Jaime Nogueira Pinto,
Sol, 27 de Outubro de 2015
A ideia de «unidade das esquerdas» num país como
Portugal, onde o leque político-partidário com representação parlamentar vai do
centro-direita à extrema-esquerda, pode e deve causar perplexidade.
O regime saído do golpe de Estado militar de 1974 e
do PREC que se lhe seguiu, exorcizou, denegriu e proibiu as direitas e a
Direita, inventando até, para isso, um preceito contra «organizações
fascistas». Assim, sem formações políticas nem quadros partidários e sob uma
pressão constante de diabolização, a direita viu as suas ideias rotuladas como
impróprias para consumo por pessoas honradas e de bom coração. E o «povo da
direita» teve que se arranjar com o que havia.
Como o centro e as esquerdas também competiam entre
si, os eleitores de direita foram votando «útil», oscilando, conforme o tempo e
as circunstâncias, entre o PS, o PSD e o CDS. E até deram vitórias a coligações
ou partidos do centro-direita: à primeira AD em 1979, à primeira maioria
cavaquista nos anos 80 e ao PSD e CDS em 2011.
A ambiguidade dos partidos do «arco da governação»
quanto a matérias ideológicas tem sido a regra. O PS, ora foi socialista, ora
meteu o socialismo na gaveta, ora namora ao centro, ora à esquerda. Na ânsia de
não serem acusados de «salazarismo» ou de «fascismo» pela DGCI (Direcção-Geral
da Correcção Ideológica), os dirigentes políticos da não-esquerda também foram
banindo toda e qualquer referência aos valores de orientação permanente que
identificam a direita política. Deus, a nação, a família, o trabalho, a
justiça, parecem ter sido abandonados e trocados pelo liberalismo e pelo
europeísmo radicais.
Com a «direita» neste vazio defensivo e as
esquerdas a multiplicarem-se em proclamações e variantes ideológicas – até
«patrióticas» –, todos vão procurando cautelosamente disfarçar as suas ligações
históricas.
Ninguém associará as animadas e simpáticas
coordenadoras do BE às figuras sinistras de Trotsky e da Quarta Internacional;
muito menos o rosto bem português e de bom português do secretário-geral do PCP
lembrará a tradição ortodoxa do Partido Comunista, a União Soviética, José
Estaline e o gulag. Só o MRPP, ao sanear o mal-sucedido timoneiro (que não
cedendo à nova vaga continuou a pedir morte aos traidores), lembrou os métodos
de alguma esquerda radical que agora quer passar por libertária.
De resto, as frentes populares foram curtas e
correram mal ou muito mal, com os parceiros pensando sempre na melhor forma de
se livrarem da muleta da esquerda ou da direita. Os socialistas alemães de
Weimar foram os que foram mais longe, quando se aliaram aos corpos francos para
liquidarem os spartakistas; na Rússia, os bolcheviques foram acabando com
todas as outras esquerdas e as frentes populares de 1936, a espanhola e a
francesa, também acabaram por se desfazer.
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