BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

sábado, 22 de abril de 2017

Suécia teme a agressividade de Moscovo e intensifica rearmamento


Revista Catolicismo, n.º 796, 20 de Abril de 2017

A Suécia, que nutria até há pouco um pacifismo visceral, agora, diante da agressividade de Putin, restabeleceu o serviço militar obrigatório. As provocadoras manobras da marinha e da força aérea russa nas fronteiras do país escandinavo geram grande temor.

Nova lei dispõe o alistamento de 13 000 dos 88 000 jovens nascidos em 1999. O Ministério da Defesa calcula que a partir de 2023 precisará anualmente de 8 000 soldados a mais. Setenta por cento dos suecos declararam-se favoráveis a esse recrutamento.





quinta-feira, 20 de abril de 2017

EUA e China frente a frente com as ameaças da Coreia do Norte


A Coreia do Norte intensificou as ameaças de ataque nuclear aos E.U.A..
Os mísseis são feitos com partes
 contrafaccionados ocidentais passadas pela China

Luis Dufaur, Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, 19 de Abril de 2017

Após insistentes provocações nucleares e missilísticas a Coreia do Norte caminhava a achar que vivia na era da impunidade que a moleza de Barack Obama lhe tinha garantido.

Mas agora, uma frota liderada pelo porta-aviões USS Carl Vinson navega à distância de fogo das suas paupérrimas, mas eriçadas bases militares.A Agência Central de Notícias de Pyongyang achou «ultrajante» a manobra escreveu o «Chicago Tribune».

A presença de navios de guerra americanos na região é habitual, mas o secretário de Estado americano Rex Tillerson esclareceu: «Se alguém viola os acordos internacionais, não cumpre os seus compromissos, e se  transforma numa ameaça para os outros, num dado momento alguma resposta lhe deve ser dada», acrescentou o «Chicago Tribune».

A China percebeu logo que as intimidações do ditador norte-coreano Kim-Jong-Un com os seus mísseis contrafaccionados e de pontaria não demonstrada de pouco servem. Então decidiu intervir sorrateiramente.

De facto, a China constitui o grande problema por trás do exibicionismo e a arrogância de Pyongyang.

Segundo o jornal chinês «The Epoch Times» editado em Nova Iorque, fontes dos media sul-coreanos dizem que 150 mil médicos e pessoal de apoio do Exército de Libertação Popular (ELP) da China foram mobilizados ao longo do rio Yalu, que a separa da Coreia do Norte.

Esta mobilização foi precipitada pela movimentação do grupo naval liderado pelo porta-aviões Carl Vinson, que se encaminhou para a Península Coreana em 8 de Abril, mudando o seu rumo original.

O presidente dos E.U.A. Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping  encontraram-se na Flórida entre os dias 6 e 8 de Abril. E foi num jantar que o chinês ficou a saber que o americano tinha ordenado bombardear a Síria, escreveu «The Guardian».

O recado foi claro. Xi Jinping saiu satisfeito com as conversações e comprometido a conduzir a crise nuclear norte-coreana a uma conclusão pacífica.

Mas Xi percebeu logo o que pode acontecer na Coreia. Ele sabe que a China nem sequer tem como enfrentar militarmente os E.U.A.. Mas os imensos investimentos ocidentais no seu território são uma arma de chantagem de primeira magnitude.

O grupo de tarefas do USS Carl Vinson navega no Mar do Sul da China
Pyongyang esbravejou expressando confiança no seu «tremendo músculo militar com força nuclear» para se defender caso os E.U.A. escolham uma opção militar.

A Coreia do Norte, ditadura comunista e um dos regimes mais repressivos do mundo tem graves dificuldades para alimentar basicamente a quem não é do Partido Comunista.

Embora a sua infra-estrutura industrial e tecnológica seja deplorável, já detonou pelo menos cinco bombas nucleares subterrâneas e testou mísseis civis e militares que seriam capazes de atingir os E.U.A..

Num desses testes, a marinha da Coreia do Sul recuperou partes completas dos motores de um míssil que caiu no mar. As peças foram analisadas por especialistas internacionais, noticiou «The Washington Post».

Os testes constataram que muitas partes terminantes, incluindo software e peças vetadas à venda para a Coreia do Norte, tinham sido adquiridas no exterior usando empresas chinesas como intermediários.

O Unha-3 que pôs em órbita o satélite Kwangmyongsong-4 em 7 de Fevereiro de 2016, foi o mais poderoso feito pelo regime de Kim Jong Un. Media mais de 30 metros de altura e era capaz de despejar engenhos nucleares em cidades remotas como Washington.

Nos restos do Unha-3 foi recuperado um vasto leque de partes electrónicas fabricadas em países ocidentais e encaminhadas para a Coreia do Norte pela própria China.

A contrafacção não impediu que explodisse logo após a ignição o míssil agendado para partir durante as espalhafatosas manifestações militares pelo aniversário do ditador Kim-Jong-Un.

A Coreia do Norte «é um regime imprevisível e agora tem capacidade nuclear», disse o assessor de segurança nacional tenente-general H. R. McMaster no Fox News Sunday.

«O presidente Xi e o presidente Trump concordaram que isso é inaceitável, o que deve acontecer é a desnuclearização da Península Coreana».

Em 10 de Abril, o presidente Trump indicou numa mensagem de Twitter: «expliquei ao presidente da China que um acordo comercial com os E.U.A. será muito melhor se eles resolverem o problema da Coreia do Norte!»

E acrescentou: «a Coreia do Norte está à procura de problemas. Se a China decidir ajudar, isso seria óptimo, se não, resolveremos o problema sem eles!»

O aniversário do ditador foi um paroxismo de exibicionismo e intimidações
A Coreia do Norte com as costas quentes pela China não arreda e anuncia mais uma explosão nuclear no seu campo de testes nucleares subterrâneos de Punggye-ri, área montanhosa no nordeste do país.

Actividade inusual, inclusive um visita do jacto privado do ditador, foi fotografada por satélite, segundo «The Washington Post».

Simultaneamente, os E.U.A. lançaram a sua mais potente bomba não-nuclear sobre um conjunto de túneis e cavernas do Estado Islâmico em Achin, província de Nangarhar, Afeganistão, perto da fronteira com o Paquistão.

Foi a primeira vez que os EUA usou a bomba GBU-43 MOAB (Massive Ordenance Air Blast) em conflito conhecida como a «mãe de todas as bombas» pelas suas 11 toneladas de explosivos.

Nos mesmos dias a imprensa americana revelou o momento em que presidente Trump comunicou o bombardeamento da Síria ao presidente Xi Jinping, com quem jantava.

Trump também comentou, aliás pouco polidamente: «Acredito que faremos muita pressão sobre a Rússia para que garanta que teremos paz, porque francamente se a Rússia não tivesse apoiado esse animal (o ditador da Síria), agora nós não teríamos problemas», segundo o «The New York Times».

Já aconteceu na Síria… O que pode acontecer na Coreia do Norte e no mundo?





domingo, 16 de abril de 2017

Adopção de crianças por homossexuais: razões para o não


Pe. João Paulo Pimentel

O primeiro problema decorrente da adopção de crianças por pares homossexuais deriva do facto de se ter chamado «casamento» a tais uniões. Como bem esclarecia um documento da Congregação para a Doutrina da Fé de 3 de Junho de 2003, «não existe nenhum fundamento para equiparar ou estabelecer analogias, mesmo remotas, entre as uniões homossexuais e o plano de Deus sobre o matrimónio e a família» (n.º 4). Aliás, a insistência, por parte de uma minoria (ainda que ruidosa e financeiramente poderosa), para viabilizar a adopção nestes moldes deve-se, em boa parte, à vontade de conquistar uma maior legitimidade social para as próprias uniões homossexuais. As crianças são um meio em vista de um objectivo ideológico.

Quando a sociedade afirma que uma união homossexual pode ser um casamento está a evidenciar que, pelo caminho, perdeu valores fundamentais:
  • Perdeu a consciência da riqueza da diferenciação sexual;
  • Perdeu o significado profundo do corpo, que pode expressar um amor de doação precisamente porque há um outro que é diferente e complementar;
  • Perdeu o nexo entre a união conjugal e a procriação como se esta fosse um acidente da anterior que talvez uma vez na vida possa suceder;
  • Perdeu o significado da entrega do próprio «eu» no acto conjugal que é visto apenas como um disfrutar mutuamente um com o outro;
  • Perdeu a consciência da existência de uma união entre um homem e uma mulher que é para toda a vida e tem a chancela divina;
  • De facto, perdeu a consciência de que há um plano de Deus para o amor humano entre um homem e uma mulher e de que esse plano é essencial para as felicidades terrena e eterna.
O casamento é, portanto, uma união indissolúvel de amor entre um homem e uma mulher; mas há países que, apesar de aplicarem a certas uniões homossexuais o nome de «casamento», não reconhecem aos pares homossexuais o «direito» de adoptar. Nesses casos, que razões adicionais podem ser apresentadas para se evitar um novo mal? Apresentaremos um elenco de razões, sinteticamente expostas e distribuídas por dois grupos. No primeiro, exporemos as razões essenciais para ajudar a entender que tais adopções são sempre um mal. No segundo, apresentaremos razões que derivam sobretudo do que até agora se pôde observar nos países em que se legalizaram essas adopções. As consequências negativas permanecem válidas mesmo que, nalguns casos, não se tenham verificado; são, na verdade, riscos muito sérios que reforçam a rejeição das adopções por homossexuais.

I. Razões essenciais

1. O bem da criança é secundarizado

O segundo princípio da Declaração Universal dos Direitos da Criança estabelece que, quando se formulam leis relacionadas com a criança, a consideração fundamental a que se deve atender é ao interesse superior da mesma: «Tomar-se-á exclusivamente em conta o bem da própria criança». Permitir a adopção para «consolar» pares homossexuais é inverter a lógica da adopção. Em tais casos, as crianças são vistas como um meio para satisfazer esses pares, os quais chegam ao ponto de reclamar o «direito» a ter crianças.

Há muitos casais heterossexuais dispostos a adoptar crianças sem o conseguirem; não faltam homens e mulheres para adoptar. A finalidade da adopção é proteger a criança desamparada, não a satisfação de adultos que não podem gerar. Além disso, a adopção deve imitar a natureza (adoptio imitat naturam), e a criança é naturalmente gerada por um homem e por uma mulher.

A adopção por homossexuais acaba por consagrar o princípio de que as crianças são, no fundo, propriedade dos «pais» ou «mães» (de quem o Estado considere «pais» ou «mães»). Deste modo, não é garantido às crianças, na prática, o protagonismo das suas vidas. Todos deveríamos responder honestamente a perguntas como as que se seguem: que família será melhor para esta criança? No caso de eu morrer, a que tipo de pessoas gostaria que os meus filhos fossem confiados?

2. Ausência de modelos próximos de ambos os sexos

A criança fica domesticamente privada, de modo deliberado, do enriquecedor contributo da diversidade masculina e feminina. Ela necessita de um pai e de uma mãe, nomeadamente para se identificar com a pessoa do seu sexo e para aprender acerca do respeito, do afecto e da complementaridade que a pessoa do outro sexo pode proporcionar. Várias pessoas educadas com dois pais ou com duas mães queixaram-se de que não aprenderam, na prática, como se lida com pessoas do outro sexo. A criança que vive num lar habitado por homossexuais não tem a experiência real, em casa, das diferenças entre o homem e a mulher. Pelo contrário: aprende erroneamente que são irrelevantes tanto as diferenças sexuais quanto a atracção por pessoas do outro sexo.

3. Dificuldade acrescida para conhecer Deus

Para os que são crentes, vale a pena pensar nas razões teológicas que desaconselham este tipo de adopções. Para conhecer Deus – que tem «coração» de pai e de mãe –, é fundamental conhecer a fundo a riqueza da diversidade sexual. Sem essa experiência, dificulta-se muito um conhecimento mais verdadeiro de Deus. Que sentido fará para uma criança adoptada por dois homens as palavras de Isaías: «Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria» (Is 49, 15)?

Claro que esta lacuna também sucede, em parte, nas crianças que perderam o pai ou a mãe. No entanto, nestes casos, elas aprendem desde muito cedo que falta «algo» nas suas vidas: a experiência da paternidade ou da maternidade. Não lhes é dito que a paternidade ou a maternidade são supérfluas.

4. Mensagem de que o outro sexo é irrelevante

Quando admite a possibilidade da adopção por duas pessoas do mesmo sexo, o Estado está a afirmar implicitamente que o outro sexo não é relevante na formação das crianças. Como se sentirá uma mulher a quem é dito, pelas «leis» e por costumes práticos, que a sua condição de mãe é pouco relevante na formação das crianças? E como se sentirá um pai a quem é dito que a sua condição de pai é dispensável?

Este argumento é desenvolvido no seguinte testemunho (consultado online a 27 de Dezembro de 2015):


Doug Mainwaring 


5. Grave escândalo moral

Do ponto de vista moral, o facto de as crianças serem habituadas desde cedo a conviverem com uma situação gravemente pecaminosa (um dos pecados que, nos catecismos antigos, de modo pedagógico, se incluía entre aqueles que «clamam aos Céus») levá-las-á a tomar por bom o que é mau. A indução desse erro moral é um escândalo no sentido próprio do termo. E Jesus é bem claro a este respeito: «Quem escandalizar um destes pequeninos que creem em Mim, melhor lhe fora que lhe pendurassem ao pescoço a mó de um moinho e que o lançassem ao fundo do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos! Eles são inevitáveis, mas ai daquele homem por quem vem o escândalo!» (Mt 18, 6-7).

6. Constatação precoce da condição de ser adoptado

É preferível não precipitar a informação que se dá a uma criança adoptada sobre a sua situação, para se evitar que ela se sinta diferente das outras. Nos casos das crianças que forem adoptadas por dois homens ou por duas mulheres, será impossível mantê-las na ignorância até à idade e até ao momento mais conveniente.

II. Razões empíricas

1. Riscos de instabilidade

Outro motivo que – sem ser o mais importante e decisivo – desaconselha este tipo de adopção é a falta de estabilidade nas uniões homossexuais. Não é que não possam dar-se excepções, mas estas são tão raras que o legislador – mesmo se não encontrasse outras razões para negar a adopção – deveria exigir uma estabilidade de vários anos antes de entregar uma criança à adopção por homossexuais. Quando um casal diz que se vai separar, os que o rodeiam sentem habitualmente pena e aconselham a uma reflexão séria antes de a separação ser consumada. No caso de pares homossexuais, haverá alguém próximo que lamente essa separação anunciada? Aliás, os próprios, quando se comprometem numa união mais pública e estável, quererão mesmo viver juntos para toda a vida?

Mas a falta de estabilidade nestes casos não decorre apenas da pouca durabilidade (a duração média do «vínculo» não costuma ser superior a três anos): é sabido que os conflitos e os comportamentos violentos entre pares homossexuais são duas a três vezes mais frequentes do que os ocorridos em casais heterossexuais; além disso, as mudanças de «companheiro» são muito frequentes, e a promiscuidade sexual é maior do que a que ocorre em casais heterossexuais. Tudo isto contribui para a instabilidade afectiva das crianças adoptadas.

2. Risco de sérios transtornos

Alguns psiquiatras afirmam que os principais riscos que correm as crianças adoptadas por homossexuais são, do ponto de vista médico, os seguintes:
  • Transtornos na identidade sexual;
  • Maior incidência de comportamentos homossexuais ao chegarem à adolescência (em concreto, estes sete vezes mais frequentes do que em crianças que vivem com os pais biológicos e em famílias com o pai e a mãe em casa);
  • Tendências significativamente maiores para a promiscuidade sexual, transtornos da conduta, a depressão, comportamentos agressivos, a ansiedade, a hiperactividade e as insónias.
Estes argumentos são rebatidos tanto em artigos quanto por aqueles que estimam ainda ter decorrido pouco tempo para se chegar a conclusões certas (dizem que «as amostras» são insuficientes para se chegar a conclusões nesta matéria). Sendo assim, talvez a formulação mais correcta do argumento pudesse ser a seguinte: existe uma forte possibilidade e um aumento do risco de que as tais crianças desenvolvam problemas emocionais, confusões na identidade sexual e depressões; há uma dificuldade real de a criança se adaptar e crescer harmonicamente quando é educada por dois homens ou por duas mulheres, em vez de o ser por um homem e por uma mulher.

3. Outros riscos e dúvidas

Vale a pena levantar mais algumas questões, numa tentativa de convidar o leitor a reflectir:
  • Quando um rapaz adoptado por dois homens sentir atracção por raparigas, estará à-vontade para o manifestar aos que dizem ser seus pais?
  • Quando as crianças nessas condições se derem conta de que a maioria das pessoas tem uma atracção pelo outro sexo, como olharão para os que dizem ser seus pais?
  • Não será previsível que crianças nessas situações acabem por ser malvistas pelos seus colegas?
  • Que farão os pais que se vêem confrontados com um convite do colega do filho que foi adoptado por dois homens ou por duas mulheres (referimo-nos aos que desejam que os seus filhos saibam o que está bem e o que está mal)? Deixarão o filho ir a casa do colega adoptado?
Para concluir, sugerimos que se veja um último testemunho (consultado online a 27 de Dezembro de 2015):


Professor Robert Oscar Lopez 


Defendamos o bem das crianças!





sexta-feira, 14 de abril de 2017

Porque não derrubaram os mísseis dos EUA sobre a Síria as defesas anti-aéreas russas?


https://www.youtube.com/watch?v=qXluFXG2TJo







Soldado português que enganou os alemães é homenageado em Murça


Veterano da Primeira Guerra Mundial, herói militar português.
Foto: DR

Olímpia Mairos, Renascença, 8 de Abril de 2017

Autarquia de Murça lança este sábado a iniciativa «100 anos de La Lys – 100 anos do soldado Milhões» que, até 2018, promove colóquios, exposições, e pretende envolver as escolas e recuperar a casa do herói português da I Guerra Mundial, o soldado Milhões.

«100 anos de La Lys – 100 anos do soldado Milhões» é o mote da iniciativa lançada pela autarquia de Murça, para assinalar os 100 anos da participação portuguesa na I Guerra Mundial.

A iniciativa vai prolongar-se até 9 de Abril de 2018 e contempla exposições, colóquios, para além da recuperação da casa do herói português da I Guerra Mundial.

O imóvel é propriedade da Câmara de Murça que quer ali criar um «espaço de memória». O «ideal» seria ter o projecto concluído até 9 de Abril de 2018, e integrado no roteiro turístico do concelho», afirma o presidente da autarquia, José Maria Costa.

Para a recuperação da habitação são precisos «cerca de 200 mil euros» e a autarquia está a «estudar linhas de financiamento onde possa enquadrar o projecto».

Este sábado é inaugurada a exposição «Uma guerra e muitos homens, um concelho e o Milhões», que reúne material ligado à guerra, como armas, fardas e também as medalhas do soldado que foram doadas ao Museu Militar do Porto.

Tem ainda lugar um concerto evocativo da Grande Guerra e será apresentado o livro «O Concelho de Murça na Grande Guerra» da autoria do tenente-coronel Dinis Costa.

As actividades, algumas em colaboração com o Exército, o Regimento de Infantaria 13 (RI13) e a Casa Militar da Presidência da República, prolongam-se até 9 de Abril de 2018, data em que se assinala os 100 anos da Batalha de La Lys, em França. Este ano assinala-se o centenário da chegada à Flandres dos primeiros soldados portugueses que participaram na I Guerra Mundial.

A iniciativa vai também envolver as escolas do concelho. O objectivo é integrar o tema no plano de actividades dos estabelecimentos de ensino, onde serão realizados colóquios por parte de investigadores da I Guerra Mundial.

«Queremos ensinar quem foi o soldado Milhões, mas não queremos que as coisas fiquem só centradas nele, porque a guerra foi um evento colectivo e nela participaram outros soldados do concelho. Queremos outros testemunhos e que os nossos jovens percebam a envolvência do país e do seu concelho na I Guerra Mundial», explica o presidente da Câmara de Murça.

De Milhais a Milhões

Entre os soldados portugueses que participaram na I Grande Guerra destaca-se Aníbal Augusto Milhais, natural de Valongo, concelho de Murça.

O soldado raso ficou famoso por se ter batido sozinho contra os alemães, para ajudar à retirada das forças aliadas, depois de ter desobedecido a uma ordem de retirada.

Rezam as crónicas que, a 9 de Abril, uma força portuguesa se viu atacada pelos alemães. A força chegou a ser destroçada, a situação era «a pior possível». Muitos portugueses foram mortos e os sobreviventes obrigados a retirar.

O soldado Milhais terá permanecido sozinho. Correu entre os vários abrigos, disparando de diferentes posições e criando a ilusão, nas tropas alemãs, de que a posição estava a ser guardada por vários militares.

À quarta ofensiva, os soldados alemães decidiram contornar aquele ponto e deixaram o português para trás das linhas inimigas, onde sobreviveu durante uns dias, com umas amêndoas doces no bolso, até encontrar um oficial escocês que o ajudou a encontrar o batalhão português. Foi esse mesmo oficial que relatou depois o acto heróico do soldado.

E foi assim, em plena I Guerra Mundial que o soldado português alcançou a fama, na Batalha de La Lys, em Abril de 1918.

A bravura do franzino e pequeno Aníbal, com pouco mais de um metro e meio de altura, valeu-lhe a Torre e Espada – a mais alta condecoração militar portuguesa – entre outras distinções.

O epíteto «Milhões» nasceu com um elogio do seu comandante, Ferreira do Amaral: «Tu és Milhais, mas vales milhões».

O militar morreu aos 75 anos, em Valongo, a aldeia que adoptou o nome de Milhais em sua homenagem.
A casa em que viveu o soldado Milhões.
Foto: Olímpia Mairos/RR

http://videos.sapo.pt/tzURY6KARJu0qsgl2e6E


Soldado Milhões. A história de um irredutível português

http://rr.sapo.pt/video/126920/murca_quer_perpetuar_a_historia_do_soldado_milhoes


Murça quer perpetuar a história do soldado Milhões





quarta-feira, 12 de abril de 2017

Com apenas um golpe, Trump evitou que a guerra civil na Síria se tornasse mundial


Trump: «feito comparável ao do presidente John F. Kennedy na Crise dos Mísseis».
 – Foto:
Nicholas Kamm/AFP

A guerra civil na Síria remete, mesmo que vagamente, à Guerra Civil de Espanha, que precedeu a II Guerra Mundial e se estabeleceu como um dos marcos políticos do século passado. Não existe decisão simples num cenário assim.

Filipe Martins,
 Gazeta do Povo, 10 de Abril de 2017


Não é possível compreender os actuais desdobramentos da política internacional sem entender a guerra civil que, desde Março de 2011, se desenrola na Síria. Este conflito é importante por, pelo menos, dois motivos. O primeiro é que o seu desfecho poderá reconfigurar de forma decisiva o Médio Oriente. O segundo, ainda mais relevante, é que o conflito sírio atraiu a presença e o envolvimento das principais potências regionais e globais, apresentando-se como um possível ensaio geral de uma guerra sistémica – aquilo que popularmente chamamos de «guerra mundial».

Os Estados Unidos da América, a Rússia, o Irão, a Turquia e a França estão todos envolvidos de algum modo no conflito, assim como uma série de actores não-estatais, como o Estado Islâmico, a Al-Qaeda, o Hezbollah e grupos formados por árabes seculares e por curdos. Além disso, também pesam sobre os desdobramentos do conflito a influência económica da China e de países do golfo pérsico, como a Arábia Saudita e o Qatar.

O envolvimento de todas estas potências nas disputas domésticas de uma nação remete, mesmo que vagamente, à Guerra Civil de Espanha, que precedeu a II Guerra Mundial e se estabeleceu como um dos marcos políticos do século passado.

O conflito espanhol teve início em Julho de 1936, quando o general Francisco Franco liderou uma revolta nacionalista contra o governo republicano, de inclinações socialistas, precipitando o envio de tropas por parte da União Soviética, da Alemanha nazista e da Itália fascista para o país ibérico. A França e o Reino Unido não se envolveram efectivamente, mas acompanharam de perto todo o desenrolar do conflito, que acabou servindo como um ensaio geral para a guerra sistémica que viria a seguir. Ali, novas armas e estratégias foram testadas, até que o conflito chegasse a um desfecho em Abril de 1939, apenas cinco meses antes do início da II Guerra Mundial, marcado pela invasão da Polónia pelos nazistas alemães e pelos comunistas soviéticos.

Afirmar que qualquer cenário minimamente parecido com aquele que precedeu o maior conflito de todos os tempos não pode ser ignorado nem tratado com leviandade não é exagero — e é com isso em mente que devemos analisar os desdobramentos do conflito sírio, com destaque para a resposta dos EUA ao uso de armas químicas, realizado no dia 4 de Abril na cidade de Khan Shaykhun em Idlib, província maioritariamente controlada por grupos ligados à Al-Qaeda, causando a morte de cerca de 100 civis.

Perguntas e respostas

Na última quinta-feira, dia 6 de Abril, o presidente Donald Trump ordenou um ataque contra a base aérea síria de Shayrat, suscitando uma série de perguntas, cujas respostas são imprescindíveis para compreender os impactos de uma acção americana mais directa no conflito e antecipar o que virá a seguir.

A primeira pergunta que se impõe está relacionada às motivações por trás do uso de armas químicas. Por que Bashar al-Assad, presidente sírio, realizaria um ataque desta natureza, num momento em que tudo parecia conspirar a seu favor?

A explicação oficial de Assad, endossada pelos russos, sustenta que o gás sarín teria sido libertado após um ataque convencional contra um depósito de armas da Al-Qaeda. Embora não seja impossível, essa hipótese é pouco provável, uma vez que o gás sarín tende a ser destruído em temperaturas elevadas como a que é causada por explosões. A probabilidade de que o gás tenha resistido à explosão e que se tenha espalhado pela vila é pequena o bastante para ser encarada com cepticismo.

Há a possibilidade de que o próprio Assad tenha optado pelo uso de armas químicas, como uma táctica destinada a aterrorizar a população, deixando um exemplo para os civis que ainda cogitam auxiliar os rebeldes

Há outras explicações possíveis. Por um lado, há a possibilidade de que um comandante local tenha sido o responsável pela decisão de realizar um ataque desta natureza. Por outro, há a possibilidade de que o próprio Assad tenha optado pelo uso de armas químicas, como uma táctica destinada a aterrorizar a população, deixando um exemplo para os civis que ainda cogitam auxiliar os rebeldes, além de abrir o caminho para uma vitória definitiva sem precisar de esgotar ainda mais os seus recursos.

Ambas as explicações são plausíveis. Embora se possa argumentar que o governo sírio mantém um rígido controle do seu arsenal químico, não se pode ignorar a presença de comandantes indisciplinados entre os seus aliados. Quanto à segunda explicação, seria compreensível que, diante da certeza de que nunca será amado em certas regiões, o regime fizesse a velha opção maquiavélica de agir com a intenção de se tornar ainda mais temido pelos seus oponentes – esta parece ser a hipótese aceite por Trump e os seus generais.

Um segundo conjunto de perguntas diz respeito à postura dos russos. Vladmir Putin envolveu-se, decisivamente, no conflito em 2013, com a finalidade de preservar o governo de Assad, dar uma demonstração do seu poderio militar para a população russa, além, é claro, de aumentar o seu poder de barganha frente os países ocidentais, conseguindo assim uma posição mais favorável nas negociações sobre a Crimeia e sobre o leste da Ucrânia.

Desde o seu envolvimento, a Rússia tem ampliado a sua capacidade de controlar o regime sírio e, ao menos em tese, os seus serviços de inteligência deveriam ser capazes de prever e impedir o uso de armas químicas no conflito. Sendo alvo constante de críticas por o seu apoio ao governo de Bashar Al-Assad, a Rússia não teria nenhum interesse em promover ou permitir um ataque desta natureza – afinal, quanto pior a imagem de Assad perante a opinião pública internacional, mais difícil se torna a tarefa dos diplomatas russos de defender o seu apoio ao regime como uma opção legítima.

Sendo alvo constante de críticas por o seu apoio ao governo de Bashar Al-Assad, a Rússia não teria nenhum interesse em promover ou permitir um ataque desta natureza – afinal, quanto pior a imagem de Assad perante a opinião pública internacional, mais difícil se torna a tarefa dos diplomatas russos de defender o seu apoio ao regime

É importante tornar saliente, no entanto, que a sobrevivência de Assad, em si mesma, não é imprescindível ao interesse nacional russo e que os argumentos que são apresentados para comprovar esta tese não se sustentam. O mais forte destes argumentos é o de que a Rússia visa obter autorização para a construção de uma base naval com acesso para o Mediterrâneo e que somente Assad poderia garantir esta autorização. Mesmo este argumento, no entanto, mostra-se frágil diante do facto incontestável de que a construção e a manutenção desta base teriam como condição inevitável a autorização contínua de passagem por parte da Turquia – isto para não mencionar a exposição da base e das frotas russas ao poderio americano, ou a existência de objectivos e preocupações mais urgentes do que a fantasia moscovita de se tornar um poder mediterrâneo.

Também cabe lembrar que o envolvimento de Moscovo no conflito foi pensado para demonstrar o poder e a maturidade estratégica das tropas russas, de modo a produzir um contraste com a actuação dos EUA no Iraque e fortalecer as ambições de reforma global dos eurasianos. A recorrência de ataques químicos, portanto, não apenas inviabiliza este objectivo como projecta a percepção de que os russos ou são cúmplices da brutalidade do regime, ou são incapazes de controlá-lo – isto é, ou são criminosos ou incompetentes.

Nestas circunstâncias, qualquer objecção, por parte de Moscovo, aos ataques americanos contra um regime que nem sequer estaria em vigência, se não fosse por a sua interferência, torna-se um pouco deslocada e desconfortável, enfraquecendo até mesmo o poderoso argumento de defesa da soberania síria.

Há, é claro, a hipótese de que, mesmo diante de tudo isto, os russos tenham incentivado ou promovido directamente o ataque – numa táctica similar à descrita por Alexander Litvinenko no livro «Blowing Up Russia» — com a finalidade de testar o novo governo americano. Mas os riscos da operação, e a existência de alternativas significativamente mais seguras que poderiam servir ao mesmo propósito, faz desta uma hipótese pouco provável.

Diante disto, a autoria do ataque permanece em aberto, o que não significa que o desfecho das investigações possa afectar significativamente a qualidade da acção escolhida por Donald Trump, que, como veremos abaixo, parece ter considerado esta «incerteza» no seu processo decisório.

Porque Donald Trump atacou a Síria

Por isso mesmo, as perguntas mais importantes são aquelas que dizem respeito ao processo de tomada de decisão que levou Donald Trump a optar pelo bombardeio da base de Shayrat e que, de algum modo, podem ajudar a esclarecer a visão estratégica por trás da acção escolhida.

As reacções ao bombardeamento foram as mais diversas, suscitando elogios por parte de alguns dos críticos mais ferrenhos do presidente e críticas por parte de alguns dos seus apoiantes mais exaltados. Aos que desejam compreender o que efectivamente se passou, no entanto, cabe analisar as condicionantes internas e externas para identificar quais eram as opções disponíveis ao presidente americano, compreender como chegou a uma escolha, e entender o que esta escolha revela sobre a visão adoptada sobre o conflito e, mais amplamente, sobre a sua política de segurança nacional.

Como se sabe, esta não é a primeira vez que os EUA procuram identificar alvos ligados ao regime sírio para possíveis ataques militares. Em 2013, após o uso de armas químicas em Ghouta, que violou a famigerada «linha vermelha» de Obama, as forças armadas americanas e os seus principais aliados consideraram uma série de opções de retaliação, sendo travadas pelo imobilismo de Obama e pela engenhosidade estratégica de Putin, que assumiu a responsabilidade de controlar a situação no território sírio. De 2013 para cá, houve, no entanto, uma mudança bastante significativa que acabou por limitar as opções disponíveis: o ingresso de tropas russas na Síria em 2015.

Como os EUA não têm qualquer intenção de começar um conflito armado com a Rússia, esta mudança reduziu drasticamente as opções disponíveis em 2013 para um número bastante limitado de opções em 2017, impondo ao presidente americano uma situação muito mais delicada do que a que ele teria encontrado há quatro anos. Nestas circunstâncias, é possível afirmar com elevado grau de certeza que as opções, apresentadas por generais e assessores, não tenham ido além das que são descritas abaixo.

Opção 1: Ataque punitivo pontual

Um ataque punitivo pontual a um alvo escolhido a dedo é o menos arriscado e o que menos demanda recursos. Esta opção seria suficiente para reafirmar a credibilidade dos EUA e a sua disposição de cumprir a sua palavra, desestimulando qualquer uso futuro de armas de destruição maciça e enviando um recado claro a todos os inimigos, efectivos e potenciais, do país e dos seus aliados. Ataques punitivos podem variar em intensidade, duração e alvo, mas têm como finalidade última de enviar uma mensagem clara às partes envolvidas e interessadas, sem, no entanto, dar início a qualquer acção militar de médio ou longo prazo. Como o próprio nome diz, trata-se de uma acção pontual, com um objectivo claro e não a primeira de uma sequência de acções destinadas a alterar os rumos do conflito em qualquer direcção.

Determinando um alvo. Nesta opção, há um maior número de alvos possíveis de que o presidente estaria disposto a considerar. Estes alvos são compostos basicamente por dependências militares utilizadas pelo comando e pelo alto escalão do regime sírio, e o seu ataque enviaria a mensagem de que a liderança política e militar será responsabilizada e pagará por qualquer acção que, como o uso de armas químicas, seja considerada inaceitável pelos EUA e por os seus aliados. Isto não significa, entretanto, que o presidente Bashar Al-Assad esteja entre os alvos possíveis, uma vez que um ataque dirigido contra ele arrastaria os EUA para o conflito, algo que, como a Casa Branca continuamente tem lembrado, não está nos planos do presidente Trump.

Além disso, para o real sucesso desta opção, o ataque deve ser realizado contra um alvo de grande valor simbólico e com o menor quociente de riscos e despesas possível. Neste contexto, a escolha mais óbvia é a base de onde partiu o avião cujo ataque teria provocado a morte dos civis, já que, não custa lembrar, o regime sírio não questiona a veracidade do ataque nem nega o envolvimento do avião que partiu de Shayrat no acontecimento. Assad e os seus aliados alegam ter realizado um ataque convencional, que, ao atingir um depósito mantido pelos rebeldes, acidentalmente, teria libertado o gás responsável pela morte dos civis; o que significa que há uma crença compartilhada de que a base serviu de pontapé inicial para o ataque, quer este tenha sido intencional ou não, fazendo dela um alvo praticamente perfeito.

Opção 2: Limitar ou eliminar a capacidade do governo

de realizar ataques com armas de destruição maciça

Caso o presidente desejasse ir além, poderia optar pelo extermínio da capacidade do regime sírio de empreender ataques com armas químicas ou com armas de destruição maciça de modo geral. Neste cenário, o ataque às dependências utilizadas pelo comando militar deveria ser, cautelosamente, combinado com uma série de ataques aos meios de comunicação das forças leais ao regime e a toda uma rede de alvos estratégicos, o que provavelmente incluiria sistemas de defesa mantidos pelas tropas russas e precipitaria um conflito entre as duas potências.

Determinando um alvo. Neste cenário, os ataques deveriam ser direccionados aos três meios de que o governo de Damasco dispõe para realizar ataques químicos: a sua força aérea, o seu sistema de mísseis balísticos e a sua artilharia de longo alcance. Embora algumas bases aéreas tenham sido capturadas ou neutralizadas pelos rebeldes, o regime ainda controla pelo menos seis bases funcionais que podem ser utilizadas em ataques químicos.

Os EUA teriam que neutralizar todas as seis bases, optando por um bombardeamento completo, por um ataque às aeronaves estacionadas ou pela destruição dos depósitos de combustível e de munições, combinando qualquer uma destas acções com a sabotagem dos radares, das áreas de manutenção, da infra-estrutura de controle no solo e, provavelmente, dos sistemas de defesa.

Além da Força Aérea Síria, o ataque também teria, necessariamente, que englobar as demais forças leais ao regime que possuem artilharia de longo alcance e mísseis balísticos capazes de projectar armas químicas, o que inclui a Rússia e o Irão. A complexidade e a natureza deste tipo de acção, além dos riscos de um confronto directo com os russos, torna-a inviável a quem, como o presidente Trump, não está disposto a ingressar num conflito pleno contra o governo de Assad e os seus aliados.

Opção 3: Mudança de Regime

Uma terceira alternativa, que aparentemente nem sequer foi considerada pelo presidente, é a do envolvimento pleno dos EUA no conflito, com a finalidade de derrubar e substituir o regime sírio. A maior parte das críticas feitas pelos apoiantes de Donald Trump foram feitas por quem, por desconhecimento ou temor, acredita que qualquer acção militar americana levaria (e levará) a esta opção, algo que está longe de ser verdade. Neste cenário, o presidente deveria estar disposto a iniciar uma acção militar extremamente complexa, custosa e incerta, do tipo que foi realizada no Iraque e no Afeganistão — uma opção que, como observado acima, tem sido reiteradamente rejeitada pela Casa Branca e, ao que tudo indica, não deve nem ao menos ter sido cogitada na actual conjuntura.

Opção 4: Inação

Por fim, o presidente poderia ter seguido a recomendação dos isolacionistas e não ter feito nada. Neste cenário, o presidente deveria justificar a sua decisão, provavelmente recorrendo a um discurso que afirmasse o seu compromisso incontornável e exclusivo com os problemas domésticos e demonstrasse a sua determinação de ignorar o que ocorre noutras regiões do mundo, mesmo que estes acontecimentos representem riscos claros para a segurança nacional americana — conter o uso indiscriminado de armas químicas (um tipo de arma de destruição maciça), por exemplo, é objectivamente uma questão de segurança nacional e o seu uso demanda uma resposta, independentemente de quem seja o responsável.

Ao contrário do que alegam os isolacionistas, esta opção não implicaria resultados neutros, mas a proliferação do caos e da desordem em várias regiões do globo, a começar pelo conflito entre as duas Coreias e pelas tensões no Leste europeu, do mar do Sul da China e do próprio Médio Oriente, uma vez que todos os actores envolvidos nestas questões realizariam um novo cálculo estratégico e acrescentariam a variável «isolacionismo americano» à equação.

Diante disto, portanto, era necessário encontrar um meio termo entre o completo isolacionismo e o completo activismo, do tipo que é defendido pelos neocons e pelos cosmopolitas liberais de modo geral e que, via de regra, justifica as operações de mudança de regime. Como veremos, foi exactamente o que o presidente Donald Trump fez.

Riscos e custos

Embora a gama de opções de acções militares disponíveis varie no grau e na probabilidade de risco, nenhuma delas é totalmente segura. Ao analisar as opções, Donald Trump e os seus assessores tinham consciência de que os riscos eram muitos, podendo ir desde a perda material e a baixa de militares americanos até ao início de um conflito armado com a Rússia e o desencadeamento de um conflito sistémico.

Mesmo que os ataques fossem empreendidos de forma cirúrgica e impecável (como parecem ter sido), haveria consequências para as operações americanas no território sírio, incluindo aquelas que têm como alvo o Estado Islâmico. Qualquer acção poderia aumentar significativamente a probabilidade de que as forças aliadas a Damasco se sentissem motivadas a interferir e a atrapalhar as operações aéreas e terrestres dos EUA no país, gerando tensões e demandando cuidados extras. Além disso, Moscovo provavelmente suspenderia o acordo de coordenação militar com Washington que tem por finalidade evitar incidentes no espaço aéreo sírio, acrescentando um ingrediente extra de confusão (desde que o texto foi escrito, esta última previsão confirmou-se).

Em suma, não haveria opções fáceis na Síria e qualquer decisão levaria a consequências mais ou menos indesejáveis para Washington, podendo, por uma via ou por outra, aumentar ainda mais os riscos de uma escalada militar entre a Rússia e os EUA e multiplicar a ocorrência de erros de cálculo num conflito que já é bastante complicado – isto só seria evitável se o presidente e os seus conselheiros conseguissem chegar a uma resposta próxima do ideal.

A decisão de Donald Trump

Tendo um conhecimento razoável da situação e conhecendo as opções disponíveis, é possível compreender o processo de tomada de decisão utilizado pelo presidente americano e inferir, a partir da sua decisão efectiva, o que podemos esperar da sua política de segurança nacional e, portanto, das suas acções futuras.

Todos os presidentes desenvolvem propostas políticas e apresentam-as com uma roupagem atraente nos seus discursos. Porém, nos momentos decisivos, mesmo os mais determinados a cumprir as suas promessas — como Donald Trump — são limitados pela realidade, isto é, pelo conjunto de condicionantes domésticas e internacionais que compõem uma dada conjuntura. Isto exige um esforço considerável para se chegar à melhor solução possível em determinadas circunstâncias e, portanto, torna inadequadas as cobranças feitas por quem não está familiarizado com o processo de tomada de decisão política e militar, ou não tem imaginação suficiente para reconstruir mentalmente os limites impostos por determinadas circunstâncias, e que, exactamente por ignorar que um presidente opera na esfera do possível, tem como expectativa algum tipo de solução ideal, que nunca será implementada por existir apenas no mundo inefável das ideias.

O presidente Donald Trump não traiu a sua base nem descumpriu as suas promessas. Pelo contrário, fez o que tinha de ser feito para evitar o ingresso dos EUA num conflito armado, seja pela via da imprudência intervencionista, seja pela via da fraqueza convidativa do isolacionismo

O presidente Donald Trump não traiu a sua base nem descumpriu as suas promessas. Pelo contrário, fez o que tinha de ser feito para evitar o ingresso dos EUA num conflito armado, seja pela via da imprudência intervencionista, seja pela via da fraqueza convidativa do isolacionismo. Continua comprometido com o seu objectivo de priorizar as questões domésticas, de reestruturar a economia e as forças armadas americanas, bem como de evitar uma exposição desnecessária dos EUA em conflitos que não afectam o interesse nacional americano; mas, ao contrário dos seus críticos, entende que a passividade e a inação teriam consequências bastante distintas das esperadas, podendo precipitar justamente os conflitos que ele, manifestamente, deseja evitar.

Trump fez de forma magistral o que qualquer pessoa que, compartilhando dos seus objectivos e vendo-se naquela situação, seria compelida a fazer: realizar uma acção pontual, viável, sem qualquer tipo de exposição desnecessária e gastando o mínimo de recursos possível. Com isto, de uma só vez, demonstrou o poder americano e expôs os seus limites — exibindo, porém, a sua capacidade de alcançar excelentes resultados, mesmo diante destas limitações.

O que os apoiantes frustrados do presidente Donald Trump, e os críticos do ataque de modo geral, precisam entender é que ignorar o uso de armas químicas não era uma opção viável, independentemente de quem as tenha utilizado. As razões disto são muitas. Em primeiro lugar, o uso deste tipo de armas tem o efeito de um acto de terror e, com a perspectiva de que estas armas caiam nas mãos de grupos terroristas, o seu uso acaba espalhando o medo por todo o mundo, incluindo os EUA e os seus aliados. Em segundo lugar, o exemplo deixado pela decisão de Obama de não retaliar compeliu o actual presidente a agir de modo a se distinguir claramente do seu antecessor. Por fim, a análise da situação concreta, levou-o à conclusão de que a inação não era a melhor maneira de alcançar o objectivo de manter os EUA seguros e distantes de um conflito.

Os que o criticaram por não adoptar uma acção mais enérgica devem entender que qualquer tipo de acção decisiva na Síria é impossível

Do mesmo modo, os que o criticaram por não adoptar uma acção mais enérgica devem entender que qualquer tipo de acção decisiva na Síria é impossível. Os EUA contam, actualmente, com um efectivo de mais ou menos mil militares na Síria, quando precisaria de um efectivo pelo menos cem vezes maior do que isso para derrubar o regime e tentar pacificar o país. Além disso, como os americanos aprenderam no Iraque, é muito mais fácil derrubar um regime do que o substituir efectivamente e conseguir qualquer sucesso na pacificação do país.

Os EUA simplesmente não podem envolver-se num conflito infindável, no mesmo momento em que o seu presidente e principal comandante acaba de definir como prioridade a reabilitação do seu poderio militar, desgastado após 15 conflitos desnecessários. Mesmo desconsiderando as consequências nocivas de uma mudança de regime (a Síria poderia ter um desfecho ainda mais desastroso que o da Líbia), esta opção não seria viável e, ao menos por ora, não deveria ser cogitada nem mesmo pelos maiores entusiastas das operações de mudança de regime ou pelos opositores mais imprudentes da Rússia.

Resultados alcançados

Um último dado, tão relevante quanto os anteriores para compreender o processo decisório e a política de segurança nacional de Donald Trump, é a divisão que há, no seio do seu governo, entre os isolacionistas – como Steve Bannon, estrategista-chefe da Casa Branca – e os cosmopolitas – como Jared Kushner, assessor sénior e genro do presidente. Representando e expressando as duas principais posições adoptadas pelos republicanos e pela base de Donald Trump, estes dois grupos defendiam, ao menos no campo das ideias, posições que tiveram de ser descartadas pelo presidente.

Diante de duas opções ideológicas e impraticáveis, Trump optou por um ataque punitivo pontual, a primeira opção analisada neste artigo, realizando uma acção calculada para ter poucas baixas, para não atingir civis nem militares estrangeiros, e para funcionar como um indicativo claro de que o uso de armas de destruição maciça não será tolerado, sem, no entanto, levar o governo americano à uma mudança radical de postura e de política frente ao conflito e, menos ainda, ao compromisso com qualquer tipo de operação de mudança de regime.

Se Trump não agisse, revelaria-se fraco e comprometeria a segurança do seu país e do seu governo. Se Trump se envolvesse de modo excessivo no conflito, revelaria-se imprudente e comprometeria a segurança do seu país e do seu governo. Com um ataque punitivo pontual, realizado pelo disparo de 60 mísseis tomahawk, a partir de dois destroyers da frota mediterrânea, contra a base de Shayrat, Trump conseguiu cumprir os seus objectivos com um quociente de custos e de riscos mínimo.

Se Trump não agisse, revelaria-se fraco e comprometeria a segurança do seu país e do seu governo. Se Trump se envolvesse de modo excessivo no conflito, revelaria-se imprudente e comprometeria a segurança do seu país e do seu governo

Esta acção também parece ser suficiente para aplacar temporariamente a pressão dos dois grupos que se agitam no seio do governo e para evitar, ao menos a curto prazo, novos embates desta natureza. O grupo de Bannon provavelmente ficará satisfeito o suficiente com a recusa do presidente de se envolver numa operação de mudança de regime. O grupo de Kushner provavelmente ficará satisfeito o suficiente com a demonstração de que os EUA estão prontos para exercer a sua liderança diante de ameaças globais.

Além de alcançar os seus objetivos imediatos (enviar uma mensagem clara de que não tolerará o uso de armas químicas, evitar um conflito com a Rússia e, ao mesmo tempo, aumentar o poder de barganha americano), Donald Trump conseguiu ainda uma série de vitórias colaterais.

Em primeiro lugar, obrigou os seus adversários na classe política e nos média a elogiar a sua acção e a sua competência, desmantelando uma das principais narrativas utilizadas contra ele. Em segundo lugar, conseguiu enfraquecer as suspeitas de que deve algo a Vladmir Putin e à Rússia. Em terceiro lugar, enviou um recado claro para a China, para o Irão e principalmente para a Coreia do Norte de Kim Jong-un.

Por fim, evitou que o conflito sírio, ao menos por ora, se deteriorasse e levasse a uma guerra sistémica. Muitos dirão que ainda é cedo para dizer, mas Trump parece ter conseguido resolver uma parte relevante dos seus problemas militares com uma única acção – um feito comparável ao do Presidente John F. Kennedy na Crise dos Mísseis.