BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

terça-feira, 25 de agosto de 2015


Desrespeito à bandeira nacional


Ex.mo Sr Presidente da Câmara do Sabugal,

No passado dia 12 de Agosto visitei o castelo de Sortelha e fiquei extremamente chocado com o estado em que se encontrava a Bandeira Nacional colocada na Torre do Facho, o que no meu entender constitui um profundo desrespeito por este símbolo nacional.

Manifestei o meu desagrado junto do gabinete de turismo existente no local, onde fui informado que seria responsabilidade da Câmara substituir a bandeira.

Dirigi-me à Câmara onde apresentei verbalmente a situação ao seu secretário, o qual, manifestando também o seu desagrado, disse que a situação seria de fácil resolução.

Após estas diligências foi com estranheza e muito desagrado que, passados 9 (nove) dias, verifiquei que a situação continuava na mesma, não houve sequer a decência de retirar do mastro o que resta da bandeira.

Face à inércia e fundamentalmente ao desrespeito manifestado por um dos símbolos nacionais, tomei a liberdade de dar a conhecer este email a alguns órgãos de comunicação social e à minha lista de contactos.

Em anexo junto uma foto tirada no dia 21 de Agosto.


Com os melhores cumprimentos


                                                                               José Manuel Bento
                                                                               
                                                                               Coronel





domingo, 16 de agosto de 2015


Palma Inácio:

terrorista, bandido ou herói?


João José Brandão Ferreira, Oficial Piloto Aviador

O cidadão Palma Inácio faleceu no dia 14 de Julho de 2009, faz agora quatro anos. Na altura escreveram-se algumas imprecisões históricas, ignoraram-se convenientemente factos, branquearam-se acções e fizeram-se elogios patéticos. Como estamos no campo da opinião, também queremos dar a nossa.

O conceito de «terrorismo» vem da Antiguidade Clássica e devemos remontar à seita dos «Assassinos» (Século XII) e ao «Velho da Montanha», para encontrar o seu início organizado.

Até hoje não se acordou numa definição de terrorismo dada a dificuldade objectiva de o fazer. Isto é, para uns, o autor de um acto tido como terrorista é, para outros, um acto de heroísmo em defesa de uma causa. Isto, para não entrarmos no conceito do próprio Estado poder ser considerado terrorista…

De qualquer modo, terrorismo ou não, queremos referir-nos sempre a actos de violência que implicam, ou podem implicar mortes e danos – inclusivé pretender infundir o terror – e que visam objectivos políticos, ou simples violência gratuita.

Por outro lado, o delito comum está ligado aos crimes de assassínio, estupro, roubo, etc., que visam motivações de ordem pessoal.

Herói, por seu turno, vem do grego «héros», homem extraordinário pelas suas proezas guerreiras; protagonista duma obra literária (depreciativo); homem notável pelos seus desmandos ou irregularidades.[1]

Palma Inácio foi um exemplo acabado em como «a ocasião faz o ladrão».

Vejamos como tudo começou.

Palma Inácio nasceu algarvio, em Ferragudo, no ano de 1922. Filho de família modesta, nada se conhece da sua infância que seja relevante para o que estamos a tratar.

Concorreu à Aeronáutica Militar com 18 anos e em 1946 encontrava-se a prestar serviço na Base Aérea (BA1) em Sintra, como ajudante de mecânico de aviões, tendo atingido o posto de furriel.

Segundo depoimento do capitão Graciano chefe dos mecânicos da BA1[2] e também responsável pela manutenção dos aviões do Aeroclube de Portugal (ACP) que operavam a partir da base, PI era «ambicioso, refilão, com tendência para a indisciplina, insatisfeito, revelando por vezes menos simpatia para com o regime político (através de desabafos). Fundamentalmente revelava inconformismo com a sua situação. Queria ser piloto, mas não tinha habilitações mínimas para concorrer ao curso de praças pilotos».

Não tendo dinheiro para tirar o curso no ACP pediu para ser ajudante do capitão Graciano como funcionário daquele aeroclube, o que foi aceite e lhe proporcionou uma nova remuneração. Conseguiu ainda ser mecânico do avião «Dragon» que fazia voos de fotografia aérea aos fins-de-semana para os serviços geográficos e cadastrais.

Este pecúlio extra permitiu que se inscrevesse no ACP a fim de tirar o brevet de piloto civil. Caiu então na tentação de roubar gasolina dos aviões militares para os aviões do ACP, permitindo-lhe, deste modo, fazer mais horas de voo com menos despesa (registava uma quantidade de gasolina superior à que metia nos depósitos; o excedente, impróprio para consumo, juntava num bidon e utilizava posteriormente nos aviões do ACP). Na caderneta de voo escrevia ainda um total de horas, menor do que realmente fazia, pagando assim menos. Tudo isto representava procedimentos irregulares do ponto de vista disciplinar e da segurança de voo.

Num dia de Setembro resolveu dar um passeio de avião ao Ribatejo para ir apanhar melões, mas na tentativa de aterragem sofreu um acidente tendo o avião ficado partido bem como as pernas do passageiro, o primeiro-cabo Costa Pereira, que aliciara para a aventura.

O comandante da BA1, tenente-coronel Filipe Gomes Vieira quis saber como era possível, dois mecânicos andarem a voar num avião do ACP durante as horas de serviço e mandou instaurar um processo de averiguações do que resultou descobrir-se toda esta trama.

O comandante puniu Palma Inácio com 10 dias de prisão disciplinar agravada, o que foi agravado para 20 dias, pelo comandante geral da Aeronáutica Militar. Tal castigo, à luz da legislação de então, obrigava o punido a abandonar as fileiras. Palma Inácio jurou vingança.

Como gozava de fama de ser competente como mecânico rapidamente arranjou emprego, sendo admitido na Companhia Aérea KLM, em Lisboa.

Em 10 de Abril de 1947 teve epilogo um movimento de contestação ao «Estado Novo» onde estava implicado o brigadeiro de aeronáutica António de Sousa Maia.

Palma Inácio ter-se-á ligado a este movimento por ver aí a oportunidade de satisfazer o seu desejo de vingança. Aparentemente foi aliciado para a acção por um ex-tenente Quintão, após encontro com este na Praça do Chile (o que Palma Inácio mais tarde viria a negar). Deste modo o nosso «herói» foi encarregue de sabotar os aviões da BA1, tendo-lhe sido acenado com uma posterior promoção a major.

Assim, na noite de 9 para 10 de Abril de 1947, Palma Inácio cortou (ou serrou) os cabos de comando a vários aviões «Tiger Moth», «T-6» e «DC3», num total de 35. No caso participou o primeiro-cabo mecânico Gabriel Gomes (não por ser revolucionário, mas por ser amigo de Palma Inácio) que o introduziu e retirou do hangar.

A conjura (onde também esteve implicado o cidadão João Lopes Soares (pai do Dr. Mário Soares), falhou e Palma Inácio ficou a monte. O tenente-coronel Vieira acabou por não ir frequentar o curso de promoção…

Por curiosidade refira-se que Palma Inácio tinha um irmão mais novo, Jaime Inácio da Palma, que fez carreira na Força Aérea como mecânico de material aéreo. Mas em tudo diferia do irmão e não concordava «com os seus métodos de actuação».

E foi assim que começou a vida «revolucionária» e «romântica» deste ícone do «reviralho».


De facto algumas das suas acções ficaram célebres, mas não pelas melhores razões. Ao fim e ao cabo, que feitos dignos de nota, conseguiu Palma Inácio?.

Já analisámos a participação na conspiração de 1947, que resultou em prisão, fuga e exílio. A partir daqui Palma Inácio deambulou um pouco pelo mundo, até que em 1959 conhece Humberto Delgado e Henrique Galvão, no Brasil. Volta à conspiração.

Em 11 de Novembro de 1961 assalta e desvia o «Super Constellation» da TAP que fazia o percurso Casablanca/Lisboa, com o objectivo de lançar panfletos sobre Lisboa, o que consegue. Daqui nada resulta na prática para além de um embaraço para o governo de Lisboa. Mas inaugurou a época da pirataria aérea moderna (como a seguir aconteceria no mar com o assalto ao paquete Santa Maria – nós temos que estar na vanguarda de algo!) que tantas dores de cabeça têm dado ao mundo em geral e ao Ocidente em particular.

Resta ainda saber até que ponto é lícito e moral arriscar a vida de cidadãos comuns e pôr em causa bens nacionais, para beneficiar ideias políticas ou personalidades, que estavam longe de colher apoio ou simpatia na esmagadora maioria dos portugueses.

Um ano antes do seu passamento o jornal «Correio da Manhã» promoveu um encontro entre este elemento «antifascista» e o então comandante Marcelino, e a chefe do pessoal de cabine. Foi uma festa!

Há gente que não tem mesmo vergonha na cara…

De Marrocos, cujas autoridades se recusaram a extraditá-lo, parte novamente para o mundo. E regressa à conspiração.

A ausência leva alguns anos e devem-se ter esquecido dele. Até que no dia 17 de Maio de 1967, reaparece à frente de uma quadrilha – que lhe devemos chamar? – e assalta a dependência do Banco de Portugal na Figueira da Foz. Roubam 28 000 contos, uma fortuna para a época. A fuga é aparatosa e acaba em Paris.

A PIDE põe-se em campo e através do rasto de notas deixadas pelo caminho levam as autoridades francesas a prendê-lo. É então que entra em cena um elemento da oposição dita democrática, com provas dadas de seriedade, o dr. Emídio Guerreiro e que inventa a criação da LUAR, a fim de dar um cariz politico ao roubo e assim evitar a extradição do preso para Lisboa. É deste modo que é criada a LUAR, em 19 de Junho de 1967, um mês após a «Operação Mondego». Com este argumento as autoridades francesas impediram a entrega de Palma Inácio à justiça portuguesa. A PIDE infiltra entretanto a LUAR e consegue recuperar 22 000 contos do dinheiro roubado, em duas «tranches» de 11 000. 3 000 contos tinham sido gastos pelos «amigos do alheio» e 3 000 foram entregues a Emídio Guerreiro que os depositou numa conta na Suíça. Quando se dá a «Revolução dos Cravos», 1 500 contos que restavam desta última quantia, foram entregues por Emídio Guerreiro a Palma Inácio para serem entregues ao Banco de Portugal, mas desapareceram. E este é um dos episódios que levaram estes dois personagens a, mais tarde, acusarem-se mutuamente e irem a tribunal.

De tudo resultou ser Palma Inácio o último preso a ser libertado de Caxias após o 25 de Abril, já que muitos o consideravam um preso de delito comum. Resta ainda acrescentar que a LUAR ainda realizou em França e Luxemburgo assaltos à mão armada a carrinhas que carregavam as economias dos nossos emigrantes.

Ainda hoje não há conhecimento de quais as actividades levadas a cabo contra o regime de Salazar, com o produto destes roubos … Aliás o insuspeito Jaime Serra (da ARA – Acção Revolucionária Armada) acusou a LUAR, em entrevista ao Diário de Notícias de 13/2/99, de «ter cometido actos criminosos a coberto de motivações políticas».

Palma Inácio volta a aparecer no ano seguinte em Portugal sendo o objectivo agora tomar a cidade da Covilhã com meia dúzia de novatos. A operação que ninguém sabe explicar como se fazia ou para que serviria, nem se desencadeia, sendo o grupo preso pela polícia. Nova fuga e exílio.

Finalmente infiltra-se novamente no continente com o intuito de raptar figuras políticas, a fim de serem trocadas por presos políticos. De novo é preso e assim fica até ser libertado pelos revolucionários de Abril de 74.

De facto Palma Inácio nunca conseguiu nada a não ser manchar o seu nome com o epíteto de traidor, pois realizou acções que objectivamente favoreceram os inimigos do seu país, que então desenvolvia extensas operações militares de contra guerrilha e afirmação de soberania. Palma Inácio não tinha, aparentemente, ideário político, nunca escreveu um manifesto e não se lhe conhece uma ideia. A única coisa que mostrou competência foi em fugir das prisões.

Foi este personagem que esta terceira República elegeu como herói e referência nacional, que o então presidente Mário Soares quis atribuir a Ordem da Liberdade, ao que se opuseram toda a Casa Militar e não só. Mário Soares não se atreveu a levar por diante a sua intenção – estranha-se pois os elogios que só na data da morte assumiu na sua plenitude – a qual só foi concretizada pelo seu sucessor, Jorge Sampaio, no ano 2000, mas a que nem sequer se deu à decência de assumir, estando presente, deixando o encargo ao vate Alegre.

A necessidade de presentear Palma Inácio com uma pensão (paga por todos nós) parece ter sido o motivo principal para lhe atribuir a comenda, já que pelos vistos o irrequieto Inácio tinha uma má relação com o dinheiro e não apreciava muito emprego das nove às cinco.

«Mutatis Mutandis», a maioria do povo português que nunca lhe passou pela cabeça aprovar as diatribes criminosas de semelhante abencerragem, foi condecorada com um atestado de reprovação e censura.

O Partido Socialista obsequiou-o e está-lhe reverente e obrigado. Estamos elucidados.

Aguardamos, pois, em jubilosa esperança, a transladação deste digno descendente de Gamas, Albuquerques e Cabrais, para o lugar que sem dúvida alguma merece, no Panteão Nacional.



[1] Dicionário da língua portuguesa, Livraria Figueirinhas, Porto, 3.ª edição.

[2] Este depoimento e muitos outros documentos encontram-se no processo de Palma Inácio existente no Arquivo Histórico da Força Aérea.






sexta-feira, 14 de agosto de 2015


Petição



Caros Amigos,

Acabei de ler e assinar a petição: «Queremos a nossa Força Aérea Portuguesa novamente no combate aos incêndios!» no endereço http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=P2013N70630

Pessoalmente concordo com esta petição e cumpro com o dever de a fazer chegar ao maior número de pessoas, que certamente saberão avaliar da sua pertinência e actualidade.

Agradeço que subscrevam a petição e que ajudem na sua divulgação através de um email para os vossos contactos.

Obrigado.

                                                                  José Luis Cabral da Gama Lobo Salema


Esta mensagem foi-lhe enviada por José Luis Cabral da Gama Lobo Salema (joseluissalema@gmail.com), através do serviço http://peticaopublica.com em relação à Petição http://peticaopublica.com/?pi=P2013N70630






Wikileaks revela os subterrâneos da estratégia

sudanesa para exportar o islamismo para toda a terra


«Riyad concedeu meios financeiros, nomeadamente a pregadores no estrangeiro, construiu mesquitas, escolas, centros e apoiou campanhas para neutralizar os responsáveis e meios de comunicação do estrangeiro.» —afirma o New York Times.

Publié le 24 Juillet 2015


Selon quotidien américain The New York Times, qui trié et étudié des dizaines de milliers de documents diplomatiques saoudiens révélés par le site WikiLeaks, l'Arabie Saoudite investit «des milliards de pétrodollars dans des organisations islamiques à travers le monde, pratiquant une diplomatie du chéquier». Le New York Times s'est intéressé à 60 000 documents, en attendant les 400 000 supplémentaires qui sont en attente de publication selon WikiLeaks. Ces fuites diplomatiques révèlent notamment que l'Arabie Saoudite dépense des sommes colossales pour combattre l'Iran chiite.

«Les Saoudiens craignaient que la levée des sanctions internationales contre l’Iran après la signature de l’accord nucléaire (16 juillet) donne davantage de moyens à Téhéran pour soutenir des groupes (chiites et pro-iraniens). Mais les documents révèlent une compétition qui va bien au-delà, avec de profondes racines idéologico-religieuses» peut-on lire dans le New York Times.

>>>> à lire aussi : Le royaume des secrets gênants : ce que les nouvelles fuites Wikileaks nous apprennent sur l’Arabie saoudite

Consécutivement à la publication de ces documents diplomatiques par WikiLeaks, le site India TV note par exemple que «dans la seule région du Kerala (en Inde), les Saoudiens ont donné 4,5 millions de riyals (1,1 million d’euros) à différents organisms».

Selon le quotidien américain, cité par Courrier International, il s'agit d'un «système d’influence que les autorités saoudiennes ont mis en place et financé par l’argent des pétrodollars. Riyad a notamment accordé des moyens financiers à des prédicateurs à l’étranger, construit des mosquées, des écoles, des centres et soutenu des campagnes pour contrer des responsables et des médias à l’étranger qui étaient susceptibles de s’opposer à l’agenda du Royaume».

D'après Usama Hasan, chercheur en études islamiques à la fondation Quilliam à Londres, cité par new York Times, «il s’agit de milliers et de milliers d’organisations militantes et religieuses (...) directement ou indirectement financées par eux» à travers le monde.



LER MAIS EM http://www.atlantico.fr/pepites/wikileaks-revele-dessous-strategie-saoudienne-pour-exporter-islamisme-partout-planete-2253161.html#J8jQVgvIyKBc8g7r.99






630 anos da batalha de Aljubarrota



A independência de Portugal como terra livre de gente livre foi confirmada com sangue e sacrifício, pela força das armas, na batalha de Aljubarrota, na tarde de 14 de Agosto de 1385. Faz 630 anos, um momento decisivo da nossa história mostrou aquilo de que fomos capazes quando estávamos unidos por uma vontade comum e sabíamos escolher chefes capazes e dignos de confiança.

Desde a Fundação da nacionalidade, no século XII, até à expulsão dos mouros do nosso território com a conquista definitiva do Algarve por D. Afonso III, em 1249, a prioridade estratégica dos reis de Portugal foi a Reconquista. No entanto, as ameaças hegemónicas de Castela e a política de casamentos entre a família real portuguesa e as dos outros reinos cristãos da Península Ibérica (Castela, Leão, Aragão e Navarra), estiveram a ponto de levar o nosso país ao mesmo destino dos outros reinos peninsulares, absorvidos pela força centrípeta dos castelhanos. As derrotas de D. Fernando nas três guerras travadas contra Juan I saldaram-se pelo desastroso casamento da sua filha e herdeira, D. Beatriz, com o rei castelhano. Por morte de D. Fernando, em 1383, Juan I veio reclamar a herança da sua rainha: o trono de Portugal.

A viúva de D. Fernando, D. Leonor Teles, seguida pela maior parte da aristocracia lusitana, seguiu as regras próprias da época do feudalismo e reconheceu sua filha D. Beatriz como sucessora, conforme estipulava o Tratado de Salvaterra de Magos, assinado por D. Fernando.

Em Dezembro de 1383, o Mestre de Avis, D. João, filho natural do rei D. Pedro I e meio-irmão de D. Fernando, encabeçou uma revolução, com o apoio do povo da capital do reino, expulsou de Lisboa os partidários de D. Leonor, D. Beatriz e dos castelhanos, depois de assassinar, em pleno palácio real, o conde João Fernandes Andeiro, um nobre galego que se tornara amante e principal conselheiro da rainha viúva.

As notícias da revolução de Lisboa puseram o país em pé-de-guerra: de Norte a Sul, muitas cidades e castelos tomaram voz pelo Mestre de Avis, já nomeado Regedor e Defensor do Reino.

Rei por vontade do povo

Após uma prolongada resistência das forças patrióticas contra as pretensões de Juan I de Castela, que entretanto invadira Portugal e pusera cerco a Lisboa durante meses (1384), até ser obrigado a retirar por um surto de peste, reuniram-se Cortes em Coimbra para resolver o problema da sucessão.

Em Março de 1385, os representantes do clero, da nobreza e do povo dividiram-se em duas facções. Os partidários de D. Beatriz primaram pela ausência, preferindo defender os seus direitos pela força das armas, ao lado do rei de Castela. Dos presentes em Coimbra, uma facção, onde se destacavam membros da alta nobreza e do alto clero, declarou-se favorável aos infantes D. João e D. Dinis, filhos do rei D. Pedro e de D. Inês de Castro, sustentando que estes deviam ser considerados filhos legítimos, uma vez que os seus pais tinham chegado a casar-se, embora clandestinamente. O outro «partido», formado sobretudo por elementos da baixa nobreza e representantes dos concelhos, apoiava o Mestre de Avis, por quem se tinham manifestado em Lisboa e outras cidades e vilas.

Contra os opositores da causa do Mestre de Avis destacaram-se os argumentos do doutor João das Regras, apoiados sem papas na língua por Nuno Álvares Pereira (hoje venerado nos altares como S. Nuno de Santa Maria). Ao fim de um mês de debates, as Cortes deliberaram que o trono estava vago, sendo assim legítimo escolher um novo rei. Por unanimidade, os participantes aclamaram então o Mestre de Avis rei de Portugal, com o nome de D. João I.





segunda-feira, 10 de agosto de 2015


Até onde chega a censura politico-militar


João José Brandão Ferreira,  Oficial Piloto Aviador

Recentemente um tenente general da Força Aérea (FA), na situação de reforma, escreveu um artigo sobre um evento de guerra ocorrido em 1969, no então teatro de operações da Guiné-Portuguesa.

O artigo foi enviado para a «Mais Alto», revista oficial da FA onde, aliás, o oficial em causa já escrevera várias vezes.

Algum tempo depois o director da revista, oficial de igual patente, mas muito mais moderno, informou o putativo autor de que o artigo não seria publicado.

A razão prendeu-se, aparentemente, com o facto de, no artigo, se tecerem considerações críticas sobre um país – a Suécia – supostamente amigo e aliado de Portugal.

Esta situação é recorrente, mas atingiram-se patamares de paroxismos delirantes.

Todavia o autor em questão pode considerar-se um privilegiado, pois tiveram a rara decência de o informar da decisão – o que subentende, não qualquer deferência, mas o embaraço da situação – o que representa um procedimento fora do comum, não só na «Mais Alto», como na generalidade das revistas militares e órgãos de comunicação social…

E eu sei do que falo.

Porque é que as coisas se passam assim?

Certo dia, ainda a minha pessoa usava os galões de capitão, fui chamado ao Chefe de Estado-Maior da FA, de então – sem desfazer, uma excelente pessoa, oficial e combatente – que entendeu dizer-me o que considerava os limites da liberdade de expressão dos militares e dos parâmetros que balizavam a «Mais Alto».

Eram quatro, a saber:

  • A revista não dizia mal de si mesma, isto é da FA;
  • A revista não dizia mal dos outros Ramos;
  • A revista não dizia mal dos Orgãos de Soberania;
  • A revista não entrava em questões político/partidárias.

Pareceram-me sensatas e equilibradas, na altura – e hoje ainda parecem – estas quatro regras, embora a distinção entre «dizer mal» e «criticar» não aparecesse distinguida e não seja fácil distingui-la.

Tal decorre, como já disse, do bom senso; da responsabilidade oficial do Ramo, que é um órgão do Estado e dos limites à liberdade de expressão dos militares, sobretudo os do activo, regulamentados pelo «célebre» artigo 31 da Lei de Defesa Nacional e das Forças Armadas. Durante alguns anos decorreram colóquios com periocidade anual ou bianual, inicialmente promovidos pelo saudoso brigadeiro Mendes Quintela, cujo objectivo era debater e explicitar toda esta problemática e promover a dignificação e importância da Imprensa Militar.

Se a memória não me atraiçoa, o último colóquio foi organizado pela «velhinha» e decana Revista Militar, há uns 20 anos atrás…

De todo este esforço e das propostas saídas de todos estes encontros, nada resultou, pois nunca colheu grandes (nem pequenas…) simpatias ou acolhimento por parte das sucessivas chefias militares, muito menos do poder político, leia-se ministros da Defesa Nacional. Estes, aliás, tudo têm feito para aperrear tudo aquilo que é escrito e dito sobre as FA e a Defesa e Segurança Nacionais, permitindo-se o despautério de acabar com a revista «Baluarte», do CEMGFA e respectivo Gabinete de Relações Públicas, reduzindo aqueles dois Ramos, na prática, a pouco mais do que uma caixa de correio.

Mas enfim, cada um tem o que merece.

O genuíno Bokassa, devidamente sentado,
como os nossos generais.

Nos anos 80, creio, um número da revista Mais Alto foi mandado recolher, pelo VCEMFA, depois de já estar em distribuição, porque comportava dois artigos – um desta praça velha e outro do general Kaúlza de Arriaga – que falavam da «descolonização» e até já me aconteceu ver um artigo, feito por altura e a propósito, do centenário da morte do grande Mouzinho de Albuquerque, ser recusado pelo «jornal do Exército», alegando-se que o mesmo jornal era distribuído em Moçambique e «eles» podiam não gostar…

Exemplos do que foi acontecendo ao longo da vida e se os fosse contar todos ia faltar o papel! Isto para já não falar na censura às pessoas, que não às ideias.

Mas parece que só no regime anterior é que se fazia censura…

Porém o escrito de hoje é sobre o artigo agora (mal) recusado, intitulado «Um ataque de olhos azuis».

Vejamos.

O artigo do nosso general, escrito em português escorreito, conta um «ronco» obtido por meios da FA, na então Província da Guiné, em 1969, contra o PAIGC e os …. Suecos.[1]

Ora se, já de si, uma vitória das forças portuguesas contra a cáfila de insurrectos acoitados nos países limítrofes, inimigos de Portugal, causa engulhos aos «enganados da vida» e ao maldito do politicamente correcto, quanto mais agora criticar quem apoiava tão excelsos «libertadores de povos oprimidos»!

Pois foi exactamente isso que o general/autor – honra lhe seja feita – descreveu no papel: uma operação exemplar contra um grupo fortemente armado do PAIGC, que há luz do dia (o que nunca faziam) bombardeava um pequeno quartel do nosso Exército, no extremo sul da Província, de uma outra posição abandonada no ano anterior.

Os quatro pilotos de Fiat colocaram as bombas todas no alvo (abençoados!) e escaqueiraram as forças inimigas.

Foi-se ver e havia corpos de pretos e brancos por todo o lado. Investigado o mistério apurou-se tratar-se de uma operação em que o PAIGC simulava ter tomado o antigo aquartelamento português e logo de seguida flagelava o mais próximo, tudo a ser filmado pela televisão da Suécia, país que durante toda a última campanha ultramarina, apoiou material e moralmente os inimigos de Portugal em África.

Tudo isto sendo nosso parceiro na EFTA e noutras instâncias internacionais.[2]

Aliás, os «bárbaros do Norte» percebiam e percebem tanto de África como de lagares de azeite…

O que, sem embargo, os não impediu de fazer tráfico de escravos nos séculos XVIII e XIX, como o autor general explicitou…

E gostam tanto de pretinhos e outros coloridos, e têm tanto jeito para lidar com eles, que desde que abriram uma delegação para a cooperação na Guiné, anos após a independência, nunca conseguiram pôr nada a funcionar e praticamente não se davam com ninguém nem saíam das instalações…

Tive ocasião de assistir enquanto por lá estive nos anos 90.

Ora uma metade do artigo sobre os tais de olhos azuis, que o general Fernandes Nico descreve e faz considerações é, justamente sobre a atitude dos governos suecos durante o tempo que durou o conflito, para com Portugal, por sinal muito bem fundamentados.

E foram estes considerandos que incomodaram a chefia da FA – não sabemos se o próprio ministro – ao ponto de vetarem a publicação do artigo na «Mais Alto».

Ora tal aparenta ser incompreensível e inaceitável.

Em primeiro lugar porque é tudo verdade – e muito ficou por dizer; depois porque se reportam a factos que têm mais de 45 anos; que já são História e nada existe de difamatório ou ofensivo. Finalmente porque seja o PAIGC, o governo guineense (quando existe), o governo sueco ou qualquer outro actor político, se coíbe de dizer o que quer que seja sobre Portugal e os portugueses, sem terem o menor escrúpulo pelos nossos sentimentos, quiçá pela verdade histórica.

Estou farto, por tudo isto e muito mais, de ver comportamentos de compatriotas meus, com funções de responsabilidade, a colocarem-se na posição de «quatro patas», perante personalidades, governos, ou entidades várias, que ainda têm que comer muito pãozinho antes de nos quererem dar lições de moral seja sobre o que for.

Ganhem coragem, se forem capazes, e alguma vergonha na cara.

Uma coisa, aliás, ajuda à outra.

O «general sentado» Alfredo Pereira da Cruz,
director da revista 
Mais Alto.


[1] PAIGC – Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde.

[2] EFTA – Associação Europeia de Comércio Livre.





sábado, 1 de agosto de 2015


Marcelino da Mata

— O dever de ajudar um herói de Portugal


À direita, Marcelino da Mata, o nosso militar mais condecorado de sempre.


Humberto Nuno de Oliveira, O Diabo, 31 de Julho de 2015

O verdadeiro dever de memória, para além de fantasias, é transmitir aos mais novos o culto e amizade pelos heróis da Pátria

Recebi esta semana um correio electrónico do ilustre advogado, Alexandre Lafayette, dando-me conta das suas diligências «in extremis» para impedir que fosse vendida a casa de família do tenente-coronel Marcelino da Mata através do Tribunal de Sintra.

Sendo certo que nem um herói de Portugal pode estar acima do cumprimento da lei, importa neste caso contextualizar o assunto e actuar como nos for possível. Devendo-se, porém, lembrar o muito que Portugal deve a Marcelino da Mata e que, seguramente, está muito para lá de uns míseros milhares de euros.

A dívida que motivou tal processo, à Caixa Geral de Depósitos (CGD), resulta da falta de pagamento de um empréstimo contraído por uma patrícia do tenente-coronel Marcelino da Mata, no qual com a generosidade e grandeza que o caracterizam acedeu a ser o avalista, apondo a sua assinatura num papel que eventualmente nem leu e que assinou com a ligeireza de quem bebe um copo de água. Marcelino da Mata não trai nem nunca traiu e as traições não fazem parte do seu imaginário.

Como nem sempre os grandes homens são necessariamente grandes juízes de carácter, a senhora sua conterrânea desapareceu para parte incerta (consta que terá ido para o Reino Unido), e o nosso bom amigo, passou a responder por uma dívida que não contraiu mas avalizou.

Da dívida real (ou seja de capital não pago) de 1 608,15 euros, conseguiram os agiotas dos nossos tempos – as denominadas instituições bancárias –, fazê-la subir até aos 57 800 euros, valor que estava manifestamente errado porque a CGD já havia recebido o produto da venda de um imóvel da «amiga da onça» do nosso amigo Marcelino da Mata. Ainda assim, fruto do intenso e dedicado labor do nosso muito prezado dr. Lafayette, a contestação levou a apuramento de um valor de «apenas» 35 609,39 euros. Dando de barato (sem nenhuma convicção, porém) que para uma dívida de 1 608,15 euros, juros de 29 501,23 euros serem uma manifesta indignidade, para não dizer muito pior (a que acrescem 4 500 euros de despesas processuais e judiciais…), igualmente o entendeu o ilustre causídico que contestou a exorbitância do montante dos juros solicitando uma redução de cerca de 50 por cento, para aproximadamente 14 000 euros, e o pagamento mensal de 600 euros, que já se iniciou, para pagamento de divida.

A CGD, porém (sem qualquer consideração pelo visado, aliás como nunca a manifesta por ninguém), só admite um ajuste da importância global se se «apresentar uma proposta que vise a entrega de um montante único, com pagamento imediato».

Pretende assim o dr. Alexandre Lafayette apresentar à CGD uma proposta de pagamento único e global, que determine o arquivamento do processo, no montante de 20 000 euros.

Porém o nosso amigo Marcelino da Mata, até há bem pouco tempo verdadeira muleta de tantos dos seus patrícios, tem a sua conta bancária a zeros… Importa pois que todos quantos sentimos o muito que devemos a homens do calibre de Marcelino da Mata que façamos uma colecta para juntar os 20 000 euros, quantia que permitirá arrumar este assunto e sacudir os problemas que afligem Marcelino da Mata e a sua família. O apuramento desta quantia permitiria que poupasse cerca de 15 000 euros. Se tal não logramos o dr. Lafayette terá de negociar com a CGD o pagamento em prestações dos 35 609,39 euros, a que acrescerão as despesas do contracto que tiver que ser celebrado com a CGD, disto resultando um encargo mensal de cerca de 750 euros, a deduzir à pensão de reforma do veterano de guerra, já que a CGD não aceita um mútuo por período superior a cinco anos porque o nosso tenente-coronel já tem 75 anos de idade. Importa acrescentar que tal empréstimo para amortizar a dívida, que era da «amiga da onça», implica hipotecar o andar do nosso amigo e da sua família.

Por tudo quanto este herói fez por Portugal, cabe-nos a todos nós o dever de o ajudar, e à sua família, a superar esta provação.

Foi aberta uma conta para resolver o problema do tenente-coronel Marcelino da Mata o seu NIB é o seguinte: 0019 0042 0020 0022 3090 9, contamos evidentemente com todos os Portugueses de bem, isentando de participação todos quantos, activa ou passivamente, contribuíram para as suas sessões de tortura após o 25A.