamente aquele que, não sendo o candidato do PS, foi quem este
apoiou realmente, e que saiu perdedor na contenda, o professor Sampaio da Nóvoa
– por acaso meu colega no Liceu Nacional de Oeiras (digam lá se este liceu não
andava muito à frente?!).
Ora
isto introduziu alterações de monta no posicionamento do grupo, apesar de ter
havido o cuidado de esclarecer (embora a opinião pública não o saiba), que tais
apoios seriam a nível individual e não a nível de grupo.
A
direcção do mesmo teve o cuidado até de, recentemente ter pedido uma audiência
ao actual Presidente da República, a fim de lhe oferecer um livro sobre as suas
actividades, com a respeitabilidade que o prefácio do professor Adriano Moreira
lhe confere.
Porém,
a possibilidade de escolha existe (para MDN), e dadas as circunstâncias as
pessoas que melhor se posicionam para tal eventualidade são (a ordem é
arbitrária) os generais Pinto Ramalho, major-general Sequeira (que já foi
Secretário-Geral do MDN e de seguida convidado para administrador da EPUL, tido
como próximo do actual PM) e almirante Melo Gomes.[3]
O general
Luís Araújo que, apesar de não pertencer ao grupo, esteve aparentemente, com um
pé dentro e outro fora, no apoio ao candidato derrotado, não nos parece estar
para se sujeitar a tal encargo, já que terá a sua ambição de defender a Pátria,
saciada e está a desfrutar da confortável situação como administrador delegado
do Estado (não executivo), nas OGMA, recebendo por sessão de «trabalho» um
confortável pecúlio típico destas funções. E que nunca ninguém sabe como e em
que termos, é definido.
Além
disso passou a ser representante da NAV, para o que se está a preparar
relativamente à utilização da Base Aérea do Montijo, como complemento da
Portela.
O tenente
general Mourato Nunes (também do GREI), que foi Comandante – Geral da GNR,
cujas ambições várias são conhecidas, também é outro personagem sobre que o
radar dos actuais políticos pode fazer «lock on», tendo o Governo de Sócrates
chegado a inventar um cargo feito à medida para ele aquando da sua passagem à
reserva.[4]
Respirem
fundo que o texto é apenas um exercício de ficção.
(Continua)
[1] Para não haver dúvidas queremos
deixar expresso que o período considerado começa em 1820 (antes dessa data
nunca se falou em Partidos Políticos); passa por três guerras civis: liberais
versus legitimistas, Maria da Fonte e Patuleia; A Regeneração, com o seu «Rotativismo»
que desembocou na queda da Monarquia; a I República que acabou ao fim de 16
anos de desgraça; a situação pós revolução dos cravos que vai sobrevivendo à
dívida galopante (e já vai em três pré bancarrotas) e à geométrica perda de
soberania, lambendo as feridas, para já, do resgate da «Troika».
[2] É preciso dizer que após o 25/4/74 houve dois
militares que foram ministros da defesa, os generais Firmino Miguel e Loureiro
dos Santos, mas foram-no em Governos Provisórios, após a euforia da «revolução».
[3] EPUL – Empresa Pública de Urbanização de Lisboa,
extinta em Dezembro de 2012.
[4] Tinha o incrível nome de (não se riam) «Secretário-Geral
para a Cooperação entre os povos de Língua Portuguesa, em matéria de Segurança
Pública, no âmbito do Ministério da Administração Interna». O Ministro era
então o Dr. A. Costa. Durou entre 2008 e 2010. Foi posteriormente Presidente do
Instituto Geográfico Português, tendo apresentado o seu pedido de exoneração,
antecipando a extinção do cargo ao tempo de Assunção Cristas como ministra, da
Agricultura, do Mar, etc.