BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A HISTÓRIA DE ESPANHA QUE A ESQUERDA ESCONDE

Historiador José Luís Andrade, Observador, 30 de Setembro de 2018


Sem cair na propaganda, e independentemente dos números correctos, a última guerra civil de Espanha foi um conflito terrível e selvagem, com demasiados actos canalhas e com pouca misericórdia presente

Com a queda do Muro de Berlim muita gente convenceu-se de que a era dos totalitarismos tinha acabado. Na realidade, ela está cada vez mais presente, metamorfoseada é certo, disfarçadamente escondida nos entrefolhos do softpower dominante. E muitos dos seus agentes continuam a ser militantes políticos que se escondem sob a respeitabilidade do profissionalismo, seja nas redes da comunicação social seja nas do ensino ou na nebulosa de ONG financiadas pelo capital especulador, e até por nós, os desatentos contribuintes. A pulsão orwelliana do pensamento único obriga à necessidade de reescrever a História, retocando-a e manipulando a narrativa por forma a apresentá-la conforme aos dogmas actuais. Já estivemos mais longe de, num destes dias, sair um decreto a mandar que se eliminem ou retoquem nas obras de arte quaisquer representações figurativas que possam ser interpretadas como sexistas, homofóbicas ou politicamente desconformes à narrativa oficial única do «presente». É tão descarada a distorção, ensarilhada na barafunda académica com que se camufla a mentira, que quase nos sentimos tentados a encolher os ombros e a alinhar com a esmagadora maioria das pessoas que foi anestesiada para se estar nas tintas. Mas o amor à Verdade e à Liberdade acaba por mandar mais e forçar-nos a sair da nossa letargia, por indignação e repúdio à intolerância.

Vem todo este arrazoado a propósito do que se tem vindo a passar em Espanha sobre o local de depósito dos restos mortais dos dirigentes dos vencedores da última guerra civil espanhola. Guindada ao poder circunstancial, a rapaziada jacobina do Partido Socialista espanhol, e do seu particular artilugio (geringonça), assumida herdeira política dos vencidos, lá vai procurando humilhar as famílias e a memória dos vencedores ao mesmo que tentam espicaçar a oposição de direita para ver se alguém tem coragem de dizer o que quer que seja. E, com a iniciativa de criminalizar a descrição histórica imparcial do que de facto se passou, atemorizar qualquer um que se queira atrever a negar a «narrativa oficial»… de agora. Tirando partido dos equívocos e falsidades divulgadas ainda nos anos trinta pelo eficaz aparelho propagandístico do Kominterne consolidado após a vitória dos aliados e dos soviéticos na Segunda Guerra, foi concebido todo um programa de reescrita da História que muitos crêem ser apenas revanchista mas que, na realidade, vai muito para além disso.

A guerra civil que resultou do pronunciamento militar falhado de 17 de Julho de 1936, como qualquer outra guerra civil, fosse ela a portuguesa, a russa, a finlandesa ou a americana, foi brutal e gerou morticínios que enchem de vergonha qualquer pessoa minimamente civilizada. Quase todos associam à mortandade da guerra civil espanhola uma ordem de grandeza de um milhão de vítimas, numa carnificina que seria identificada (erradamente, no meu entendimento) como o prólogo do grande conflito mundial que se lhe seguiria. Temos hoje consciência e conhecimento que, de facto, tal número é apenas mítico, tendo sido manifestamente empolado. Talvez seja produto das bem montadas máquinas de propaganda e contra-informação dos dois lados em disputa que, na altura, quiçá para estimular a adesão e /ou a indignação, não hesitaram em recorrer à mentira e ao exagero. Sobre tecidos humanos fortemente traumatizados e emocionados, essa atitude, correlacionada com o omnipresente boato, introduziu uma distorção na dimensão quantitativa do número das vítimas do conflito.

Alimentada pelos ódios, essa visão persistiu durante demasiado tempo como uma obscura cortina de fumo que tem condicionado o nosso discernimento e o acesso à verdade, mesmo que aproximada. É óbvio que a tão característica soberba e diminuta capacidade autocrítica dos espanhóis também não ajudou. E, mesmo hoje, muitos dos que se reveem nas partes em guerra, persistem em acreditar acriticamente em números arbitrários amplificados pelo trágico e doloroso impacto que o ricochete dos acontecimentos teve na sociedade do país vizinho, e não só. Conhecedores do futuro, são sempre levados a considerar como importantes os acontecimentos mais alinhados com a sua visão do presente ou do mundo, nem se preocupando com os factos reais que, na maioria dos casos, não marcaram do mesmo modo os coevos. Perante tal limitação, fácil é cair na tentação de substituir História por Propaganda. Mas não deixa de ser verdade que, independentemente dos números correctos, a última guerra civil de Espanha foi um conflito terrível e selvagem, com demasiados actos canalhas e com pouca misericórdia presente.

Os ataques deliberados à população não combatente, como sejam os assassinatos na retaguarda, o extermínio de prisioneiros ou os bombardeamentos indiscriminados sobre alvos eminentemente civis, e tudo o que se enquadra no conceito geral que hoje se designa por crimes de guerra, foram prática vulgar. Aos atentados terroristas, mais ou menos selectivos, dos meses que precederam o pronunciamento militar (cerca de 280 assassinatos desde que a Frente Popular ganhara a 1.ª volta das eleições, em Fevereiro de 1936), sucederam-se as matanças generalizadas de prisioneiros, por linchamento ou execução sumária. Entre as cerca de 280.000 pessoas que morreram no conflito, contam-se aproximadamente 107.000 cuja vida terminou assim: 48 mil às mãos dos sublevados e 59 mil às mãos do governo da Frente Popular, com massacres como os de Paracuellos del Jarama ou os dos navios-prisão.

Em ambos os lados se verificou aquilo que podemos designar por limpeza ideológica. Ódios e rancores profundos, que haviam começado a acumular-se desde o século XIX mas que se haviam acentuado especialmente após o processo revolucionário que sucedeu à implantação da República, em 1931, ampliaram-se com a falhada revolta socialista de Outubro de 1934. Com efeito, um PSOE engordado por anos de colaboração com a ditadura de Primo de Rivera, não suportara a derrota nas eleições de Novembro de 1933 e tratara de pôr o comboio revolucionário nos carris, aliando-se aos independentistas catalães da Esquerra, aos comunistas de vários matizes, e até aos anarquistas nas Astúrias. Mas a golpada antidemocrática falhara e os ódios e frustrações foram-se acumulando, e recrudesceram depois das eleições de 36, gerando um ambiente que levou a morte e a desolação a muitas famílias espanholas.

Durante a Revolução de Outubro de 34, centenas de pessoas (entre elas 33 sacerdotes) tinham sido vítimas de linchamentos em condições de autêntica barbárie. Mas a desintegração do regime republicano acelerou-se na Primavera trágica de 36, após as fraudulentas eleições iniciadas em Fevereiro, como os investigadores Manuel Álvarez e Roberto Villa recentemente demonstraram ao pormenor em 1936: Fraude y Violencia en las elecciones del Frente Popular. De novo regressaram em força os incêndios a lugares de culto e a perseguição aos movimentos políticos mais firmes na oposição à revolução socialista. Segundo o insuspeito Stanley Payne, «ainda que a maioria dos actos de violência desde a instauração da República tenha procedido sempre da esquerda», eram os direitistas que acabavam por ir parar à prisão.

Durante a Guerra, ditaram-se sentenças irrevogáveis com base em simples indícios e inclusivamente sobre denúncias mais que duvidosas. As execuções eram concretizadas de imediato e por toda a parte se buscavam mais vítimas, ditos desafectos sobre cuja vida se decidia caprichosamente. Nas zonas ocupadas pelos insurrectos, era suficiente exercer ou ter exercido qualquer cargo de responsabilidade nas estruturas do regime frente populista, incluindo os sindicatos e os partidos de esquerda, ou ter-se manifestado publicamente contra a sublevação para ser susceptível de detenção e, com grande probabilidade, de execução. No lado do Governo, bastava para merecer a morte ser sacerdote ou religioso, ir à missa, ser identificado pelas suas opiniões políticas avessas às esquerdas ou tão apenas leitor de um jornal de direita, informação obtida pelo assalto dos milicianos às redacções.

Dos vinte e um generais de divisão ou equiparados no activo em Espanha, apenas quatro se associaram à rebelião de 17 de Julho de 36: Cabanellas, comandante da divisão territorial sediada em Saragoça, Franco e Goded, comandantes dos arquipélagos das Canárias e das Baleares, respectivamente, e Queipo de Llano, inspector-geral dos Carabineros. Note-se que Cabanellas e Queipo eram «heróis da República», tendo inclusivamente o último protagonizado o golpe republicano de Cuatro Vientos, em 15 de Dezembro de 1930, tendo-se refugiado em Portugal após o falhanço da intentona. O próprio cérebro da conjura, Mola, era filorepublicano, filho e neto de militares liberais que haviam feito carreira a lutar contra os carlistas. Contudo, nem isso obstou a que também Queipo de Llano fosse agora objecto da sanha exumatória que perpassa impunemente por Espanha sobre os diabolizados vencedores.

O Partido Socialista espanhol tem memória curta e confia em que a generalidade dos fazedores de opinião olhem para o lado, indiferentes ao reescrever da História; quando não se enlevam em catárticos aplausos para esconjurar os espíritos dos seus fantasmas e esqueletos fechados a sete chaves. Mas foi exactamente o fomento do ódio e da intolerância, o contínuo apertar do torno ideológico sobre as camadas recalcitrantes, sem saída de fuga nem esperança, que levou metade de Espanha (nas eleições de 36, mesmo com irregularidades, a Frente Popular poucos mais votos alcançou que o outro lado) a erguer-se em armas contra o que percebia como uma tentativa camuflada de impor um processo revolucionário à revelia do sentir do povo espanhol. Infelizmente, mesmo em coordenadas de tempo diferentes, a História tem uma tendência quase patológica a repetir-se. E não há maneira de perceberem que, de facto, «não há machado que corte a raiz ao pensamento»…





quarta-feira, 11 de julho de 2018

GUIÃO PARA UM FILME DE FICÇÃO CIENTÍFICA NO ÂMBITO MILITAR


João José Brandão Ferreira, Oficial Piloto Aviador, 11 de Maio de 2018

«O principal problema da Democracia é a qualidade da Sociedade. Essa qualidade começa na Família. Naturalmente quem aleita é quem educa.»
                      Autor desconhecido
              (Mas lá que dá para pensar, dá…)

Quartel-General das Forças de Estabilização da ONU na colónia, conhecida desde a Antiguidade, como Lua.
       «Oceanus Procellarum» – Oceano das Tormentas.
            Ordem de Serviço 666, em 11/5/2118.[1]


GUIÃO PARA UM FILME DE FICÇÃO CIENTÍFICA

NO ÂMBITO MILITAR



TROPAS!


Como sabeis após o meu antecessor ter resolvido saltar em pára-quedas para fora do nosso querido e bem-amado Exército – esse infeliz que não teve estômago para acatar as tão sábias directrizes muito para a «frentex», do nosso guia espiritual, o Azedo L., que devemos equiparar a Cipião, «O Africano», depois da batalha de Zama – e que mesmo depois da oferta generosa de Belém, em reconsiderar, retorquiu que a força da gravidade (mais não fosse por isso) o impedia de voltar para dentro do avião de onde saltara…

Deste modo eu assumi a ingrata, mas honrosa tarefa de vos dirigir (isso de «comandar» é areia demais para a minha camioneta) isto é, ao que resta de vós, da hoste que seguiu o grande Afonso, depois de ter batido na mãe, tendo vindo por aí abaixo levando tudo à frente, mesmo sem autorização de Bruxelas ou da Merkel (que por acaso se chama Kastner…). Bons tempos, ai, ai...

E que belo caminho temos feito juntos desde então!

Lembram-se de quando mesmo antes de estar nomeado, me passou uma coisa má pela cabeça e decidi, num ímpeto viril, despachar o vice, aquele cujo nome faz lembrar um célebre ciclista tuga, que pedalava como ó caraças?

Ele à primeira ainda hesitou, mas à segunda lá foi com Deus, as almas santas e uns trovões da minha padroeira Bárbara!

Depois foi preciso pôr ordem no Militar Colégio, agora que aquele Instituto freirático, cheio de mofo e de discriminação de género intolerável e fascista, sito ali para os lados de Odivelas, ter ficado devoluto e abandonado à espera de um qualquer negócio imobiliário que apareça!

Resta apenas fazer desaparecer sem deixar rasto o túmulo do D. Dinis (que devia era ter ficado em Castela quando foi visitar o avô, Afonso X, o Sábio), que resolveu mandar plantar o pinhal de Leiria para agora virem umas mãos criminosas deitarem-lhe fogo (eu disse, criminosas? Desculpem, pois foi certamente um descuido inocente, ou então uma acção de alguém alienado, vítima desta sociedade machista, capitalista, racista, xenófoba, homofóbica e preconceituosa!).[2]

Mas é bem feito! O colonialista do Dinis não tinha nada que mandar vir almirantes de Génova e fundar a Armada que agora diz que é antiga como ó carbono e desfila no Terreiro do Paço a soprar 700 velas!

Agora estão tramados pois já não vão ter madeira nem para barcoletas a remos!

Ocorre-me à memória, porém, ó tropas, que vou ter que reconverter parte de vós –senão a totalidade – em bombeiros (voluntários, é claro), o que não deixa de ser uma velha aspiração dos nossos maiores, pois não é muito melhor sermos os soldados da paz em vez de sermos os soldados da guerra?

Eu já dei o exemplo e já peguei na foice e no martelo, perdão na maquineta roçadeira e andei a capinar, mesmo chegadinho àquele que se orgulha de ser o primeiro-ministro descendente de indianos da União Europeia. E eu a julgar que ele era descendente de portugueses?!

Até ia dando uma cambalhota à retaguarda, coisa até, que já não me lembrava de fazer desde os meus tempos infráticos (eu disse infráticos? Que as juventudes partidárias me desculpem, pois nunca concordei com tais práticas, abrenúncio).

Mas, ó tropas, empolguei-me e já me esquecia que estava no Militar Colégio, que eu consegui meter na ordem, essa cáfila elitista que eu, a custo, tolero.

Aquilo foi tudo raso: internato; comando; oficiais reguilas; ameaças de boiada, etc., e ainda espero acabar com a avaliação para democratizar tudo devidamente, agora que acabei com a discriminação sexual intolerável como muito bem apontou o farol da nossa existência – o Azedo L. – que Napoleão se fosse vivo não desdenharia escolher para Marechal de França (ele até que se desenrasca bem no francês e tudo!).

Prometo-vos que não descansarei enquanto não conseguir uniformizar a coberta das camas de todos os quartéis e camaratas, nas cores do arco-íris!

*****

E aquela táctica utilizada num memorável Conselho Superior Militar — só equiparada à importância do uso de armas de tiro tenso na conquista de pontos de cota mais elevada!?

Estava uma lista feita para promoções já devidamente escorada e sedimentada, quando os nossos amigos na Administração Interna, na GNR e outros, sempre vigilantes, alertaram para os perigos que tal ordenação implicava na justiça do mérito relativo (obviamente) e tal nos levou no mais acertado «flick flack» à retaguarda (esta da retaguarda, hoje anda-me a perseguir!) e mandei alterar aquilo tudo.

Deu um foguetório, só suplantado pelo do fim do ano na Madeira, que meteu o general-maior, transferências mágicas de oficiais generais, alteração de ordens de serviço, pressões de bastidores, etc., mas rematei a coisa com um pedido de parecer (ajuda...), para a PGR – numa atitude que eu próprio não sei classificar, mas que foi no mínimo brilhante, que até ofusca – e a coisa acabou por morrer.

Foi tudo um processo que faria corar o Maquiavel onde acabei com a carreira a pelo menos, dois camaradas, mas que é isso comparado com a largura do meu ego medido em milímetros?

*****

Andava eu nesta gloriosa cruzada – que deixo aqui claro, nada ter a ver com aquelas levadas a cabo no obscurantismo medievo – quando alguns dos meus dilectos camaradas generais me abandonaram, deixando-me meses praticamente sozinho à testa deste «galho», outrora Ramo altaneiro e pujante! Os ingratos!

E digo praticamente, pois fui salvo «in extremis», pelo último dos moicanos – a quem apesar de tudo, pouco ligo – que a pedido de muitas famílias e condoído da queda livre em que a coisa estava (isto de surripiar os pára-quedistas para o Exército não foi nada boa ideia, mesmo nadinha, mas eu na altura ainda usava fraldas e não me apercebi), lá continuou a carregar a cruz e ficou!

E que dizer dos generais antigos como o biscoito das caravelas, que sistematicamente faltam às festas e cerimónias para que os convido, pois não querem encarar o meu «fácies enconátus», tão pouco cumprimentar-me?

Já sei, são uns invejosos, pois não se equiparam ao ilustre ocupante de S. Julião da Barra, o Azedo L, que corajosamente – e com toda a sua pilosidade firme e hirta e voltada para a frente – enfrenta o fantasma do infortunado Gomes Freire cujas cinzas foram, por ali perto, deitados aleivosamente ao mar!

Todavia, a minha coroa de glória estava para vir!

Estava eu (sempre eu!) quase a resolver o problema dos paióis sitos no «Mar de Tancorum», já tendo obtido as necessárias verbas, conseguidas pelo maior estratega da defesa, o Azedo L. – que reduz Tucídides e a sua «Guerra do Peloponeso», a um cisco – dizia, uma ronda do meu glorioso Exército voluntaríssimo, que nem munições reais pode usar, descobriu um buraco na vedação (qual linha Maginot, qual quê!) e após apurada investigação alguém deu conta que um paiol tinha sido profanado.

Foi como se a virgindade do Exército tivesse sido corrompida (a Honra, essa, tinha sido perdida nos idos da «Descolonização» e ainda não foi reposta…), sem uma gota de sangue ser vertida!

Sabe-se lá como e porquê, a notícia chegou aos jornais tendo caído o Carmo e a Trindade (enfim já estavam caídos, desde o terramoto de 1755…).

Mas, ó tropas, eu, o vosso Director, reagi como um leão e fui-me a eles como Santiago aos mouros – sem ofensa é claro, para os dilectos seguidores de Allah, o «Misericordioso».

O que eu fiz, meu Deus: dei entrevistas, disse uma coisa e o seu contrário, aquilo meteu luta e até o meu querido superior hierárquico (não me estou a referir agora à luz que me orienta (o Azedo L.) que soube já ter o futuro garantido, pois foi-lhe oferecido um lugar de consultor no Pentágono para as relações com o futuro Exército Europeu), mas sim ao meu camarada infantaroco que até levou um murro no estomago durante a contenda. (Era para isso, aliás, que o saudoso Xico da Mouraria nos preparava nas aulas de boxe).

E vejam como ficou tudo esclarecido, tim tim por tim tim (só não entendo é por que o Senhor Comandante Supremo, continua com aquelas diatribes sobre querer saber mais coisas) e no fim poupei uma palete de massa ao contribuinte, dizendo que já não queria nada com aqueles paióis (ficam para o pessoal do «Barrote ao Alto» fazerem exercícios de demolição por implosão) e fui-me para a Santa (Margaridorum) e quando por obra e graça do Espírito Santo, o material desaparecido (será que desapareceu mesmo?) deu à costa numa mata da Chamusca, eu até recuperei uma caixa a mais!

A SIC, por exemplo, ficou tão contente que até apresentou várias vezes, imagens todas catitas da minha pessoa!

E para que a minha autoridade não fosse posta em causa (nem chamuscada a imagem do nosso inspirador, o Azedo L., que – vejam só – se confessou emocionado, após ter lido o antigo Regulamento Geral de Serviço de Campanha, de quando Portugal tinha Exército, e se sentia agora capaz de avançar contra o inimigo «dando gritos selvagens, tais como Viva a Pátria», dizia, num atrevimento legislativo inaudito, decidi exonerar temporariamente, os comandantes das unidades da área de Tancorum, à falta de perceber quem é que mandava naquele aborto organizacional todo!

E depois de tudo esclarecido – como se viu – lá os reconduzi nas funções, a bem da paz e da concórdia (e também da falta de vergonha na cara).

E eles, coitados, lá aceitaram tudo, até porque não tinham tempo sequer, para passar à reserva…

Isto é o que se chama triunfar em toda a linha, ó tropas!

*****

Mas nem com todos estes exemplos de liderança que irão marcar o ensino nas Academias Militares (perdão nos «campus da defesa») futuros, consegui sossegar alguns de vós.

Refiro-me a esses «brutos» que acampam ali para os lados da depressão lunar da «Carregueirorum» e que contra todas as regras da camuflagem têm o estranho hábito de usar uma peça de tecido redondo na cabeça, de cor vermelha!

Já sei, vou despachá-los para Marte, o planeta da mesma cor, aí já ninguém os vê, além de que é quente!

Mas enquanto isso não acontece vou mudar o nome deles para «centro de escuteiros, bem comportados», para ver se deixam de andar a querer brincar aos soldados a sério, e correrem o risco de morrerem no caminho…

E depois ter essa procissão toda de procuradores e jornalistas do mais fino recorte e cheios de boas intenções justiceiras, à perna?

Uma maçada!

Por isso, ó tropas, estou a pensar fazer deles além de escuteiros, uma reserva táctica debaixo das ordens da Protecção Civil, essa extraordinária organização babilónia, que está prestes a constituir-se como a quinta-essência desta (apodrecida) III República!

E vão ver, ó tropas, como ainda vereis um Presidente dessa Protecção Civil arvorado em Marechal, com oito estrelas douradas e dois bastões. Um para cada mão.

Como eu vejo à frente!

Mas com tudo isto em mente não consegui domar aqueles que ajudaram a impedir aquela cáfila toda da comunagem e tarados a esmo, de tomar o Poder nos idos de 1975.

Os gajos tiram-me do sério!

Tive o azar de lá colocar um tipo assim a modos que avantajado e não é que o ímpio começou a falar grosso?

Ah, mas eu mandei vir da cratera da Santa, uma bataria autopropulsionada de 15,5, regulei a alça e pulverizei-o!

O impertinente teve o despautério de não seguir as minhas sugestões, quando lhe pedi o último discurso para revisão gramatical (o que nada tem a ver com o que faziam os meus camaradas serôdios, munidos de lápis azul do antigamente)!

E eu, cheio de boas intenções, ainda o deixei falar e não é que o desobediente disse o que a sua cabeça pensava e a sua consciência ditava? Que estranho Carácter!

Aí fiquei furibundo e só não lhe fui aos fagotes, pois o tipo parece uma parede e ri-se pouco, mas invectivei-o como um (mau) mestre-escola faz aos gaiatos.

Isto passando-se apesar de haver várias pessoas presentes a ouvirem, as quais se afastaram pudicamente (fiquei até a pensar, muito mais tarde, se não seria por coisas destas que os generais de outros tempos se afastam dos locais onde me desloco).

E como quem mas faz, paga-mas – segundo, aliás, uma velha prédica desse farol, o PS, que nos ilumina, como se tem visto – guardei a vingança para mim e não disse a ninguém – ou não será a surpresa, um dos princípios da guerra? – e na primeira oportunidade despedi-o, acusando-o de andar a dizer a verdade aos quatro ventos!

Onde já se viu uma coisa assim?

E que melhor ocasião para o fazer do que no fim de um almoço em dia festivo, mesmo saltando por cima da cadeia hierárquica?

Ou não será almoçar fora, ao contrário do futebol, o verdadeiro desporto nacional?! (Aqui para nós que ninguém nos ouve até já pensei contratar o trineto de um tipo que se chamava Bruno de Carvalho, para meu assessor…).

Sem embargo, consultei uns oráculos (de Delfos) e já não vou despachar o dito cujo no dia 12, fica para depois de 29 do corrente, mas com a condição (!) de não haver mais discursos, ou a coisa sair inócua…

Estou pois, ó tropas, ufano de mim mesmo e não queria deixar passar em claro este momento de felicidade e de alto exemplo castrense e épico, sem o partilhar convosco e assim aumentar o vosso Moral.

Que eu já sabia que era alto, mas assim, fica melhor.

Quartel (isto é, campus da defesa), em Mar das Tormentas, 11 de Maio de 2118.

(Assinatura ilegível)
Chaparro, o deslumbradinho.
(Segue-se salva de 17 tiros de pólvora – seca)


*****

O guião deste filme foi enviado para a Academia de Hollywood.

A resposta foi rápida e o filme foi chumbado.

O argumento começou por ser passado do departamento de filmes de ficção científica, para o departamento dos filmes de terror.

Ali foi rejeitado por ser demasiado téctrico e impróprio para menores de 65 anos (o que não configurava qualquer lucro na bilheteira), sequer para passar na «Casa dos Segredos».

Como nota adicional e «post-scriptum», afirmaram que o argumento era mau demais para ser verdade, mesmo em filme.

A resposta foi remetida para o Campus da Defesa, para o Campus de S. Bento, para o Campus de Belém e para o campus dos comentadores.

Por uma vez, não se conhecem reacções.

___________________________________

[1] «Oceanus Procellarum» é o maior dos mares lunares, que se estende por 2.500 km de comprimento, formado por lava basáltica que cobre toda a superfície. Foi lá que pousou a Apolo 12, a segunda missão tripulada a pousar na Lua.

[2] E «populistas», já me esquecia e está muito na moda…





domingo, 6 de maio de 2018

A propósito de uma «notícia» sobre as despesas em Defesa Nacional



Miguel Mattos Chaves

Nessa «notícia» de ditos «órgãos de informação» é afirmado que Portugal gasta mais em Defesa que a Alemanha.

É MENTIRA!  Pura e simplesmente!

Vamos aos FACTOS:

1).– PORTUGAL tem gasto apenas entre 0,8% e 1% do seu PIB em Defesa Nacional.

2).– A Alemanha tem gasto entre 1,0% e 1,1%;

3).– A «habilidade», que está retratada no artigo do Jornal que publicou a «notícia», é a de que pretende misturar:

3.1) – As despesas com a DEFESA (Forças Armadas, Equipamentos e Comunicações Militares);

COM

3.2).– As Despesas com a SEGURANÇA (PSP, GNR, GF, etc...).

4).– AGORA, depois da posição do novo Presidente dos EUA, a Alemanha e os outros membros da NATO vão ter que aumentar os seus gastos em Defesa para 2% dos respectivos PIB em cinco anos.

Vamos ver se lá chegam. Seria um sinal de prudência face ao futuro incerto e à turbulência crescente do Sistema Internacional.

5).– Quanto a Portugal. Antes fosse Verdade.

Era sinal de que as Autoridades estariam finalmente conscientes das Ameaças Externas (Novas e Velhas) e estaríamos assim em condições de nos defendermos delas.

E assim vão as «FAKE NEWS» dos ditos órgãos de informação, ou seja daqueles que se têm arvorado em «filtros».

E dizem eles, os ditos «filtros» que as «fake news» estão nas Redes Sociais.




sexta-feira, 4 de maio de 2018

Capitão paraquedista, José Luís da Costa Sousa


Militares da 1.ª / BCav8421, prisioneiros da Frelimo, a caminho da Tanzânia.
Foto publicada em Set74
na revista «Mozambique Revolution» (editada pela Frelimo)

Luís Alberto Oliveira Lidington da Silva

«...TRAIDORES, sempre os houve entre alguns.»
Luís Vaz de Camões

Tomei conhecimento desta vergonhosa entrega da Companhia de OMAR já depois da independência e, protegido pela escuridão do cinema em Vila Cabral, onde a FRELIMO fez passar um documentário que me apanhou desprevenido, as lágrimas de vergonha e dor correram-me pela face... A Companhia formada na parada em Dar-es-Salam foi «magnanimamente» libertada por Samora Machel perante a imprensa internacional... Em Moçambique a FRELIMO ao fim de 13 anos de guerrilha não tinha uma dúzia de prisioneiros para apresentar como prova da sua vitória! E fomos nós que lhe proporcionámos os figurantes para este cenário.

A FRELIMO fez o seu papel e bem! Nada tenho contra eles....Eram o inimigo e sabíamos, que estava a ser instrumentalizado pela URSS e com o apoio de todos os países que queriam um Moçambique fraco que fosse uma  presa fácil para ser sujeito ao neo-colonialismo.

O nosso Exército, despolitizado, foi presa fácil do comunismo internacional.... VERDADEIRAMENTE nunca, em 14 anos de mobilização, se tentou explicar aos nossos soldados porque lutávamos! Na classe dos  oficiais apenas os da «esquerda» estavam politizados... Servi o Exército durante quatro anos e, posso dizê-lo, saí de cabeça levantada em 1970! Ainda hoje, apesar do desfecho, não estou arrependido...

Honra e Louvor ao capitão José Luiz da Costa Sousa que tem a coragem moral de escrever sobre este assunto.

A história, a verdadeira história da descolonização, será feita depois deste e outros assuntos, deixarem de ser  considerados «política» e testemunhos destes serão importantes.

Abraço deste teu Amigo de sempre

Leiam este relato impressionante do capitão paraquedista, José Luís da Costa Sousa, sobre corja que traiu e roubou Portugal, e continuará a roubar e a sujeitar... os portugueses a humilhações. Um dia haverá justiça. Um homem quando cai levanta-se mais forte.

A quebra do moral das tropas portugueses em África, como ocorreu e eu a vivi no terreno.

Moçambique é para sempre, na minha memória, o paraíso maravilhoso que o português ali construiu, feito de felizes viveres, a brancos e pretos, amarelos e indianos, mistos e outros, em cidades maravilha onde viviam sociedades multiétnicas em paz e felicidade como Lourenço Marques, Beira, Quelimane, etc.. e as suas ilhas feitas de sonhos tropicais.

Apresentei-me no Batalhão de Paraquedistas 31, BCP 31, na Beira em Fev74, já com 3 anos de guerra de Angola; levava comigo de Portugal a informação das reuniões dos capitães preliminares do 25Abr74, em que tinha tomado parte, vestido eu de políticas inocências, purezas e outras madurezas enfim, singelezas de mim.

O Comandante do 31 era um senhor peculiar em zangas permanentes com o seu ego e a vida, no acto da minha apresentação perguntou-me:—

«Vem por imposição ou voluntário?», «Voluntário» digo eu, responde ele «Talvez se arrependa», pensei «Estou feito...», mas enfim, ossos do ofício, o oposto de Angola, onde reinava a absoluta normalidade na cadeia de comando.

Passei a informação sobre o movimento dos capitães e fui cumprir uma curta missão a Lourenço Marques, monitorar um curso de queda livre para civis em aviões FAP,, e depois regressei.

Nomeado comandante da 1.ª CCP, em substituição do meu impagável amigo Capitão Monteiro, avancei com a Companhia para Vila Paiva de Andrade, na Gorongosa.

O 25Abr74 apanhou-me ali, o administrador de Posto trouxe tal notícia ás 5 da tarde, tinha um ar fúnebre... e fúnebres ficaram o comandante do Batalhão do Exército e seus oficiais, que eu ali reforçava, estranhei tal nos meus 26 anos, virgens de políticas.

Reuni a Companhia para informação, informei e terminei com a afirmação da minha profunda e gongórica ignorância política:—

«Agora, com o general Spínola à frente dos destinos do País, vamos fazer a guerra a sério, e vamos acabar com isto, rapidamente.»

Constava-se que o dito cujo general, mais tarde marechal, era um grande cabo de guerra, mas era sobretudo teatro e teatral e nada mais afinal!

Dia 30 de Abril, a minha Companhia saiu para operações, foi emboscada, sofremos um morto, o infeliz e inesquecível Furriel A. Silva, e um ferido grave; era a guerra e a sua lógica de fatalidades; continuámos com a actividade operacional normal.

Entretanto, de Portugal iam chegando notícias do 25Abr, vagas, dispersas.

Um dia os meus alferes e sargentos, urgentes, solicitaram uma reunião comigo e o alferes Ledo, afoito transmontano, perguntou-me:—

«Meu capitão, ouvimos na rádio que vai haver contactos e conversações com a FRELIMO com vista á Independência, assim sendo, a partir de hoje, o senhor explique-nos quais as razões pátrias, para morrerem mais paraquedistas na guerra, como aconteceu ao furriel Silva?»

Triste e crítico, foi dos piores momentos da guerra para mim, de repente e de chofre, sou colocado perante a destruição irreversível do MORAL das tropas portuguesas, quinze dias pós Abril74.

A vontade de combater e morrer em defesa de Portugal, tinha acabado de ser assassinada na alma de todos os militares, paraquedistas ou não, e foi.

Nesses momentos, não há retórica que valha contra os factos e eu disse apenas:—

«Esta Companhia vai continuar a cumprir todas as ordens e missões que recebermos via hierarquia, independentemente de tudo; quando recebermos ordens para terminar a actividade operacional, fá-lo-emos, até lá cumprimos, entendido?!».

Entendido e cumprido religiosamente até à Independência, data em que fui para Angola, voluntariamente.

Mas, a quebra do Moral das tropas espalhou-se Moçambique fora e em Omar, Cabora Bassa, etc… onde militares do Exército, ora entregavam as armas à Frelimo, mal estes apareciam, ora se entregavam a eles próprios.

O caso em Moçambique, duma companhia do Exército sediada no Norte, em Omar, foi o mais brutal, o mais cobarde e traidor de todos os conhecidos.

Em tal caso, 120 militares portugueses pediram à Frelimo por telefone, para virem ao seu quartel para se renderem eles e as armas… a Frelimo veio e prendeu-os a todos, levaram-nos para a Tanzânia, Dar-es-Salam, onde andaram a ser exibidos nas ruas como animais de circo… como derrota de Portugal e a vitória da Frelimo... foram libertados em meados de Setembro.

Foi um incidente pré-planeado pelo PCP e afins mais o MFA, e executado por militares infiltrados naquela companhia com tal propósito, para forçarem a entrega de Moçambique sem pré-condições.

Está aí o relato:—

2 de Agosto de 1974, Tanzânia, Dar-es-Salam, Hotel Kilimanjaro, quarto 602

Neste local decorreu uma reunião, clandestina e ilegal, em que esteve presente um grupo de militares portugueses constituído pelo major Melo Antunes e mais uns poucos elementos do MFA, sem qualquer delegação, autorização e até sem conhecimento do Governo Português ou do Presidente da República; representavam apenas o MFA.

Foi este grupo clandestino de militares do MFA, que estabeleceu os termos irreversíveis do posterior acordo de Lusaka para a Independência de Moçambique, contra aquilo que o Presidente da República tinha determinado, e colocou Portugal perante um facto consumado sem saída e, fê-lo intencionalmente.

A reunião começou com Samora Machel a dizer:—

«E agora oiçam esta gravação…»

Samora sabia que aquilo que se ia ouvir forçaria os termos do acordo de Lusaka em 07 Set 75.

No gravador começa a rodar a cassete, e ouvem-se vozes, vozes em português.

Vozes que se identificam como sendo de militares portugueses, colocados numa base situada no Norte de Moçambique, junto à fronteira com a Tanzânia, a Base do Exército em Omar.

À medida que a cassete avança o constrangimento entre os MFA´s que representaram ilegalmente Portugal cresceu:

Frelimo:

— «Vocês quem são? (Veio a identificação.)

— E querem entregar-se porquê?

Militares de Omar:

— Porque é hoje o dia! Porque vocês são os libertadores da nossa Pátria! Queremos entregar-vos as nossas armas!

«Os vivas à Frelimo repetem-se!»

O comandante Almeida e Costa, presente nesta reunião, recordou que Melo Antunes se levantou e desabafou:—

«Merda, assim não se pode fazer nada».

Foi teatro, ele sabia de tudo, foi por isso que lá foi clandestinamente, o caso de Omar serviu apenas para justificar em Portugal as cedências à URSS / Frelimo e para isso o planearam e executaram:—

Este encontro que começou a 31 de Julho de 1974, em Dar-es-Salam, estava inquinado desde o princípio.

No seu livro, «País sem Rumo», o gneral Spínola afirmou que tal encontro decorreu sem a sua autorização e sem o seu conhecimento, enquanto Presidente de Portugal, dizendo:—

«O major Melo Antunes, então ministro sem Pasta, deslocou-se, sem meu conhecimento, a Dar-es-Salam para, à margem de qualquer política concertada com a Presidência da República ou com os ministros dos Negócios Estrangeiros [Mário Soares] e da Coordenação Interterritorial [Almeida Santos], estabelecer um plano de entrega de Moçambique à Frelimo, plano que viria a concretizar-se numa proposta inicial a que ele desde logo aderiu e que representava a abdicação total perante o inimigo por nós próprios tornado poderoso.»

Na reunião seguinte, essa autorizada pelo Presidente da República, que teve lugar logo em 15 de Agosto, em Dar-es-Salam, Almeida Santos refere que Spínola exigiu que a delegação da Frelimo apresentasse desculpas à delegação portuguesa por aquilo que sucedera em Omar, como condição para se iniciarem conversações.

E aqui temos mais um relato, que confirma a miséria de Omar, este feito por Almeida Santos:—

«Assim fizemos. Mas, com surpresa nossa, Samora Machel começou por pretender desconhecer do que estávamos a falar»:

Samora Machel:

— Emboscada de Omar?! Uma Companhia aprisionada?

Por fim fez-se luz no seu espírito:

Samora Machel:

— O quê? Aquela «entrega» dos vossos soldados?

E voltando-se para um qualquer assessor da sua delegação:

– Traz a cassete…«Cassete?

Íamos de surpresa em surpresa.

Mas a verdade é que a misteriosa cassete veio, foi por nós ouvida, e ouvi-la ficou a constituir uma das maiores humilhações porque terá passado a delegação de um país.

O que nós ouvimos foi o registo sonoro de uma «entrega», não apenas voluntária, mas insistentemente solicitada.»

Frelimo:

— Vocês quem são? (Veio a identificação.)

— E querem entregar-se porquê?

Militares portugueses:

— Porque é hoje o dia! Porque vocês são os libertadores da nossa Pátria! Queremos entregar-vos as nossas armas!

Almeida Santos:

— Não garanto a exactidão das palavras – cito de memória –, mas asseguro o sentido delas.

Seguiram-se os abraços, o «pega lá a minha arma, meu irmão», etc., etc.

É claro que não havia lugar a exigência de desculpas. Limitámo-nos a pedir uma cópia da cassete para em Lisboa documentarmos isso mesmo.

Foi, pois, este major Melo Antunes o 1.º responsável do processo descolonizador de Moçambique tal como decorreu, ao arrepio do Governo e do Presidente da Republica General Spínola e exclusivamente pró URSS.

Foram incontáveis os casos de cobardia induzida e humilhação Pátria, indescritíveis, recordo um Pelotão do Exército que içava a bandeira nacional, Fingoé, se não me engano, apareceu a Frelimo, esta exigiu que a bandeira fosse retirada, calcaram-na, rasgaram-na e levaram as armas; reacção dos militares, zero, demissão total.

Várias unidades do Exército, manipuladas por agitadores intestinos politizados, fugiram e abandonaram os aquartelamentos… outros prenderam os comandantes que pretendiam continuar a presença de Portugal com um mínimo de dignidade.

Em 14 anos de guerras nada disto acontecera; foi consequência única, exclusiva e imediata da quebra do Moral e da infiltração nos batalhões do Exército de submarinos treinados do PCP, com estas instruções de rendição.

Os mesmos heróis revolucionários que, como o major Melo Antunes, premeditadamente tinham colocado as intenções de descolonizar nos média, e que, consequentemente, provocaram a quebra total do Moral das tropas, usaram depois esses casos como o de Omar e outros por eles provocados e até dirigidos, para alegarem que o Exército Português estava derrotado e destroçado, sem vontade de combater e justificaram assim a urgência da descolonização, que foi uma mera fuga, ordenada pela URSS, via seus acólitos políticos em Portugal e não só.

Tudo foi cientificamente planeado e executado; 500 anos de História e o sacrifício e trabalho de milhões de gerações de portugueses, foram-se nos ventos da revolução, num ano e meio.

O descolonizador chefe foi de facto o major Melo Antunes, apoiado pelo MFA e com a autoridade e a força de ser o testa de ferro do PCP dentro do MFA, era tido como pessoa culta e inteligente... mais tarde disse da descolonização:—

«Foi a descolonização possível… a melhor possível».

Hipocritamente tinha sido ele que, politica e militarmente, dirigido pelo PCP, mais fez para criar as condições para que assim fosse.

Mas culpabilizou as políticas e as forças armadas, acusando-as de estarem desmoralizadas, derrotadas e como tal, houve que «Descolonizar em força e já!» avaliou-as por si próprio, amedrontado e etilizado lá por Ninda em 70, como eu o vi.

Foi assim o inicio da descolonização que eu vivi, no terreno onde aconteceu.

Como militar, tinha aprendido nos bancos da Academia Militar, que o Homem e o seu Moral, eram as armas fundamentais e a espinha dorsal de qualquer exército e que sem elas, nada feito.

Mas só face ás circunstâncias concretas se percebe a dimensão de tal verdade.


José Luiz da Costa Sousa.

Capitão Paraquedista