BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

terça-feira, 16 de agosto de 2016


Crime de «lesa-pátria»

Oficiais das Forças Armadas criticam

negócio aéreo do combate aos fogos



Joana Almeida Silva, Jornal de Notícias, 11 de Agosto de 2016

O presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas, António Mota, diz que é um «crime de lesa-pátria» a atribuição a empresas privadas do combate aéreo aos fogos florestais.

«O poder político afastou por completo a Força Aérea do combate aos incêndios e isso ninguém entende. É um crime de lesa-pátria», critica o presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas, António Mota, em declarações ao «Jornal de Notícias».

Aquele tenente-coronel diz que não faz sentido os portugueses estarem a pagar o combate aos incêndios a empresas privadas depois de existir uma rede da Força Aérea capaz de responder ao flagelo, com aeródromos e profissionais.

«Os pilotos são pilotos o ano todo e não apenas no Verão. São custos que os portugueses já têm. O piloto tanto sai para fazer o transporte de bombeiros para a Madeira, como está a acontecer agora, como segue para apagar um fogo em Arouca», disse.

António Mota acrescenta que «os militares estão preparados e interessados nessa missão, mas alguém decidiu retirar essa competência à Força Aérea. É um negócio que envolve muitos milhões de euros».

Críticas no Facebook

As declarações do presidente da AOFA surgem horas depois de ter surgido na página oficial da associação no Facebook uma publicação assinada por um coronel que critica o «negócio» aéreo que envolve o plano de combate a incêndios em Portugal.

O texto, assinado por João Marquito, deixa clara a crítica à forma como foi retirada às Forças Armadas a função de operar os meios aéreos envolvidos no combate aos incêndios.

«O MAI (Ministério da Administração Interna) recusou entregar à Força Aérea, a gestão e operação dos meios aéreos de combate a incêndios, bem como os de emergência médica, optando por manter o actual estado de coisas, com várias entidades, várias frotas, cada uma no seu ‘interesse’ e custos acumulados para todos, incluindo contratação dentro e fora do país», pode ler-se na publicação.

Parece impossível... No final do século passado, enquanto o combate aos incêndios florestais foi uma «Missão», a Força Aérea Portuguesa operava os meios aéreos em Portugal, mas quando esse combate passou a ser um «Negócio» arrumaram-se os C-130, os kit MAFFS para os equiparem ficaram a apodrecer, os bombeiros exaustos, os meios de substituição não aparecem e....o flagelo continua.

Quais as vantagens? A centralização dos meios aéreos na Força Aérea com custos reduzidos para o erário público, bem como a poupança em termos de manutenção (dado o background existente) e uma logística dos meios incomensuravelmente mais rápida e operacional.

Parece que, conforme noticiado em 9 Junho de 2016, o MAI recusou entregar à Força Aérea, a gestão e operação dos meios aéreos de combate a incêndios, bem como os de emergência médica, optando por manter o actual estado de coisas, com várias entidades, várias frotas, cada uma no seu «interesse» e custos acumulados para todos, incluindo contratação dentro e fora do país.

Espanha, EUA, Grécia, Croácia, Marrocos, são exemplos de países onde os meios aéreos de combate a incêndios são operados pela Força Aérea local. Parece impossível...


Estudo na gaveta

O anterior governo pediu um estudo sobre a resposta aérea de combate aos incêndios, que defende o regresso dessa competência para a Força Aérea.

A garantia é reiterada pelo presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), António Mota, que explicou ao JN que nesse relatório se identificam os meios que a Força Aérea precisaria de voltar a ter para assumir a responsabilidade.

O relatório, «que continua numa gaveta», nas palavras do presidente da AOFA, estima que «a partir de 2018 haveria um lucro para o erário público (2016 e 2017 seriam anos de investimento), uma vez que deixaria de ser necessária a contratação de meios privados para fazer o ataque aéreo às chamas».





sexta-feira, 12 de agosto de 2016


A reconquista de Nambuangongo!


João José Brandão Ferreira, Oficial Piloto Aviador, 10 de Agosto de 2016

Faz hoje 55 anos que o Exército Português reconquistou a povoação de Nambuangongo, na região dos Dembos, Norte de Angola, a 200 Km de Luanda, durante a operação «Viriato».

O Batalhão de Caçadores 96, do comando do tenente-coronel Armando Maçanita, o Esquadrão de Cavalaria 149, comandado pelo capitão Abrantes e o Batalhão de Caçadores 114, sob o comando do tenente-coronel Oliveira Rodrigues, convergiram para o objectivo em três eixos distintos.

O Batalhão 96 tinha o percurso mais longo e foi reforçado por um pelotão de Engenharia comandado pelo alferes Jardim Gonçalves.

A tenacidade e capacidade de comando do tenente-coronel Maçanita, conseguiu que fosse a sua unidade aquela que primeiro entrou em Nambuangongo, erigida como quartel-general da banditagem terrorista da UPA, após penosa marcha, vários combates e quatro mortos.

Coube ao pelotão do alferes Santana Pereira a honra de hastear a Bandeira Nacional Portuguesa na Igreja semi-destruída da vila.

O tenente-coronel Maçanita morreu na sua cidade natal, Portimão, em 17/11/2005, com 88 anos de idade.

Honra aos combatentes

Viva Portugal

(Abaixo os traidores).





terça-feira, 2 de agosto de 2016


Uma operação em território do Zaire


MEMÓRIAS DE UM CAPITÃO


João Sena

A PIDE tinha um prisioneiro que sabia onde era, exactamente, o quartel mais forte e com mais guerrilheiros do MPLA. Situava-se na margem esquerda do Luena, próximo da picada internacional que ligava o Zaire a Angola.

Para se poder atacar este objectivo tínhamos disponíveis, apenas um grupo de combate de 18 militares. Teríamos de atravessar a «chana» que estava completamente alagada, com a ajuda de uma «zorra» do CFB, que estava no LUACANO para pequenos trabalhos na linha mas não se podia perder aquela oportunidade.

As coordenadas do objectivo foram enviadas ao BCAV1883 e à ZIL, uma vez que se situava já em território do Zaire.


Obtida a autorização da ZIL, ao fim da tarde, partimos até a um determinado quilómetro da linha, o mais próximo possivel do objectivo, onde fomos largadas cinco equipas comandadas por mim, pelo Alferes BARREIRA e Alferes CRUZ.

Imediatamente ficámos alagados até à cintura.

Assim tivemos de andar durante a noite, quase vinte e tal quilómetros, até encontrar a antiga picada.

Por indicação do prisioneiro andámos mais uns quilómetros na picada.

Eram três da manhã quando encontrámos o Kimbo encostado à antiga picada internacional.

Numa das suas extremidades havia um grande «parrot» onde, com a luminosidade das brasas, quase apagadas, dormiam os guerrilheiros.

Pretendia-se fazer o golpe de mão ao nascer do dia mas os soldados, com o frio e o ter estar atentos e sem se mexer, começaram a tossir.

Temendo-se que a surpresa fosse quebrada e com a certeza de não estarmos a atacar a população, fizemos fogo sobre os vultos que, imediatamente, responderam com tiros de rajada e saltaram, como gatos, sobre os soldados.

A confusão na noite foi tremenda.

Tiros por todo o lado, com gente a fugir estremunhada em todas as direcções.

As armas do IN foram recolhidas pela PIDE dizendo que depois as entregariam o que nunca veio a acontecer.

Do corpo a corpo sangrento, (a operação mais violenta da guerra que só pode dar testemunho quem a viveu), foram mortos uns quantos IN e feridos dois soldados das NT.

O soldado SILVESTRE LANITA CANDEIAS (CRUZ DE GUERRA de 4.ª Classe) tinha na cara um grande rasgão feito por uma baioneta de Kalash, e o soldado «Madeira», ERNESTO FERNANDES BAETA (CRUZ DE GUERRA de 4.ª Classe), ainda com a sua MG em brasa, tinha um largo golpe no pescoço mas que embora profundo, pouco sangrava.

O regresso foi muito mais difícil.

Tivemos de improvisar uma maca para transportar o CANDEIAS que, não obstante os esforços do maqueiro, CONSTANTINO TEIXEIRA, não parava de sangrar; eram ligaduras sobre ligaduras e ainda teve de ser feita uma transfusão de sangue, de veia a veia, mais o ter de caminhar com água pela cintura, a juntar as emoções e o cansaço já dispendido, tornaram a caminhada muitíssimo mais difícil.

Só por volta das dez da manhã chegámos à linha de onde podemos pedir as evacuações dos feridos e água para beber.

Por via rádio dissemos o quilómetro onde nos encontrávamos e passado um tempo regressámos ao LUACANO.

O CANDEIAS e o «MADEIRA» foram imediatamente evacuados por um avião DO-27, pilotado pelo Cap.PilAV. CARLOS ACABADO, para a enfermaria do LUSO.

Nas operações nas águas da «chana» alagada andávamos só com as botas calçadas, ou seja, sem meias; e lá tive de andar mais de três semanas com os pés negros tingidos pelas botas.

Reconfortante foi o rádio enviado pelo Brigadeiro MACHADO DE SOUSA (RIP), o célebre «MARAVILHAS», professor na AM durante muitos anos.

O pior foi meses mais tarde ter de responder por inquérito, sobre o incidente diplomático com a ameaça de uma valente «porrada» que o Governo português me queria enviar.

Era absolutamente proibido entrar em território do Zaire.