João J. Brandão Ferreira Oficial Piloto Aviador
«Devo
à Providência a
Graça de ser pobre.»
A. O. Salazar[2]
Nós, os humanos, aprendemos pouco e tarde.
E quando sabemos algo que se aproveite, morremos.
Esta é uma das chaves para se entender o sempre presente conflito de gerações e para perceber a importância de preservar a Informação, o Conhecimento e o Saber (três coisas distintas), nos centros de Saber tradicionais: a Universidade, a Igreja, a Magistratura, a Diplomacia e a Instituição Militar.
No fundo conseguir ampliar, ordenar e arquivar toda a sabedoria que os avós passavam aos netos desde que a organização social não ia além dos clãs e tribos nómadas.
Uma das coisas que julgo ter aprendido foi que, entre a natureza humana – que não muda na sua essência ao longo dos séculos, por mais que isso possa doer ao Rousseau e seus discípulos – existe uma matriz que, grosso modo, funciona assim:
Dez por cento das pessoas porta-se sempre bem; outros dez por cento, portam-se sempre mal e os restantes oitenta por cento, portam-se bem ou mal, conforme. Conforme as referências em vigor e conforme o «pau e a cenoura» existentes (portas-te bem comes cenoura, caso contrário, levas com o pau…).
Dito de outro modo: muitas das pessoas só não se porta mal se forem devidamente educadas, forem dissuadidas e, ou, não tiverem oportunidade para isso![3]
Lembremos o que disse o cronista depois da morte do agora Santo, Nuno Álvares Pereira: «Foi em seu tempo claro espelho de honestos costumes»; e dele dizia amiúde o próprio Rei D. João I, «Que os bons costumes que havia em Portugal que o Condestável os pusera todos».
Numa palavra, é necessário – e é uma luta de sempre – organizar a sociedade no sentido do Bem e no castigo do Mal. Para isso é preciso que haja boas referências (foi esse o maior legado de Cristo na Terra) ensiná-las e pô-las em prática.
A «prática» é corrigida e mantida por um adequado sistema de Justiça e uma activa consciência cívica que leve a uma aprovação ou censura social, saudável.
Toda esta arenga serve para dizer que aquilo que entendemos pela «crise» actual tem uma hierarquia de causas e a primeira é, justamente, moral, depois política e só a seguir vem a financeira as quais originam, em consequência, um desastre económico e social.
Ora como a evidência da crise só ganha foros mediáticos com o que se passa no campo das finanças e a maioria das pessoas só se indigna quando lhes vão ao bolso (e, mesmo assim, poucos agem), as verdadeiras causas morais que influenciam a política e a sociedade, tendem a ser ignoradas e, até, tidas por incorrectas.
Daqui resulta atacarem-se os efeitos em vez das causas dos problemas. Ou seja, estes nunca se resolvem…
De facto o fulcro dos problemas no mundo Ocidental, sobretudo após a queda do muro de Berlim, nada tem a ver com ideologias políticas – todas elas, aliás, já experimentadas e gastas, num caminho já feito pela humanidade de que só resultaram guerras e desgraças; direito internacional – de que a ONU é apenas um arremedo sombrio; organização do comércio mundial – cujo principal organismo, a OMC, aparenta estar ao serviço dos tubarões da finança; enfim, com justiça relativa ou a procura da paz – os dois termos mais invocados em vão, desde a invenção da escrita!
O que se tem passado tem a ver quase exclusivamente com a avidez e ganância humanas que leva ao mau uso que se faz do dinheiro.
Neste particular, o dinheiro – essa extraordinária invenção que como todas as invenções podem ser bem ou mal utilizadas – serve para acumular riqueza, comprar bens (e consciências), etc., podendo tornar-se num dos mais maquiavélicos instrumentos do Poder.
O dinheiro cuja origem e história é ignorada por 99,9% da população – algo que estranhamente não se ensina quase a ninguém – passou a ser o alfa e o ómega de tudo. «Hélas», o Deus Mamon!
O que faz bem jus ao aforismo latino de que «nenhuma cidade cercada resiste a um burro carregado de ouro»…
Na actualidade assiste-se a um verdadeiro conúbio e promiscuidade entre políticos e banqueiros, escritórios sonantes de advogados e lugares rendosos (quer públicos quer privados), que sequestraram o poder político através de uma teia de leis e compromissos que blindou o «sistema», visando a sua perpetuação em circuito fechado.
E como se defende mentirosamente, que tudo se passa segundo as regras «democráticas», eis que tudo passa a legal e legítimo. Uma verdadeira armadilha.
Na prática, porém, nada do que se passa visa o bem comum nem o governo da cidade. Visa o lucro desmedido, usura, controlo político – logo social e económico – e baseia-se na falta de escrúpulos, corrupção e muitas fraudes e outros ilícitos criminais.
Tudo envolto em secretismo e em «organizações» de que apenas se fala à boca pequena.
O poder político fica deste modo cativo e refém de interesses inconfessáveis e a Nação perfeitamente desprotegida e «escravizada».
Como medida cautelar, não vá o diabo tecê-las, apaga-se e eliminam-se as Forças Armadas da face do País.
Como lapidarmente escreveu o professor Pedro S. Martinez em artigo recente, «Quando os governantes são de mãos limpas, também os banqueiros têm dificuldade em sujar as deles».
A teia que levou a este estado de coisas começou a ser tecida no mundo há mais de 200 anos, embora em Portugal só tenha sido implementada a partir dos anos 80 do século passado.[4]
Neste momento estamos completamente enredadas nela (a teia) e apesar da grande «débacle» só ter estalado a partir de 2008, ainda agora a procissão vai no adro.
E não iremos sair da crise senão pelos factores morais: pela instituição de valores e princípios que não sejam relativos nem relativizados, que imponham a supremacia do espírito sobre a matéria e tragam para a política pessoas integras – de preferência que não queiram ser ricas e tenham a coragem (rara) de agradecer à Providência a graça de ser pobres.
Políticos – cuja primeira qualidade a exigir, é que sejam patriotas – que consigam elaborar uma constituição simples, se ela for mesmo necessária – já repararam que a melhor constituição alguma vez escrita, são os 10 Mandamentos da Lei de Deus? – com poucos artigos, despida de ideologia e onde os deveres estejam à frente dos direitos e onde estes derivem do cumprimento daqueles.
E onde um modelo jurídico, que dela decorra, permita meter em prisões adequadas (não hotéis de três estrelas), os muitos «Madoff» que por aí pululam, de modo a fazer do sermão do bom ladrão, do eterno padre António Vieira, um resquício do passado: «Não são ladrões apenas os que cortam as bolsas. Os ladrões que mais merecem este título são aqueles a quem os Reis encomendam os exércitos e as legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais, pela manha ou pela força, roubam e despojam os povos.
Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam correndo risco, estes furtam sem temor nem perigo.
Os outros, se furtam, são enforcados; mas estes furtam e enforcam.»
Deixo à consideração dos leitores se será possível fazer tudo isto, democraticamente.
Isto é, se conseguimos convencer a maioria dos 80% da população a querer comportar-se dessa maneira.
[1] Ou a eterna luta entre o Bem e o Mal…
[2] «O meu depoimento», discurso proferido a 7 de Janeiro de 1949.
[3] Lembro o ditado: «A ocasião faz o ladrão».
[4] Sem embargo do que se passou a partir das invasões francesas e suas consequências, que quase destruíram o país e a que só a reforma financeira de 1928, começou a por cobro. Com êxito.
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