BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016


Áustria: Oficiais entram publicamente

em dissidência com os políticos



Coup de théâtre dans les débats sur la sécurité! Des officiers de haut rang lancent un avertissement: «La sécurité de notre pays et de sa population est gravement menacée.»

Personne ne s’y attendait pas. Pourtant, aujourd’hui, ils se font entendre. Les officiers de l’Armée autrichienne ont décidé de ne plus se taire! Sur une plate-forme nouvellement créée, «L’Autriche défendue», ils alertent sur les dangers d’une politique de sécurité qui a complètement failli. En résumé: la sécurité serait «gravement» menacée, les milieux politiques fermeraient les yeux et l’armée seraient instrumentalisée politiquement, condamnée à l’inactivité et brisée économiquement.

Dans un spot publicitaire publié le 20 janvier 2016, les officiers parlent clairement. Aux côtés du colonel Siegfried Abel et du chef de la Société des officiers autrichienne, le colonel Erich Cibulka, s’exprime également le général Günther Greindl. Ce dernier a participé activement à l’évolution de l’armée fédérale, a été représentant de l’Armée autrichienne auprès d’institutions internationales, est le fondateur et le président de l’Association des Peacekeepers [Casques bleus] autrichiens et chevalier de l’Ordre du Mérite pour les services rendus à la République autrichienne. Les activités des officiers devraient soumettre à une certaine pression le ministère de la Défense et le gouvernement fédéral.

Dans leur vidéo, les officiers justifient leur action de façon exhaustive. «En tant que soldats de l’armée autrichienne, nous servons notre pays. Nous accomplissons notre devoir depuis des décennies avec fierté et conviction.» Pourtant, les dangers croissent de jour en jour. Le conflit Est-Ouest entre la Russie et l’Otan, le terrorisme en Europe pratiqué par «l’Etat islamique» et une immigration massive incontrôlée de millions d’êtres humains sur le sol européen caractérisent la situation actuelle. Il semblerait qu’une grande partie de la sphère politique ne prenne pas ces menaces en considération par ignorance ou clientélisme. Non seulement la destruction de l’armée a été planifiée, mais la «volonté de défense de la population» serait aussi systématiquement détruite et ridiculisée. En conséquence, les soldats auraient aujourd’hui l’obligation de parler et d’agir. En raison «d’une capacité de défense dégénérée» (textuellement), la «sécurité de notre pays et de sa population est gravement menacée».

Outre un renforcement de l’armée fédérale et de sa capacité de défense, ils demandent une sécurisation des frontières efficace. Les soldats ne se tairont plus longtemps. Et ils sont tous d’accord: «Nous voulons une Autriche souveraine et ayant les moyens d’agir. Nous voulons assurer l’avenir de nos enfants et de nos petits-enfants.»





quarta-feira, 20 de janeiro de 2016


Os 30 desavergonhados do PSD e do PS

que querem mamar a vida inteira


José Lemos

O DN acaba de divulgar a lista dos 30 deputados-chulos que requereram ao «Tribunal Constitucional» a reposição das suas benesses vitalícias, aliás imoralmente apenas suspensas. Os parceiros da corporação chamada «Tribunal Constitucional», corporação de privilegiados obviamente a extinguir numa república a sério, aprovou a súplica dos pobres. Hoje decidimos para vocês, instituímos o princípio, e portanto amanhã será para nós... Tudo em família.


OS 9 CHULOS DO PSD

Arménio Santos
Carlos Costa Neves
Correia de Jesus
Couto dos Santos
Francisco Gomes
Guilherme Silva
Hugo Velosa
João Bosco Mota Amaral
Joaquim Ponte

OS 21 CHULOS DO PS

Alberto Costa
Alberto Martins
Ana Paula Vitorino
André Figueiredo
António Braga
Celeste Correia
Fernando Serrasqueiro
Idália Serrão
João Barroso Soares
Jorge Lacão
José Junqueiro
José Lello
José Magalhães
Laurentino Dias
Maria de Belém Roseira
Miguel Coelho
Paulo Campos
Renato Sampaio
Rosa Maria Albernaz
Sérgio Sousa Pinto
Vitalino Canas





segunda-feira, 18 de janeiro de 2016


Lancha «Vega» — 18 de Dezembro de 1961

Relato sobre a morte do 2.º tenente Oliveira e Carmo


Acção da lancha «Vega»

A lancha «Vega»(1), que patrulhava as águas do Distrito de Diu, não fazia parte do Agrupamento «António Silveira».

Modelo da lancha «Vega»

Não obstante, com ele partilhou da acção violenta das forças aéreas da União Indiana e, como tal, o relato da sua actuação integra-se na sequência das operações ocorridas naquele Distrito e atrás referidas.

Por ter morrido em combate o Comandante da lancha «Vega», segundo-tenente Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo, coube aos seis marinheiros sobreviventes a elaboração do respectivo «relatório de acção».

Pela espontaneidade da descrição, pelo vigor que ressalta da leitura desse relatório, resultado da vivência de inesquecíveis momentos de heroísmo, julgamos que nenhum outro documento poderia ter maior interesse e transmitir com tanta fidelidade o combate travado naquela manhã de 18 de Dezembro de 1961.

Como tal, as palavras que se seguem, são a transcrição, na íntegra, do referido relatório:

Saída de Diu em 17 de Dezembro pelas 21:40, em serviço de fiscalização, rumo a Nagoá onde fundeou pelas 22:00.

Na madrugada do dia 18, por volta das 01:40 foram ouvidas rajadas de metralhadora e tiros isolados em terra, pelo marinheiro de serviço (marinheiro-fogueiro-motorista n.º 5645). Foi dado imediato conhecimento da ocorrência ao Comandante, o qual imediatamente ordenou postos de combate e levantamento de ferro, dirigindo-se para o mar.

O radar já se encontrava em funcionamento e tinha acusado uma embarcação fundeada na praia de Brancavará nas nossas águas. Com a mudança de escala de radar para as 24 milhas, esta acusou imediatamente um eco denunciando um navio de grande porte que vinha navegando com ocultação de luzes. A lancha continuou com a mesma rota que era Diu.

Ao passar a linha fortim do mar-Fortaleza, pelas 02:20, ouviram-se fortes detonações que denunciaram intenso fogo de artilharia da Fortaleza para a região da fronteira de Gogolá. O Comandante ordenou rápida manobra e de novo voltou ao mar. Novamente foi captado o eco do navio desconhecido e calculada a distância verificou-se que este navegava a 12 milhas da costa. O Comandante ordenou que se navegasse junto a terra e na zona da Fortaleza, a pouca velocidade de modo a dar tempo para que as embarcações «Folque» e «Dio» saíssem para o mar a fim de se juntarem à lancha «Vega».

Às 02:40 efectuou-se a saída da «Folque», depois de consultado pelo telefone do posto da alfândega o Comandante do Agrupamento, o qual ordenou apenas a saída desta e não a de «Dio» como estava previsto nas ordens secretas transmitidas ao patrão da «Folque», com rumo a Nagoá.

Às 03:00, deu-se o encontro entre as lanchas «Vega» e «Folque», na região costeira de Podamo, em virtude do radar da «Vega» a ter localizado. Pelo radar foi também constatada a aproximação do navio que se presumia ser inimigo e que se encontrava nesta altura a uma distância aproximada de 12 milhas.

O Comandante ordenou rumo à baía de Nagoá seguindo a «Folque» as águas da «Vega».

Às 03:45 foi notado pelo radar a nítida aproximação do navio do qual se continuava a desconhecer a sua nacionalidade, embora se notasse que o mesmo estava a captar todos os movimentos da «Vega» mantendo-se à distância de 1,5 milhas.

Às 03:55, por ordem do Comandante, a Vega» rumou em direcção ao navio desconhecido para melhor o identificar, deixando para trás a «Folque».

Às 04:00, conseguiu-se identificar apenas como sendo um navio de grande calado e notou-se na parte leste uns sinais luminosos «TNT» aos quais o Comandante ordenou não se desse resposta. Por suspeitar das intenções daquele navio, a «Vega» voltou ao encontro da «Folque» com a qual abordou, tendo embarcado rapidamente naquela todo o pessoal que nesta se encontrava. Como, entretanto, o barco que se presumia ser inimigo tivesse feito fogo com granadas iluminantes sobre as lanchas «Vega» e «Folque», com o possível fim de as localizar e tentar abater, o Comandante optou por que se abandonasse a «Folque» o mais rápido possível, sem tempo sequer para retirar todo o material que nesta se encontrava, tendo-a abandonado com o motor a trabalhar, com o fim de a avariar. Depois de todo o pessoal embarcado na «Vega», o navio, já identificado como sendo tipo cruzador, e, ainda sob o efeito das granadas iluminantes alvejou com fogo de metralhadora pesada as lanchas «Vega» e «Folque», pelo que o Comandante ordenou rápida manobra e rumo para Dio na máxima velocidade, tendo a «Vega» fundeado entre o Fortim do mar e a Fortaleza às 05:30.

Às 05:40, foram mandados desembarcar os seguintes homens: A tripulação da «Folque» (cabo-artilheiro 2590 e marinheiro-artilheiro 6216), um civil natural de Dio, criado do Comandante e o cabo-artilheiro 2195, mestre da lancha «Vega», o qual era portador de uma mensagem verbal, das ocorrências anteriores, dirigida ao Comandante do Agrupamento, cuja mensagem lhe foi entregue às 05:45.

Às 06:00, foi entregue ao Comandante da lancha «Vega» uma mensagem verbal do Comandante do Agrupamento. O mensageiro recebeu nova ordem para completa destruição do aquartelamento da marinha. Entretanto a «Vega» mantinha-se fundeada e em vigilância.

Às 06:15, o Comandante ordenou o levantamento de ferro afim de se poder identificar mais completamente o cruzador e se possível recuperar a «Folque» ou destruí-la. À saída da barra e pela proa da «Vega», avistou-se então, a uma distância aproximada de 2 milhas, o cruzador com bandeira de fogo içada no mastro e a da União Indiana no mastro da ré, tirando-se todas as dúvidas sobre a sua nacionalidade. Regresso rápido da «Vega» ao ponto de partida, onde fundeou cerca das 06:35. O Comandante dirigiu-se à câmara e fardou-se de branco, dizendo que assim morreria com mais honra.

Às 07:00, avistaram-se aviões de jacto bombardeando Passo Sêco. Foi dado por esta lancha o alarme sonoro para a Fortaleza. Por ordem do Comandante ligou-se um rádio portátil o qual anunciava o programa «Alvorada musical», seguindo-se um passe-doble, o qual foi interrompido por silêncio total da Emissora de Goa. Mau sinal. O Comandante reuniu toda a guarnição e leu uma mensagem que lhe tinha sido enviada. Essa mensagem era de Maiormar(2) e comunicava que a lancha combateria até ao último cartucho. No caso de ficar inutilizada, deveria ser destruída (ou afundada), tendo o Comandante acrescentado que, nessas circunstâncias, o pessoal deveria dirigir-se para terra, auxiliando os camaradas feridos. Perguntou mais se todos sabiam nadar ao que se respondeu afirmativamente. A seguir as suas breves palavras foram as seguintes: «Rapazes sei que vocês vão cumprir assim como eu e que mais vós quereis! Acabarmos numa batalha aero-naval. Fazemos parte da defesa de Dio e da Pátria e vamos cumprir até ao último homem e última bala se possível. Algumas despedidas se fizeram e até as fotografias dos entes queridos foram beijadas e guardadas nos bolsos dos calções.

Às 07:30, começou o ataque aéreo contra a Fortaleza. Vindo dois aviões quase em cima da lancha, o Comandante deu imediatamente voz de fogo com as seguintes palavras dirigidas ao artilheiro Ferreira: «Fogo nesse, Ferreira, dá-lhe» e assim começou a luta. Os aviões passaram no seu primeiro ataque à Fortaleza. A bordo da lancha foi tudo feito na normalidade. Todos nos seus postos. Motores a trabalhar e levantou-se ferro rumo fora da barra, mas logo a seguir os dois aviões retornaram para atacar a lancha. Os carregadores começaram a esvaziar-se e a lancha manobrada pelas mãos firmes do Comandante parecia baixar, esquivando-se ao fogo inimigo na sua máxima velocidade. Os ataques sucediam-se tanto de um bordo como do outro, aos quais se respondia com a maior energia. O marinheiro-artilheiro é substituído na peça(3) pelo grumete-artilheiro Ramos e os carregadores sucediam-se. O primeiro golpe sofrido proveio de um ataque vindo do enfiamento do sol e em cruz feito por dois aviões o qual atingiu a lancha entrando a rajada pela amura de estibordo e saindo pela alheta de bombordo, causando a morte imediata do marinheiro-artilheiro Ferreira que foi varado pelas costas quando se encontrava a remuniciar um dos carregadores de peça, cortando as pernas totalmente pelas coxas ao Comandante e causando em poucos momentos o incêndio, pois notou-se imediatamente grande fumarada que saía da casa das máquinas. O Comandante ainda com vida tirou do bolso da blusa um plástico onde se encontravam as fotografias de sua esposa e seu filhinho e deles se despediu com beijos. A ponte imediatamente se tornou um charco de sangue e ouviam-se as palavras de um camarada «bandidos e assassinos».

Motivado por este ataque resultou o incêndio que se propagou à casa das máquinas e seguidamente à ponte de comando e cobertas, o qual pôs termo à resistência da pequena lancha «Vega», tendo esta parado em virtude das bichas de aceleração dos reguladores terem sido cortadas pela citada rajada.

A peça foi abandonada pelo grumete-artilheiro Ramos em virtude de se tornar intransitável o reduto da mesma devido aos buracos causados pelas balas inimigas e às labaredas que já invadiam o convés. «Vamos para o bote, arreá-lo imediatamente, foi a voz do marinheiro Costa, tendo saltado para dentro dele 3 homens que se prepararam para receber o Comandante. Enquanto o marinheiro-electricista Freitas transportava o Comandante que se encontrava junto do leme para a popa da lancha, com o fim de o deitarem dentro do bote para ser levado para terra, deu-se novo ataque dos aviões sendo a lancha metralhada totalmente pelo través de bombordo por consecutivas rajadas, ocasionando novas desgraças: O Comandante foi atingido mortalmente no peito; o grumete-artilheiro Ramos foi ferido na perna esquerda; o marinheiro-telegrafista Costa no ombro esquerdo e nas costas, ficando em estado lastimoso; ao marinheiro-artilheiro Aníbal foi cortada a perna esquerda pela canela; ficou ileso o marinheiro-electricista Freitas que ainda se encontrava na lancha e não foi atingido por muita sorte, pois deitando-se no chão no sentido bombordo-estibordo, ficou entre as duas rajadas cujas balas, esburacando o convés, desapareceram no mar. Este marinheiro, depois do mortífero fogo levantou-se e debruçando-se do lado de bombordo viu os seus camaradas feridos e o bote inutilizado metendo água, obrigando os homens que nele se encontravam a nadarem em direcção à terra mesmo feridos. O grumete-artilheiro Ramos ainda subiu à lancha, tendo, no entanto, de se lançar imediatamente à água em virtude das munições terem começado a explodir. Entretanto, o marinheiro-electricista Freitas também se lançou à água, em direcção a uma balsa que, havia alguns minutos, tinha sido lançada à água a título de precaução e que se tinha afastado da lancha por causa da corrente e do vento. Porém, o marinheiro Silva já a transportava para junto dos feridos com o fim de se efectuar o seu socorro. Nesta altura o marinheiro Aníbal pediu socorro em virtude de se encontrar com uma perna cortada, tendo sido socorrido pelos marinheiros Silva e Freitas.

Entretanto, em virtude do aquecimento do óleo dos comandos do motor principal de BB este desenvolveu avante e a lancha completamente envolta em chamas começou a deslocar-se lentamente e quase passava por cima do marinheiro-telegrafista Costa; este, ao ver-se em tal situação, começou a gritar: «Silva, salva-me que eu morro», ao que este lhe dirigiu as seguintes palavras: «aguenta-te Costa que vou já buscar-te». Chegado ao pé dele o marinheiro Silva perguntou-lhe se se encontrava muito ferido ao que o Costa Ihe respondeu estar varado nas costas e ferido num braço. A lancha depois de alguns metros andados parou na nossa frente, enquanto as munições rebentavam com grande estrondo e grossas colunas de fumo se elevavam no ar, tendo começado a aparecer a flutuar no mar gasóleo (combustível da lancha). Muito lentamente, a lancha foi-se afastando de nós, afundando-se pouco a pouco, arrastando consigo os corpos do Comandante e do marinheiro-artilheiro Ferreira.

2.º Tenente Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo
heróico Comandante da lancha «Vega»

Terrível espectáculo. Começou então a tentativa para a salvação dos feridos, os quais tinham começado a lastimar-se. Procurou-se então empurrar a balsa com os feridos agarrados a ela, mas era impossível; foi então que o marinheiro Silva tirando o cinto de salvação, amarrou um dos seus atacadores à balsa e o outro à cintura para melhor poder nadar e rebocar os feridos. O Freitas tinha uma bóia debaixo do corpo e nadava com um braço para assim auxiliar o seu camarada. Procurou-se seguir rumo à Fortaleza, o que muito lentamente se ia fazendo; só passado muito tempo se notou, pelo ponto tirado a terra, que se estavam a afastar da Fortaleza. Em virtude do vento e da mareta, descaindo para fora, para o lado de Brancavará, o desânimo apoderou-se principalmente dos feridos que não deixavam de pedir: «Silva leva-nos para terra», ao que este respondia: Ânimo rapazes que havemos de chegar». Já havia algumas horas de luta com o mar quando o marinheiro Silva começou a não poder abrir os olhos dizendo para o Freitas que o guiasse em virtude de não ver, por ter os olhos cheios de gasóleo, tendo também a garganta com bastante ardor devido também a algumas goladas de água misturada com gasóleo que fora forçado a ingerir. Novamente se afastaram mais de terra em consequência do vento que os arrastava para fora procurando tentar chegar a terra nadando sempre contra a maré. «Vamos rapazes, todos à uma que estamos quase a chegar», mas era somente para animar os feridos que, sempre com a esperança de se salvarem, tentavam corresponder. Ouviu-se o marinheiro Aníbal dizer que não podia mais, tendo-o então, passado para cima da balsa. Gemidos e ais saíam consecutivamente da boca dos feridos, e as cãibras de vez em quando inutilizavam as pernas dos marinheiros Silva e Freitas. Foi nesta altura que, em frente de Podamo, nos fomos aproximando de terra. Ali, quase junto à terra pedimos socorro a alguns naturais que aí se encontravam mas estes, talvez com receio dos aviões, não o fizeram; assim, mesmo junto à terra estivemos mais de 1 hora a nadar quase no mesmo sítio até que finalmente se conseguiu entrar na rebentação do mar tendo sido lançados para as rochas. Foi nesta altura que se notou o silêncio e a cor muito branca do nosso camarada Aníbal que se encontrava morto, tendo então dito o marinheiro Costa que ele tinha morrido talvez há perto de 1 hora mas que se calara para que não houvesse desânimo. Com a ajuda de um natural pôs-se a balsa em seco, tendo ficado em cima da mesma o corpo do infeliz marinheiro Aníbal. Foi também que reparámos nos ferimentos do marinheiro Costa, deixando-nos como apalermados. O braço totalmente destroçado na zona do músculo e o furo de uma bala de 20 mm que o varava das costas para a frente sobre o rim esquerdo. Colocou-se o Costa em sítio seguro e abrigado enquanto que o marinheiro Silva, com os membros tolhidos, ali ficou estendido recuperando energias, indo o marinheiro Freitas, descalço, cheio de sede e fome, a alguns quilómetros de distância em busca de socorros. Foi então que, mais tarde, acompanhados pelo Freitas apareceram o médico e dois maqueiros no local onde tinham ficado. Chegados ali, alguns naturais acordaram o marinheiro Silva que entretanto dormia, o qual procurando pôr-se em pé não o conseguiu, indo a arrastar-se, só muito lentamente se reanimando. Entretanto foi-se à procura do marinheiro Costa que gemia e pedia àgua. Pouco depois apareceram alguns naturais trazendo água e dando-a aos marinheiros, tendo então o Silva dado de beber ao Costa. Logo após a chegada do médico e dos maqueiros no jeep imediatamente se procedeu à acomodação do Costa no mesmo, bem como dos seus camaradas Silva e Freitas, dirigindo-se o jeep para o hospital, onde ficaram internados. Estes 3 homens, marinheiro-fogueiro n.º 5645 Silva, marinheiro-electricista n.º 5353 Freitas e marinheiro-telegrafista Costa chegaram a terra depois de 7 horas de nadar.

Na altura do afundamento da lancha o grumete-marinheiro Ramos, apesar dos seus ferimentos, nadou sozinho para terra, próximo da Fortaleza, tendo passado por baixo do fogo que o cruzador lançava para a Fortaleza, tendo conseguido salvar-se apesar de chegar a perder as esperanças, em virtude do intenso fogo com que o cruzador bombardeava a Fortaleza. Chegado a terra, com a ajuda de alguns soldados, foi conduzido ao hospital onde ficou internado.

Ainda na altura do afundamento da lancha, o marinheiro-fogueiro-motorista Nobre, tendo sido o primeiro a abandonar a lancha nadou com grande vigor afim de se afastar da mesma que se encontrava a arder e a darem-se explosões a bordo, depois de olhar para ver se via alguns sobreviventes reparou somente na balsa de salvação e, não avistando nenhum dos seus camaradas, pensou que todos tivessem morrido quando se encontravam no bote, em virtude do ataque dos dois jactos. Nadou então em direcção ao fortim do mar, porém, nesta altura, foi o fortim alvo de grande bombardeamento, pelo que teve de desistir do seu intento e nadar em direcção a terra indiana, onde chegou exausto, quase sem forças, após 7 horas de grande esforço. Ali foi recolhido por naturais e feito prisioneiro passados 45 minutos, tendo sido amarrado e levado para a cidade de Una onde esteve encarcerado durante 42 horas, tendo sido interrogado sobre: como tinha aparecido ali; há quanto tempo tinha começado o fogo e se os aviões eram indianos. Desconfiaram ainda que ele não fosse marinheiro, o que justificou pelas tatuagens que tem nos braços. Afirmaram-lhe ainda que Diu já se tinha rendido. O intérprete era um goês.

Este marinheiro viu a lancha afundar-se completamente em chamas.

Após o combate aéreo-naval havido com a lancha «Vega» e depois do seu afundamento e da salvação de alguns dos seus tripulantes é que se pôde calcular as baixas sofridas,
verificando-se:

Mortos:

Comandante 2.º tenente Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo;
Marinheiro-artilheiro-apontador n.º 10030 — António Ferreira;
Marinheiro-artilheiro da RM. n.º 10519 — Aníbal dos Santos Fernandes Jardim.

Feridos:

Marinheiro-telegrafista n.º 11027 — António da Costa Bagoim;
Grumete-artilheiro n.º 13032 — Venâncio dos Ramos.

Ilesos:

Marinheiro-fogueiro n.º 5645 — Armando Cardoso da Silva;
Marinheiro-electricista n.º 5353 — Francisco Mendes de Freitas;
Marinheiro-fogueiro n.º 6788 — António da Silva Nobre.

Nota: — No dia 18 de Dezembro de 1961 verificaram-se ainda os seguintes factos:

Às 06:30, destruição de aquartelamento da marinha pelos cabos-artilheiros n.º 2195, António Fernandes da Silva Gonçalves (mestre da lancha «Vega») e n.º 2590 — José de Azevedo (patrão da embarcação «Folque»).

Às 07:00, destruição total do material hidrográfico pelos cabo-artilheiro n.º 2590 — Azevedo e marinheiro-artilheiro n.º 6216 — José António Botinas, este da «Brigada Hidrográfica do Estado da Índia.»

Este, o relato da acção da lancha «Vega» em águas de Diu, quando da invasão indiana em 1961.

Mais tarde, através de um oficial da aviação indiana que esteve em Diu, houve conhecimento que a lancha «Vega» havia atingido três aviões, desconhecendo-se, porém, a natureza dos danos causados.

O comportamento da lancha «Vega» foi, de facto, brilhante e poderemos dizer, servindo-nos de palavras do Comandante do Agrupamento, que «a guarnição desta pequena unidade naval escreveu páginas que honram a tradição da Armada Portuguesa.»


(1) A lancha «Vega» era uma pequena unidade naval de 18 toneladas de deslocamento, com 17 m de comprimento, armada com uma metralhadora de 20 mm e uma guarnição de oito homens.

(2) NA — Indicativo de Estado Maior da Armada.

(3) Peça de 20 mm.





quinta-feira, 14 de janeiro de 2016


(Obra da tonta da ministra laranja Teresa Morais)

Fábrica de intolerantes


Helena Matos

O guia para «Acolhimento de refugiados» agora editado pela Direcção-Geral da Saúde é um prémio para os fundamentalistas. Nem as consultas só com mulheres lá faltam.

«Por imperativos de ordem cultural e religiosa, deve ter-se em atenção a escolha dos profissionais e mediadores no relacionamento com certos grupos. Por exemplo, poderão existir restrições de género consubstanciadas na recusa de mulheres serem observadas ou cuidadas por profissionais do sexo masculino. É de extrema importância que estas limitações sejam esclarecidas e respeitadas, para que o apoio tenha a maior qualidade possível.» – Não, não é engano, estamos mesmo a ler: «É de extrema importância que estas limitações sejam esclarecidas e respeitadas, para que o apoio tenha a maior qualidade possível.» E voltemos ao que aqui se designa como «limitações»: «recusa de mulheres serem observadas ou cuidadas por profissionais do sexo masculino».

Em que remoto país serão dadas estas instruções? Que estranho mundo será esse em que as mulheres (ou os homens por elas) podem recusar ser «observadas ou cuidadas por profissionais do sexo masculino»? E em que a essa atitude (que nós sem sombra de dúvida classificamos como discriminação atávica ou intolerável exigência) é aqui docemente colocada ao nível da «restrição» e da «limitação»?

Claro que isto não pode ser Portugal. Pois não pode mas é. E é Portugal agora, em 2015, e não há um século. Estes conselhos fazem parte do recentemente publicado «Acolhimento de refugiados: Alimentação e necessidades nutricionais em situações de emergência», editado pela Direcção-Geral da Saúde, no âmbito do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS).

Este guia, anunciado há dias com pompa e circunstância mediáticas, apresenta-se a si mesmo como um «documento inovador a nível nacional». Do carácter inovador não duvido sequer um segundo pois nem nos mais vetustos documentos editados pelas autoridades de saúde deste país se previa que as mulheres recusassem ser «observadas ou cuidadas por profissionais do sexo masculino». Nem nos nossos maiores delírios imaginámos que algum dia teriamos de organizar os serviços de saúde de modo a prever a «recusa de mulheres serem observadas ou cuidadas por profissionais do sexo masculino.»

A inovação chega assim anexa a algo que sempre vimos como sinal de atraso e de falta de respeito pelos serviços e técnicos de saúde. Não se percebe aliás se estas «restrições de género» se prendem apenas com os cuidados de saúde mais básicos ou se também serão extensíveis às diversas especialidades médicas. O que no limite nos levará ao paradoxo de além de discutirmos se o hospital A deve ter neurocirurgião e o centro de saúde B psiquiatra termos também de fazer essas escolhas em função do sexo dos profissionais de saúde (na era APC – Antes do Politicamente Correcto – isto chamava-se discriminação não era?).

Curiosamente, ou talvez não, este manual recomenda a quem lida com os refugiados: «Fique atento aos seus próprios preconceitos e preferências e coloque-os de lado». Pois, está a contradição desfeita: o que é preconceito é acharmos preconceituoso o comportamento da mulher (ou do seu marido) que rejeitam que ela seja observada por um médico. Complicado? Só na aparência.

Aos ingénuos que neste momento se interrogam sobre a razão de ser deste tipo de recomendações num guia de alimentação, no caso para refugiados, recordo que os totalitarismos sempre tiveram como veículos privilegiados dos seus ditames as recomendações e a legislação produzidas pelas autoridades sanitárias, logo a começar por essa espécie de estrutura ancestral do progressismo totalitário que foi o Comité da Saúde Pública ao qual se devem muitas medidas que instauraram o Terror na Revolução Francesa. E na verdade este manual de «Acolhimento de refugiados: Alimentação e necessidades nutricionais em situações de emergência» vai muito além das questões alimentares e nutricionais propriamente ditas, como bem percebem aqueles que o consultam.


Mas mesmo que este guia tivesse ficado pelas páginas dedicadas à alimentação as suas recomendações colocam questões muito sérias sobre o que se entende por acolher ou receber refugiados, sobretudo quando esses refugiados são muçulmanos.

Primeiro temos as observações óbvias: interdição de bebidas alcoólicas (que também estão presentes, como lembra o guia, em «tempero, em caldos, marinadas e sobremesas») e da carne de porco e seus derivados, a saber fiambre, salsichas, chouriço, presunto, mortadela, paio, salpicão, farinheira, morcela, tripas, fígado, pulmão, banha… (digamos que o porco e seus derivados estão mais ou menos presentes em tudo que nos apetece comprar nesta altura do ano).

Em seguida, lembram-nos os zelosos autores deste guia que também se devem evitar as gelatinas de origem animal e os alimentos com extracto de baunilha por utilizarem álcool na sua composição ou no processo de produção.

Digamos que até aqui será possível atender a tantas restrições, embora os refugiados devessem ser esclarecidos que não sendo Portugal um país muçulmano muitos dos alimentos aqui comercializados contêm gorduras animais ou álcool: uma simples fatia de bolo com passas transforma-se nesta perspectiva num problema de intolerância religiosa caso as passas tenham estado a ganhar sabor em vinho do Porto.

Enfim, uma coisa será não servir entrecosto no churrasco aos refugiados outra bem diversa passa por ter de encontrar bolachas sem baunilha.

Mas passemos adiante porque outros e bem mais sérios problemas são colocados neste guia pelo item dedicado à contaminação cruzada, conceito que no caso nada tem de sanitário mas sim de religioso: «Para a manipulação de produtos de origem suína nas instituições que fornecem e/ou preparam alimentos para os cidadãos deslocados, devem-se aplicar os mesmos processos de segurança alimentar de modo a evitar a contaminação cruzada, ou seja, os equipamentos, superfícies e utensílios que entrem em contacto com produtos de porco devem ser convenientemente lavados e higienizados

Face à logística inerente a lavar e higienizar a cada refeição «os equipamentos, superfícies e utensílios que entrem em contacto com produtos de porco» cabe perguntar como se procederá caso nessas instituições estejam também refugiados para quem o porco seja a base da sua alimentação?

Não se pense que com as outras carnes os problemas são menores: «Relativamente a outros tipos de carne, em algumas culturas e seguindo determinadas correntes do Islão, poderão haver reservas sobre a forma como o animal é abatido, havendo especificidades rituais próprias que terão que ser cumpridas.»

Terão que ser cumpridas? Sempre? Para todos? E alguém interrrogou os refugiados sobre estes assuntos?

Não deixa de ser irónico que fugindo os refugiados sírios de uma guerra causada pelos fundamentalistas islâmicos, aqui chegados esses mesmos refugiados se confrontem com serviços de acolhimento dispostos a satisfazer as exigências das suas correntes radicais. Aliás o mesmo raciocínio tem sido aplicado na questão das caricaturas de Maomé em que de repente o Ocidente dá como verdadeiro que todo o Islão considera ofensiva a representação do profeta, o que é manifestamente falso pois durante séculos e séculos os muçulmanos representaram Maomé.

Ironias e patetices de lado, o que encontramos em muita da linguagem e das estruturas de acolhimento a refugiados e emigrantes são as teses do relativismo, teses essas que exponenciaram os problemas de integração. E que por exemplo, levam regularmente à anulação em França de várias festas escolares pois já não basta haver recipientes separados para alimentos com carne de porco e sem carne de porco: há o problema da partilha das mesas, dos frigoríficos e do espaço (o conceito de contaminação cruzada é uma espécie de caixa de Pandora!) Que levam também a agressões recorrentes nos hospitais porque estes não estão dotados de equipas exclusivamente femininas. Que obrigam a alterações nas aulas de natação…

Ao identificarem-se os valores de quem acolhe com preconceitos e ao assumirem-se como «especificidades rituais próprias que terão que ser cumpridas» e limitações que terão de «ser respeitadas», comportamentos e opções que no país de acolhimento não se toleram está a criar-se uma cultura de exclusão que certamente será terreno fértil para radicalismos de todo o tipo e gerará interessantes oportunidades de emprego a legiões de mediadores culturais e cientistas sociais. Mas à excepção destes grupos ninguém mais sairá beneficiado. Se seguirmos o que está inscrito neste guia de «Acolhimento de refugiados: Alimentação e necessidades nutricionais em situações de emergência» acabaremos com refugiados muito bem alimentados mas duvido que acabemos com cidadãos integrados.





terça-feira, 5 de janeiro de 2016


Juramento d’El-Rei D. Affonso Anriques



Conservado no Archivo do Real Mosteiro de Alcobaça

Eu Affonso Rei de Portugal, filho do Conde Henrique, e neto do grande Rei D. Affonso, diante de vós Bispo de Braga, e Bispo de Coimbra, e Theotonio, e de todos os mais Vassallos de meu Reino, juro em esta Cruz de metal, e neste livro dos Santos Evangelhos, em que ponho minhas mãos, que eu miseravel peccador vi com estes olhos indignos a nosso Senhor JESU Christo estendido na Cruz, no modo seguinte.

Eu estava com meu exercito nas terras de Alentejo, no Campo de Ourique, para dar batalha a Ismael, e outros quatro Reis Mouros, que tinham consigo infinitos milhares de homens, e minha gente temerosa de sua multidão, estava atribulada, e triste sobremaneira, em tanto que publicamente diziam alguns ser temeridade acommetter tal jornada. E eu enfadado do que ouvia, comecei a cuidar comigo, que faria; e como tivesse na minha tenda um livro em que estava escripto o Testamento Velho, e o de Jesu Christo, abri-o, e li nelle a vitoria de Gedeão, e disse entre mim mesmo. Mui bem sabeis vós, Senhor JESU Christo, que por amor vosso tomei sobre mim esta guerra contra vossos adversarios, em vossa mão está dar a mim, e aos meus fortaleza para vencer estes blasfemadores de vosso nome.

Ditas estas palavras adormeci sobre o livro, e comecei a sonhar, que via um homem velho vir para onde eu estava, e que me dizia: Affonso, tem confiança, porque vencerás, e destruirás estes Reis infieis, e desfarás sua potencia, e o Senhor se te mostrará.

Estando nesta visão, chegou João Fernandes de Sousa meu Camareiro
dizendo-me: 

Acordai, senhor meu, porque está aqui um homem velho, que vos quer fallar. Entre (lhe respondi) se é Catholico: e tanto que entrou, conheci ser aquelle, que no sonho vira; o qual me disse:

Senhor tende bom coração, vencereis, e não sereis vencido; sois amado do Senhor, porque sem duvida poz sobre vós, e sobre vossa geração depois de vossos dias os olhos de sua misericordia, até a decima sexta decendencia, na qual se diminuiria a successão, mas nella assim diminuida elle tornará a pôr os olhos e verá.

Elle me manda dizer-vos, que quando na seguinte noite ouvirdes a campainha de minha Ermida, na qual vivo ha sessenta e seis annos, guardado no meio dos infieis, com o favor do mui Alto, saias fóra do Real sem nenhuns creados, porque vos quer mostrar sua grande piedade.

Obedeci, e prostrado em terra com muita reverencia, venerei o Embaixador, e quem o mandava; e como posto em oração aguardasse o som, na segunda vela da noite ouvi a campainha, e armado com espada e rodela sahi fóra dos Reais, e subitamente vi a parte direita contra o Nacente, um raio resplandecente; e indo-se pouco, e pouco clarificando, cada hora se fazia maior; e pondo de proposito os olhos para aquella parte, vi de repente no proprio raio o sinal da Cruz, mais resplandecente que o Sol, e Jesu Christo Crucificado nella, e de uma e de outra parte, uma copia grande de mancebos resplandecentes, os quaes creio, que seriam os Santos Anjos. Vendo pois esta visão, pondo á parte o Escudo, e espada, e lançando em terra as roupas, e calçado me lancei de bruços, e desfeito em lagrimas comecei a rogar pela consolação de meus vassallos, e disse sem nenhum temor.

A que fim me apareceis Senhor? Quereis por ventura accrescentar fé a quem tem tanta? Melhor é por certo que vos vejam os inimigos, e cream em vós, que eu, que desde a fonte do Baptismo vos conheci por Deos verdadeiro, Filho da Virgem, e do Padre Eterno, e assim vos conheço agora. A Cruz era de maravilhosa grandeza, levantada da terra quasi dez covados.

O Senhor com um tom de voz suave, que minhas orelhas indignas ouviram, me disse.

Não te apareci deste modo para accrescentar tua fé, mas para fortalecer teu coração neste conflito, e fundar os principios de teu Reino sobre pedra firme. Confia Affonso, porque não só vencerás esta batalha, mas todas as outras em que pelejares contra os inimigos de minha Cruz. Acharás tua gente alegre, e esforçada para a peleja, e te pedirá que entres na batalha com titulo de Rei. Não ponhas duvida, mas tudo quanto te pedirem lhe concede facilmente. Eu sou o fundador, e destruidor dos Reinos, e Imperios, e quero em ti, e teus decendentes fundar para mim um Imperio, por cujo meio seja meu nome publicado entre as Nações mais estranhas. E para que teus decendentes conheçam quem lhe dá o Reino, comporás o Escudo de tuas Armas do preço com que eu remi o genero humano, e daquelle porque fui comprado dos judeos, e ser-me-ha Reino santificado, puro na fé, e amado por minha piedade.

Eu tanto que ouvi estas cousas, prostrado em terra o adorei dizendo:

Porque meritos, Senhor, me mostrais tão grande misericordia? Ponde pois vossos benignos olhos nos successores que me prometeis, e guardai salva a gente Portugueza. E se acontecer, que tenhais contra ella algum castigo apparelhado, executai-o antes em mim, e em meus descendentes, e livrai este povo, que amo como a único filho.

Consentindo nisto o Senhor, disse:

Não se apartará delles, nem de ti nunca minha misericordia, porque por sua via tenho apparelhadas grandes searas, e a elles escolhidos por meus segadores em terras mui remotas.

Ditas estas palavras dezapareceu, e eu cheio de confiança, e suavidade me tornei para o Real. E que isto passasse na verdade, juro eu D. Affonso pelos Santos Evangelhos de JESU Christo tocados com estas mãos. E por tanto mando a meus decendentes, que para sempre succederem, que em honra da Cruz e cinco Chagas de JESU Christo tragam em seu Escudo cinco Escudos partidos em Cruz, e em cada um delles os trinta dinheiros, e por timbre a Serpente de Moysés, por ser figura de Christo, e este seja o tropheo de nossa geração. E se alguem intentar o contrario, seja maldito do Senhor, e atormentado no Inferno com Judas o treidor.

Foi feita a presenta carta em Coimbra aos vinte e nove de Outubro, era de mil e cento e cincoenta e dous.


Eu El-Rei D. Affonso.


João Metropolitano Bracharense. - João Bispo de Coimbra.- Theotonio Prior. 
- Fernão Peres Vedor da Casa.- Vasco Sanches.- Affonso Mendes Governador de Lisboa.- Gonçalo de Sousa Procurador de entre Douro e Minho.- Payo Mendes Procurador de Viseu.- Sueiro Martins Procurador de Coimbra.- Mem Peres o escreveu por Mestre Alberto Cancellario del-Rei.







Conferência


A Associação Cristóvão Colon apresenta a Conferência

«Colon, dito Colombo – foi um Português que descobriu a América?»

Organizado pela Junta de Freguesia de Alvalade (Rua Conde de Arnoso, 5-B, Lisboa) no dia 11 de Janeiro às 10h30, e que terá lugar no respectivo auditório.






segunda-feira, 4 de janeiro de 2016


Coisas que nunca mudam: as não notícias


Helena Matos, Observador 3 de Janeiro de 2016

As não notícias são tão importantes quanto as notícias. Às vezes ainda mais que as notícias. Porque as não notícias mostram como os jornalistas resistem a desfazer as suas ilusões.

As não notícias sobre a França. Em França, país bem perto de nós, foram incendiados na passagem de ano 804 veículos. Note-se que estes números estão a ser apresentados como positivos pelas autoridades francesas porque na passagem de 2014 para 2015 arderam mais 136 carros. Ou seja 940. Claro que nessa data a França não estava sob medidas de segurança tão severas quanto as actuais (os atentados ao Charlie Hebdo aconteceram dias depois, a 7 de Janeiro de 2015 e só em Novembro tiveram lugar os atentados de Paris) e de modo algum nas ruas daquele país estavam então destacados os mais de 100 mil agentes que integraram o dispositivo de segurança neste final de 2015. Como é possível que se pegue fogo a oito centenas de veículos com mais de 100 mil agentes policiais e militares nas ruas? É um mistério.


Mas convenhamos que é um mistério bem menor que o silêncio que impera nos jornais e televisões da restante Europa sobre o que acontece naquele país. Ou seja como é possível que não tenhamos informação sobre estes incidentes? Ou, para não sairmos ainda da temática dos carros incendiados, como não soubemos das 700 viaturas que arderam no 13 de Julho deste ano? Nem sequer o facto de no dia em que a França comemora a sua festa nacional ter havido também escolas incendiadas fez com que o destaque noticioso fosse maior.

Há momentos em que quero acreditar que tudo se explica pelo facto de hoje não se falar francês e por consequência a França só ser notícia quando sai nos jornais ingleses, de preferência no Guardian. Mas digamos que essa explicação se pode aplicar ao reino do Butão e respectivo lugar no índice de felicidade mas não à França onde a não notícia se tornou uma opção consciente: da França vieram primeiro revoluções e ilusões. Agora, para não comprometer a memória das primeiras e o poder das segundas, não se noticia.

Assim, ao mesmo tempo que assistimos à pilhagem de uma qualquer loja no mais recôndito canto do Ohio, nunca vemos as carcaças queimadas dos automóveis em França. Nem sequer casos como os recentemente ocorridos no final de Dezembro em Ajaccio, capital da Córsega, conseguiram romper este muro de silêncio. Digamos que em Ajaccio tudo começou como de costume: os bombeiros foram chamados ao que se designa como bairro sensível. No caso os Jardins do Imperador. Uma vez lá chegados os bombeiros foram emboscados e agredidos. Nos dias seguintes sucedem-se as manifestações de corsos indignados com o que acontecera nos Jardins do Imperador. Gritam que não querem acabar fechados em casa com medo como acontece nos banlieu do continente. Mas não só. Gritam também palavras de ordem contra os árabes e numa das manifestações rompem a barreira policial e saqueiam um local de culto muçulmano.

Qual foi o destaque noticioso destes gravíssimos incidentes? Digamos que ele passou quase tão discretamente quanto a indicação de que desde Fevereiro de 2015 já se registaram em França 200 incidentes contra militares, sendo que sete desses incidentes foram classificados como muito graves. Aliás, logo no início deste 2016, em Valence, registou-se um desses incidentes: um homem tentou atropelar quatro militares que faziam segurança junto a uma mesquita.

As autoridades, mimetizado a reacção que mantiveram até aos ataques de Novembro em Paris, logo declararam ser o homem em questão um lobo solitário para mais desequilibrado. Apesar de na sua casa ter sido encontrada propaganda jihadista, a pista terrorista não está ser seguida e admite-se que talvez exista «un lien entre son acte et une certaine religiosité»… que é como quem diz uma ligação entre o seu acto e uma certa religiosidade. Qual será a religiosidade em questão?… Como se vê, não é por falta de notícias que a França não está nas notícias. É sim porque se ficou sem narrativa. Quando o próximo sobressalto chegar, lá aparecem as carinhas a chorar mais o facebook às risquinhas e a Torre Eiffel muito fofinha. Sinais exteriores de quem não quis ver, nem ouvir nem saber.

As não notícias sobre a Grécia. Este Inverno deve estar a ser bem cálido em Atenas. Porque neste Inverno já ninguém tem frio na Grécia. Nem fome. Nem sonhos desfeitos. Nem medicamentos inacessíveis… A Grécia morreu para as notícias no dia em que os jornalistas ocidentais deixaram de ver em Tsipras o Che sem espingarda. Já não sabemos se Tsipras vai a Bruxelas, se leva gravata, se a mulher se zangou ou não com ele… Tsipras desapareceu noticiosamente falando em Julho deste ano. No momento em que deixou de ser o rosto da alternativa, do bater do pé, do virar da página da austeridade e de todas as outras categorias do pensamento mágico a que o socialismo se reduziu, Tsipras saiu dos ecrans. Por estes dias teve um regresso fugaz porque voltou a vestir a pele do Tsipras que ia mudar a Europa. Ou seja fez mais do mesmo: disse que não ia ceder aos credores. E como é disso que os jornalistas gostam lá lhe deram uns segundos da velha fama.

Curiosamente pasmamos com as fotografias em que Estaline mandava apagar os opositores mas este processo de apagamento dos heróis mediáticos que acontece em plena democracia não parece suscitar qualquer perturbação. E contudo ele é revelador do fogo fátuo que enche boa parte daquilo a que chamamos notícias, reportagens e investigações. Um desejo para 2016? Quero o Tsipras de volta. Quero saber o que faz, o que decide, o que legisla. E de caminho quero saber onde param os postais autografados por Tsipras, que se vendiam a três euros cada, com que umas almas militantes se propunham juntar dinheiro para libertar a Grécia dos credores. Como não podia deixar de ser a iniciativa foi noticiada com alarido aqui, mais aqui, e aqui, também aqui e aqui… (é melhor ficar por aqui porque com tanto aqui o texto está a ficar cacofónico) e agora nada de nada.

As não notícias sobre Guantanamo. Quantas notícias tivemos sobre Guantanamo desde que Barak Obama foi eleito? E desde que foi reeleito? Dado o silêncio que impera sobre o assunto quase se é levado a pensar que Guantanamo fechou. O quase embargo sobre o assunto é quebrado de vez em quando por uns anúncios de que o presidente dos EUA está a ultimar um plano para fechar Guantanamo. Depois temos as inevitáveis conclusões de que Obama gostaria de fechar Guantanamo mas não pode. Porquê? Não se diz. Mas note-se que as mesmas fontes asseguram e asseguraram que o anterior presidente podia fechar Guantanamo mas não queria.

As notícias sobre os EUA e seus presidentes tornaram-se na versão mediática dos gatinhos no facebook: milhões de likes para os democratas, partilhas virais e ódios profundos para os republicanos. Informação quase nenhuma.

Opções que com um presidente não democrata e sobretudo não tão querido dos estúdios de cinema e de televisão quanto o é Barack Obama teriam gerado enorme controvérsia – a aposta cada vez mais forte na exploração dos gás de rocha – têm passado quase inadvertidas apesar de ambientalmente terem muito para questionar. E como entender essa espécie de regressão nas questões raciais em que de repente os EUA parecem ter caído? Reduzidos como estamos às notícias do tipo «EUA: polícia mata condutor negro» – se o condutor fosse branco ou asiático escrever-se-ia «EUA: polícia mata condutor branco»? – deixámos de questionar os efeitos reais daquilo a que se chamam medidas de combate à discriminação racial.

Divididos entre uma élite da qual Obama e a sua mulher fazem parte e uma maioria presa nos meandros do coitadismo, os negros norte-americanos são cada vez mais objectos de uma simplificação para não dizem infantilização nas notícias.

Mas tal como acontece com Guantanamo que era para fechar e não fechou custa muito escrever sobre as bolinhas de sabão que fizeram capa e abriram noticiários e depois se viram desfazer.





sábado, 2 de janeiro de 2016


Lusofobia




Viriato Soromenho Marques, Diário de Notícias, 30 de Dezembro de 2015



Lula da Silva escolheu a Espanha para reactivar um dos tiques culturais de alguma elite brasileira contra o colonizador português. Culpou Portugal pelo facto de a primeira universidade brasileira ter sido fundada apenas em 1922. Para além de ignorar as iniciativas lusas em matéria de ensino superior, em 1792, no Rio de Janeiro (Ciências Militares), e em 1808, na Bahia (Medicina), Lula fez cair para cima da herança lusa um século de independência brasileira (1822-1922). Como Pedro Calafate tem escrito, a procura de um paradigma não português para inspiração cultural alternativa atravessa todo o século XIX do país irmão. Não só o positivismo francês, imortalizado na bandeira nacional adoptada em 1889, como um germanismo mítico, com Tobias Barreto, ou um indigenismo romântico em Gonçalves de Magalhães e Oswald de Andrade (tupi or not to be...).


Contudo, Lula ignora os grandes vultos contemporâneos da Academia brasileira. Não só o luso tropicalismo de Gilberto Freyre, como os trabalhos monumentais de Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr. e Darcy Ribeiro. Lula ignora que em 1815 o Brasil ganhou o estatuto de reino. E que a história de Pedro I, imperador do Brasil, que foi também Pedro IV de Portugal, é uma singularidade irrepetível na história universal. Ignora que a Universidade de Coimbra (depois do fecho da de Évora) foi a única para todo um império pobre. Contudo, foi esse espírito coimbrão, que unia a elite brasileira, coeva de José Bonifácio, aliado à sábia estrutura administrativa portuguesa, que garantiu – em contraste com a total fragmentação da América Espanhola – a unidade do Brasil. Os pobres portugueses asseguraram a integridade desse chão que fará do Brasil uma das grandes potências mundiais do século XXI. Basta que o seu grande povo escolha líderes capazes de cultivar a história, em vez de a tratarem com os pés.



NOTA: (Ilustrações da nossa redacção)