BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

sábado, 28 de fevereiro de 2015


Cristo crucificado, escândalo para

os muçulmanos e loucura para os laicistas...


Roberto de Mattei

Marcher contre la Terreur (Marchar contra o Terror) [foto], foi o título com o qual o «Le Monde», o «Corriere della Sera» e os grandes jornais ocidentais apresentaram o enorme desfile laicista de 11 de Janeiro. Nunca um slogan foi mais hipócrita do que este, imposto pelos meios de comunicação maciça como reacção ao massacre ocorrido em Paris a 7 de Janeiro.


Com efeito, que sentido faz falar de «terror» sem adicionar a este substantivo o adjectivo «islâmico»? O ataque à redacção de «Charlie Hebdo» foi perpetrado sob o grito de «Allah akbar!» para vingar Maomé ofendido pelas caricaturas, mas com uma visão bem definida do que estava por detrás das Kalashnikov terroristas: a visão muçulmana do mundo.

Só agora os serviços secretos ocidentais começam a levar a sério as ameaças de Abu Muhammad al-Adnani [foto], contidas num comunicado multilingue difundido em 21 de Setembro de 2014 pelo diário online «The Long War Journal»:

«Conquistaremos Roma, espezinharemos as suas cruzes, faremos escravas as suas mulheres com a permissão de Alá, o Altíssimo», declarou aos seus sequazes o porta-voz do «Estado Islâmico», que não se limitou a repetir que exterminará os «infiéis» onde quer que eles estiverem, mas que revelou também o modo pelo qual o fará:


«Colocai explosivos nas suas estradas. Atacai as suas bases, irrompei nas suas casas. Cortai-lhes as cabeças. Que eles não se sintam seguros em lugar algum! Se não conseguirdes arranjar explosivos ou munições, isolai os infiéis americanos, franceses ou os seus aliados, sejam eles quem forem. Esmagai os seus crânios a golpes de pedra, matai-os à facada, atropelai-os com os vossos carros, atirai-os aos precipícios, sufocai-os ou envenenai-os».

Ilude-se quem pensa que a guerra actual não é a que declarou o Islão ao Ocidente, mas apenas uma guerra travada dentro do mundo muçulmano, e que a única salvação consiste em ajudar o Islão moderado a derrotar o Islão fundamentalista, como escreveu o observador Sergio Romano no «Corriere della Sera» de 11 de Janeiro, apesar de ser considerado pessoa inteligente.

Na França, o slogan mais repetido é o de evitar a «amálgama», ou seja, a identificação do Islão moderado com o radical. Mas o fim comum a todo o Islão é a conquista do Ocidente e do mundo. Quem não partilhar esse objectivo não é um moderado, simplesmente não é um bom muçulmano. As divergências, quando existem, não dizem respeito ao fim, mas ao meio: os muçulmanos da Al Qaeda e do Estado Islâmico abraçaram a via leninista da acção violenta, enquanto a Irmandade Muçulmana utiliza a arma gramsciana (*) da hegemonia intelectual. As mesquitas são o centro de dinamização da guerra cultural, que Bat Ye’or define como soft-jihad, enquanto que pelo termo hard-jihad ele define a acção militar para aterrorizar e aniquilar o inimigo. Pode discutir-se, e certamente discute-se dentro do Islão, sobre a escolha dos meios, mas há unanimidade quanto ao objectivo final: a disseminação da Sharia (a lei corânica) pelo mundo.

O Islão é em qualquer caso um substantivo verbal que se pode traduzir como «submissão». A submissão para evitar o Terror, que é o cenário do futuro europeu imaginado pelo romancista Michel Houellebecq no seu último livro [«Soumission»],  apressadamente retirado das livrarias francesas. Não ao Terror significa, para os nossos políticos, não à submissão violenta dos jihadistas e sim a uma submissão pacífica, que conduz suavemente o Ocidente a uma condição de inferioridade.


O Ocidente diz-se disposto a aceitar um Islão com «face humana», embora na realidade o que ele rejeita no Islão não seja apenas a violência, mas também o seu absolutismo religioso. No entanto, existe no Ocidente uma licença para matar, não em nome de valores absolutos, mas em nome do relativismo moral. Por isso, o aborto é praticado de forma sistemática em todos os países ocidentais, sem que tenha sido condenado por nenhum dos Chefes de Estado que participaram em Paris na marcha contra o Terror. Com efeito, o que é o aborto senão a legalização do Terror, do Terror promovido, encorajado e justificado pelo Estado? Então que direito têm os líderes ocidentais de se manifestarem contra o Terror?

No jornal «La Repubblica» de 13 de Janeiro de 2015, enquanto Adriano Sofri, ex-chefe da Lotta Continua (**) celebra a Europa que renasce sob a Bastilha (***), a filósofa pós-moderna Julia Kristeva (de quem o cardeal Ravasi é simpatizante), afirma que «a praça Iluminista salvou a Europa» e que «diante dos riscos que corriam, a liberdade, a igualdade e a fraternidade deixaram de ser conceitos abstractos para se encarnarem em milhões de pessoas».

Mas quem inventou o Terror senão a França republicana, que o utilizou para esmagar toda a oposição à Revolução Francesa? A ideologia e a prática do terrorismo apareceram pela primeira vez na História com a Revolução Francesa, sobretudo a partir de 5 de Setembro de 1793, quando o «Terror» foi colocado na ordem do dia pela Convenção e se tornou parte essencial do sistema revolucionário. O primeiro genocídio da História [o da Vandeia], foi perpetrado em nome dos ideais republicanos da liberdade, igualdade e fraternidade. O comunismo, que pretendeu completar o processo de secularização inaugurado pela Revolução Francesa, levou a aplicação do Terror à escala planetária, causando mais de 200 milhões de mortes em menos de 70 anos. E o que é o terrorismo islâmico senão uma contaminação da «filosofia do Corão» com a prática marxista-iluminista importada do Ocidente?

Desde a sua fundação, «Charlie Hebdo» é um jornal em que a sátira foi posta ao serviço de uma filosofia de vida libertária, cujas raízes provêm do Iluminismo anti-cristão. O jornal satírico francês tornou-se famoso pelas suas caricaturas de Maomé, mas não se devem esquecer as suas repugnantes caricaturas blasfemas publicadas em 2012 para reivindicar as uniões homossexuais. Os editores de «Charlie Hebdo» podem ser considerados a expressão extrema mas coerente da cultura relativista difundida agora em todo o Ocidente, assim como os terroristas que os assassinaram podem ser considerados a expressão extrema mas coerente do ódio que tem o vasto mundo islâmico contra o Ocidente.

Aqueles que afirmam a existência de uma Verdade absoluta e objectiva são equiparados pelos neo-iluministas aos fundamentalistas islâmicos. No entanto, é o relativismo que se equipara ao islamismo, porque ambos estão unidos pelo fanatismo. O fanatismo não é a afirmação da verdade, mas o desequilíbrio intelectual e emotivo que nasce do distanciamento da verdade. E só há uma Verdade em que o mundo pode encontrar a paz, ou seja, a tranquilidade na ordem: Jesus Cristo, Filho de Deus, em função de Quem todas as coisas devem ser ordenadas no Céu e na Terra, para que se alcance a paz de Cristo no Reino de Cristo. Este deve ser o ideal de todo o cristão, conforme ensinou o Papa Pio XI na sua encíclica Quas Primas de 11 de Dezembro de 1925.

Não se pode combater o Islão em nome do Iluminismo e menos ainda em nome do relativismo. Contra ele, só se pode opor a lei natural e divina, ao mesmo tempo negada pelas raízes do relativismo e do Islão. É por isso que devemos erguer esse Crucifixo que o secularismo e o islamismo rejeitam, fazendo dele a nossa bandeira de vida e de acção. Dizia São Paulo que «Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios» (I Cor 1, 23). Tal como o Apóstolo, poderíamos nós agora dizer: «Pregamos Cristo crucificado, escândalo para os muçulmanos e loucura para os laicistas».


(*) Métodos propostos pelo comunista Antonio Gramsci, conforme explicado no nosso artigo «A «educação sexual» e a nova perseguição «democrática», ateia e psiquiátrica»

(**) Lotta Continua (Luta Contínua) é um movimento maoista de Turim, da qual uma facção se juntou às organizações terroristas.

(***) Bastilha: Fortaleza que os republicanos franceses de 1789 consideravam um «baluarte do regime» para encarcerar opositores políticos, mas que na realidade só tinha oito prisioneiros que não eram políticos e nem sequer eram maltratados. A sua «libertação» a 14 de Julho do mesmo ano, tornou-se demagogicamente um importante feriado nacional na França, mais ou menos como o 25 de Abril foi impingido a Portugal.

Fonte: 
Correspondance Européenne, 20-01-2015





quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015


Afinal a NATO teve razão ao alargar-se

ao Leste da Europa


José Milhazes

Até aqui, alguns (entre eles eu) consideravam ter sido um erro o alargamento da Aliança Atlântica ao Leste da Europa. Hoje há muitos motivos para pensar que foi o melhor que esses países fizeram.

A guerra da Ucrânia e o papel de Moscovo nela levam-nos a tirar pelo menos duas conclusões: os países do Leste da Europa tiveram uma decisão sábia ao aderirem à NATO e Kiev cometeu um erro ao entregar as armas nucleares à Rússia em 1994.

Até aqui, alguns (entre eles eu) consideravam ter sido um erro o alargamento da Aliança Atlântica ao Leste da Europa, pois pensavam não haver razões para recear o ressurgimento do imperialismo russo e soviético. Depois da queda da União Soviética, a Rússia estava numa situação económica, política e social tão degradada, que o mais sensato era esperar que os seus dirigentes se concentrassem na recuperação do seu país.

Mas tal não aconteceu. No lugar de modernizar as infraestruturas do país, utilizando os preços altos dos combustíveis nos mercados internacionais, Vladimir Putin, nos já mais de 15 anos em que se encontra no poder, apenas se pode «gabar» de ter um regime tanto ou mais corrupto do que o do seu antecessor, Boris Ieltsin, e ter organizado bem os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi.

O Kremlin não se cansa de falar da «amizade russo-chinesa», mas não lhe faria mal estudar as causas do milagre económico no país vizinho e aprender algo com ele.

Enveredou pela via tradicional, indo ao encontro dos mais baixos instintos de uma parte significativa da sociedade russa, que confunde o significado dos verbos «respeitar» e «ter medo». Quando os actuais dirigentes exigem que se respeite a Rússia, querem dizer que se deve ter medo dela. «Nós vamos mostrar-lhes…», soa o coro dos «patriotas».

Por isso, não há nada de extraordinário no facto de os antigos países do «campo socialista» se terem apressado a aderir à NATO. Segundo alguns analistas, o único erro da NATO foi não ter aberto as portas à Geórgia, Moldávia e Ucrânia.

Quanto à entrega das armas nucleares pela Ucrânia, Bielorrússia e o Cazaquistão à Rússia, se eles não tivessem feito isso, hoje Moscovo não teria a política que tem em relação a esses países. No caso da Ucrânia, as coisas teriam corrido de outra maneira. No que diz respeito ao Cazaquistão, a actual política externa do Kremlin faz tremer o actual dirigente cazaque, Nussultan Nazarbaiev. E até o Presidente bielorrusso, Alexandre Lukachenko, faz forte equilibrismo para se manter no poder.

Quanto aos que afirmam que a NATO está a cercar a Rússia com bases militares, a querer sufocar (tal como a anaconda na geopolítica clássica) o maior país do mundo, apenas os convidaria a olhar para o mapa e a pensar como será possível conseguir isso, tendo em conta, por exemplo, que a Rússia tem um dos maiores arsenais nucleares do mundo, mísseis balísticos intercontinentais, etc., etc.

E deixo ainda mais uma pergunta: haverá algum louco na Europa ou nos Estados Unidos que tencione conquistar a Rússia, como afirmam alguns dirigentes russos e seus aliados no estrangeiro? Como e para quê se, até agora, o chamado Ocidente tem recebido sem guerras aquilo de que precisa desse país: petróleo, gás e milionários?





terça-feira, 24 de fevereiro de 2015


Ser homem ou mulher está inscrito no DNA


Luis Jensen com a sua esposa Pilar Escudero

Luis Jensen, médico membro do Instituto das Famílias de Schoenstatt e do Centro de Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Chile, revelou que a homossexualidade «jamais vai permitir o desenvolvimento pleno da satisfação da complementariedade».

No dia 10 de Dezembro deste ano, apresentou-se no Chile um projecto de lei do «Matrimónio Igualitário», que quer modificar a Lei do Matrimónio actual para permitir as uniões homossexuais.

O projecto de lei foi pensado e redigido pelo Movimento de Integração e Libertação Homossexual (Movilh), o mesmo que criou o conto «Nicolau tem dois pais».

Em declarações feitas ao Grupo ACI, Jensen referiu que «se eu acredito que na natureza tudo tem o mesmo valor, então a pessoa desaparece, porque a pessoa é o mais extraordinário, é distinta, é outra entidade diferente do resto das coisas naturais».

«O ser homem e mulher, que são as duas formas de ser pessoa, tem uma razão de ser, um porquê, um para quê, está inscrito no DNA. Se ignorar isso, está ignorando uma coisa que não é electiva, mas constitutiva», afirmou.

Luis Jensen explicou que «a pessoa que realmente necessita move-se para procurar o outro e enriquece-se com o outro. E nessa relação, descobre que o outro também tem necessidades. E para fazê-lo feliz, que é a essência do amor, dá o máximo de si próprio como dom, como presente ao outro. Essa é a dinâmica do amor, a dinâmica do dom, da gratuidade».

Entretanto, advertiu o perito, as relações que se estabelecem hoje «não têm como base a complementariedade».

Jensen sustenta que «estas relações (homossexuais) ficam na reciprocidade: em que eu te dou e tu me dás, que é na verdade um intercâmbio comercial, funcional, estrutural, mas não da natureza da pessoa. Onde está a gratuidade? Já não é a dinâmica do amor mas a dinâmica da organização, do intercâmbio, da comercialização».

Para o médico, a polaridade homem-mulher tem a sua causa na «unidade do homem e da mulher porque são capazes de complementar-se em todos os campos».

«Isso jamais vai acontecer na homossexualidade, por muita imitação que façam, por muita intenção, boa vontade ou amor pessoal que tenham, não acontece. Por isso mesmo, acredito que hoje querem tirar o conceito da complementariedade do vocabulário e ficar com o da reciprocidade».

Para Jensen, actualmente procura-se «reduzir o tema do essencial do ser humano a róis: Há um rol feminino e um rol masculino, um rol paternal e um rol maternal, e já não se responde ao que é a natureza masculina e feminina».

«Tomou-se o mundo social como referência e não o mundo pessoal», criticou, denunciando que agora «os modelos constroem-se na base como se organizou socialmente o homem e não na base do que é o homem».





sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015


Novas regras do Hospital das Forças Armadas



Os princípios de gestão, a estrutura orgânica e a estrutura funcional do Hospital das Forças Armadas (HFAR) foram finalmente estabelecidas através do Decreto Regulamentar
n.º 2/2015 agora publicado em Diário da República.

Recordamos que o HFAR resulta da fusão dos vários hospitais militares, se encontra na dependência do Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA) e é constituído pelo Polo de Lisboa (Lumiar), o Campus de Saúde Militar e pelo Polo do Porto.

O legislador destaca no preâmbulo ao decreto que:

«(…) Pretende-se ainda, através do presente decreto regulamentar, estabelecer um novo regime de facturação que permita ultrapassar as dificuldades decorrentes da aplicação da tabela de preços e acordos em vigor no Serviço Nacional de Saúde para a generalidade dos actos médicos praticados e dos serviços prestados pelo HFAR.

O presente decreto regulamentar estabelece regras sobre a estrutura orgânica, as competências, a composição e o funcionamento do Centro de Epidemiologia e Intervenção Preventiva, da Unidade Militar de Toxicologia e da Unidade de Tratamento Intensivo de Toxicodependência e Alcoolismo, enquanto entidades na dependência hierárquica do director do HFAR, atenta a nova arquitectura do sistema de saúde militar. (…)»





quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015


Legalização das drogas leves:

uma irresponsabilidade política


Pedro AfonsoPsiquiatra

A ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, defendeu recentemente, numa entrevista à TSF, a legalização da venda de drogas leves em Portugal e a sua venda nas farmácias. De acordo com a sua argumentação, os ganhos para os cidadãos seriam alcançados graças à diminuição de outros crimes.

Infelizmente, a sra. ministra parece desconhecer que  as designadas «drogas leves» não são, na realidade, assim tão leves, já que podem provocar danos gravíssimos a quem as consome. Tomemos como exemplo o cannabis. Esta droga muito popularizada e consumida na nossa sociedade, inclusivamente por jovens, pode contribuir para o aparecimento de várias doenças psiquiátricas.

O consumo de cannabis (excluindo, obviamente, a utilização restrita dos seus derivados para alguns fins terapêuticos) aumenta o risco do aparecimento de psicoses, que impedem uma pessoa de pensar adequadamente e interferem negativamente, entre outros factores, com o rendimento cognitivo (a memória, concentração, etc.), prejudicando gravemente o funcionamento profissional e escolar.

Já há muitos anos que existem inúmeros estudos científicos que associam o consumo de cannabis à esquizofrenia. Por exemplo, em 2011, o psiquiatra holandês Jim Van Os publicou um estudo longitudinal com a duração de dez anos, tendo comprovado que o consumo regular desta droga aumenta o risco de desenvolvimento de sintomas psicóticos. Além disso, o consumo de cannabis tem sido associado a um aumento do risco de: comportamentos antissociais, ideação suicida, dificuldades no relacionamento interpessoal, consumo de outras drogas ilícitas, designadamente drogas injectáveis, etc..

Por inúmeras razões, intoxicou-se a sociedade com a ideia falsa de que as «drogas leves» não causam danos à saúde. Existe ainda uma ideologia que defende a liberalização das drogas, vendo o consumo das mesmas como um exercício de liberdade individual; o direito de qualquer um de nós fazer o que quer relativamente à sua saúde e à sua própria vida, designadamente, destruindo-a. Acontece que ninguém sofre sozinho neste processo de autodestruição, já que há pais, filhos, irmãos, amigos, etc., que também sofrem com a escolha deste caminho. Um homem não pode usar a sua liberdade para abdicar dela e se converter num escravo de uma droga que o vai destruindo. Seria, portanto, um sinal errado se o Estado promovesse a legalização e a venda nas farmácias de drogas que «matam devagarinho».


Devemos desconfiar sempre de um Estado que, com o falso argumento da liberdade individual, deixe de ser regulador, criando na lei alguns limites, devidamente justificados, aos comportamentos individuais; devemos desconfiar de um Estado que, sob o disfarce de um paternalismo permissivo, rejeita a ciência, nega irresponsavelmente a realidade de um mal e evoca critérios errados para justificar políticas que facilitam a autodestruição do ser humano.

Na verdade, se a sra. ministra deseja realmente introduzir medidas que tragam benefícios para os cidadãos, então deve promover campanhas de esclarecimento, informando com rigor científico que as «drogas leves» afinal são «pesadas». Esta medida seria muito bem vista pelos pais, professores e por muitos daqueles profissionais de saúde que lutam diariamente há décadas neste país para retirar milhares de pessoas da escravidão das drogas.

A droga não se vence passando o tráfico das ruas para a venda legal nas farmácias. Esta medida seria um sinal de fraqueza e um gesto de falsa compaixão. A verdadeira compaixão assenta em salvar pessoas, ajudando-as a recuperar o impulso natural do homem, que o leva a agarrar-se à vida, sem drogas.





quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015


Os portugueses que nos querem ver gregos


Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 15 de Fevereiro de 2015

Logo a seguir ao futebol, as mais populares modalidades desportivas nacionais são bater no Cavaco e assinar manifestos. Por isso esta foi uma semana em cheio.

As festividades começaram quando o Presidente da República lembrou descaradamente um facto: os portugueses já emprestaram mil e cem milhões de euros à Grécia, fora trocos. Tamanha trivialidade perturbou as pessoas sensíveis, que a consideraram – a frase, não o empréstimo – inadmissível, na medida em que nada do que Cavaco Silva diz deve ser admitido (embora também não se tolere que Cavaco Silva esteja calado). A oposição falou em «humilhação do povo grego». E aquela senhora que liderava a meias o BE achou as afirmações perigosas, populistas, egoístas e uma ameaça ao «projecto europeu». Naturalmente, o «projecto europeu» consiste em fazer que os cidadãos de certos países trabalhem a fim de sustentar os que preferem dedicar-se a actividades paralelas como a subscrição de lengalengas em volta da palavra solidariedade.

A lengalenga do momento, sob a forma de carta aberta ao primeiro-ministro, reúne «destacadas personalidades» (sic) do calibre de Francisco Louçã, Carvalho da Silva, Pacheco Pereira, Octávio Teixeira e o conhecido benfiquista Bagão Félix. Essencialmente, trata-se do corpo de comentadores da Sic Notícias, ao qual, não sei porquê, faltam apenas Rui Santos e o trio de O Dia Seguinte.

E o que reza a carta? Reza que a austeridade é desagradável e exige a Pedro Passos Coelho que aproveite o pretexto grego para a mandar passear. Numa segunda leitura (e Deus sabe quanto me custou a primeira), a ideia é aliarmo-nos a quem nos pede dinheiro emprestado no combate a quem nos empresta. Isto não difere muito do sujeito que, ao ver-se assaltado, ajuda os ladrões a carregar o televisor e depois insulta a empresa que lho vendeu a crédito. Com a deliciosa agravante de que, no intervalo dos insultos, as filiais caseiras do Syriza suplicam por um crédito e um televisor novinhos.

Absurdo? Com certeza. E ainda nem referi a abdicação da famosa soberania pátria em favor do governo do Sr. Tsipras, que os subscritores da carta juram representar Portugal a sério. Imagine-se se estivessem a brincar.






Qual é o maior problema da Europa?


Rui Ramos

A guerra na Ucrânia pode mudar mais profundamente a nossa vida do que a crise da Grécia: na Grécia, está em causa o Euro; na Ucrânia, o Ocidente, isto é, tudo.

A crer no ruído noticioso e comentarista, é a Grécia. Percebe-se porquê: é o caso que mais directamente podemos relacionar com o nosso. Mas preparemo-nos para a possibilidade de, daqui a uns anos, os historiadores darem menos importância à Grécia do que ao que se está a passar na Ucrânia. Arriscamo-nos então a parecer muito distraídos. Enquanto estávamos a olhar para a Grécia, perdemos a Ucrânia. E com a Ucrânia, podemos perder muito mais do que imaginamos.

Neste momento, é preciso ser muito optimista para não usar o pretérito ao falar  da Ucrânia: tinha 46 milhões de habitantes e era o Estado com maior superfície na Europa. A opção pró-russa do presidente Yanukovytch em 2013 e a sublevação pró-europeia em Kiev em Fevereiro de 2014 dividiram o país e precipitaram a invasão russa. A situação é agora reminiscente da Jugoslávia na década de 1990. A UE não sabe o que fazer: conformou-se com a anexação da Crimeia, hesita em continuar as sanções à Rússia, arranja todos os dias mais um bom argumento para não armar o governo de Kiev, e aposta tudo em mais um acordo.

Há várias coisas, para além da nossa obsessão grega, a impedir-nos de apreender a relevância do que se passa na Ucrânia. Uma é a percepção da Ucrânia como um caso exótico. Há quem nem a considere um verdadeiro país, por causa da sua diversidade interna. No entanto, todos os grande Estados europeus são o resultado de «unificações» mais ou menos recentes de elementos diversos e até opostos: a Espanha ou o Reino Unido, por exemplo, mas também a Itália. A diferença é que a Itália, a Espanha ou o Reino Unido não têm, nas suas fronteiras, uma grande potência militar a animar e a armar rebeliões e a injectar tropas nos seus territórios. Se a Rússia fosse mais perto, talvez a Espanha, no caso da Catalunha, não estivesse apenas a discutir um referendo.

Chegamos aqui à questão da Rússia de Putin, e do que pode representar para o Ocidente. A II Guerra Mundial e depois a Guerra Fria convenceram-nos de que os grandes conflitos têm necessariamente raízes doutrinárias. Sem o marxismo-leninismo, concluímos que a Rússia não nos deveria preocupar. Acontece que nem sempre foram precisas divergências ideológicas para haver rivalidades internacionais e guerras (a I Guerra Mundial é um exemplo).  A Rússia de Putin é uma autocracia pessoal a que a retracção soviética deu uma causa (a recuperação do império) e a percepção do declínio e da divisão ocidentais deu uma oportunidade. Putin pretende manifestamente abalar a NATO e a UE, em que vê limites à sua influência na Europa. Podemos diagnosticar muitas debilidades à Rússia, mas Angela Merkel, ao recusar qualquer solução militar, reconheceu-lhe esta força decisiva: a Rússia, na Europa de leste, empenhar-se-á sempre mais do que os ocidentais. É uma admissão tremenda. Porque se a Ucrânia tombar por causa da indisponibilidade ocidental para sustentar a sua opção europeísta, o que passará pela cabeça de Putin em relação aos Estados bálticos, também com minorias russas, mas já membros da UE?

A integração europeia pode estar muito mais em causa na Ucrânia do que na Grécia. Na Grécia, a questão é a da irreversibilidade do euro; nos países bálticos, depois de um abandono da Ucrânia, a questão seria a da integridade da UE perante uma ameaça externa. A UE pode existir sem moeda única, como já existiu, mas não sem a determinação de se defender.

Neste ponto, não é preciso invocar o cenário de uma «terceira guerra mundial». As guerras totais entre grandes potências são historicamente mais raras do que sugere a história do século XX. Mas uma nova «guerra fria» na Europa oriental terá provavelmente consequências sociais e económicas tão grandes ou maiores do que a crise grega da integração monetária.

Há anos que os orçamentos da defesa europeus são sistematicamente restringidos e reduzidos a salários e pensões, contra a corrente do resto do mundo, a começar pela Rússia (curiosamente, a Grécia é um dos poucos países europeus que insiste numa despesa militar elevada, devido à sua rivalidade com a Turquia). O Estado social europeu é, em grande medida, o resultado da prosperidade da economia de mercado, mas também da diminuição das facturas militares, graças à protecção americana e ao colapso da União Soviética. Foi assim que, desde o século XIX, passámos na Europa de Estados cuja despesa era sobretudo militar, para Estados cuja despesa é sobretudo «social». E a despesa militar americana facilitou essa transição. Mas se a pressão da Rússia aumentar, o investimento europeu na defesa terá de subir, até porque os EUA não estarão dispostos a continuar a pagar a conta principal.

Existe, claro, a possibilidade de uma subordinação à Rússia. Mas o modo de vida ocidental e a sua prosperidade dependeram, desde 1945, da segurança e da autonomia de que a Europa ocidental beneficiou em aliança com os EUA. O que estaríamos a pôr em risco ao sacrificar essa segurança e essa autonomia? Provavelmente, tudo. Ao olharem para a Grécia, não se esqueçam da Ucrânia.





segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015


Obama: onde acaba a ignorância

e começa a demagogia esquerdista?

«Não acredito que o presidente saiba muito sobre as cruzadas», expressou o historiador da Universidade de San Louis (Estados Unidos) Thomas Madden, ao referir-se às declarações de Barack Obama no tradicional Café da Manhã Nacional de Oração, onde comparou as cruzadas com as atrocidades cometidas pelo Estado Islâmico (ISIS) contra cristãos, crianças e adultos que são decapitados, crucificados ou vendidos como escravos no Iraque e na Síria.

Nessa quinta-feira, Obama abordou os ataques cometidos pelos fundamentalistas islâmicos ao dizer que «desde uma escola no Paquistão às ruas de Paris, vimos a violência e o terror cometidos por aqueles que dizem professar uma fé, mas, de facto, estão traindo-a», e referiu-se ao ISIS como «um culto brutal e vicioso de morte que, em nome da religião, realiza actos inconcebíveis de barbárie, aterrorizando as minorias religiosas como os yazidis, submetendo as mulheres a estupros como arma de guerra, e acolhendo-se ao manto protector da autoridade religiosa por tais acções».

Entretanto, comparou os fundamentalistas islâmicos com o cristianismo ao dizer «e para que não subamos a um pedestal e pensemos que isso só acontece noutras partes, recordemos que durante as cruzadas e a Inquisição, as pessoas cometeram actos terríveis em nome de Cristo».

Estas palavras foram criticadas por Madden em declarações feitas no dia 6 de Fevereiro à ABC News ao especificar que o presidente norte-americano «está lançando como um exemplo a distorção da cristandade», tentando compará-la «com o que ele vê como uma distorção do Islão nas acções do ISIS».

«O objectivo inicial das cruzadas  recordou , foi devolver as terras aos cristãos», que tinham sido tomadas por eles durante «as conquistas muçulmanas».

Por seu lado, Thomas Asbridge, historiador da Universidade de Londres (Reino Unido), recordou à ABC News que durante as expedições para recuperar a Terra Santa também houve episódios de abusos cometidos pelos cruzados, mas sugerir uma relação causal entre o ISIS e o fenómeno medieval das cruzadas, é apoiar-se «na manipulação e subterfúgio da evidência histórica».

As cruzadas começaram em 1095 com o chamamento do Papa Urbano II para recuperar Jerusalém da dominação muçulmana e proteger os peregrinos cristãos que eram assaltados e assassinados.

Entretanto, nos últimos anos estas acções foram desacreditadas por Hollywood que baseia os seus filmes em lendas negras que já foram desmentidas em 2011 pelo historiador Paul F. Crawford do departamento de História e Ciências Políticas da Universidade da Pennsylvania (Estados Unidos).





sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015


Jornalistas ou criados?


Luís Lemos

António Ribeiro Ferreira, no jornal i (13.2.2015), compõe uma miserável peça pro-Putin, a justificar o imperialismo russo.

Já sabíamos que o fulano era um dos comensais à mesa dos aventais.

Já sabíamos que o fulano segue a directiva do GOL a favor do chamado «casamento» dos mariconços e fufas.

Já sabíamos que o fulano é a favor da adopção de crianças por essa estirpe.

Já sabíamos que o fulano fala da família natural como «famílias ditas normais».

Ficámos agora a saber que também joga xadrez no tabuleiro de Putin.

Quanto vales, ó «jornalista» por encomenda?

Fixem a cara do bicho.







Petição Pública de apoio aos patriotas ucranianos




Apoio à reabilitação de militares ucranianos


Para: Ex.ma Senhora Presidente da Assembleia da República,


Ex.ma Senhora Presidente da Assembleia da República,

Os subscritores do presente Manifesto dirigem o seu apelo ao Estado Português para que subsidie os tratamentos e a reabilitação de alguns militares e combatentes-voluntários do exército ucraniano feridos no conflito armado na Ucrânia, em hospitais públicos ou privados em Portugal, em número e de acordo com as possibilidades existentes.

Estes militares, muitos de forma voluntária, arriscaram as suas vidas e à custa da sua saúde não só defendiam a integridade do seu país mas também contribuíam para que o conflito armado não se alastrasse para o resto do território da Ucrânia, não chegasse mesmo às portas da União Europeia, conseguindo evitar deslocações de refugiados para países da mesma. Eles estão a travar a luta para reestabelecer a paz na Europa.

Os peticionários têm conhecimento através das declarações das instituições governamentais ucranianas à comunicação social que 15 países recebem militares ucranianos para os tratamentos e a reabilitação. De acordo com os dados de Dezembro de 2014, setenta e três combatentes recebiam os tratamentos na Polónia, onze em Israel, oito na Croácia, quatro na Eslováquia, cinco no Reino Unido, treze na Letónia, quatro nos Estados Unidos da América, cinco na Alemanha. Vários países oferecem medicamentos e equipamento médico, deslocam os seus profissionais de saúde à Ucrânia para prestar apoio, avaliação e realização de cirurgias.

Os ucranianos valorizam o bom acolhimento que receberam em Portugal desde sempre, e agradeceram a ajuda que lhes foi dada com a sua integração, o seu conhecimento, o seu bom empenho e trabalho para o bem do país para onde vieram viver, assim foram estabelecidos laços bem fortes entre as duas nações. Esperamos que o Estado Português apoie a Ucrânia nesta altura tão difícil.

Por tudo isto os peticionários consideram essencial a colaboração e a ajuda de Portugal no tratamento e reabilitação dos militares feridos.

Agradecendo antecipadamente a atenção de V. Exa., apresentamos os nossos melhores cumprimentos.


Primeiros peticionários:

Iuliia Voroshylova (investigadora científica, Grupo de jovens ucranianos em Portugal «Synytsia»), Vasyl Bundzyak (padre ortodoxo de patriarcado de Kyiv, Braga), Pavlo Sadokha (Presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal), Andriy Veber (Presidente da Delegação de Vila Nova de Gaia da Associação dos Ucranianos em Portugal), Nuno Miguel Trindade Lourenço (advogado, Alenquer), Tetiana Franchuk (Grupo de jovens ucranianos em Portugal «Synytsia»), Olena Nesterenko Afonso (professora de línguas, Coimbra), Svitlana Oksyuta (professora de música, Porto), Galyna Ilyuk (professora de música, Santo Tirso), Olena Dvoininova (Directora da escola ucraniana Cirilo-Metódio em Braga, doutorada em História)


Para assinar: http://peticaopublica.com/?pi=petreabilitacao






sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015


A implosão dos socialistas


Helena Matos

Por ironia, a grande mudança que António Costa celebrou na passada semana está ser feita à custa do esfrangalhar dos partidos socialistas. Primeiro do PASOK. Depois, muito provavelmente, do PSOE.

No domingo passado os socialistas quase desapareceram do mapa eleitoral grego. Ontem, em Madrid, o Podemos encheu as ruas numa manifestação de força já a preparar o ambiente das próximas eleições. Mas esta extrema-esquerda que se agiganta e que grita que vai derrubar a direita está para já é a derrotar a esquerda democrática. Os dedos de uma mão devem chegar para contar os eleitores do PP que foram à manifestação do Podemos em Madrid mas muitos desses milhares de manifestantes já, por mais de uma vez, deram o seu voto ao PSOE. Agora podem dá-lo a Pablo Iglesias, uma espécie de Chavez com formação universitária. Há mudanças que dão que pensar e esta é certamente uma delas.

Por ironia, a grande mudança que António Costa celebrou na passada semana está ser feita à custa do esfrangalhar dos partidos socialistas. Primeiro do PASOK. Depois, muito provavelmente, do PSOE. Goste-se ou não, na Espanha e na Grécia, boa parte dos eleitorados da esquerda democrática está a radicalizar-se e a dar o seu voto a líderes que num passado não muito distante teriam considerado inapresentáveis.

E não, não são inapresentáveis por causa de não usarem gravata. Sei que não há nada que os jornalistas desta velha Europa gostem mais do que dar uma imagem alternativa-caviar dos líderes radicais através desses pequenos traços: é o não usar gravata ou, pelo contrário, gostar de desfiles de moda. O ir ou não ir ao cabeleireiro… Mas os líderes radicais que actualmente merecem as graças do eleitorado são inapresentáveis não por questões de guarda-roupa (não há nada mais caro e estudado que o casual!), mas sim porque não mostram qualquer preparação para as funções a que se estão a candidatar. E, não menos importante, porque a sua concepção do funcionamento das instituições do regime democrático é meramente instrumental. Não digo que vão instaurar ditaduras nos países que vierem a governar, mas escrevo que não vão usar para com os opositores a mesma tolerância e respeito que agora reivindicam para si.

Tal como os milionários têm aquelas fantasias estilo Espírito Santo na Comporta ou Guevara-chic de brincar aos pobrezinhos e de fazer férias prescindindo da electricidade e demais tecnologia, uma parte dos socialistas acha que votar na extrema-esquerda é uma espécie de fazer de conta que temos uma revolução. Grita-se como nas revoluções. Chora-se, canta-se e dizem-se poemas como nas revoluções de antigamente. Mas o objectivo, no fim, é voltar a viver como há dez anos.

Só que mudar de roupa, voltar a ter frigorífico e ligar-se à net, uma vez regressados à civilização, é bem mais simples que mudar de governo, sobretudo se esse governo tiver uma retórica de esquerda radical.

O que mais perturba nesta transferência de votos da esquerda democrática para a esquerda radical é que durante anos e anos os socialistas foram apresentados como o eleitorado mais culto e cosmopolita dos respectivos países. Ora, assim que a riqueza acabou, os socialistas não ficaram apenas sem programa, ficaram também sem verniz: os seus eleitores declaram-se disponíveis para apoiar a socialização das dívidas com a mesma fé dogmática com que os comunistas votaram no passado ao confisco e divisão da propriedade. A forma como desenham uma Europa livre da disciplina orçamental em pouco se distingue na ingenuidade dos amanhãs que cantam do PCP.

Há algo de regressão intelectual neste processo. Uma espécie de infantilização de gente que, depois de ter um projecto para mudar as sociedades e governar civilizadamente os seus países, repete agora, como se estivesse numa sessão esotérica de invocação das vidas passadas, que a austeridade acabou na Grécia e quiçá na Europa simplesmente porque ganhou um partido que se diz anti-austeridade.

E em Portugal? Os socialistas portugueses manifestam uma enorme disponibilidade para, em nome da esquerda, aderir a projectos em que fantasia e caudilhismo se misturam. Vejam-se, por exemplo, os apoios conseguidos pela candidatura de Manuel Alegre cujo programa ao certo nenhum dos seus eleitores – nem o próprio – saberiam explicar. Era tudo atitude: dizia-se Pátria, Liberdade e grilhetas e lá ia Portugal a caminho daquele Graal que só eles decifravam. O próprio António Costa chegou a secretário-geral rodeado de uma aura de pensamento mágico que seria ridícula caso não fosse perigosa: acreditava muito boa gente que bastaria afastar Seguro para que o PS galopasse nas sondagens. Agora mostram-se impacientes porque tal ainda não aconteceu.Da impaciência à desilusão – na esquerda nunca se cometem erros, têm-se ilusões e desilusões – vai um caminho muito curto. E potencialmente perigoso.

A isto, que já não é pouco, junta agora o PS, por vicissitudes do socratismo que os usou como milícia mediática, uma aguerrida ala esquerda que estuda pouco mas sabe bem o que quer: sentar-se num futuro conselho de ministros nas cadeiras que lhes permitam fazer à força de decreto-lei a revolução que os seus amigos de extrema-esquerda hesitam se devem fazer na rua ou na secretaria. Eles têm a certeza que deve ser na secretaria e já lá estão à espera desse momento. Chegaram primeiro e vão lembrá-lo a quem de direito.

Não nos falta portanto quem esteja disponível para apoiar um projecto de esquerda radical. Apenas não existe um Tsipras ou um Iglesias. Ou seja, um líder carismático e populista susceptível de aglutinar aquela espécie de células em divisão constante que são os movimentos à esquerda do PS e os desiludidos do próprio PS.

Nesse sentido e também porque o PCP lá está a cumprir o seu papel histórico de corta-fogo à esquerda, os socialistas portugueses têm a vida bem mais simplificada que os espanhóis, o que não é o mesmo que dizer que terão uma vida simples. Na verdade, a vida complicou-se-lhes.

A António Costa não basta, como muitos acreditaram, continuar a reagir como se ainda estivesse à noite a fazer comentário na SIC sob o olhar complacente de Pacheco Pereira e Lobo Xavier e de manhã na CML a engolir as oposições dos zés que faziam falta e das emocionadas rosetas.

O seu caderno de encargos cresceu. Não só os socialistas lhe exigem que ganhe as eleições, como outra tarefa o espera: não deixar que aconteça ao PS o mesmo que ao PASOK e ao PSOE. Conseguir capitalizar em proveito próprio a arregimentação da extrema-esquerda e a sua falta de liderança pode ser uma táctica para ganhar tempo mas nunca uma estratégia para governar. Ou os socialistas fazem um discurso de poder, ou seja, dizem como vão governar, ou eles e todos nós temos um problema. 
Um problema chamado triunfo do populismo.






Boletim da Associação Cristóvão Colon


Para ler o boletim clique aqui.

Para visitar o sítio: http://www.colon-portugues.blogspot.pt/

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015


Os Americanos e a Base das Lajes


João José Brandão Ferreira, Oficial Piloto Aviador

A operação das forças militares americanas na Base Aérea das Lajes há muito que merecia um livro.

Muito resumidamente foi assim:

A apetência dos EUA pelos Açores (e Cabo Verde) recua à Guerra Hispano-Americana, de 1898, que marca o início do imperialismo «yankee» fora do continente Americano, o que nunca mais parou até hoje.

Prolongou-se na I Guerra Mundial, com a ameaça submarina alemã e a visita do futuro presidente Roosevelt (na altura subsecretário de Estado da Marinha), em 1918, e firmou-se na II Guerra Mundial, por causa da ameaça naval alemã – podia ter sido aero-naval caso a Alemanha tivesse intentado e conseguido ocupar aquele arquipélago e também o da Madeira.

Mas quem, de facto, pensou ocupar os Açores – considerados como uma fronteira avançada de defesa da América – foram os próprios americanos, que chegaram a preparar uma invasão e ocupação do território, em Jul/Ago de 1941 (Operação «Life Buey», comandada pelo Brig. Gen. Holland Smith).

Acontece que o governo português da altura – estrénuo defensor dos interesses portugueses – tinha reforçado os Açores com 25 000 homens e alguns meios aéreos e navais, dispondo-se a garantir a neutralidade proclamada, mesmo com o uso da força.

Os Americanos fizeram um cálculo do risco e das baixas e hesitaram.

Mais experientes do que os seus amigos do outro lado do Atlântico, a diplomacia inglesa, valendo-se do especial relacionamento que tem connosco, desde 1373, veio tentar acalmar os ânimos e negociar uma solução adequada, até porque o governo português, num gesto habilíssimo, ameaçou invocar a velha Aliança em caso de ataque americano…

Destas negociações que foram duras e demoradas resultou a ida dos ingleses para as Lajes e, mais tarde, a dos americanos para Santa Maria, com a condição de no fim da guerra saírem, deixarem-nos todas as instalações, garantirem a soberania portuguesa em todos os territórios ultramarinos e, ainda, a garantia que Timor Leste – ocupado pelos japoneses – voltaria para Portugal e que forças portuguesas participariam na libertação do território.

Tudo foi cumprido.

Em 1948 (ano anterior ao estabelecimento da OTAN) os EUA solicitaram facilidades de operação na Base Aérea 4 nas Lajes, o que foi concedido, até hoje.

A Base das Lajes pertence à Força Aérea Portuguesa.

Deste modo estabeleceu-se um destacamento da Marinha dos EUA – que operavam os aviões – outro da USAF – que operavam os meios de apoio terrestre – e do Exército Americano - que operavam as lanchas e equipamento portuário…

E como o governo de Lisboa, da altura, não brincava em serviço e não deixava que estrangeiros nos ditassem leis, logo acordou com Washington, um conjunto de condições que, além de não comprometerem minimamente a soberania nacional, tornavam os EUA completamente devedores de Portugal, pois não pagavam um dólar por lá estarem.

Tal facto devia-se a que a lógica política de então defendia, por ex., que nenhum pedaço de território nacional podia ser alugado…

Foi criado um Comando Aéreo Português, cujo comandante seria sempre mais antigo que o oficial americano mais graduado e, até, a bandeira americana não estava autorizada (creio que ainda não está) a tocar o solo Pátrio, ficando simbolicamente, assente num bloco de pedra para o efeito concebido.

Marcello Caetano, que sucedeu a Salazar na chefia do governo, mudou a postura portuguesa para com os EUA, relativamente às Lajes, negociando contrapartidas materiais pela presença americana, o que se podia consubstanciar em ajuda económica directa ao Arquipélago, melhoria das condições dos trabalhadores portugueses e, sobretudo, em armamento e equipamento militar, de que as Forças Armadas Portuguesas estavam muito carenciadas devido aos conflitos ultramarinos iniciados em 1961.

Esta nova política acabou por não dar grandes frutos, sofrendo Portugal uma espécie de «ultimato» encapotado, relativamente ao uso indiscriminado da base, no socorro que Washington prestou a Israel na Guerra do Yom Kipur, em 1973.

A importância dos Açores nunca diminuiu para os EUA durante toda a «Guerra Fria», por causa do eventual reforço rápido da Europa, da ameaça submarina soviética, além de ser ponto de apoio importante para aviões em rota para o Médio Oriente.

Com a queda do «Muro de Berlim», em 1989, e a evolução geopolítica daí decorrente; a melhoria dos armamentos e, ultimamente, a mudança de prioridades de Washington para o Pacífico, a importância conjuntural da Base das Lajes perdeu valor relativo para os americanos.

Daí a natural mudança do seu dispositivo.

Por isso é lógico que queiram reduzir a sua presença nas Lajes (em 485 pessoas) mas, estamos em crer, jamais a Secretaria de Estado da Defesa dos EUA, quererá sair de lá de vez…

É claro que esta redução vai constituir um duro golpe na economia da Ilha Terceira e levar ao desemprego estimado de 500 trabalhadores portugueses, cujo vínculo se procurava articular com as leis de trabalho nacionais.

Mas temos de perceber que os Americanos não estão lá pelos nossos lindos olhos e tratam de defender os seus interesses e não os alheios.

Os Açores já tinham sofrido um duro golpe aquando da saída dos franceses da base de rastreio de mísseis, que montaram na Ilha das Flores, em 1993, sem que tivesse ocorrido o alarido de agora.[1]

Pacífica e gradual foi, também, a saída dos alemães da base de Beja, em 1993.[2]

Por tudo isto não se entende o actual «histerismo» de políticos e sobretudo do Governo Regional dos Açores, à volta deste assunto, revelando uma grande falta de sentido de Estado e em nada contribuindo para um bom desfecho do que está em curso e para as futuras relações com os EUA.

A ameaça velada e pública, sobre a possibilidade da China (ou outros) poder vir a operar no Arquipélago é, a todos os títulos, deplorável.

Há coisas que se tratam na circunspecção das chancelarias e não no ruído e demagogia da rua.

Um contracto é um vínculo de interesses comuns, entre duas ou mais partes. Se uma das partes se quiser desvincular, só tem que o fazer negociando tal desiderato em função do que estiver vertido no acordo.

Além do mais este é um assunto de Defesa e Segurança Nacionais, tratado Estado a Estado e, por isso, o Governo Regional, deve-se remeter apenas para as suas funções constitucionais.

Nós podemos, eventualmente, gostar mais ou menos da presença americana nas Lages, mas a decisão da sua diminuição ultrapassa-nos. A não ser que fossemos nós a querer impor essa redução.

Pode (e eventualmente deve) Lisboa mostrar as suas preocupações; oferecer a sua hospitalidade; apresentar outras propostas de relacionamento bilateral, etc., mas não pode exigir nada relativamente à presença americana na Base, a não ser o que está estritamente acordado para o efeito, e ficar com as decisões ora tomadas, em carteira.

A algaraviada de exigências propaladas pelos «media» não passam de ruído ineficaz, apenas explicáveis pela eterna luta partidária.

Temos que estar atentos ao comportamento do FMI e do Banco Mundial, onde os EUA pontificam, cuidar da nossa comunidade emigrante naquele país e ter que ter especial cuidado com a atitude que os Americanos irão assumir, na ONU, face à proposta de alargamento da Plataforma Continental, apresentada por Portugal.

E, curiosamente, não vemos ninguém preocupado com a exiguidade (sempre a diminuir…), de meios militares portugueses no (s) Arquipélago (s) e na necessidade urgente de inverter a situação.

Requerem-se bom senso e clarividência política e estratégica.

Uma coisa – além do «saber» – anda, aliás, ligada à outra.

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[1] O anúncio da constituição da Base foi feito pelo MNE Franco Nogueira, em 1964, tendo o acordo sido assinado, em 7 de Abril daquele ano, e as suas instalações inauguradas em Outubro de 1966.

[2] O acordo para a utilização da Base de Beja (construída de raiz), ocorreu em Dezembro de 1960, mas o primeiro contingente de militares alemães só chegou em 8/8/1966.