BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

quarta-feira, 29 de maio de 2013

O Centenário de Álvaro Cunhal

João J. Brandão Ferreira


Vou ser breve.

    Com um espetáculo bem montado correm as comemorações sobre o centenário de um cidadão nascido em Portugal, a quem foi dado o nome de baptismo de Álvaro Barreirinhas Cunhal (AC).

    O moço cresceu varonil e foi revelando um conjunto de qualidades difíceis de reunir numa mesma pessoa: inteligência, coragem e determinação, invulgares; sensibilidade artística aliada a uma inegável força psíquica interior; rara intuição, cultura e coerência política; frieza de raciocínio e calculismo na organização e planeamento; ascetismo, discrição e exemplo nas atitudes, etc.

    Testemunhos dados à estampa levam-nos a pensar, até, que o personagem tinha espírito de humor, gostava de petiscos e era um pai, irmão e companheiro, extremoso.

    Este, em traços gerais, o retrato que nos aparece do homem, se bem que ele nos tivesse sempre induzido a pensar que não pertencia ao género humano.

    Este homem, porém, cresceu e desenvolveu-se embebedando-se (como diria Pessoa) de leituras e convicções marxistas, fixando-se a sua matriz política final, na mais depurada ortodoxia comunista.

    Afirmando-se ateu foi, afinal, um crente. Substituiu, apenas, o dogma católico de sua mãe, pelo dogma do Marxismo-Leninismo. Em vez de Deus serviu o Diabo – na eterna luta entre o Bem e o Mal…

    Nele, Álvaro, o ideal comunista – uma doutrina profundamente errada por economicamente incompetente, socialmente redutora, inexequível por anti -natural e de implantação tirânica e sanguinária – plasmou-se como uma verdade absoluta, irredutível, terminal.

    Uma ciência infalível, mítica, criadora de um “homem novo”, em que os fins justificavam todos os meios.

    Nessa voragem apocalíptica se empenhou até ao fim, sem tergiversar, mesmo depois de Gorbatchev e a queda do muro de Berlim, ter deixado o Comunismo órfão e definitivamente desacreditado. Numa coerência, que muitos sublinham como atributo admirável, esquecendo-se de acrescentar que foi uma coerência no erro!

    E uma coerência de Anjo caído, maligna.

    Não sendo suficiente ter o erro como objectivo e a perfídia como meio, fazia parte da essência da ideologia torna-la extensiva a todos os povos da terra, assim como o imperialismo napoleónico quis transportar a “luz” da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” – antepassado remoto do novo “sol na terra” – na ponta das baionetas, a fim de libertar os povos dos seus “tiranos”.

    Os portugueses sabem bem o que isso foi, pois ficaram com a terra retalhada e cerca de 10% dos seus, trucidados no processo. Alguns descendentes jacobinos ainda hoje lhes tecem loas…

    O “quartel – general” das forças “vermelhas” da “foice e martelo, em punho”, que passaram a querer impor o modelo ao planeta, situava-se no centro geopolítico do antigo Ducado da Moscóvia – num antigo edifício conhecido por Kremlin – a quem todas as forças espalhadas pelo mundo passaram a reportar e a obedecer.

    O mesmo se passou com o PCP, desde a sua fundação, em 1921, atingindo especial fulgor e empenho, justamente, durante a direcção de AC.

    Nisto se consubstanciou a primeira traição do “Comité Central”, à Nação que queriam governar.

    Por outras palavras, o PCP nunca se pôde considerar um partido português e serviu sempre de correia de transmissão de uma potência estrangeira, inimiga de Portugal: a URSS.

    Não ficou por aqui a traição do PCP – o termo é este, e o crime que configura sempre fez parte (e ainda faz) do Código Penal Português – pois quando os territórios ultramarinos portugueses começaram a ser atacados desde os anos 50 pelo capitalismo apátrida e pelo Comunismo (então ampliado pelo “Terceiro-Mundismo”) o dito Partido, que tem o supremo despautério de se dizer “patriota”, colocou-se ao lado destes últimos e dos movimentos subversivos que nos emboscavam as tropas, promovendo, ainda, a subversão na retaguarda - incluindo a violenta - que era a Metrópole.

    E assim se mantiveram até ao golpe de estado de 25/4/1974, quando ajudaram a atirar o poder para a rua; ao abastardamento das FA e à criminosa “Descolonização”, atitude que fez averbar à URSS, a sua maior vitória, no último pico da Guerra – Fria.

    Por tudo isto as cerimónias do nascimento de AC deveriam ter lugar em Moscovo - numa praça esconsa por, entretanto, o povo russo se ter livrado dos “slogans” do “comunismo científico”, do “materialismo dialético” e do “internacionalismo proletário”, que custaram à Humanidade centenas de milhões de mortos e sofrimentos inomináveis, apenas comparáveis ao flagelo das hordas de Tamerlão!

    Por isso ter cartazes no Liceu Camões, em Lisboa (por ex.), onde se pode ler que AC foi “um grande lutador pela Liberdade, Democracia e Socialismo” é apenas um exemplo despudorado de como “com papas e bolos se enganam os tolos”…

    AC era comunista, não socialista; “liberdade” na boca de um comunista é impropério e “democracia” é apenas fachada de uma parede falsa (eles até dizem que é “de vidro”). Pode, até, ser considerado ofensivo para quem milite em semelhante ideologia…

    E ver o brilhozinho nos olhos da Judite de Sousa, no programa da TVI, que incensou o personagem é perfeitamente patético e delirante. Deviam enviá-la à Coreia do Norte fazer reportagens, sem se esquecer de levar uns euros - da larga soma com que a ressarciam para fazer destas “reportagens” – a fim de poder distribuir uns óbolos, com que os famintos de lá, pudessem sorver umas malgas de arroz.

    Afinal comunismo é isso: distribuir por igual os ganhos obtidos…

    Que a maioria da população, com especial destaque para as camadas mais instruídas, forças políticas e órgãos de comunicação social, assistam a tudo isto com uma passividade bovina é que é verdadeiramente preocupante.

    Não conseguir reagir às mais grosseiras mentiras – “uma mentira repetida mil vezes, torna-se uma verdade”, é uma das receitas mais afamadas do cardápio leninista – como é o caso da exploração do infeliz incidente com a Catarina Eufémia, em Baleizão, é de uma perigosidade sem limites.[1]

   Enfim, qualquer dia ainda lhe fazem uma estátua (ao AC) – paga com os nossos impostos – e transladam os restos mortais de tão prestimoso defensor da classe operária (se bem que os descendentes das vítimas das purgas no interior do Partido, devam ter ideia diferente) para o Panteão Nacional…

    Assim se preservam para o futuro as indignidades históricas, as mentiras políticas e as perversões humanas.

    Aguardo que as “despesas” sobre este assunto não fiquem apenas por minha conta.


 
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[1] Pelo que se sabe a pobre da moça nunca foi do PCP, não estava metida em nenhum protesto e foi atingida, por um disparo furtuito da Pistola – Metralhadora FBP, do Tenente Carrajola que, acidentalmente, caíu ao chão. Resta acrescentar que o pessoal do posto da GNR, a quem pertencia a força presente no local, se quotizou para pagar o funeral.

Advogados contestam posição de Marinho e Pinto sobre adopção gay

(Artigo do jornal Público)

Bastonário tinha defendido proibição da adopção por casais homossexuais.


Um grupo de advogados enviou nesta quarta-feira ao Parlamento uma carta aberta em que contesta as posições assumidas pela ordem profissional que os representa sobre a adopção de crianças por casais homossexuais. A questão será votada quinta-feira na Assembleia da República, tendo o bastonário, Marinho e Pinto, defendido que “o desenvolvimento harmonioso da personalidade da criança exige um pai homem e uma mãe mulher – e não um homem a fazer de mãe e uma mulher de pai”.

Para os subscritores da carta aberta, entre os quais se conta a mãe de Francisco Louçã, Noémia Anacleto, o parecer da ordem “não respeita os princípios enformadores do Direito, carece de fundamentação factual de suporte e ilegitimamente assume uma posição que, certamente, uma parte muito significativa dos advogados deste país não subscreverá”. Ou, como diz uma das suas promotoras, Lúcia Gomes, “revela um grande preconceito”.

“O Instituto Superior de Psicologia Aplicada afirmou em documento de Janeiro de 2013 que, do ponto de vista do desenvolvimento emocional e psicológico das crianças, não há motivos que justifiquem a impossibilidade legal de nascerem ou de serem educadas quer por um casal do mesmo sexo quer por uma pessoa singular de orientação sexual homossexual ou bissexual”, assinala a carta.

Marinho Pinto não se mostra incomodado com a contestação e diz que enquanto for bastonário a Ordem dos Advogados “não mudará de maneira nenhuma de posição”, mesmo que os “colegas homossexuais se sintam discriminados”.

“Manterei este parecer contra ventos e marés”, declara o representante máximo dos advogados. “Reflecte uma posição largamente maioritária entre os advogados. A natureza exige o masculino e o feminino para fecundar. Não permite que duas pessoas do mesmo sexo procriem”.

SAUDADES DO CONSELHO DA REVOLUÇÃO (RÉPLICA)

João J. Brandão Ferreira
16/05/13


                                         “As FA dispõem de três impressionantes vantagens
                                          políticas sobre as organizações civis: marcada su-
                                          perioridade de organização. Um status altamente
                                          emocional e o monopólio das armas; que perante
                                          tudo isto o surpreendente é que obedeçam aos
                                          seus chefes políticos”.

                                                            Samuel Finer (1976)


                                         
    O c.m.g. Silva Paulo (SP) garantiu, de há uns tempos para cá, uma espécie de “coluna semanal” nas páginas do Diário de Notícias. Ele e eles, lá saberão porquê.

    Com falas mansas, mascaradas de correcção democrática e politicamente correcta q.b. vem, sub-repticiamente, a minar os fundamentos da “condição Militar” e a tentar subverter a postura e importância da Instituição Militar no seio do Estado e da Nação.

    Evidencia uma avantanjada falta de “espírito militar” e inépcia para ter entendido o que é a nobre “profissão das armas”.

    Não é o único, conheci alguns com décadas de serviço e que parecia que nunca tinham passado pelas fileiras…

    Há gente assim, enganam-se (ou são enganados) na vocação e depois passam a vida em passo trocado e zangados com a bílis. Tenho até, dúvidas, que SP, quando se alistou na Armada, não pensaria estar a entrar para alguma marinha de recreio.

    O último artigo dado à estampa, com o mesmo título que encima este, não foge à regra. Já é tempo de o começar a rebater.

    Nele insinua que “muitos” andam com “saudades do Conselho da Revolução” (CR); defendem “ modelos de actuação das FA desviantes da Constituição” e do “controlo civil”; “discutem a legitimidade do poder político”; existem “apelos à intervenção das FA na governação”; etc.

    Nunca, porém, concretiza, ou explicita, nada do que deixa no ar.

    Chega a invocar o “revivalismo da Carta de Mouzinho de Albuquerque ao Príncipe”, como prova do que afirma.[1]

    O rosário de barbaridades é extenso e passa ainda pela defesa da “supremacia civil sobre as FA”; a falta de “sorriso” com que, a maioria dos militares, “como os burocráticos públicos” aceitam “a retracção a que as FA têm sido sujeitas desde 1982”.

    E acaba fazendo incursões no que apelida de “ausência do estado de direito democrático, na formação básica dos militares”, chegando à deselegância de propor que as FA sejam “afastados de cenários domésticos” dado que as oportunidades (de intervenção) podem surgir, pois a “carne é fraca”. Gostaram desta pérola? Será que S. Exª ainda se atreve um dia destes a proibir as mulheres de irem de bikini para a praia – “just in case”?

    E deixa um apelo pungente, depois de criticar o “Conceito da Marinha de duplo uso” – que é das coisas mais bem elaboradas pela Armada (para além do elementar bom senso em que se baseia):

    Aproveitar esse espanto de projecto apelidado de” Defesa 2020” para “tornar a formação básica dos militares e sobretudo dos oficiais, capaz de garantir que eles sabem o que é o Estado de direito democrático que juraram defender e que o defendem com convicção”.

    Antes de entrarmos na análise de algumas das contradições e na refutação de ideias veiculadas ficámos com esta curiosidade quase mórbida: onde será que este cidadão que cursou a Escola Naval e mais uns quantos cursos técnicos e de promoção (e não parece haver ofício em que os seus profissionais passem mais tempo em formação), terá conseguido aprender o que é essa coisa de “estado de direito democrático”, que nega aos outros saberem?

    E só nos espanta como é que não propôs, desde logo, a criação de uma “campo de reeducação” – de que ele seria um putativo director – onde os relapsos detectados nas formaturas e conversas de bar (como fazem falta os comissários políticos!), logo fossem internados!

    Infere-se até, que os seus camaradas foram promovidos a oficiais e andaram a jurar coisas sem saber ao que iam...

    Uma derradeira achega: aos militares não é importante como diz, aprender o tal conceito que para si aparenta ser o “supra sumo da essência do sublime”. Meia dúzia de aulas de Ciência Política chegam para isso e muito mais. O que é verdadeiramente importante é a aprendizagem e interiorização da Ética e da Deontologia Militar. São elas que vão determinar o bom ou mau uso que os conceitos, técnicas, tácticas, doutrina, etc., possam vir a ter.

    E se aceita um conselho, devia preocupar-se mais em que os políticos aprendessem Ética e Deontologia do que os militares soubessem de estado de direito democrático…

    Os políticos nem sempre cumprem as leis que elaboram; tão pouco as promessas que fazem; mentem despudoradamente, quase por compulsão (democrática, obviamente); dão azo a que a corrupção campeie; andam a destruir as instituições do país e o próprio país e acabaram por bloquear o próprio sistema político onde se enredaram e SP acha que isto representa o “Estado de direito democrático”!?

    E aqui passamos à Constituição (CR). Acusa militares (mais uma vez sem identificar ninguém) de se quererem desviar dela, mas ainda não demos conta de ninguém o ter feito; ao contrário, parece que a actuação das forças políticas é que não pára de incorrer em tal prática como, de resto, o Tribunal Constitucional (TC) vem afiançando.

    E aqui é que o texto do autor nos baralha: por um lado os militares juraram defender a CR (e segundo SP até o devem fazer com convicção), mas por outro lado o mesmo SP fica com erupções de pele só de pensar que algum fardado possa intervir seja no que for. Então em que ficamos?

     Aqui para nós, eu nem sei porque é que o TC (e as restantes forças políticas) se preocupam com essa coisa da CR. Então, na última revisão constitucional não mudaram, quase à socapa, o articulado da dita cuja, no sentido de subalternizar todo o edifício legal nacional, face às leis que se produzem em Bruxelas? Nesse caso o que é que venha de lá (Troika incluída) pode ser considerado inconstitucional?

    E poderá o eminente escriba esclarecer o que entende por “supremacia civil”?

    Eu julgava que o termo era subordinação (não submissão) das FA ao poder legitimamente constituído, o que deve ocorrer, outrossim, com os restantes corpos especiais, ou não, do Estado, como os diplomatas, os serviços de informações, as direcções gerais, etc. e as polícias – a propósito não há nenhum militar a comandar polícias, o que há é oficiais de Exército que, transitoriamente, dada a realidade histórica, integram a GNR que presumo, deve saber, ser uma força de segurança com estatuto militar.

   Entenderá que os civis devem andar contra os militares ou estes contra aqueles? Que os políticos possam fazer da IM “gato – sapato” e ninguém tem direito a protestar? Que os militares são seres descartáveis? Que a sua opinião não deve contar?

    O quê?

     Não lhe chega as limitações constitucionais existentes? Os cidadãos militares na reserva e reforma são assexuados e apolíticos? Os políticos estão acima de crítica? Por acaso perpassa-lhe pela mente que as chefias militares não devem apenas lealdade ao governo, mas também ao PR, aos seus pares, aos Ramos que comandam e à Nação de onde emanam e, prioritariamente defendem?

    O Senhor atreve-se a chamar o Mouzinho – cuja carta, que evocou, devia ser lida todos os anos nas escolas do país – que é um exemplo de virtudes militares, à colação, para insinuar semelhanças com eventuais atitudes menos próprias, logo ele, que teve a coragem de se meter na campa por já não suportar as perfídias dos políticos e da política?

    De facto fazem falta outros “Mouzinhos” que escrevam ao 1º Ministro, como ele o fez, dizendo a dado passo, “Todos sabem os apuros financeiros do país e sabem por igual que, para segurar o poder por mais 2 ou 3 anos, V. Exª e o gabinete a que preside não hesitarão em sacrificar o futuro”.[2]

   Espero que quando da próxima vez que balbuciar o nome do herói de Chaimite o faça respeitosamente e na posição de sentido e, se armado, apresente armas!

    Quanto ao CR, foi um órgão que resultou das sequelas do 25 de Abril – seguramente uma das intervenções que aos militares está interdita, a avaliar pelo que exprimiu. O CR, de facto, não deixou grandes recordações, mas tem que se lhe fazer a justiça de ter entregado o poder, conforme o acordado entre a maioria das forças políticas emergentes e uma nova CR aprovada.

     Não consta que mais ninguém o tenha reivindicado a não ser por dedução do disco riscado do camarada Otelo.

    Medite antes na citação do Samuel Finer. Se perceber a sua dúvida, talvez consiga pôr em ordem a baralhação que lhe vai na cabecinha.

    Concedo, todavia, que numa área as FA têm sido condescendentes: nos exames psicotécnicos.

    A malha tem de ser apertada.


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[1] Carta de Mouzinho de Albuquerque (na sua qualidade de “Aio”), ao Príncipe Real, D. Luís Filipe de Bragança escrita, em 1901. Uma extraordinária peça de antologia que atesta a sua nobreza de carácter e Espírito Militar.

[2] Carta que escreveu ao Presidente do Conselho de Ministros, José Luciano de Castro, em 23/7/1898, após ter sido exonerado do cargo de Comissário Régio, em Moçambique.