Luis Dufaur
Ladislav Kasuka redigia a sua
costumeira diatribe stalinista contra o Ocidente num site checo
quando começou a receber mensagens oferecendo-lhe dinheiro para organizar
protestos de rua. A primeira mensagem, recheada de bajulações pelo seu
trabalho, chegou em russo, enviada por alguém que ele desconhecia. De início, a
oferta foi de 300 euros. Era para Kasuka, um esquerdista sem um tostão, comprar
bandeiras e cartazes para uma manifestação pública contra a OTAN e o governo
pró-ocidental da Ucrânia.
Em seguida, ofereceram-lhe mais 500
euros para comprar uma videocâmara e publicar os seus vídeos na Internet.
Kasuka ficou perplexo, mas foi aceitando. Pouco depois estava enleado numa
estranha trama que funcionava nas redes sociais teledirigida pela Rússia. O seu
caso foi apenas um entre muitos na Europa Oriental e Central, resultantes de
uma campanha de influência frenética, por vezes grosseira, financiada por
Moscovo e dirigida por Alexander Usovsky, agitador nacionalista russo, sicário
ideológico numa batalha para ganhar almas e mentes nos fios da Internet.
![]() |
Ladislav Kasuka |
O seu objectivo é recrutar activistas estrangeiros e irrigá-los com dinheiro fornecido por «oligarcas» e agentes do Estado putiniano. Usovsky «é um bom caso de estudo sobre os métodos russos», disse Daniel Milo, ex-funcionário do Ministério do Interior eslovaco, especialista em extremismo da Globsec, grupo de investigação de Bratislava. «Ele é uma pequena engrenagem de uma grande indústria. E poderia haver dúzias como ele», opinou Milo.
Usovsky montou uma rede de sites em
várias línguas e criou uma fundação falsa, cuja fachada era promover a cultura.
Apresentou orçamento de milhares de euros a Malofeev para promover candidatos
pró-russos nas eleições polonesas, mas não conseguiu fazer vencer um só.
Identificou contudo sócios na Europa Oriental e Central dispostos a receber a
sua ajuda. Ampliou na Internet as vozes radicais, fez com que pequenas
passeatas parecessem muito maiores do que eram.
Trabalhou com os media russos
para garantir que «os seus» colaboradores estrangeiros recebessem ampla
cobertura nos órgãos moscovitas. Por isso Kasuka, o stalinista checo, aparece
habitualmente nos media russos como conceituado comentarista
de geopolítica e de assuntos checos. Chegou a dizer por meio da Russia
Today que os EUA poderiam lançar uma bomba atómica sobre a Ucrânia e
culpar a Rússia para assim provocar uma guerra.
«É uma loucura total», comentou
Roman Maca, analista sediado em Praga. «O Canal Um russo
apresentou como notícia séria um protesto de 10 pessoas que na sua maioria
seriam candidatas ao internamento num hospital psiquiátrico». Usovsky
acabou por cair em desgraça, mas foi atrás de outros doadores com planos
detalhados para montar uma «quinta coluna pró-russa», canalizando dinheiro para
políticos anti-OTAN e a anti-UE.
Por sua vez, Kasuka desanimou das arruaças e agora concentra-se no estudo da filosofia marxista, dos «logros» de Stalin e da miséria causada pela exploração capitalista. Talvez esteja lendo a «Laudato Si».
Por sua vez, Kasuka desanimou das arruaças e agora concentra-se no estudo da filosofia marxista, dos «logros» de Stalin e da miséria causada pela exploração capitalista. Talvez esteja lendo a «Laudato Si».
Sem comentários:
Enviar um comentário