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quarta-feira, 6 de março de 2019

A militarização da China sob Xi Jinping «recuperando» regiões que jamais estiveram sob domínio chinês


Grande parte do equipamento que o Exército Popular de Libertação da China
está a adquirir: porta-aviões, veículos anfíbios para transporte de tropas
e caças invisíveis, tem o intuito de colocar em evidência o poder
e não a defesa da pátria.
Foto: porta-aviões Tipo 001A da China em 2017.
(Imagem: GG001213/Wikimedia Commons)
Gordon G. Chang, Gatestoneinstitute, 4 de Março de 2019

Original em inglês: The Militarization of Xi Jinping's China

Tradução: Joseph Skilnik


  • O Exército Popular de Libertação da China está a armar-se a toque de caixa e isso está a accionar o alarme. Pequim sempre afirmou que os objectivos das suas forças armadas são apenas defensivos, mas nenhum país está a ameaçar nenhum território que se encontra sob o controle da China. Portanto, o aumento das forças armadas mais parece uma preparação para a beligerância.
  • Os líderes chineses, não apenas Xi Jinping, acreditam que os seus domínios devem ser muito maiores do que são hoje. O temor é que, agindo com base na sua própria retórica, acabem a usar novas e admiráveis armas com a intenção primordial de invadir e ocupar territórios, apoderar-se de águas e espaços aéreos internacionais.
  • Além disso, na década de 1930, os media divulgaram a ideia de que o Japão estava a ser cercado por potências hostis que queriam evitar a sua ascensão. Eri Hotta escreve no livro Japan 1941: Countdown to Infamy que os japoneses «se convenceram a acreditar que eram vítimas de circunstâncias e não agressores». É exactamente isso o que os chineses estão a fazer neste momento.
  • Lamentavelmente, esse trágico comportamento paradigmático é evidente hoje numa Pequim onde os chineses, usando dragonas com estrelas nos seus ombros, parecem querer repetir um dos piores erros do século passado.
«Estejam prontos para a batalha». É assim que o jornal South China Morning Post de Hong Kong, que reflete cada vez mais a linha do Partido Comunista, resumiu a primeira ordem do ano de Xi Jinping ao Exército Popular de Libertação da China (PLA). Xi, segundo as suas próprias palavras que foram transmitidas para todo o país, exigiu o seguinte: «preparem-se para uma ampla campanha militar a partir de um novo ponto de partida».

O ousado líder da China vem ameaçando periodicamente, de uns meses para cá, os seus vizinhos e os Estados Unidos. «Xi não está apenas e tão somente a brincar de fazer guerra», salientou Victor Mair da Universidade da Pensilvânia, na mailing list deste mês da Fanell Red Star Rising. «Está realmente a aventurar-se para começar uma guerra. Ele encontra-se num perigoso estado de espírito».

Perigoso de verdade. De Washington a Nova Deli, os estrategistas políticos interrogam-se se a China começará a próxima grande conflagração da história. Pequim evidentemente quer «vencer sem lutar», mesmo assim as atitudes de Xi Jinping podem levar à conflagração. Um factor particularmente inquietante em relação a isso é a questão das forças armadas estarem a conquistar poder nos círculos políticos em Pequim.

O PLA, como é conhecido o exército chinês, está a armar-se a toque de caixa e isso está a accionar o alarme. Pequim sempre afirmou que os objectivos das suas forças armadas são apenas defensivos, mas nenhum país está a ameaçar nenhum território que se encontra sob o controle da China. Portanto, o aumento das forças armadas mais parece uma preparação para a beligerância. Grande parte do equipamento que o Exército Popular de Libertação da China está a adquirir: porta-aviões, veículos anfíbios para transporte de tropas e caças invisíveis, tem o intuito de colocar em evidência o poder e não a defesa da pátria.

Os líderes chineses, não apenas Xi Jinping, acreditam que os seus domínios devem ser muito maiores do que são hoje. O temor é que, agindo com base na sua própria retórica, acabem a usar novas e admiráveis armas com a intenção primordial de invadir e ocupar territórios, apoderar-se de águas e espaços aéreos internacionais.

Os chineses, líderes ou não, com certeza apresentam os casos mais agudos de irredentismo do mundo consoante com a procura de «recuperar» regiões que de facto jamais lhes pertenceram, não necessariamente vislumbram a conquista militar como meio de adquirir vastos «territórios perdidos». Acreditam que podem intimidar e coagir e, em seguida, tomar sem o uso da força.

O galopante rearmamento também tem outros objectivos. Referindo-se à China, Arthur Waldron da Universidade da Pensilvânia, salientou ao Gatestone Institute:

«Acredito que o objectivo da China seja aumentar a sua grandiosidade com a finalidade de deixar o mundo boquiaberto, portanto a corrida aos armamentos deve ser entendida como esforço de se tornar forte o suficiente para zombar do sistema internacional sem sofrer as consequências».

Apesar da retórica, os chineses sabem dos «imponderáveis» da guerra. Durante séculos não se deram bem nas guerras sofrendo derrota atrás de derrota, invasão atrás de invasão.

O histórico militar da China durante a gestão da República Popular também não impressiona ninguém. É verdade que os chineses tomaram o controle das ilhas Paracel e parcelas das ilhas Spratly no mar do Sul da China numa série de escaramuças com diversos governos vietnamitas, mas esses incidentes foram de somenos em comparação com os reveses.

É possível que Mao Tsé-Tung tenha sofrido 600 mil baixas entre elas o seu filho Mao Anying, para chegar ao armistício entre as Coreias no início dos anos 50. O seu sucessor, Deng Xiaoping, empreendeu uma incursão em 1979 «para dar uma lição ao Vietname» e sofreu uma derrota humilhante nas mãos do seu minúsculo vizinho comunista.

Apesar desse histórico medíocre, a China causa grande preocupação. Xi já devia favores aos generais e almirantes, que formam o cerne do seu apoio político nos círculos do Partido Comunista, e eles ficaram ainda mais poderosos à medida que o povo chinês se tornou mais irrequieto.

Conforme Willy Lam da Chinese University of Hong Kong disse ao Gatestone Institute no corrente mês: «a alta liderança sofre de paranóia com respeito a agitações sociais de grandes proporções», de modo que deu aos militares e policiais «poderes especiais para reforçar a segurança interna... Xi sabe muito bem que o exército e a polícia são os que mantêm o Partido vivo».

Xi tentou controlar os militares mediante duas iniciativas «anticorrupção», na realidade uma série de expurgos políticos e, conforme June Teufel Dreyer da Universidade de Miami salientou ao Gatestone Institute: «uma extensa organização militar».

No entanto, essas iniciativas não tiveram o sucesso inteiramente desejado. É por esta razão que Xi está a tentar, segundo as palavras de Waldron, ser visto como o «imperador marcial». Ele conhece o poder do PLA como «coroador de reis», capaz de apoiar e depor líderes civis. «O actual foco chinês nas forças armadas, sem dúvida, tem raízes políticas internas e não está relacionado às mudanças no âmbito da segurança» segundo Waldron. Xi, com o propósito de bajular, tem que passar a mão na cabeça dos oficiais de alta patente.

Não é porque o processo é conduzido internamente que o torna menos perigoso. Xi defendeu orçamentos militares gigantescos e permitiu que oficiais de alta patente tivessem papéis descomunais na formulação de políticas externas aventureiras. A declaração de Novembro de 2013 da Zona de Identificação de Defesa Aérea do mar da China Oriental, uma audaciosa tentativa de controlar os céus além do seu litoral, é um claro exemplo da influência militar. A tomada de Scarborough Shoal no início de 2012 e a reivindicação e militarização de parcelas do arquipélago de Spratly no Mar do Sul da China são outros exemplos desestabilizadores.

A influência militar na capital chinesa significa que a hostilidade nunca sai de moda. Duas vezes em Dezembro, oficiais de alta patente do PLA ameaçaram publicamente, sem que houvesse nenhuma provocação, atacar a Marinha dos EUA. «Os Estados Unidos têm mais medo da morte,» disse o contra-almirante Luo Yuan quando se descontrolou pela segunda vez.

«Agora temos os mísseis Dong Feng-21D e Dong Feng-26. São destruidores de porta-aviões. Nós atacaremos e afundaremos um dos seus porta-aviões. Serão 5 mil baixas. Atacaremos e afundaremos dois porta-aviões, serão 10 mil baixas. Vamos ver se os EUA estão com medo ou não?»

Todos, não somente os EUA deveriam estar com medo, em parte devido aos paralelos do exército da China de hoje e o dos do Japão na década de 1930.

Na década de 1930, oficiais militares do Japão, conforme Dreyer assinalou ao Gatestone Institute, tomaram «medidas drásticas para forçar o governo a entrar em estado de pé de guerra, chegando até a assassinar políticos japoneses contrários a tais medidas».

Naquela época, os militares japoneses, como os chineses de hoje, foram encorajados pelo sucesso e pelo ultra-nacionalismo. Naquela época, como agora, os civis controlavam, desarticuladamente, o maior exército da Ásia. Naquela época, como hoje, o maior exército da Ásia é cheio de certezas e beligerância.

Além disso, na década de 1930, os media divulgaram a ideia de que o Japão estava a ser cercado por potências hostis que queriam evitar a sua ascensão. Eri Hotta escreve no livro Japan 1941: Countdown to Infamy que os japoneses «convenceram-se em acreditar que eram vítimas de circunstâncias e não agressores». É exactamente isso o que os chineses estão a fazer neste momento.

«Ao perguntarmos: 'queriam a guerra?' a resposta é sim, e se perguntarmos 'queriam evitar a guerra?' a resposta também é sim», observa Maruyama Masao, importante cientista político do pós-guerra, conforme relatado por Hotta. «Apesar de quererem a guerra, tentaram evitá-la, mesmo querendo evitá-la, deliberadamente escolheram o caminho que os levou a ela».

Lamentavelmente, esse trágico comportamento paradigmático é evidente hoje numa Pequim onde os chineses, usando dragonas com estrelas nos seus ombros, parecem querer repetir um dos piores erros do século passado.