BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

domingo, 6 de maio de 2018

A propósito de uma «notícia» sobre as despesas em Defesa Nacional



Miguel Mattos Chaves

Nessa «notícia» de ditos «órgãos de informação» é afirmado que Portugal gasta mais em Defesa que a Alemanha.

É MENTIRA!  Pura e simplesmente!

Vamos aos FACTOS:

1).– PORTUGAL tem gasto apenas entre 0,8% e 1% do seu PIB em Defesa Nacional.

2).– A Alemanha tem gasto entre 1,0% e 1,1%;

3).– A «habilidade», que está retratada no artigo do Jornal que publicou a «notícia», é a de que pretende misturar:

3.1) – As despesas com a DEFESA (Forças Armadas, Equipamentos e Comunicações Militares);

COM

3.2).– As Despesas com a SEGURANÇA (PSP, GNR, GF, etc...).

4).– AGORA, depois da posição do novo Presidente dos EUA, a Alemanha e os outros membros da NATO vão ter que aumentar os seus gastos em Defesa para 2% dos respectivos PIB em cinco anos.

Vamos ver se lá chegam. Seria um sinal de prudência face ao futuro incerto e à turbulência crescente do Sistema Internacional.

5).– Quanto a Portugal. Antes fosse Verdade.

Era sinal de que as Autoridades estariam finalmente conscientes das Ameaças Externas (Novas e Velhas) e estaríamos assim em condições de nos defendermos delas.

E assim vão as «FAKE NEWS» dos ditos órgãos de informação, ou seja daqueles que se têm arvorado em «filtros».

E dizem eles, os ditos «filtros» que as «fake news» estão nas Redes Sociais.




sexta-feira, 4 de maio de 2018

Capitão paraquedista, José Luís da Costa Sousa


Militares da 1.ª / BCav8421, prisioneiros da Frelimo, a caminho da Tanzânia.
Foto publicada em Set74
na revista «Mozambique Revolution» (editada pela Frelimo)

Luís Alberto Oliveira Lidington da Silva

«...TRAIDORES, sempre os houve entre alguns.»
Luís Vaz de Camões

Tomei conhecimento desta vergonhosa entrega da Companhia de OMAR já depois da independência e, protegido pela escuridão do cinema em Vila Cabral, onde a FRELIMO fez passar um documentário que me apanhou desprevenido, as lágrimas de vergonha e dor correram-me pela face... A Companhia formada na parada em Dar-es-Salam foi «magnanimamente» libertada por Samora Machel perante a imprensa internacional... Em Moçambique a FRELIMO ao fim de 13 anos de guerrilha não tinha uma dúzia de prisioneiros para apresentar como prova da sua vitória! E fomos nós que lhe proporcionámos os figurantes para este cenário.

A FRELIMO fez o seu papel e bem! Nada tenho contra eles....Eram o inimigo e sabíamos, que estava a ser instrumentalizado pela URSS e com o apoio de todos os países que queriam um Moçambique fraco que fosse uma  presa fácil para ser sujeito ao neo-colonialismo.

O nosso Exército, despolitizado, foi presa fácil do comunismo internacional.... VERDADEIRAMENTE nunca, em 14 anos de mobilização, se tentou explicar aos nossos soldados porque lutávamos! Na classe dos  oficiais apenas os da «esquerda» estavam politizados... Servi o Exército durante quatro anos e, posso dizê-lo, saí de cabeça levantada em 1970! Ainda hoje, apesar do desfecho, não estou arrependido...

Honra e Louvor ao capitão José Luiz da Costa Sousa que tem a coragem moral de escrever sobre este assunto.

A história, a verdadeira história da descolonização, será feita depois deste e outros assuntos, deixarem de ser  considerados «política» e testemunhos destes serão importantes.

Abraço deste teu Amigo de sempre

Leiam este relato impressionante do capitão paraquedista, José Luís da Costa Sousa, sobre corja que traiu e roubou Portugal, e continuará a roubar e a sujeitar... os portugueses a humilhações. Um dia haverá justiça. Um homem quando cai levanta-se mais forte.

A quebra do moral das tropas portugueses em África, como ocorreu e eu a vivi no terreno.

Moçambique é para sempre, na minha memória, o paraíso maravilhoso que o português ali construiu, feito de felizes viveres, a brancos e pretos, amarelos e indianos, mistos e outros, em cidades maravilha onde viviam sociedades multiétnicas em paz e felicidade como Lourenço Marques, Beira, Quelimane, etc.. e as suas ilhas feitas de sonhos tropicais.

Apresentei-me no Batalhão de Paraquedistas 31, BCP 31, na Beira em Fev74, já com 3 anos de guerra de Angola; levava comigo de Portugal a informação das reuniões dos capitães preliminares do 25Abr74, em que tinha tomado parte, vestido eu de políticas inocências, purezas e outras madurezas enfim, singelezas de mim.

O Comandante do 31 era um senhor peculiar em zangas permanentes com o seu ego e a vida, no acto da minha apresentação perguntou-me:—

«Vem por imposição ou voluntário?», «Voluntário» digo eu, responde ele «Talvez se arrependa», pensei «Estou feito...», mas enfim, ossos do ofício, o oposto de Angola, onde reinava a absoluta normalidade na cadeia de comando.

Passei a informação sobre o movimento dos capitães e fui cumprir uma curta missão a Lourenço Marques, monitorar um curso de queda livre para civis em aviões FAP,, e depois regressei.

Nomeado comandante da 1.ª CCP, em substituição do meu impagável amigo Capitão Monteiro, avancei com a Companhia para Vila Paiva de Andrade, na Gorongosa.

O 25Abr74 apanhou-me ali, o administrador de Posto trouxe tal notícia ás 5 da tarde, tinha um ar fúnebre... e fúnebres ficaram o comandante do Batalhão do Exército e seus oficiais, que eu ali reforçava, estranhei tal nos meus 26 anos, virgens de políticas.

Reuni a Companhia para informação, informei e terminei com a afirmação da minha profunda e gongórica ignorância política:—

«Agora, com o general Spínola à frente dos destinos do País, vamos fazer a guerra a sério, e vamos acabar com isto, rapidamente.»

Constava-se que o dito cujo general, mais tarde marechal, era um grande cabo de guerra, mas era sobretudo teatro e teatral e nada mais afinal!

Dia 30 de Abril, a minha Companhia saiu para operações, foi emboscada, sofremos um morto, o infeliz e inesquecível Furriel A. Silva, e um ferido grave; era a guerra e a sua lógica de fatalidades; continuámos com a actividade operacional normal.

Entretanto, de Portugal iam chegando notícias do 25Abr, vagas, dispersas.

Um dia os meus alferes e sargentos, urgentes, solicitaram uma reunião comigo e o alferes Ledo, afoito transmontano, perguntou-me:—

«Meu capitão, ouvimos na rádio que vai haver contactos e conversações com a FRELIMO com vista á Independência, assim sendo, a partir de hoje, o senhor explique-nos quais as razões pátrias, para morrerem mais paraquedistas na guerra, como aconteceu ao furriel Silva?»

Triste e crítico, foi dos piores momentos da guerra para mim, de repente e de chofre, sou colocado perante a destruição irreversível do MORAL das tropas portuguesas, quinze dias pós Abril74.

A vontade de combater e morrer em defesa de Portugal, tinha acabado de ser assassinada na alma de todos os militares, paraquedistas ou não, e foi.

Nesses momentos, não há retórica que valha contra os factos e eu disse apenas:—

«Esta Companhia vai continuar a cumprir todas as ordens e missões que recebermos via hierarquia, independentemente de tudo; quando recebermos ordens para terminar a actividade operacional, fá-lo-emos, até lá cumprimos, entendido?!».

Entendido e cumprido religiosamente até à Independência, data em que fui para Angola, voluntariamente.

Mas, a quebra do Moral das tropas espalhou-se Moçambique fora e em Omar, Cabora Bassa, etc… onde militares do Exército, ora entregavam as armas à Frelimo, mal estes apareciam, ora se entregavam a eles próprios.

O caso em Moçambique, duma companhia do Exército sediada no Norte, em Omar, foi o mais brutal, o mais cobarde e traidor de todos os conhecidos.

Em tal caso, 120 militares portugueses pediram à Frelimo por telefone, para virem ao seu quartel para se renderem eles e as armas… a Frelimo veio e prendeu-os a todos, levaram-nos para a Tanzânia, Dar-es-Salam, onde andaram a ser exibidos nas ruas como animais de circo… como derrota de Portugal e a vitória da Frelimo... foram libertados em meados de Setembro.

Foi um incidente pré-planeado pelo PCP e afins mais o MFA, e executado por militares infiltrados naquela companhia com tal propósito, para forçarem a entrega de Moçambique sem pré-condições.

Está aí o relato:—

2 de Agosto de 1974, Tanzânia, Dar-es-Salam, Hotel Kilimanjaro, quarto 602

Neste local decorreu uma reunião, clandestina e ilegal, em que esteve presente um grupo de militares portugueses constituído pelo major Melo Antunes e mais uns poucos elementos do MFA, sem qualquer delegação, autorização e até sem conhecimento do Governo Português ou do Presidente da República; representavam apenas o MFA.

Foi este grupo clandestino de militares do MFA, que estabeleceu os termos irreversíveis do posterior acordo de Lusaka para a Independência de Moçambique, contra aquilo que o Presidente da República tinha determinado, e colocou Portugal perante um facto consumado sem saída e, fê-lo intencionalmente.

A reunião começou com Samora Machel a dizer:—

«E agora oiçam esta gravação…»

Samora sabia que aquilo que se ia ouvir forçaria os termos do acordo de Lusaka em 07 Set 75.

No gravador começa a rodar a cassete, e ouvem-se vozes, vozes em português.

Vozes que se identificam como sendo de militares portugueses, colocados numa base situada no Norte de Moçambique, junto à fronteira com a Tanzânia, a Base do Exército em Omar.

À medida que a cassete avança o constrangimento entre os MFA´s que representaram ilegalmente Portugal cresceu:

Frelimo:

— «Vocês quem são? (Veio a identificação.)

— E querem entregar-se porquê?

Militares de Omar:

— Porque é hoje o dia! Porque vocês são os libertadores da nossa Pátria! Queremos entregar-vos as nossas armas!

«Os vivas à Frelimo repetem-se!»

O comandante Almeida e Costa, presente nesta reunião, recordou que Melo Antunes se levantou e desabafou:—

«Merda, assim não se pode fazer nada».

Foi teatro, ele sabia de tudo, foi por isso que lá foi clandestinamente, o caso de Omar serviu apenas para justificar em Portugal as cedências à URSS / Frelimo e para isso o planearam e executaram:—

Este encontro que começou a 31 de Julho de 1974, em Dar-es-Salam, estava inquinado desde o princípio.

No seu livro, «País sem Rumo», o gneral Spínola afirmou que tal encontro decorreu sem a sua autorização e sem o seu conhecimento, enquanto Presidente de Portugal, dizendo:—

«O major Melo Antunes, então ministro sem Pasta, deslocou-se, sem meu conhecimento, a Dar-es-Salam para, à margem de qualquer política concertada com a Presidência da República ou com os ministros dos Negócios Estrangeiros [Mário Soares] e da Coordenação Interterritorial [Almeida Santos], estabelecer um plano de entrega de Moçambique à Frelimo, plano que viria a concretizar-se numa proposta inicial a que ele desde logo aderiu e que representava a abdicação total perante o inimigo por nós próprios tornado poderoso.»

Na reunião seguinte, essa autorizada pelo Presidente da República, que teve lugar logo em 15 de Agosto, em Dar-es-Salam, Almeida Santos refere que Spínola exigiu que a delegação da Frelimo apresentasse desculpas à delegação portuguesa por aquilo que sucedera em Omar, como condição para se iniciarem conversações.

E aqui temos mais um relato, que confirma a miséria de Omar, este feito por Almeida Santos:—

«Assim fizemos. Mas, com surpresa nossa, Samora Machel começou por pretender desconhecer do que estávamos a falar»:

Samora Machel:

— Emboscada de Omar?! Uma Companhia aprisionada?

Por fim fez-se luz no seu espírito:

Samora Machel:

— O quê? Aquela «entrega» dos vossos soldados?

E voltando-se para um qualquer assessor da sua delegação:

– Traz a cassete…«Cassete?

Íamos de surpresa em surpresa.

Mas a verdade é que a misteriosa cassete veio, foi por nós ouvida, e ouvi-la ficou a constituir uma das maiores humilhações porque terá passado a delegação de um país.

O que nós ouvimos foi o registo sonoro de uma «entrega», não apenas voluntária, mas insistentemente solicitada.»

Frelimo:

— Vocês quem são? (Veio a identificação.)

— E querem entregar-se porquê?

Militares portugueses:

— Porque é hoje o dia! Porque vocês são os libertadores da nossa Pátria! Queremos entregar-vos as nossas armas!

Almeida Santos:

— Não garanto a exactidão das palavras – cito de memória –, mas asseguro o sentido delas.

Seguiram-se os abraços, o «pega lá a minha arma, meu irmão», etc., etc.

É claro que não havia lugar a exigência de desculpas. Limitámo-nos a pedir uma cópia da cassete para em Lisboa documentarmos isso mesmo.

Foi, pois, este major Melo Antunes o 1.º responsável do processo descolonizador de Moçambique tal como decorreu, ao arrepio do Governo e do Presidente da Republica General Spínola e exclusivamente pró URSS.

Foram incontáveis os casos de cobardia induzida e humilhação Pátria, indescritíveis, recordo um Pelotão do Exército que içava a bandeira nacional, Fingoé, se não me engano, apareceu a Frelimo, esta exigiu que a bandeira fosse retirada, calcaram-na, rasgaram-na e levaram as armas; reacção dos militares, zero, demissão total.

Várias unidades do Exército, manipuladas por agitadores intestinos politizados, fugiram e abandonaram os aquartelamentos… outros prenderam os comandantes que pretendiam continuar a presença de Portugal com um mínimo de dignidade.

Em 14 anos de guerras nada disto acontecera; foi consequência única, exclusiva e imediata da quebra do Moral e da infiltração nos batalhões do Exército de submarinos treinados do PCP, com estas instruções de rendição.

Os mesmos heróis revolucionários que, como o major Melo Antunes, premeditadamente tinham colocado as intenções de descolonizar nos média, e que, consequentemente, provocaram a quebra total do Moral das tropas, usaram depois esses casos como o de Omar e outros por eles provocados e até dirigidos, para alegarem que o Exército Português estava derrotado e destroçado, sem vontade de combater e justificaram assim a urgência da descolonização, que foi uma mera fuga, ordenada pela URSS, via seus acólitos políticos em Portugal e não só.

Tudo foi cientificamente planeado e executado; 500 anos de História e o sacrifício e trabalho de milhões de gerações de portugueses, foram-se nos ventos da revolução, num ano e meio.

O descolonizador chefe foi de facto o major Melo Antunes, apoiado pelo MFA e com a autoridade e a força de ser o testa de ferro do PCP dentro do MFA, era tido como pessoa culta e inteligente... mais tarde disse da descolonização:—

«Foi a descolonização possível… a melhor possível».

Hipocritamente tinha sido ele que, politica e militarmente, dirigido pelo PCP, mais fez para criar as condições para que assim fosse.

Mas culpabilizou as políticas e as forças armadas, acusando-as de estarem desmoralizadas, derrotadas e como tal, houve que «Descolonizar em força e já!» avaliou-as por si próprio, amedrontado e etilizado lá por Ninda em 70, como eu o vi.

Foi assim o inicio da descolonização que eu vivi, no terreno onde aconteceu.

Como militar, tinha aprendido nos bancos da Academia Militar, que o Homem e o seu Moral, eram as armas fundamentais e a espinha dorsal de qualquer exército e que sem elas, nada feito.

Mas só face ás circunstâncias concretas se percebe a dimensão de tal verdade.


José Luiz da Costa Sousa.

Capitão Paraquedista