João José Brandão Ferreira, oficial piloto aviador, 14 de Outubro de 2017
12/10/17 (Dia da chegada de Cristóvão Colon às
Índias)
«A ingenuidade é o humilde parasita da ignorância»
Ortega y Gasset
Mas que o Dr. Costa tem
que pôr ordem no beco, rapidamente, tem (mas não vai pôr, é claro).
Olhe o Exército está de
rastos, há mais de quatro meses e, na prática, apenas tem um general e anda
tudo zangado. Ninguém se entende sobre as promoções (há ainda pendente o caso
do major-general Vasconcelos, que está emprateleirado no EMGFA); o seu «4.º secretário»
das finanças nunca mais se resolve a dar autorização para que alguém seja
promovido (uma situação escabrosíssima para as Forças Armadas (FA), mas com a
qual todos os generais e almirantes têm convivido felizes da vida – por
muitíssimo menos se fez o 25/4, que deu nisto); o caso das mortes dos Comandos
arrasta-se; a questão de Tancos – que está para lá de qualquer congeminação –
não tem fim à vista e, aparentemente, ninguém sabe o que se passou; para já não
falar nos anteriores assaltos às arrecadações de material de guerra dos
Comandos, dos Fuzileiros e da PSP.
O Exército está tão
desgraçado – e isto pesa-me pois eu até sendo da Força Aérea, fui formado na
Academia Militar – que já nem consegue comemorar o Dia da Infantaria e o seu
Patrono, o Condestável e Santo D. Nuno Álvares Pereira.
De facto, após mais uma
decisão assaz infeliz sobre a reforma das Escolas Práticas das Armas e Serviços
– uma asneirada infrática de que só o Exército se pode queixar – o Dia da
Infantaria era comemorado como de tradição e estava certo, a 14 de Agosto e em
Mafra, onde estava instalada a casa mãe da Arma, desde 1887.
Acontece que com o fim
dessa Escola Prática há cerca de três anos, passaram as comemorações para o
Campo de S. Jorge, onde se deu a inolvidável batalha.
A cerimónia foi um
fiasco.
No ano seguinte foi
cancelada, alegando-se que a maior parte do pessoal militar estava envolvido
nos incêndios, e passada para o dia do Regimento de Infantaria de Beja…
Este ano alegou-se o
mesmo, mas passou-se a cerimónia para o dia 4 de Outubro, em Aveiro,
Aniversário do Regimento de Infantaria 10, lá (ainda) aquartelado!
Acontece que, por
coincidência, fazia parte desta cerimónia a passagem de testemunho (um bastão)
entre o general mais antigo, oriundo de Infantaria, designado «Director
Honorário da Arma de Infantaria» e o seu sucessor.
Esta cerimónia que é uma
tradição firmada e grada, na hoste que defendeu a Nação desde 1128, é
antecedida de um jantar de confraternização e despedida, do cessante.
Este ano o jantar estava
marcado para a véspera, como é habitual, pelo actual vice-chefe tenente general
Serafino (o único general que resta no activo) que iria receber o «bastão» das
mãos do CEME, depois de recebido do director cessante, tenente general Menezes.
Acontece que este último
general foi um dos que se demitiu recentemente em choque com o actual e algo
moribundo general CEME.
Ora este, uns dias antes
do evento marcou uma reunião do Comando do Exército justamente para o mesmo
dia, não se esquecendo de informar que a mesma não tinha hora para terminar.
Ou seja inviabilizou na
prática, o jantar. Em face disto, vários oficiais cancelaram a sua participação
nas comemorações do dia seguinte.
Isto é mau demais para
ser verdade. E vamos a ver e, afinal, é!
Parece, outrossim, ser
de uma evidência cristalina que os dias festivos devem ser comemorados nesses
precisos dias e não noutros!
Seguiu-se a mesma cena
relativamente ao Dia da Engenharia Militar, adiada do seu verdadeiro dia (13/7)
por na altura o comandante estar «exonerado temporariamente» e o ambiente ser
de cortar à faca…
A cerimónia teve lugar a
13/10, mas as ausências gradas da família do «Barrote ao Alto» foram mais que
muitas.
Nada, porém, que afecte
deslumbrados que vivem em estado de negação…
E vamos ficar por aqui.
Na Marinha continua em
curso o apaziguamento após a saída do ex-CEMA, almirante Macieira Fragoso, há
poucos dias brindado com a pequena prebenda de presidente não executivo dos
Estaleiros da Naval Rocha (do grupo Empordef).
Mas existe um problema
derivado da saída extemporânea do vice-almirante Pires da Cunha, do EMGFA e que
passava à reserva em Janeiro. Para o seu lugar seguiu o tenente general Almeida
da Força Aérea.
Dadas as estritas regras
e completa ausência de «almofadas» administrativas e de autoridade na
administração de pessoal por parte dos Chefes de Estado-Maior – reduzidos na
prática a «ajudantes» (finalmente a «célebre» frase de Cavaco Silva sobre os secretários
de Estado fez carreira), o senhor almirante boia à tona de água. Vamos a ver
para onde a corrente o leva.
Porque é que as coisas
se passam assim? Mistério.
A Força Aérea está sem comandante
de Pessoal e sem comandante da Logística, pois as promoções tardam – uma situação
deveras caricata e insustentável, mas como pelos vistos não há sindicatos que
defendam a instituição e os generais e almirantes ainda não ameaçaram fazer
greve como os juízes, nem fazem dos militares gato, sapato.[1]
Uma palavra em defesa da
Instituição e da inocência presuntiva dos militares presos preventivamente há
demasiado tempo, até serem condenados, por causa do problema das eventuais
falcatruas nas messes, também seria apreciada.
Enfim este último caso,
como outros, levanta o magno tema do fim dos tribunais militares e do foro
próprio militar, pecado original terrível e que não mereceu da hierarquia de
então, qualquer repúdio, nem levantou qualquer prurido, até hoje, às chefias
que se seguiram.
Um desastre!
Finalmente e como prova
do maior desprezo, e inaudita desfaçatez, o Governo – depois de andar a brincar
e enganar tudo e todos com um orçamento esquálido para sustentar o ridículo
dispositivo e sistema de forças existente – depois de aprovar os «numerus
clausus» para os cursos de oficiais e sargentos dos três Ramos, e cadetes das
Escolas Superiores Militares, e já depois dos concursos feitos e pessoal
admitido, veio reduzir há poucos dias, estes mesmos números, deixando os Ramos
ainda mais desprovidos de pessoal, que já está abaixo de todos os mínimos há
muito, e criando problemas pessoais a dezenas de cidadãos que vêm as suas vidas
profissionais serem destruídas ou adiadas.
Uma situação
inadmissível que só encontra explicação no miserável rateio que andam a fazer
com o Orçamento de Estado a fim de contentarem os partidos defensores de
ideologias criminosas e desgraçadas!
Estava a esquecer-me do
CEMGFA, general Pina Monteiro. Naturalmente porque desapareceu em combate;
combate que deve estar a ser sério, pois recordo-me de o ter ouvido queixar-se
de um murro que levou no baixo-ventre.
Já agora, e para
terminar, Sr. PM e Sr. MDN e, também, Senhor PR, os aviões da Força Aérea (FA)
não existem para transportar a selecção portuguesa de futebol, ou outra, para
Andorra ou seja para onde for. Os aviões da Força Aérea servem para ir, por
exemplo, salvar os jogadores ou outros portugueses, caso eles estejam em
perigo.
Vejam se percebem a
diferença.
Como podem observar os
leitores há por aqui soma considerável de assuntos por onde reflectir. A
começar por esta crónica que não devia ter razão de existir.
E não faltam
instituições e organizações espalhadas pelo País onde se estudam e reflectem
estas e muitas outras coisas.
Convinha é que quem
agora reflecte tivesse tido e querido, o ensejo de o fazer quando ainda estavam
no activo da sua vida profissional.[2]
E mais do que reflectir,
importa agir. Haver gente que decida.
Os Governos sustentados
nos Partidos, ou os Partidos sustentados pelos Governos, são por norma relapsos
a qualquer reflexão e ideias que venham de fora do ovo da serpente que os gera
e mantém, visando a manutenção do Poder, o que não tem nada a ver com o governo
da cidade, mas sim com o acesso a negócios de muito dúbia idoneidade.
Como os sucessivos
escândalos judiciais têm demonstrado à saciedade.
A Instituição Militar
anda perdida (embora nem todos se percam) no meio disto tudo.
Finis Pátria.
[1] Já agora também
convém referir que os polícias – que têm neste momento (a situação é dinâmica)
16 sindicatos (!), sendo um de civis – teimam em desfilar e confrontar os seus «colegas»
de serviço, quando não provocam desacatos, numa cadência estudada. Uma
organização destas só tem um destino – apesar de não serem eles os principais
responsáveis – é ser extinta na hora, e nascer no dia seguinte com outro tudo.
[2] Farão os leitores o
favor de decidir o que entenderem melhor como corolário: «agora é tarde e Inês
está morta», ou «vale mais tarde do que nunca»…
Sem comentários:
Enviar um comentário