BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

3 físicos mundialmente reconhecidos afirmam: «Existe uma lógica superior.»


Redacção da Aleteia, 5 de Dezembro de 2017

«A ideia de que tudo é resultado do acaso e da diversidade estatística é inaceitável. Existe uma inteligência a um nível superior, que vai além da existência do próprio Universo»

É instigante uma recente reflexão do físico italiano Antonino Zichichi, cuja autoridade científica, durante bastante tempo, sofreu uma campanha de descrédito promovida por expoentes do mundo anticlerical. Motivo? Zichichi afirmou, muitas vezes, que acredita em Deus graças à ciência.


Apesar das tentativas de alguns militantes ateístas de diminuí-lo por causa da sua crença em Deus, Zichichi continua muito bem avaliado no H-Index, uma espécie de escala que mede o impacto de indivíduos no mundo científico: o índice dele é 62, igual ao de Stephen Hawking e bastante superior, por exemplo, ao de Sheldon Lee Glashow (52), que ganhou o Prémio Nobel.

Zichichi é professor emérito de Física na Universidade de Bolonha, vencedor do Prémio Fermi, ex-presidente da European Physical Society (EPS) e do Instituto Nacional de Física Nuclear, de Itália. Com estes atributos nada desprezíveis, ele escreveu:

«As descobertas científicas são a prova de que não somos filhos do caos, mas sim de uma lógica rigorosa. Se há uma lógica, deve haver um Autor».

O físico afirma que a ciência não pode explicar ou reproduzir milagres. Isto equivaleria a «iludir-se com a ideia de descobrir a existência científica de Deus», o que, para ele, é impossível:

«Se a ciência O descobrisse, Deus só poderia ser um facto da ciência e ponto final. Se a matemática chegasse ao ‘Teorema de Deus’, o Criador do mundo só poderia ser um facto da matemática e ponto final. Seria pouca coisa. Para nós, crentes, Deus é tudo, não apenas uma parte do todo».

Dito de outra forma: se Deus pudesse ser destrinchado pela ciência (a famosa «prova científica» tão pedida pelos antiteístas), então Ele não seria mais o Criador, mas apenas uma criatura.

Zichichi descreve duas realidades da existência: a transcendente e a imanente. Esta última, diz ele, é estudada pelas descobertas científicas, enquanto a primeira é de competência da teologia.

«É um erro pretender que a esfera transcendente deva ser como a que estudamos nos nossos laboratórios. Se as duas lógicas fossem idênticas, não poderia haver milagres, mas somente descobertas científicas. Se fosse assim, as duas esferas, a do imanente e a do transcendente, seriam a mesma coisa. É isto o que reivindicam os que negam a existência do transcendente, como faz a cultura ateia. Não é um detalhe. Os milagres são a prova de que a nossa existência não é exaurida no imanente. Existe algo além».

O Autor de tudo aquilo que a ciência descobre.

«…é uma inteligência muito superior à nossa. É por isso que as grandes descobertas não vieram da melhoria dos cálculos e das medidas, mas do totalmente inesperado. O maior dos milagres, como dizia Eugene Wigner, um gigante da ciência, é que a ciência existe».

As palavras de Zichichi conectam-se claramente às reflexões de Albert Einstein, que escreveu:

«Você acha surpreendente que eu pense na compreensibilidade do mundo como um milagre ou um eterno mistério? Afinal, poderíamos esperar, a priori, um mundo caótico, totalmente impenetrável pelo pensamento. No entanto, o tipo de ordem que, por exemplo, foi criada pela teoria da gravitação de Newton é de carácter completamente diferente: embora os axiomas da teoria tenham sido postos pelo homem, o seu sucesso pressupõe um alto grau de ordem no mundo objectivo, que não tinha qualquer justificativo para ser previsto a priori. É aqui que surge o sentimento do ‘milagroso’, que cresce cada vez mais à medida que o nosso conhecimento se desenvolve. E aqui reside o ponto fraco dos positivistas e dos ateus de profissão, que se sentem pagos pela consciência por terem não apenas libertado com sucesso o mundo de Deus, mas até mesmo por tê-lo privado dos milagres» (cf. A. Einstein, carta a Maurice Solovine, GauthierVillars, Paris, 1956).

Único Nobel italiano ainda vivo, o físico Carlo Rubbia também se deixou questionar pelo porquê de a ciência poder ser tão eficaz:

«Se contamos as galáxias do mundo ou demonstramos a existência das partículas elementares, de forma análoga provavelmente não podemos ter provas de Deus. Mas, como pesquisador, sou profundamente impactado pela ordem e beleza que encontro no cosmos, bem como dentro das coisas materiais. E, como observador da natureza, não posso deixar de pensar que existe uma ordem superior. A ideia de que tudo isto é resultado do acaso ou da pura diversidade estatística é, para mim, completamente inaceitável. Existe uma inteligência a um nível superior, que vai além da existência do próprio Universo» (C. Rubbia, Neue Zürcher Zeitung, março de 1993).





segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Congresso Internacional sobre Cristóvão Colon


Caros amigos e interessados no tema,

A Associação Cristóvão Colon, em parceria com a Academia Portuguesa de História, a Academia de Marinha e a Comissão Portuguesa de História Militar, vai realizar o 1.º Congresso Internacional em Portugal sobre Cristóvão Colon.

Está aberto para comunicações de historiadores, académicos, pesquisadores ou estudiosos nacionais e estrangeiros, as quais serão seleccionadas pela Comissão Científica.

Solicitamos também a sua divulgação pelos meios que entenderem apropriados.

Em anexo poderão consultar a respectiva Apresentação e Call for Papers.

ou na nossa página

http://colon-portugues.blogspot.pt/


Cumprimentos

ACC

Carlos Calado





domingo, 12 de novembro de 2017

SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA





 O Presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa tem a honra de convidar V. Ex.ª para participar na Conferência «O papel das Forças Armadas na luta contra o terrorismo no território nacional», promovida pela Secção de Ciências Militares.

A sessão terá lugar no dia 23 de Novembro de 2017

pelas 17h00 na Sala Algarve.

Será orador o Tenente General Manuel Vizela Cardoso

Rua das Portas de Santo Antão, 100 1150-269 LISBOA Tel.: 21 3425401/5068
geral@socgeografialisboa.pt www.socgeografialisboa.pt





sábado, 21 de outubro de 2017

Conferência na Universidade do Minho



Caros amigos e interessados no tema Cristóvão Colon,

No próximo dia 27 o nosso membro Walter Gameiro estará na Universidade do Minho para divulgar e debater as questões em torno da 1.ª viagem de Colon às Américas, nomeadamente sobre quais as ilhas efectivamente alcançadas.

Qual a ilha de Guanahani a que Colon chamou S. Salvador?

Seria a ilha de Watling ou alguma outra, de entre as 10 candidatas?

Samuel Elliot Morison estava certo ou errado quanto a este aspecto?

E quanto a outros aspectos que transmitiu no seu livro, considerado uma referência?

Esperamos a vossa presença


Associação Cristóvão Colon





quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Conferência: «Ases da Aviação de Caça da 1.ª Guerra Mundial»



CONVITE

Quarta-feira, 25 de Outubro, às 18h00
Salão Nobre do Palácio da Independência
Largo de São Domingos (ao Rossio), Lisboa

CONFERÊNCIA

«Ases da Aviação de Caça da 1.ª Guerra Mundial»

pelo Ten.-General Piloto Aviador (Ref.) José Armando Vizela Cardoso

Instituto Bartolomeu de Gusmão

Entrada Livre





domingo, 15 de outubro de 2017

Eventuais cenários político/castrenses [(2 conclusão)]




João José Brandão Ferreira, oficial piloto aviador, 14 de Outubro de 2017

12/10/17 (Dia da chegada de Cristóvão Colon às Índias)
«A ingenuidade é o humilde parasita da ignorância»
Ortega y Gasset

Mas que o Dr. Costa tem que pôr ordem no beco, rapidamente, tem (mas não vai pôr, é claro).

Olhe o Exército está de rastos, há mais de quatro meses e, na prática, apenas tem um general e anda tudo zangado. Ninguém se entende sobre as promoções (há ainda pendente o caso do major-general Vasconcelos, que está emprateleirado no EMGFA); o seu «4.º secretário» das finanças nunca mais se resolve a dar autorização para que alguém seja promovido (uma situação escabrosíssima para as Forças Armadas (FA), mas com a qual todos os generais e almirantes têm convivido felizes da vida – por muitíssimo menos se fez o 25/4, que deu nisto); o caso das mortes dos Comandos arrasta-se; a questão de Tancos – que está para lá de qualquer congeminação – não tem fim à vista e, aparentemente, ninguém sabe o que se passou; para já não falar nos anteriores assaltos às arrecadações de material de guerra dos Comandos, dos Fuzileiros e da PSP.

O Exército está tão desgraçado – e isto pesa-me pois eu até sendo da Força Aérea, fui formado na Academia Militar – que já nem consegue comemorar o Dia da Infantaria e o seu Patrono, o Condestável e Santo D. Nuno Álvares Pereira.

De facto, após mais uma decisão assaz infeliz sobre a reforma das Escolas Práticas das Armas e Serviços – uma asneirada infrática de que só o Exército se pode queixar – o Dia da Infantaria era comemorado como de tradição e estava certo, a 14 de Agosto e em Mafra, onde estava instalada a casa mãe da Arma, desde 1887.

Acontece que com o fim dessa Escola Prática há cerca de três anos, passaram as comemorações para o Campo de S. Jorge, onde se deu a inolvidável batalha.

A cerimónia foi um fiasco.

No ano seguinte foi cancelada, alegando-se que a maior parte do pessoal militar estava envolvido nos incêndios, e passada para o dia do Regimento de Infantaria de Beja…

Este ano alegou-se o mesmo, mas passou-se a cerimónia para o dia 4 de Outubro, em Aveiro, Aniversário do Regimento de Infantaria 10, lá (ainda) aquartelado!

Acontece que, por coincidência, fazia parte desta cerimónia a passagem de testemunho (um bastão) entre o general mais antigo, oriundo de Infantaria, designado «Director Honorário da Arma de Infantaria» e o seu sucessor.

Esta cerimónia que é uma tradição firmada e grada, na hoste que defendeu a Nação desde 1128, é antecedida de um jantar de confraternização e despedida, do cessante.

Este ano o jantar estava marcado para a véspera, como é habitual, pelo actual vice-chefe tenente general Serafino (o único general que resta no activo) que iria receber o «bastão» das mãos do CEME, depois de recebido do director cessante, tenente general Menezes.

Acontece que este último general foi um dos que se demitiu recentemente em choque com o actual e algo moribundo general CEME.

Ora este, uns dias antes do evento marcou uma reunião do Comando do Exército justamente para o mesmo dia, não se esquecendo de informar que a mesma não tinha hora para terminar.

Ou seja inviabilizou na prática, o jantar. Em face disto, vários oficiais cancelaram a sua participação nas comemorações do dia seguinte.

Isto é mau demais para ser verdade. E vamos a ver e, afinal, é!

Parece, outrossim, ser de uma evidência cristalina que os dias festivos devem ser comemorados nesses precisos dias e não noutros!

Seguiu-se a mesma cena relativamente ao Dia da Engenharia Militar, adiada do seu verdadeiro dia (13/7) por na altura o comandante estar «exonerado temporariamente» e o ambiente ser de cortar à faca…

A cerimónia teve lugar a 13/10, mas as ausências gradas da família do «Barrote ao Alto» foram mais que muitas.

Nada, porém, que afecte deslumbrados que vivem em estado de negação…

E vamos ficar por aqui.

Na Marinha continua em curso o apaziguamento após a saída do ex-CEMA, almirante Macieira Fragoso, há poucos dias brindado com a pequena prebenda de presidente não executivo dos Estaleiros da Naval Rocha (do grupo Empordef).

Mas existe um problema derivado da saída extemporânea do vice-almirante Pires da Cunha, do EMGFA e que passava à reserva em Janeiro. Para o seu lugar seguiu o tenente general Almeida da Força Aérea.

Dadas as estritas regras e completa ausência de «almofadas» administrativas e de autoridade na administração de pessoal por parte dos Chefes de Estado-Maior – reduzidos na prática a «ajudantes» (finalmente a «célebre» frase de Cavaco Silva sobre os secretários de Estado fez carreira), o senhor almirante boia à tona de água. Vamos a ver para onde a corrente o leva.

Porque é que as coisas se passam assim? Mistério.

A Força Aérea está sem comandante de Pessoal e sem comandante da Logística, pois as promoções tardam – uma situação deveras caricata e insustentável, mas como pelos vistos não há sindicatos que defendam a instituição e os generais e almirantes ainda não ameaçaram fazer greve como os juízes, nem fazem dos militares gato, sapato.[1]

Uma palavra em defesa da Instituição e da inocência presuntiva dos militares presos preventivamente há demasiado tempo, até serem condenados, por causa do problema das eventuais falcatruas nas messes, também seria apreciada.

Enfim este último caso, como outros, levanta o magno tema do fim dos tribunais militares e do foro próprio militar, pecado original terrível e que não mereceu da hierarquia de então, qualquer repúdio, nem levantou qualquer prurido, até hoje, às chefias que se seguiram.

Um desastre!

Finalmente e como prova do maior desprezo, e inaudita desfaçatez, o Governo – depois de andar a brincar e enganar tudo e todos com um orçamento esquálido para sustentar o ridículo dispositivo e sistema de forças existente – depois de aprovar os «numerus clausus» para os cursos de oficiais e sargentos dos três Ramos, e cadetes das Escolas Superiores Militares, e já depois dos concursos feitos e pessoal admitido, veio reduzir há poucos dias, estes mesmos números, deixando os Ramos ainda mais desprovidos de pessoal, que já está abaixo de todos os mínimos há muito, e criando problemas pessoais a dezenas de cidadãos que vêm as suas vidas profissionais serem destruídas ou adiadas.

Uma situação inadmissível que só encontra explicação no miserável rateio que andam a fazer com o Orçamento de Estado a fim de contentarem os partidos defensores de ideologias criminosas e desgraçadas!

Estava a esquecer-me do CEMGFA, general Pina Monteiro. Naturalmente porque desapareceu em combate; combate que deve estar a ser sério, pois recordo-me de o ter ouvido queixar-se de um murro que levou no baixo-ventre.

Já agora, e para terminar, Sr. PM e Sr. MDN e, também, Senhor PR, os aviões da Força Aérea (FA) não existem para transportar a selecção portuguesa de futebol, ou outra, para Andorra ou seja para onde for. Os aviões da Força Aérea servem para ir, por exemplo, salvar os jogadores ou outros portugueses, caso eles estejam em perigo.

Vejam se percebem a diferença.

Como podem observar os leitores há por aqui soma considerável de assuntos por onde reflectir. A começar por esta crónica que não devia ter razão de existir.

E não faltam instituições e organizações espalhadas pelo País onde se estudam e reflectem estas e muitas outras coisas.

Convinha é que quem agora reflecte tivesse tido e querido, o ensejo de o fazer quando ainda estavam no activo da sua vida profissional.[2]

E mais do que reflectir, importa agir. Haver gente que decida.

Os Governos sustentados nos Partidos, ou os Partidos sustentados pelos Governos, são por norma relapsos a qualquer reflexão e ideias que venham de fora do ovo da serpente que os gera e mantém, visando a manutenção do Poder, o que não tem nada a ver com o governo da cidade, mas sim com o acesso a negócios de muito dúbia idoneidade.

Como os sucessivos escândalos judiciais têm demonstrado à saciedade.

A Instituição Militar anda perdida (embora nem todos se percam) no meio disto tudo.

Finis Pátria.


[1] Já agora também convém referir que os polícias – que têm neste momento (a situação é dinâmica) 16 sindicatos (!), sendo um de civis – teimam em desfilar e confrontar os seus «colegas» de serviço, quando não provocam desacatos, numa cadência estudada. Uma organização destas só tem um destino – apesar de não serem eles os principais responsáveis – é ser extinta na hora, e nascer no dia seguinte com outro tudo.

[2] Farão os leitores o favor de decidir o que entenderem melhor como corolário: «agora é tarde e Inês está morta», ou «vale mais tarde do que nunca»…





Eventuais cenários político/castrenses (1)




João José Brandão Ferreira, oficial piloto aviador, 14 de Outubro de 2017

12/10/17 (dia da chegada de Cristóvão Colon às «Índias»)
«A ingenuidade é o humilde parasita da ignorância»
 Ortega y Gasset

Agora que passaram as eleições autárquicas e o Orçamento para 2018 está quase pronto, é possível que já reste tempo e querer para o governo – sobretudo ao seu ministro entre todos o primeiro, pois é ele o responsável ante todos, pela política de Defesa Nacional (se é que alguma) – verter um pouco da sua atenção sobre o estado para – caótico em que se encontram as Forças Armadas (FA) em geral e o Exército, em particular.

Como a resolução dos problemas deve começar por cima deve apontar-se para o MDN, o Dr. Azeredo Lopes, cuja prestação tem sido singularmente desastrosa e está debaixo de fogo de tudo e todos, há basto tempo.

Sem embargo, e como pano de fundo, é necessário dizer isto: nós não temos, nem tivemos, nenhum ministro da Defesa, pois esta não existe como um todo. A Defesa Nacional está reduzida às FA e por isso nós apenas temos um ministro das, ou para, as FA!

Em segundo lugar a classe política em geral, tem demonstrado, com invulgar fulgor, pouco perceber de Defesa Nacional e de FA, e acha que aquela, e estas, não têm razão de existir desde que regressámos do Ultramar; consideram não haver ameaças (e se houver a NATO defende-nos, ah, ah, ah e a UE também, um ah, ah, ah, ainda maior) e que os militares são uns seres esquisitos, chatos, quadrados, que gostam de brincar às guerras e custam dinheiro que faz falta noutros âmbitos. Como se tem visto.

Finalmente os Partidos Políticos que são organizações inqualificáveis e que já levaram, grosso modo, o País por quatro vezes à beira da tragédia nos últimos 180 anos – e, tomem nota, hão-de levar uma quinta vez – não têm ninguém que saiba o mínimo de Defesa Nacional e sobre a Instituição Militar tão pouco, que queira prestar-se ao sacrifício, que julgam não estar à altura das suas ambições.[1]

Por isso é que existe sempre uma grande dificuldade em escolher uma figura para a função que é, aliás, tida como a maior das maçadas.

Em tempos o cargo de MDN ainda era visto como trampolim para o de MNE, ou outro voo qualquer. E, até ao Dr. António Vitorino, ainda engalanavam o título de MDN com o ministro de Estado ou vice-primeiro ministro. Mas isso foi chão que deu uvas e, de qualquer modo, agora a coisa está bloqueada.

E como quiseram e querem, arredar os militares de quaisquer funções que não estejam estritamente ligadas ao «quartel», nunca lhes passou pela cabeça colocar um militar em tal função governativa (e raramente noutra).[2]

Diga-se em abono da verdade que não seria fácil encontrar um militar com «jeito» para a função e não levantasse logo anticorpos aqui e ali, nomeadamente no seio dos oficiais generais e entre Ramos.

Relembra-se que o MDN, não existe, mas apenas o ministro para a tropa (isto é, para a controlar, reduzir e asfixiar).

Só o professor Salazar conseguiria nomear e aguentar um militar na função, durante 20 anos tendo ele sido promovido, no lugar, de capitão a coronel…

Mas tendo em atenção que a situação agora está a ficar assaz de má; não se vislumbra ninguém no PS que possa ir para o lugar, a não ser o eterno candidato, Dr. Miranda Calha (conhecido por «pisca-pisca»), que as sucessivas lideranças partidárias têm rejeitado, vá-se lá saber porquê; o actual secretário de Estado Perestrello ainda não saber se consegue levantar a nota ou não, desde a sua última prestação e o rebento do defunto Dr. Soares, apesar de ostentar uma recruta de três meses, em Mafra, ter perdido hipóteses desde que começou a ameaçar galhetas no «cara-livro» (em inglês «facebook»); o PCP não se querer meter neste «bagaço» (chiça!), e a Joana Amaral Dias, que teria todo o gosto, imagina-se, em passar revista às tropas grávida e nua, já não pertencer ao Bloco Canhoto, a coisa não está fácil.

Mas, tendo em conta a reconhecida esperteza saloia colorida a maquiavelismo, do optimista Dr. António Costa, vamos atrever-nos a especular sobre se não estará na base da sua mente de estiloso oportunista, querer empurrar um militar para a fogueira do granel em que estamos metidos e assim aliviar encargos à sua querida coligação gerigoncial.

Não me parece haver falta de putativas vítimas.

A opção, a dar-se, teria que ser por razões óbvias, num oficial na situação de reforma. Mas também não ponho as mãos no fogo por isso…

Não se vislumbrando ainda um familiar ou amigalhaço do peito (é normalmente por aí que a escolha começa) vai ter que se fazer um giro no horizonte para lobrigar quem possa estar em condições de aceitar o cargo.

A primeira escolha que ocorre é a do director do IDN, major-general Viana. Já está há algum tempo afastado das lides militares, tem feito um trabalho seguro, discreto e politicamente neutro, dentro do Instituto e já teve tempo de adquirir uma visão global das coisas.

Tem o óbice de só ter duas estrelas, mas isso para políticos que nem sabem distinguir os postos, é de somenos importância, e as sequelas da sua ultrapassagem na promoção já estarão esbatidas.

Segue-se um eventual adjunto militar do primeiro-ministro que tenha caído no goto de algum proeminente político, neste caso do PS, mas tal não parece ter hipóteses de acontecer pois, por norma, os PM ignoram olimpicamente tais personagens.

Haveria um, que por acaso é do meu curso, que tem boas capacidades para o cargo mas teve o azar de lhe calhar o «Agente Técnico» Sócrates, na rifa, pelo que pode apanhar por tabela. Além disso é por demais inteligente, para se ir envolver em tais andanças.

A maior parte dos ex-chefes militares, ou outros generais e almirantes, pelo que julgo saber, se fossem convidados para um cargo destes nem se dignariam responder e alguns teriam até movimentações anormais no cólon e inversões de fluxo no piloro…

Há porém, um ainda recentemente criado grupo, cujo acrónimo é GREI (Grupo de Reflexão Estratégica Independente), constituído apenas por oficiais generais, onde um eventual «recrutamento» pode ainda ser tentado. Passe a propaganda.

É preciso dizer que este grupo de cidadãos militares que enquanto no activo tiveram um estatuto cívico de «capitio diminuto», agravado pelo desprezo político e falta de defesa institucional, tem toda a legitimidade em existir e nada obstar à sua respeitabilidade. E qualquer intervenção cívica neste âmbito, feita com competência e boa intenção, só há que louvar.

O próprio general Ramalho Eanes teceu loas, publicamente, aquando do aparecimento do GREI, numa curta intervenção, «muito à sua moda».

Acontece, porém, que alguns dos seus mais proeminentes membros vieram apoiar pública e explicitamente um dos candidatos à Presidência da República, nas últimas eleições, precisamente aquele que, não sendo o candidato do PS, foi quem este apoiou realmente, e que saiu perdedor na contenda, o professor Sampaio da Nóvoa – por acaso meu colega no Liceu Nacional de Oeiras (digam lá se este liceu não andava muito à frente?!).

Ora isto introduziu alterações de monta no posicionamento do grupo, apesar de ter havido o cuidado de esclarecer (embora a opinião pública não o saiba), que tais apoios seriam a nível individual e não a nível de grupo.

A direcção do mesmo teve o cuidado até de, recentemente ter pedido uma audiência ao actual Presidente da República, a fim de lhe oferecer um livro sobre as suas actividades, com a respeitabilidade que o prefácio do professor Adriano Moreira lhe confere.

Porém, a possibilidade de escolha existe (para MDN), e dadas as circunstâncias as pessoas que melhor se posicionam para tal eventualidade são (a ordem é arbitrária) os generais Pinto Ramalho, major-general Sequeira (que já foi Secretário-Geral do MDN e de seguida convidado para administrador da EPUL, tido como próximo do actual PM) e almirante Melo Gomes.[3]

O general Luís Araújo que, apesar de não pertencer ao grupo, esteve aparentemente, com um pé dentro e outro fora, no apoio ao candidato derrotado, não nos parece estar para se sujeitar a tal encargo, já que terá a sua ambição de defender a Pátria, saciada e está a desfrutar da confortável situação como administrador delegado do Estado (não executivo), nas OGMA, recebendo por sessão de «trabalho» um confortável pecúlio típico destas funções. E que nunca ninguém sabe como e em que termos, é definido.

Além disso passou a ser representante da NAV, para o que se está a preparar relativamente à utilização da Base Aérea do Montijo, como complemento da Portela.

O tenente general Mourato Nunes (também do GREI), que foi Comandante – Geral da GNR, cujas ambições várias são conhecidas, também é outro personagem sobre que o radar dos actuais políticos pode fazer «lock on», tendo o Governo de Sócrates chegado a inventar um cargo feito à medida para ele aquando da sua passagem à reserva.[4]

Respirem fundo que o texto é apenas um exercício de ficção.

(Continua)


[1] Para não haver dúvidas queremos deixar expresso que o período considerado começa em 1820 (antes dessa data nunca se falou em Partidos Políticos); passa por três guerras civis: liberais versus legitimistas, Maria da Fonte e Patuleia; A Regeneração, com o seu «Rotativismo» que desembocou na queda da Monarquia; a I República que acabou ao fim de 16 anos de desgraça; a situação pós revolução dos cravos que vai sobrevivendo à dívida galopante (e já vai em três pré bancarrotas) e à geométrica perda de soberania, lambendo as feridas, para já, do resgate da «Troika».

[2] É preciso dizer que após o 25/4/74 houve dois militares que foram ministros da defesa, os generais Firmino Miguel e Loureiro dos Santos, mas foram-no em Governos Provisórios, após a euforia da «revolução».

[3] EPUL – Empresa Pública de Urbanização de Lisboa, extinta em Dezembro de 2012.

[4] Tinha o incrível nome de (não se riam) «Secretário-Geral para a Cooperação entre os povos de Língua Portuguesa, em matéria de Segurança Pública, no âmbito do Ministério da Administração Interna». O Ministro era então o Dr. A. Costa. Durou entre 2008 e 2010. Foi posteriormente Presidente do Instituto Geográfico Português, tendo apresentado o seu pedido de exoneração, antecipando a extinção do cargo ao tempo de Assunção Cristas como ministra, da Agricultura, do Mar, etc.






domingo, 24 de setembro de 2017

Lançamento do livro sobre Afonso de Albuquerque




João José Brandão Ferreira

Academia de Marinha, 21 de Setembro de 2017.

Exm.º Senhor Almirante Vidal Abreu

Restantes membros da mesa

Caros académicos

Minhas senhoras e meus senhores

Bem hajam por se terem dado à maçada de virem assistir ao nascimento deste meu último descendente, já que o livro ora lançado perpetua uma parte do meu pensamento, logo da minha existência.

Vou falar-vos um pouco sobre Afonso de Albuquerque, pois é dele que trata o livro que agora dá à estampa.

E vou começar por dizer um poema de Miguel Torga, a ele dedicado e que foi musicado para o CD «Portugal Sempre», por José Campos e Sousa. Reza assim:

      «Quando esta escrevo a Vossa Alteza
      Estou com um soluço que é sinal de morte.
      Morro à vista de Goa, a fortaleza
      Que deixo à Índia a defender-lhe a sorte.

      Morro de mal com todos que servi,
      Porque eu servi o rei e o povo todo.
      Morro quase sem mancha à tona deste lodo.

      De Oeste a Leste a Índia fica vossa;
      De Oeste a Leste o vento da traição
      Sopra com força para que não possa
      O rei de Portugal tê-la na mão.

      Em Deus e em mim o império tem raízes
      Que nem um furacão pode arrancar…
      Em Deus e em mim, que temos cicatrizes
      Da mesma lança que nos fez lutar.

      Em mais alguém, Senhor, em mais ninguém
      O meu sonho cresceu e avassalou
      A semente daninha que de além
      A tua mão, Senhor, lhe semeou.

      Por isso a índia há-de acabar em fumo
      Nesses doiros paços de Lisboa;
      Por isso a pátria há-de perder o rumo
      Das muralhas de Goa

      Por isso o Nilo há-de correr no Egipto
      E Meca há-de guardar o muçulmano
      Corpo dum moiro que gerou meu grito
      De cristão lusitano.

      Por isso melhor é que chegue a hora
      E outra vida comece neste fim…
      Do que fiz não cuido agora:
      A Índia inteira falará por mim.»

O fidalgo Afonso que foi governador da Índia, também conhecido pelo «Grande», o «Leão dos Mares», o «César do Oriente», o «Marte Português», o «Tirribil», e a quem D. Manuel I, depois da sua morte e arrependido do modo como o tratara, fez vice-rei daquela e distinguiu com os títulos de Duque de Goa, Senhor do Mar Vermelho e, ainda, concedendo-lhe o tratamento de «Dom».

E a quem, um notável ancião de Orfação ofereceu um livro em persa, sobre a figura de Alexandre Magno – de quem Albuquerque era admirador – tendo considerado os portugueses mais valentes do que aquele grande-capitão.

Não me parece vã e desajustada esta asserção.

De facto Albuquerque reunia todas as qualidades de um estadista, para além das de chefe militar que foi o seu mister inicial e mais prolongado no tempo. Onde revelou sempre serena e ponderada coragem e energia debaixo de fogo, e nas circunstâncias mais extremas.

Como guerreiro combateu em Toro, e esteve duas vezes em Arzila. Foi na armada a Taranto e participou na tomada de Graciosa e em todas as campanhas militares onde Portugal esteve contemporaneamente envolvido.

Foi à Índia pela 1.ª vez sem piloto e foi o primeiro europeu a penetrar no Mar Vermelho.

Como administrador e político, a Índia fala por ele. Foi inovador e estava à frente do tempo.

Tinha senso diplomático e era de uma argúcia sibilina.

Era um geoestratega de alto gabarito, tendo delineado um plano de dominação do Índico que até hoje não foi superado!

E complementava tudo com uma humanidade que tocava os simples, sem quebra do seu escrúpulo de justiceiro implacável, afastado de toda a cupidez que tantos demonstravam ter. Conhecia a natureza humana e não tinha ilusões sobre os homens.

Albuquerque via tudo e atendia a tudo!

Que exemplo para todas as gerações! E é desse exemplo que é mister falar na actualidade.

Esta é a razão principal para a elaboração deste pequeno ensaio – que será a sua eventual mais-valia – já que não pretende ser uma obra de fôlego, sobre esta grande figura da história dos portugueses, muito menos uma «obra definitiva».

Que exemplo pode então ser Afonso de Albuquerque para os portugueses de hoje, sobretudo para aquelas gerações completamente arredadas e desconhecedoras da História dos seus maiores?

A História dos países é feita pelos grandes vultos desses países: os estadistas, os chefes militares, os jurisconsultos, os filósofos, os artistas, os cientistas, os escritores, enfim todos aqueles que se destacam positivamente nos diferentes campos e profissões em que se distribui a actividade humana. Onde se avantajam os santos e os heróis.

Por todos aqueles que se atêm aos princípios elevados e à prática do bem.

E também pela qualidade da generalidade do povo, que vive, trabalha, luta e muitas vezes morre e, quando devidamente liderado e enquadrado, sustenta os maiores sacrifícios em prol da pátria comum.

A História não é feita, como defende o compêndio marxista por lutas de classes; movimentos de massas; baseado em factores de estipêndio económico.

Muito menos por anti-heróis.

Tão pouco explicada e distorcida por correntes ideológicas; ou orientada por uma pseudo União Europeia que se esforça em ocultar tudo aquilo que pode dividir os países membros em prol de uma mestiçagem histórica, postiça, mentirosa e apócrifa.

A História é feita por homens e mulheres que em função das suas crenças, posição, oportunidade e circunstância, decidem actuar de um modo e não de outro.

Ora Albuquerque é um paradigma de tudo isto.

Ele representa uma ideia de vida com dimensão espiritual; um defensor de causas; um lutador determinado sem desfalecimentos; a lealdade consciente e lúcida ao seu país e ao seu rei, apesar de todos os vilipêndios de que foi alvo.

Este homem, da confiança de D. João II, era uma força da natureza; era culto, era competente e era bravo. Tinha consciência das suas capacidades – ou seja conhecia-se a si próprio e aos outros – mas não exorbitava, sem embargo de alguns acessos de cólera que tinha, que eu diria compreensíveis face a tudo por que passou.

E como disse aquele que foi provavelmente o maior estadista português de todos os tempos: «existem santos entre os homens, mas os homens não são santos»…

Significando a perfeição estar longe dos humanos.

Uma realidade que todos nós e sobretudo os legisladores, teimamos em ignorar!

Albuquerque é um exemplo extraordinário de militar, cujos feitos e actuação nos emocionam, fazem correr o sangue mais depressa nas nossas veias e nos impelem a saltar da cadeira onde estejamos sentados! 

Ao ler a descrição dos seus combates percorre-nos uma corrente eléctrica incontrolável que nos põe a epiderme em «pele de galinha» e nos enche de um orgulho incontido.

Albuquerque gozou do raro privilégio de ser respeitado e admirado, para além de temido, pelos seus inimigos (que não os da Corte…).

E um homem cuja memória ainda hoje é venerada no principal território que refundou, que se manteve 450 anos português, mesmo 60 anos após a nossa lamentável partida, não pode ser um homem qualquer.

E tem de ser um homem com «H» maiúsculo e um homem bom.

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Afonso de Albuquerque é, porém, para a maioria da sociedade moderna e modernaça, uma espécie de anacronismo!

E, todavia, ele representa um pilar da sobrevivência dos povos.

A Honra, de que as suas barbas representavam uma espécie de penhor, valia mais do que todas as riquezas do mundo.

Mas só quem tem o desapego das coisas materiais e, até da vida – entendida como terrenamente finita – pode realizar grandes coisas e, mesmo falhando, é invencível.

Só um crente pode comportar-se assim e Albuquerque era-o. E pertencia à mui nobre ordem militar/religiosa de Santiago da Espada.

E, caros compatriotas aqui presentes, nós estamos a necessitar de «ordens» como aquela, como de pão para a boca.

As Ordens Militares foram transformadas e depois extintas e substituídas, primeiro pelo absolutismo real; depois pelos partidos políticos.

Só as ditaduras de «nuances» marxistas e aquelas dos financeiros capitalistas apátridas conseguiram e conseguem, ser mais funestas que aquelas!

Ora um país que se esquece, por ignorância, diletantismo ou má-fé, de evocar, comemorar e exaltar os 500 anos do passamento desta figura maior da História Pátria, é um país e uma sociedade profundamente doente e a caminho da auto-destruição.

Que é o caminho que levamos, até em termos demográficos.

É dos feitos deste nosso ilustre antepassado provavelmente o maior combatente português de todos os tempos, que trata este meu livro cuja chegada a bom porto – não podemos esquecer que estamos numa casa da Marinha – devo agradecer sinceramente e com gosto, à editora «Nova Vega», na pessoa do Sr. Assírio Bacelar, à Academia de Marinha, na pessoa do seu presidente Almirante Vidal Abreu e ao seu Secretário-Geral, Comandante Zambujo, que operacionalizou a cerimónia, e ao Almirante Vieira Matias, a quem saúdo especialmente, pela consideração demonstrada, por ter escrito o prefácio e feito a apresentação.

Desse modo o livro também passou a ser seu.

A V.Ex.ª que com a vossa presença, deram o brilho necessário ao evento e que aguentaram firme tudo o que aqui foi dito e, com a vossa generosidade se espera fazer face aos custos da edição, o meu muito obrigado.

Como faço anos daqui a dois dias, creio ter usufruído, por antecipação de uma boa prenda.

E que viva Afonso de Albuquerque!

Muito obrigado.