BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

segunda-feira, 30 de junho de 2014


Ainda o 10 de Junho


Comentários breves a um discurso impróprio


Luís Lemos

No 10 de Junho, nas comemorações junto ao monumento aos combatentes do Ultramar, contrastando com o excelente discurso do tenente-general Sousa Rodrigues (texto já reproduzido em http://responderachamada.blogspot.pt/2014/06/palavras-do-tenente-general-sousa.html ), foi a intervenção de Henrique Leitão, professor universitário da Faculdade de Ciências de Lisboa. Assistimos ao pior discurso que já alguma vez se ouviu nesta circunstância. Para termos uma ideia, transcrevemos algumas partes com as nossas anotações.

...
Henrique Leitão num oceano de sabedoria.

«Ao começar estas breves palavras vale sempre a pena relembrar algo que é para todos nós uma evidência: não viemos aqui para celebrar nem uma ideologia nem uma política».

(Que quererá Henrique Leitão dizer? Que a defesa do Ocidente e dos seus valores, que Portugal protagonizou no Ultramar, não assenta em nenhuma ideologia nem era política (e, nesta hipótese, tratar-se-á de ignorância filosófica e geo-estratégica de Henrique Leitão)? Ou, pior ainda, que Henrique Leitão se quer demarcar da ideologia e da defesa militar dos valores do Ocidente (e tratar-se-á de «progressismo» politicamente correcto)?

Então, se não se trata de ideologia nem de política, será que os traidores abrilistas que entregaram de bandeja o Ultramar à influência soviética também poderiam aqui estar a comemorar o 10 de Junho?)

«Não viemos nem para comemorar vitórias nem para lamentar derrotas».

(Viemos aqui para comer umas febras e beber uns copos?)

«Não viemos para julgar.»

(Afinal, para que servirão a história e as comemorações senão para lembrar e valorizar as  políticas correctas, os valores correctos e os actos de patriotismo e condenar os erros e as traições, proporcionando assim ensinamentos e bons exemplos para o futuro? Parece estar na moda «não julgar»... Mas, como se verá , afinal ele, como todos, já vai julgar... mal!)

«Também não viemos apenas para relembrar o passado, como algo frio e distante que se examina com interesse vago ou apenas com saudade.»

(Passado frio e distante? Interesse vago? Apenas com saudade? Sem ser fonte de lições? Pois, já tínhamos percebido para que serve a reflexão histórica!)

«Aprendi convosco que os verdadeiros soldados lutam não porque odeiam o que têm diante» (...)

(Para o cientista politicamente correcto da Faculdade de Ciências de Lisboa, o que os soldados portugueses teriam diante de si – o inimigo soviético na forma de guerrilha – não deveria ser odiado. Deveria ser quê? Tolerado? Amado? Observado com frieza? Deveria o soldado português puxar o gatilho, matar? Talvez, mas com amor... A guerra que Portugal travou em África por si próprio, pelo Ocidente e pela Civilização deveria ser uma espécie de guerra do Solnado?... Olhe, da parte do inimigo não era assim! Claro que para todas estas interrogações há uma resposta moralmente certa. Mas não é a resposta implícita na consideração beata de Henrique Leitão.)

...
Coisas simples que Henrique Leitão devia estudar.

«A história do nosso país enche de surpresa e admiração a quem a estuda: Uma nação pequena, de escassa população e recursos limitados, veio a desempenhar um papel singular na história da Europa e do Mundo. Não foi uma história perfeita de gente irrepreensível» (...)

(Que quer o cientista dizer com isto? Que os Portugueses se comportaram mal com o inimigo? Que trataram mal o inimigo em armas? Que Portugal cometeu erros de política ultramarina?... Conhecemos bem, da parte dos opinadores bem comportadinhos, politicamente correctos, as alternativas de capitulação perante o inimigo soviético.

E afinal, pasme-se, quem disse «Não viemos para julgar» já está a julgar o comportamento dos Portugueses... à maneira dele...)

...

«Os historiadores discutem há décadas como explicar estes factos surpreendentes [os Descobrimentos]. Razões económicas, políticas, sociais, religiosas têm sido avançadas como explicação, e todas elas são certamente necessárias.»

(E eis que ele vai descobrir-nos as verdadeiras razões!)

«Mas talvez a resposta esteja em olharmos para nós próprios: Arrojados, às vezes imprudentes, sempre prontos para partir, voluntariosos e um pouco desorganizados, fascinados com o novo, com o diferente, sonhadores, assim foram portugueses de todos os tempos.»

(Isto é, Henrique Leitão, no seu discurso, cita o cientista dos Descobrimentos Pedro Nunes – poderia até citar outros cientistas anteriores, como, por exemplo, os da Escola de Sagres e Abraão Zacuto. Mas depois vem explicar o êxito dos Descobrimentos pelo «voluntarismo», pela «imprudência», pela «desorganização» dos Portugueses... Os Portugueses, uma espécie de povo fandango, de marinheiros fandangos – gente não irrepreensível, como disse.

Então o cientista ignora que por detrás da grande empresa dos Descobrimentos estava uma verdadeira elite, a Ordem de Cristo, exemplo de valores, de organização, de planificação, de visão estratégica? Mas que grande lição de história e de história da ciência!).


Em resumo, Henrique Leitão ofereceu-nos um discurso pretensamente cheio de originalidades poéticas mas caindo na ideologia primária da não-ideologia, na política primária da não-política, no relativismo moral ou amoralismo do não julgar e na desconstrução da grandiosa epopeia dos Descobrimentos. Não, obrigado.

Curiosamente, Henrique Leitão é co-autor de um artigo, com o professor americano Walter Alvarez, defendendo precisamente o contrário sobre o papel da ciência nos descobrimentos. Nesse artigo, os autores avançam mesmo a hipótese de a ciência moderna ter nascido em  Portugal, com os Descobrimentos, «e não com Copérnico ou Galileu, como geralmente se aceita» (Segundo Alvarez em entrevista ao Público, em 22.5.2014).

Não possuindo elementos para irmos tão longe, é-nos no entanto legítimo perguntar: – Então, em que ficamos? Os Descobrimentos foram obra de organização e ciência ou de voluntarismo, desorganização e imprudência?

Ou seja, nos fóruns académicos, a propósito dos Descobrimentos, Henrique Leitão fala de ciência. Como grande especialista, que sabe da poda, o que lhe proporciona cachet. E depois, neste acto solene, prefere destacar a vulgaridade dos Portugueses.

Com toda esta narrativa terá pretendido demarcar-se da reaccionarada?

Erro de casting da Comissão Executiva do evento. As aparências iludem e errar é humano. Para o próximo ano será certamente melhor.





domingo, 29 de junho de 2014


Marcello Caetano


O 25 de Abril no futebol...


Marcello Caetano ovacionado durante um jogo Sporting-Benfica,
a poucos dias do golpe de Estado abrilista.

«Em poucas décadas ...estaremos reduzidos à triste figura de eternos perdedores, pelo que é ridículo continuar a falar de qualidade do nosso futebol. Para uma nação que estava a caminho de se transformar num potentado desportivo, a abrilada foi o princípio do fim. Resta o Ronaldo, as brasileiras e suecas atrás dele, as vitórias morais, a pobreza crónica da nossa selecção, o servilismo perante a FIFA e a UEFA e a emigração em massa dos nossos atletas.»

«Veremos alçados ao poder desportivo analfabetos, treinadores de bancada, jogadores de matraquilhos, ladrões, escroques de toda a espécie que conhecemos de longa data. A maioria não servia para apanha-bolas nem roupeiros e chegam a presidentes de clubes grandes, administradores de SAD, secretários de Estado do desporto, chefes da arbitragem, seleccionadores nacionais e até presidentes da Federação.»...


e aí estão eles!



Se quer ler o texto original, verá que é a papel químico.


Siga o link:

http://maislusitania.blogspot.pt/2014/04/o-que-foi-realmente-para-portugal-o-25.html





quinta-feira, 26 de junho de 2014


O general Jaruzelski, ex-presidente comunista
da Polónia, morreu no seio da Igreja


Wojciech Jaruzelski

Wojciech Jaruzelski o comandante militar comunista e presidente da Polónia durante a Guerra Fria, conhecido pelo seu ateísmo militante, morreu no final do mês de Maio depois de receber os sacramentos no seio da Igreja.

«Que coisa mais estranha, mas bela que é o líder do governo que esteve em guerra com a Igreja finalmente se reconcilie com ela», afirmou o padre Raymond Gawronski, sacerdote jesuíta norte-americano de origem polonesa.

Jaruzelski, que durante muitos anos se declarou ateu, morreu em 25 de Maio depois de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). O bispo do Ordinariato Militar Polonês, Dom Jozef Guzdek, celebrou a missa de exéquias no dia 30 de Maio em Varsóvia. Um sacerdote da catedral do Ordinariato informou que duas semanas antes da sua morte Jaruzelski tinha pedido a extrema-unção.

Jaruzelski aderiu ao partido comunista da Polónia em 1948, e vinte anos depois foi secretário da Defesa da Polónia. Em 1981, Jaruzelski tomou o poder na Polónia e imediatamente declarou a lei marcial para extinguir o «Solidariedade», federação sindical polonesa inspirada na doutrina social da Igreja católica. Milhares de pessoas foram presas e centenas foram assassinadas durante a repressão; a imposição da lei marcial de Jaruzelski durou até 1983.

Em 1989 realizaram-se eleições «semi-livres», Jaruzelski ganhou a presidência, mas renunciou passados uns meses o que resultou na eleição de Lech Walesa, co-fundador do Solidariedade, à presidência.

Jaruzelski nunca apresentou desculpas públicas pela imposição da lei marcial e outros abusos realizados durante a Guerra Fria. O pedido da extrema-unção dos enfermos veio em pouco menos de duas semanas antes da sua morte.

Lech Walesa assistiu ao funeral e atravessou o corredor para dar a saudação da paz à família do seu adversário. A sua presença «foi algo extremamente significativo, porque estes homens eram inimigos», comentou o padre Gawronski.

O Padre Gawronski fez um paralelo da história de Jaruzelski com a de Santa Faustina Kowalska, santa a quem foi revelada a devoção da Divina Misericórdia no começo do século XX. O sacerdote afirmou que Santa Faustina é a «grande heroína» de outro santo polonês, o Papa João Paulo II, pela sua «mensagem de misericórdia e reconciliação».

O sacerdote explicou que quando Jaruzelski pediu para reconciliar-se com a Igreja, foi algo «surpreendente», pois «ele não tinha dado nenhum sinal de que ia fazer isso», portanto, «isto é maravilhoso, há mais alegria por um pecador arrependido que pelo resto».





terça-feira, 24 de junho de 2014

Artista vai a tribunal

por ultraje a símbolos nacionais


(Dos jornais)

Élsio Menau começa hoje a ser julgado no tribunal de Faro pela instalação artística em que a bandeira portuguesa aparecia «enforcada».

O trabalho de final de curso de Élsio Menau valeu-lhe uma nota de 17 valores, mas também um processo judicial pelo crime de ultraje à bandeira nacional. O estudante universitário desenvolveu uma instalação artística há cerca de dois anos e que esteve exposta num terreno privado. No trabalho «Portugal na Forca», realizado para a licenciatura em Artes Visuais, Élsio colocou uma bandeira de Portugal pendurada numa forca de madeira.


O estudante garante que não teve intenção de ofender a bandeira, nem cometer qualquer crime com a sua instalação artística e, em declarações à TSF, explica que o trabalho «procurava mostrar a indignação pelo estado em está o país».

A obra foi retirada pela GNR do terreno em que estava instalada apenas dois dias depois de ter sido colocada. Mais tarde, esteve exposta durante cerca de dois meses na Galeria de Arte do Convento de Santo António, em Loulé, no âmbito de uma exposição colectiva promovida pela universidade do Algarve.

O trabalho foi ainda incluído no videoclip do grupo de hip hop «Tira Nódoas», que usou o nome da obra – «Portugal na Forca» para o título da música. O vídeo conta com mais de 80 visualizações no YouTube.

Recorde-se que depois do episódio da bandeira hasteada ao contrário na Câmara de Lisboa, cinco pessoas apresentaram queixa invocando crime de ultraje a símbolos nacionais, tendo uma dessas queixas invocado ainda crime de traição à Pátria. O caso foi investigado e o Ministério Público determinou o arquivamento. «Depois de realizadas as diligências pertinentes o Ministério Público concluiu pela inexistência da prática de crime, uma vez que não se indiciou qualquer intenção final de ultrajar ou faltar ao respeito devido à bandeira nacional», podia ler-se numa nota publicada no site da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa.

O site Tugaleaks foi uma das entidades que assumiu ter apresentado queixa contra o Presidente da República e o Presidente da Câmara de Lisboa, recordando a polémica em torno de um programa da SIC Radical que usou a imagem da bandeira ao contrário no genérico. Nessa altura, o PS mostrou intenções de processar o canal de televisão.

O site da Presidência da República refere que o artigo 332.° do Código Penal pune com pena de prisão até dois anos ou com pena de multa até 240 dias «quem publicamente, por palavras, gestos ou divulgação de escrito (...) ultrajar a República, a bandeira ou o hino nacional».





domingo, 22 de junho de 2014


Acordo ortográfico:

«Abrir mão» ao descalabro ou do descalabro?


(Carta ao Jornal  Público)

Em entrevista publicada na sexta-feira, dia 13 de Junho, neste jornal, o director do Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, António Sartini, declarou:

«Acho portanto muito justo que esta língua [portuguesa] se torne oficial nos organismos internacionais. É lógico que esse processo sempre gera descontentamentos [devido ao acordo ortográfico]. Mas para que ela seja oficial é preciso que seja coesa, pelo menos na sua forma culta, normativa. Ela não se tornou oficial até hoje porque há uma forma de escrever no Brasil, outra em Portugal... Para chegarmos a uma forma única, alguém tem de abrir mão de alguma coisa – e isso deixa as pessoas desconfortáveis».

Em virtude destas declarações, graves pelas responsabilidades linguísticas e pedagógicas de quem as proferiu, vimos chamar a atenção para os seguintes factos objectivos:

1. A língua inglesa possui mais do que uma forma de escrever, com diferenças sensíveis entre cada uma (por exemplo, entre a norma adoptada nos EUA e a adoptada no Reino Unido), e isso não a impede de ser a língua mais divulgada no mundo, língua oficial de quase todos os organismos internacionais.

2. O «acordo ortográfico» que António Sartini refere na entrevista, como está cientificamente comprovado, leva ao AUMENTO das divergências entre as ortografias de Brasil e Portugal. Antes do «acordo», escrevia-se recepção e detectar nos dois países. Depois do «acordo», nasceram novas palavras em Portugal, receção e detetar, criando uma divergência ortográfica onde existia convergência. Isto sucede em centenas de casos. Logo, o dito «acordo» não somente não contribui em nada para «chegarmos a uma forma única», como possui exactamente o efeito oposto.

3. Os organismos internacionais, ao contrário do que sugere António Sartini, não ficam a ganhar rigorosamente nada com o «acordo». Este não supera, nem sequer reduz, as divergências ortográficas antigas entre as variantes brasileira e portuguesa. Basta pensar na ONU e na OMS, por exemplo. Com ou sem este «acordo», continuará a ter de decidir-se entre República Checa(pt) / República Tcheca (br), Islão (pt) / Islã (br), Madrid (pt) / Madri (br), Moscovo (pt) / Moscou (br), SIDA (pt) / AIDS (br), etc. Qual a versão a escolher? Não há «forma única» possível na ortografia da língua portuguesa. O «acordo», precisamente onde o director do Museu da Língua Portuguesa Sartini afirma ser mais necessário, continua a ser um des-acordo.

4. As pessoas que se sentem «desconfortáveis» com o mesmo «acordo ortográfico» não se sentem assim por terem de «abrir mão de alguma coisa». É a verificação das falhas descomunais na sustentação linguística deste «acordo ortográfico», bem como a verificação dos efeitos desastrosos que o «acordo» está a provocar no ensino-aprendizagem, que tem levado à recusa deste por grande parte dos sectores mais ilustrados de Portugal e Brasil. O «acordo» tem criado as maiores confusões em crianças e adultos, tem levado a situações de perda absoluta de referenciais históricos, prosódicos e etimológicos da Língua, e nem sequer conseguiu criar correctores ortográficos para computador que sejam coerentes com ele e entre si. Maior desacordo do que aquele obtido com este «acordo» é difícil, senão impossível, de imaginar.

Noutro ponto da entrevista, António Sartini afirma que «essa reforma [ortográfica] vai oficializar alguma coisa que na prática já vinha existindo. Interessa-nos muito mais essa evolução natural, essa prática do que a cristalização trazida por uma reforma ou um acordo». Na verdade, o actual «acordo ortográfico» não reflecte qualquer evolução natural da língua. Ele foi antes orquestrado por um número muito reduzido de pessoas, em circunstâncias verdadeiramente penosas, para não dizer fraudulentas. Para informações sobre o processo levado a cabo no Brasil, recomendamos a audição da entrevista ao Prof. Sérgio de Carvalho Pachá, ex-lexicógrafo-chefe da Academia Brasileira de Letras e testemunha do processo, cuja ligação segue aqui: http://www.youtube.com/watch?v=-_wIluG3yRs

O «acordo» não serve para unificar, nem para simplificar; nem sequer serve para os fins políticos internacionais que António Sartini e outros como ele pretendem. Pelo contrário: acaba por ser prejudicial em todos esses aspectos. A conclusão só pode ser que o dito «acordo ortográfico» é um péssimo serviço criado aos países e às pessoas que falam e escrevem a língua portuguesa.


António de Macedo, Cristina Pimentel, Helena Buescu, Hélio J. S. Alves, João Barrento, José Luís Porfírio, José Pedro Serra, Maria do Carmo Vieira, Maria Filomena Molder, Paula Ferreira, Pedro da Silva Coelho, Rui Miguel Duarte, Teolinda Gersão





sábado, 21 de junho de 2014


Educação dos filhos

Procura-se especialista


Inês Teotónio Pereira

O caso é sério porque revela que os pais se consideram incompetentes para responder a estas questões e não confiam em quem os educou – nos avós

Existem duas entidades em quem os pais já não confiam: neles próprios e nos avós. Ao fim de séculos a confiar nestas duas instituições milenares chegou a altura de atirar a toalha ao chão e de procurar novas experiências que ajudem a educar e a criar os filhos. Nada do que valia, agora vale, é esta a infeliz certeza das novas gerações de pais. Está tudo em aberto no que diz respeito à educação ou à criação dos filhos e tudo pode ser dito e escrito porque haverá sempre interessados, likes, polémica e comentários. Está tudo em aberto: do mais importante ao mais ridículo.

Os pais acham que não sabem coisa alguma sobre a arte de educar e criar filhos. Confiam mais em qualquer livro, em qualquer especialista – seja ele pediatra, sociólogo, neuropsicólogo, ou apenas estudioso – ou em blogues, que ditam sentenças e teorias, do que neles próprios. A intuição foi de férias para parte incerta e os avós, bom, os avós são mais velhos e não estão inteirados dos tempos modernos: os tempos são outros, por isso as crianças também devem ser diferentes. Sim, é um mistério que apesar da falta de doutrina publicada e da escassez de especialistas encartados durante todos estes milénios, a humanidade tenha conseguido sobreviver.

E quais são os temas centrais que preocupam os pais e que servem de substrato para a sobrevivência de tantos especialistas? Tudo e mais um par de botas. Há umas semanas estoirou uma polémica dentro da temática pais e filhos que, tendo em conta o entusiasmo que suscitou, põe em causa a importância de assuntos como os massacres no Iraque ou o próprio joelho de Ronaldo. Um pediatra espanhol, um verdadeiro especialista em vender livros na Ibéria, deu uma entrevista ao Observador onde declara peremptoriamente que as crianças não devem ser castigadas, devem dormir na cama dos pais até à idade que entenderem, que os legumes não fazem falta nenhuma à dieta ibérica dos nossos infantes e, pasme com a grande novidade, os pais devem amar os filhos. O mundo paternal estremeceu e o debate centrado nos legumes, na cama dos pais e nos castigos tomou conta da temática pais e filhos. Ficámos, então, todos a saber que há um mundo de filosofia por detrás destes temas.

Esta semana o Observador descobriu mais um especialista espanhol, que também é campeão literário de vendas, que revela o segredo na arte de adormecer uma criança: «A ideia é deixar as crianças na sua própria cama, com a luz do quarto apagada e a porta aberta. É provável que chorem, pelo que os pais devem visitar os filhos, em intervalos de tempo progressivamente maiores, no sentido de os acalmar. A calma e a serenidade são factores importantes.» O mesmo método deve ser aplicado na arte de enfiar legumes pela boca abaixo dos nossos filhos: calma e serenidade; assim como no que toca à disciplina: constância em vez de rigidez. O mundo dos pais dividiu-se entre os dois espanhóis. Está uma verdadeira revolução em curso.

O caso é sério. O facto de haver mercado para estes especialistas é um caso sério porque é a constatação de que os pais acham que não conseguem sozinhos descobrir fórmulas para adormecerem os filhos, que não sabem como fazer com que seres que têm um terço do seu tamanho comam um prato de sopa e não consideram claro como água que as crianças precisam de regras coerentes, constantes e de sanções caso haja necessidade de as forçar a respeitarem as ditas regras. Quanto à evidência de «terem de ser amadas», nem sei que diga.

O caso é sério porque revela que os pais se consideram incompetentes para responderem a estas questões e não confiam em quem os educou – nos avós – para esclarecerem as dúvidas. É sério porque parece que, afinal, a experiência e a intuição não servem para nada. Não há por aí mais um especialista que queira escrever sobre isto?






João Lobo Antunes sobre a chamada
«opressão intelectual» no Estado Novo


SOL, 19 de Junho de 2014

O conselheiro de Estado e neurocirurgião João Lobo Antunes [não confundir com o irmão António] declarou esta quinta-feira à Antena 1 que «é injusto» afirmar que havia «opressão intelectual» antes do 25 de Abril. «Dizer que havia uma opressão intelectual é injusto. Não é verdade». «Não é verdade», considerou o antigo director do serviço de Neurologia do Hospital de Santa Maria e dirigente da Juventude Universitária Católica.


Lobo Antunes recorda a publicação do jornal Encontro, da JUC, com artigos de bispos críticos do antigo regime, como exemplo de liberdade intelectual.





sexta-feira, 20 de junho de 2014


Vamos apoiar Hugo Ernano!

Queremos justiça em Portugal!


Vamos apoiar Hugo Ernano, o GNR injustamente condenado a 9 anos de prisão e a 80 mil euros de indemnização por ter cumprido o seu dever!

Basta de desvergonhas na justiça!

Basta de permissividade!

Basta de desordem pública!

Hugo Ernano

Hugo, estamos contigo!

Queremos uma justiça justa!

Queremos a punição de juízes que não cumprem a lei!
Queremos respeito pelas forças de segurança!
Queremos um Portugal pacífico e seguro!

(Arrobas e toneladas de advogados de ladrões, de desordeiros e de bandidos,

tomem vergonha!)

(Ideólogos do multiculturalismo, caridosos das minorias marginais e políticos protectores de ladrões, desordeiros e bandidos,

tomem vergonha!)

Arrobas da Silva,
advogado das causas da esquerda





http://www.publico.pt/sociedade/noticia/gnr-de-loures-acusado-de-ter-matado-jovem-em-2008-condenado-a-9-anos-de-prisao-1610240





segunda-feira, 16 de junho de 2014

O PR, o 10 de Junho e o direito à manifestação


João J. Brandão Ferreira Oficial Piloto Aviador




«De Formião, filósofo elegante,
vereis como Aníbal escarnecia,
quando das artes bélicas, diante
dele, com larga voz tratava e lia.
A disciplina militar prestante
não se aprende, Senhor, na fantasia,
sonhando, imaginando ou estudando,
senão vendo, tratando e pelejando.»


Lusíadas, Canto X, 153


Numa semana em que se comemorou o 886.º aniversário do nascimento de Portugal – consideramos a data de 1128, 4/6 (Batalha de S. Mamede), por ser a independência «de facto», a que realmente interessa, pois só se reconhece o que já existe – é natural que escreva sobre o mesmo.1

Por enquanto a falta de tino político que se tem evidenciado em ritmo alucinante, ainda mantém o dia 10 de Junho como feriado nacional. Mas se as coisas continuarem por este caminho talvez não falte muito que o mesmo feriado seja passado para o dia primeiro de Janeiro…2

Infelizmente a mola que me impulsionou a escrever não foram as boas razões, mas razões que não seria suposto existirem.

Poderia discorrer sobre a secundarização que os próprios órgãos de soberania, as autarquias e, sobretudo, os órgãos de comunicação social (OCS) praticam quanto à data relativamente, por exemplo, ao «pontapé na bola», que impera em todo o lado.

Dá ideia que a República vive no reino do futebol e que, só gostamos de ser portugueses e de nos sentirmos patriotas quando a selecção joga – mesmo quando o futebol em vez de ser um desporto de eleição, virou um negócio monumental (com muitos casos de polícia pelo meio) e tudo se faz para forjar naturalizações…

Poderia ainda referir que a maior manifestação de iniciativa da sociedade civil existente no país, independente de qualquer apoio do Estado ou de entidade política, não merece a atenção nem é considerada notícia, ou objecto de reportagem, pela esmagadora maioria dos nossos libérrimos e democratíssimos OCS.

Refiro-me à homenagem nacional aos combatentes portugueses, que se realiza todos os anos, nos Jerónimos e junto ao monumento aos mortos do Ultramar, em Pedrouços.

O facto de cerca de meia dezena de milhar de pessoas de todo o país, se juntarem ordeiramente, sem reivindicarem nada, sem ofenderem ninguém, sem ódios de espécie alguma, apenas para prestarem, respeitosa e sentidamente, as suas homenagens a quem se sacrificou combatendo debaixo da Bandeira das Quinas, não deixa de ser uma afirmação política e patriótica de Portugalidade.

Não é pois, inocentemente, que se faz silêncio sobre a mesma, mas uma demonstração inequívoca de sentimentos e ideologias que atravessam a sociedade, o que deveria ser objecto da mais profunda reflexão.

Mas o ponto que gostaríamos de salientar ocorreu durante as cerimónias oficiais do Dia de Portugal – dia que, é bom recordar, chegou a ser proibido nos tempos do «PREC», sendo durante anos uma cerimónia soporífera e das quais as FA estiveram arredadas (escovadas?) durante mais de três décadas, sendo recuperadas para as mesmas no 1.º ano do consulado do actual PR.

Ora quando o professor Cavaco Silva, na sua qualidade de PR – frisa-se – iniciava o seu discurso frente a formatura de tropas, uma parte da assistência começou a manifestar-se ruidosamente contra ele e contra o Governo. Protestos que continuaram durante o incidente de saúde que acometeu o presidente.

Não está em causa o grau de simpatia política que cada um de nós possa ter relativamente a qualquer órgão de soberania mas, que diabo há ocasiões, formas e lugares, para tudo. E temos que nos saber comportar em cada uma delas, sob pena de regredirmos à selva e às suas leis.

Estamos perante a cerimónia que é a mais importante do calendário nacional – e, por definição, não pode haver outra; diante dos exércitos de terra, mar e ar, que servem e defendem a Nação sendo, em simultâneo, o mais poderoso instrumento do Estado; cerimónia que é presidida pelo mais alto magistrado, o qual apesar de ser eleito por uma parte da população é suposto todos representar.3

Cerimónia que é pública, à qual assiste a população que assim o entende e que também tem o direito de não ser incomodada.

Ora o que aconteceu é que existem grupos de cidadãos que nada respeitam e para os quais, pelos vistos, os fins justificam os meios.

Grupos de cidadãos, alguns dos quais identificados como simpatizantes de organizações políticas, ou outras – que, no fundo, não passam de correias de transmissão das primeiras – com responsáveis conhecidos, que depois não se podem vir a desculpar ou a chorar lágrimas de crocodilo por eventos que, entretanto, se deram.

Tais atitudes não configuram apenas hipocrisia política, entram no campo da subversão.

Esteve bem o general CEMGFA na intervenção que fez. Mostrou coragem, senso e presença de espírito.

Uma última reflexão.

Não chegámos a uma situação destas, que leva já muitos anos, por uma espécie de osmose cósmica, tipo «chuva de radiações ultravioleta».

Tudo tem causas terrenas e comezinhas, de cuja responsabilidade atribuo à generalidade da classe política – sem embargo das responsabilidades dos militares consubstanciado no MFA/CR – 4, que, ao contrário de conseguirem serenar os ânimos e disciplinar as hostes e organizar a sociedade, têm pejado o éter de maus exemplos.

Em primeiro lugar pelo desrespeito e ataques aos órgãos de soberania; às instituições nacionais – das quais a família é a primeira entre todas – e à constante e acintosa prática, de falta de elevação no debate político.

Quase toda a prática política (desde 1975) – o exemplo vem de cima – tem sido no sentido de «nivelar» por baixo, quebrando o sentido da hierarquia, sem o que não há autoridade que resista; deformando-se conceitos fundamentais, como foi, por ex., o de confundir «democracia» com cada um fazer o que quer; liberdade, com libertinagem; liberdade de expressão com irresponsabilidade, e muitas mais, que tiveram efeitos devastadores no comportamento das gentes.

Com especial relevo no seio da família, na escola, nas relações laborais e na Justiça.5

Tudo isto passou para os OCS, enformados por um libérrimo enquadramento jurídico, talvez ainda pior daquele que vigorou no fim da Monarquia Constitucional e na 1.ª República, e que tanto contribuiu para a sua queda, como para a justificação da «censura e exame prévio» que se lhes seguiu!

Inevitavelmente, tudo o atrás exposto teria, um dia, de se voltar contra os seus fautores e, por isso, é que hoje em dia, ninguém tem respeito por ninguém, nem por nada, e os governantes evitam sair à rua e andam guardados por «pelotões» de seguranças.6

É preciso pôr ordem no beco.

E não se vislumbra horizonte para tal.



1 – Aliás, a independência não é um direito, mas antes uma evidência, que tem que ser conquistada e mantida!…

2 – De 1986. Data da adesão de Portugal à CEE…

3 – Problema que não se coloca nas Monarquias.

4 – Movimento das Forças Armadas/ Conselho da Revolução

5 – Lembram-se, por ex., dos Presidentes Mário Soares e Sampaio a apelarem à indignação e a maltratarem agentes da autoridade?

6 – O «perigosíssimo» Almirante Tomás tinha um agente da PSP à sua porta…