José Milhazes
Até aqui, alguns (entre eles eu) consideravam ter
sido um erro o alargamento da Aliança Atlântica ao Leste da Europa. Hoje há
muitos motivos para pensar que foi o melhor que esses países fizeram.
A guerra da Ucrânia e o papel de Moscovo nela
levam-nos a tirar pelo menos duas conclusões: os países do Leste da Europa
tiveram uma decisão sábia ao aderirem à NATO e Kiev cometeu um erro ao entregar
as armas nucleares à Rússia em 1994.
Até aqui, alguns (entre eles eu) consideravam ter
sido um erro o alargamento da Aliança Atlântica ao Leste da Europa, pois
pensavam não haver razões para recear o ressurgimento do imperialismo russo e
soviético. Depois da queda da União Soviética, a Rússia estava numa situação
económica, política e social tão degradada, que o mais sensato era esperar que
os seus dirigentes se concentrassem na recuperação do seu país.
Mas tal não aconteceu. No lugar de modernizar as
infraestruturas do país, utilizando os preços altos dos combustíveis nos
mercados internacionais, Vladimir Putin, nos já mais de 15 anos em que se
encontra no poder, apenas se pode «gabar» de ter um regime tanto ou mais
corrupto do que o do seu antecessor, Boris Ieltsin, e ter organizado bem os
Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi.
O Kremlin não se cansa de falar da «amizade
russo-chinesa», mas não lhe faria mal estudar as causas do milagre económico no
país vizinho e aprender algo com ele.
Enveredou pela via tradicional, indo ao encontro
dos mais baixos instintos de uma parte significativa da sociedade russa, que confunde
o significado dos verbos «respeitar» e «ter medo». Quando os actuais dirigentes
exigem que se respeite a Rússia, querem dizer que se deve ter medo dela. «Nós
vamos mostrar-lhes…», soa o coro dos «patriotas».
Por isso, não há nada de extraordinário no facto de
os antigos países do «campo socialista» se terem apressado a aderir à NATO.
Segundo alguns analistas, o único erro da NATO foi não ter aberto as portas à
Geórgia, Moldávia e Ucrânia.
Quanto à entrega das armas nucleares pela Ucrânia,
Bielorrússia e o Cazaquistão à Rússia, se eles não tivessem feito isso, hoje
Moscovo não teria a política que tem em relação a esses países. No caso da
Ucrânia, as coisas teriam corrido de outra maneira. No que diz respeito ao
Cazaquistão, a actual política externa do Kremlin faz tremer o actual dirigente
cazaque, Nussultan Nazarbaiev. E até o Presidente bielorrusso, Alexandre
Lukachenko, faz forte equilibrismo para se manter no poder.
Quanto aos que afirmam que a NATO está a cercar a
Rússia com bases militares, a querer sufocar (tal como a anaconda na
geopolítica clássica) o maior país do mundo, apenas os convidaria a olhar para
o mapa e a pensar como será possível conseguir isso, tendo em conta, por
exemplo, que a Rússia tem um dos maiores arsenais nucleares do mundo, mísseis
balísticos intercontinentais, etc., etc.
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