BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

sábado, 31 de outubro de 2015


Frentes populares


Jaime Nogueira Pinto, Sol, 27 de Outubro de 2015

A ideia de «unidade das esquerdas» num país como Portugal, onde o leque político-partidário com representação parlamentar vai do centro-direita à extrema-esquerda, pode e deve causar perplexidade.

O regime saído do golpe de Estado militar de 1974 e do PREC que se lhe seguiu, exorcizou, denegriu e proibiu as direitas e a Direita, inventando até, para isso, um preceito contra «organizações fascistas». Assim, sem formações políticas nem quadros partidários e sob uma pressão constante de diabolização, a direita viu as suas ideias rotuladas como impróprias para consumo por pessoas honradas e de bom coração. E o «povo da direita» teve que se arranjar com o que havia.

Como o centro e as esquerdas também competiam entre si, os eleitores de direita foram votando «útil», oscilando, conforme o tempo e as circunstâncias, entre o PS, o PSD e o CDS. E até deram vitórias a coligações ou partidos do centro-direita: à primeira AD em 1979, à primeira maioria cavaquista nos anos 80 e ao PSD e CDS em 2011.

A ambiguidade dos partidos do «arco da governação» quanto a matérias ideológicas tem sido a regra. O PS, ora foi socialista, ora meteu o socialismo na gaveta, ora namora ao centro, ora à esquerda. Na ânsia de não serem acusados de «salazarismo» ou de «fascismo» pela DGCI (Direcção-Geral da Correcção Ideológica), os dirigentes políticos da não-esquerda também foram banindo toda e qualquer referência aos valores de orientação permanente que identificam a direita política. Deus, a nação, a família, o trabalho, a justiça, parecem ter sido abandonados e trocados pelo liberalismo e pelo europeísmo radicais.

Com a «direita» neste vazio defensivo e as esquerdas a multiplicarem-se em proclamações e variantes ideológicas – até «patrióticas» –, todos vão procurando cautelosamente disfarçar as suas ligações históricas.

Ninguém associará as animadas e simpáticas coordenadoras do BE às figuras sinistras de Trotsky e da Quarta Internacional; muito menos o rosto bem português e de bom português do secretário-geral do PCP lembrará a tradição ortodoxa do Partido Comunista, a União Soviética, José Estaline e o gulag. Só o MRPP, ao sanear o mal-sucedido timoneiro (que não cedendo à nova vaga continuou a pedir morte aos traidores), lembrou os métodos de alguma esquerda radical que agora quer passar por libertária.

De resto, as frentes populares foram curtas e correram mal ou muito mal, com os parceiros pensando sempre na melhor forma de se livrarem da muleta da esquerda ou da direita. Os socialistas alemães de Weimar foram os que foram mais longe, quando se aliaram aos corpos francos para liquidarem os spartakistas; na Rússia, os bolcheviques  foram acabando com todas as outras esquerdas e as frentes populares de 1936, a espanhola e a francesa, também acabaram por se desfazer.

É que há, de facto, ideias e princípios diferentes e consequentes, além das conjunturais raivas ao «inimigo principal». E as ideias e os princípios têm consequências. Na esquerda e na direita. E até no centro.






O tenente-coronel Brandão Ferreira

sobre o processo de Manuel Alegre


João José Brandão Ferreira, Oficial Piloto Aviador
Cartão de cidadão n.º 02171021
B.I. Militar n.º 014391-L

NOTIFICAÇÃO PÚBLICA. O cidadão Manuel Alegre, deputado e conselheiro de Estado, interpôs, em 2011, contra a minha pessoa, um processo judiciário em que me acusava de difamação por via de um artigo que escrevi e foi publicado no Jornal «O Diabo», em 3/5/2010, intitulado «Manuel Alegre combatente por quem?».

Durante o processo surgiu a contingência de ter de efectuar despesas extra, necessárias à boa conclusão da contenda – a qual como se sabe, apesar de não referida nos órgãos de comunicação social, terminou no tribunal da Relação de Lisboa, pela improcedência da acusação. E absolvição do arguido.

Estávamos em Fevereiro de 2015.

Para fazer face às despesas referidas foi lançada, por pessoa amiga, a quem não é demais agradecer, uma subscrição pública, em universo seleccionado, tendo para tal sido aberta a conta bancária NIB 0035 0044 0007 2752 2004 4, da CGD.

Comprometi-me, na altura, a doar o remanescente, caso se verificasse, a uma instituição de solidariedade social.

No fim do processo, apurou-se o saldo de 2 554,53 euros, que foram doados, por transferência bancária, em 14/9/2015, para a Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA) – o que me pareceu adequado, por o processo ter tido como fulcro, o conflito em que Portugal foi chamado às armas para defender o seu território, seus naturais e respectivo património, entre 1954 e 1974.

A ADFA acusou a recepção de tal donativo através do ofício n.º 08/Del.Lisboa/2015, de 29 de Setembro de 2015.

Deste modo dou público conhecimento do ocorrido (e estarei disponível para esclarecer qualquer dúvida) não podendo esconder, comovido, o agradecimento a todos aqueles que depositaram confiança na minha pessoa e na causa que defendia, contribuindo com a sua generosidade para o bom desfecho do processo.

Penhorado me subescrevo, gritando bem alto o valor da Justiça e o nome de Portugal.





quarta-feira, 28 de outubro de 2015


Palestra sobre Cristóvão Colon



O Clube da Associação da Força Aérea (AFAP) organiza na próxima quinta-feira, dia 29 com início às 11,15h uma palestra sobre a Vida e a Pátria de Cristóvão Colon, na qual intervém a Direcção da Associação Cristóvão Colon, seguida de debate.

Convidamo-los a participar.

Entrada livre.

Clube AFAP - Av. Almirante Gago Coutinho 129, Lisboa


Cumprimentos


Carlos Calado
(Presidente da direcção ACC)





quarta-feira, 21 de outubro de 2015


A migração na Alemanha

«Oktoberfest» multicultural em Munique?


Norberto Toedter

Procurei notícias sobre como se teria desenvolvido, este ano, a tradicional OKTOBERFEST, em Munique. Estava marcada entre 19 de Setembro e 4 de Outubro. Ao mesmo tempo, estavam a chegar, diariamente, 10 mil refugiados, à estação ferroviária central da cidade. Nada vi nos noticiários. Nem o Google esclarece coisa alguma.

Em compensação, encontrei o texto de uma carta que uma médica checa escreveu a um amigo. Ela é anestesiologista e trabalha num hospital de Munique. Veja o que está a acontecer no actual ambiente multicultural da Alemanha, segundo o que ela relata e eu traduzi do inglês.

«Ontem tivemos uma reunião sobre como a situação aqui e noutros hospitais de Munique ficou insustentável. As clínicas não conseguem lidar com emergências e assim começam a enviar tudo para os hospitais.

Muitos muçulmanos recusam-se a ser tratados por funcionários do sexo feminino e, nós, as mulheres, recusamos-nos a trabalhar entre animais, especialmente africanos. As relações entre a equipa e os migrantes está indo de mal a pior. Desde o último fim-de-semana, migrantes que vão a hospitais têm que ser acompanhados por policias.

Muitos migrantes têm SIDA, sífilis, tuberculose aberta e muitas doenças exóticas que, aqui na Europa, nem sabemos como tratar. Se recebem uma receita, aprendem na farmácia que têm que pagar com dinheiro. Isto leva à explosão de insultos inacreditáveis, especialmente quando se trata de remédios para crianças. Abandonam as crianças com o pessoal da farmácia e dizem: Então, curem-nas vocês! Portanto, a polícia não tem que proteger apenas clínicas e hospitais, mas também farmácias.

Só podemos perguntar: Onde estão todos aqueles que, nas estações ferroviárias e na frente das câmaras de TV, mostram cartazes de boas-vindas?

Sim, por enquanto as fronteiras foram fechadas, mas um milhão deles já está aqui e, definitivamente, não seremos capazes de nos livrar deles.

Até agora, o número de desempregados, na Alemanha, era de 2,2 milhões. Agora vai ser 3,5 milhões. A maioria destas pessoas é completamente não-empregável. Um mínimo deles tem alguma educação.

E mais: as suas mulheres não fazem coisa alguma. Estimo que uma em dez está grávida. Centenas de milhares trouxeram consigo lactentes e crianças menores de seis anos desnutridas e negligenciadas. Se isto continuar, e a Alemanha reabrir as suas fronteiras, eu voltarei para casa, na República Tcheca. Ninguém vai poder segurar-me aqui, nem com o dobro do salário. Eu vim para a Alemanha e não para África ou Próximo-Oriente.

Mesmo o professor que dirige o nosso departamento falou da tristeza em ver a mulher da limpeza a fazer o seu serviço, há anos por 800 euros, e depois encontrar homens jovens estendendo a mão, querendo tudo de graça e, quando não conseguem, alteram-se.

Eu realmente não preciso disto! Mas estou com medo de, se voltar, encontrar o mesmo na República Checa. Se os alemães, com os seus recursos, não conseguem lidar com isto, lá seria o caos total. Ninguém que não tenha tido contacto com eles pode ter uma ideia de que espécie de animais que são, especialmente os de África, e como os muçulmanos agem com soberba religiosa sobre a nossa equipa.

Neste momento, o nosso pessoal ainda não foi reduzido, em consequência das doenças trazidas para cá, mas, com centenas de pacientes todos os dias, isto é apenas uma questão de tempo.

Num hospital perto do Reno, os migrantes atacaram a equipa com facadas, depois de trazerem um recém-nascido de 8 meses, que estava à beira da morte, arrastado através de meia Europa, durante três meses. A criança morreu, após dois dias, apesar de ter recebido os melhores cuidados, numa das melhores clínicas pediátricas da Alemanha. O médico teve que passar por a cirurgia e as duas enfermeiras foram para a Unidade de Tratamento Intenso (UTI). Ninguém foi punido. A imprensa local está proibida de noticiar. Nós ficamos a saber por e-mail.

O que teria acontecido a um alemão, se tivesse esfaqueado um médico e duas enfermeiras? Ou se tivesse jogado a sua própria urina, infectada por sífilis, no rosto da enfermeira e ameaçado-a de contaminação? No mínimo, iria ser preso imediatamente e depois processado. Com este povo, até agora, nada aconteceu.

Então, pergunto: onde estão todos aqueles que saudaram a sua vinda e os recepcionaram, nas estações ferroviárias? Sentados, bonitos em casa, curtindo as suas organizações não-lucrativas, aguardando ansiosamente os próximos comboios e o próximo lote de dinheiro para pagamento dos seus préstimos como recepcionistas???!!!

Se fosse por mim, arrebanharia todos estes recepcionistas e traria-os primeiro aqui, para a ala de emergência do hospital, para agirem como enfermeiros, depois para um alojamento de migrantes, para que possam mesmo cuidar deles lá, sem policias armados, sem cães policias, que hoje podem ser encontrados em todos os hospitais da Baviera, e sem ajuda médica.»

Eis o teor do desabafo desta profissional, que nos pode dar uma ideia do que está a ser preparado, como futuro, através da multiculturação, que está a ser impingida aos povos do velho continente, principalmente à Alemanha.





quarta-feira, 14 de outubro de 2015


Costa no seu labirinto


Maria de Fátima Bonifácio, Observador, 11 de Outubro de 2015

«Costistas» no PS são todos aqueles que se servem de António Costa para que usurpe o poder contra o eleitorado e lhes devolva a «importância», os «lugares», as prebendas e o acesso ao «spoils system».

Parto para a análise da intrincadíssima situação em que o País mergulhou, pela mão traiçoeira de Costa, de quatro dados que ou têm sido omitidos ou pouco valorizados. São, para mim, dados essenciais e decisivos. Essenciais significa essenciais. Decisivos significa que determinaram tudo até agora e continuarão a determinar no futuro. Apenas não sei qual é o limite temporal deste futuro, nem qual será o seu desfecho. Esses dados são:

1.º Costa é um homem absolutamente desesperado.

2.º Costa já não tem nada, mas mesmo nada de nada a perder.

3.º Tudo o que não seja chegar a primeiro-ministro não basta para o salvar.

4.º Costa não tem carácter, não é homem de palavra, não olha a meios.

O desespero é mau conselheiro em todas as circunstâncias. No caso de Costa, em que o desespero ainda por cima se conjuga com o vexame pessoal, a primeiríssima prioridade do ex-Messias é salvar a sua pele, custe o que custar, doa a quem doer, pague quem pagar. País, partido, eleitores e simpatizantes foram banidos do perímetro das suas preocupações, no interior do qual ele esbraveja como um náufrago para se salvar. Está disposto a tudo, a renegar tudo, a arrasar tudo, desde que ele se erga dos escombros – e escombros já há – e possa anunciar: venci todos, ganhei tudo! Da plateia do seu palco imaginário, o PCP e o Bloco soltarão uma sonora gargalhada. O triunfo anunciado por Costa repousa por inteiro nas mãos deles. No momento propício e oportuno para cada um destes dois adversários entre si, cada um deles lhe puxará o tapete para que todos possam ver que «o rei vai nu».

Costa já não tem nada a perder. Jogou tudo, apostou tudo naquele fatídico dia em que escarneceu da vitória «poucochinha» por que Seguro ganhara as europeias à Coligação. Ficou obrigatoriamente comprometido com o imperativo irrevogável de lhe contrapor um triunfo esmagador nas legislativas de 2015. Durante um ano andou levado em ombros, empunhando a taça dos vencedores, muito antes de ter vencido e de a batalha começar. Perdeu abjectamente. A muito ténue esperança que lhe restava (ou já nem isso?) a poucos dias do 4 de Outubro transmutou-se num ápice numa tormenta. O vexame era insuportável. De uma penada, perdia um curriculum de décadas, o sonho de uma vida, um presente triunfal, e diante de si abria-se um futuro vazio. É formado em Direito, mas não é jurista, e teria de recomeçar a advocacia por um segundo estágio. Não exerce profissão para que se possa virar. Aos cinquenta e quatro anos já não se pode começar nada. Sem um passado sobre o qual se continue a construir para a frente, o resto da vida não passará de um frustrante remedeio. Ou seja, não é vida. A solução para este desastre pessoal surgiu rápida: não vencera as eleições, mas ainda podia vencer o eleitorado.

Nos dias que se seguiram ao tétrico veredicto das urnas, Costa entrou na sua, muito dele, «espiral labiríntica». Em abono da verdade, já antes dera sinais: anunciara que chumbaria qualquer Orçamento de Estado que a Coligação apresentasse, no caso, enunciado como mera hipótese académica, de o «seu» PS não vencer com a maioria absoluta que diariamente implorava aos portugueses. Na noite televisiva, Costa apresentou-se amarelado e com ar grave. Declarou que não faria «coligações negativas», das que servem só para bota-abaixo. Mas não tardou a ser ele mesmo: com sorriso aberto e ar galhofeiro, garantiu à audiência que não se demitiria… Percebeu-se que se extinguira nele qualquer vestígio, ténue ou remoto, da mais elementar dignidade. E logo a partir de 5 de Outubro percebeu-se também, à medida que muitos socialistas começavam a rosnar, que em seu entender havia uma única coisa que o poderia ainda salvar: chegar, efectivamente, a primeiro-ministro de Portugal. Tudo o que fosse um milímetro menos disto não bastava, não dava para as necessidades (já direi quais eram). Tornar-se o mero líder de uma bancada comprometida com um «entendimento» com o governo Passos Coelho/Paulo Portas? Nem pensar.

Vamos então pôr mãos à obra e vencer o eleitorado. Um político honrado não faz uma coisa tão feia? Mas Costa já fizera coisas feíssimas! Como acontece com qualquer droga, o pior é começar: o vício entranha-se e naturaliza-se imediatamente. Em Fevereiro de 2013 assinara com Seguro o Documento de Coimbra, «Portugal Primeiro», para o qual disse que tinha contribuído e no qual também disse que se revia. Deu «os parabéns» a Seguro pelo «entendimento» a que se chegara e desistiu da sua candidatura a secretário-geral. Este documento de orientação estratégica, assinado por Costa e Seguro, foi aprovado pela Comissão Política do PS e serviria de base à moção de estratégia aprovada no Congresso do PS de 26-28 de Abril. Costa discursou: «Estamos aqui juntos, juntos somos fortes, juntos somos imbatíveis, juntos venceremos tudo: autárquicas, europeias e legislativas.»

Oito meses depois, em Janeiro de 2014, Costa rasga o Documento de Coimbra assinado por si, renuncia ao mandato de Presidente da CML que jurara cumprir até ao fim. E o resto já toda a gente sabe: ganhou por margem albanesa as primárias e defenestrou Seguro do Rato. Calçou os patins e durante algum tempo encontrou piso liso e desembaraçado. Ao primeiro teste à sua envergadura, falhou logo. António Nóvoa saiu-lhe ao caminho com muita poesia, candura e total abertura: outro homem disposto a tudo para chegar a Belém, com poucos escrúpulos (não sabia se era crente, nem se gostava mais do PS ou do PC), muitíssima ambição disfarçada de modéstia, e completa abertura: venha um governo de esquerda, acabe-se com esse aberrante «arco da governação». Problema: Nóvoa dividia o PS. Solução: um dia sim, outro dia não. Nóvoa ficou a cozer em lume brando para o que desse e viesse. E ainda hoje não se fartou de servir de roda sobresselente; outro homem de carácter.

Costa contratou Centeno para lhe dar números que ele não percebia. Who cares? Tinha números, tratava as coisas a sério. O generoso programa assente em tão claros números era sólido. Provavam matematicamente que a austeridade era dispensável sem com isso comprometer as obrigações para com a Europa, o Euro e o Tratado Orçamental. Mas a esquerda dentro do PS logo descobriu, sob o fresco verniz socialista de Centeno, um economista neo-liberal. Disto mesmo se queixava o Bloco, e também o PC: Costa não tinha a coragem de «cortar com as políticas de direita» com que o PS desde sempre andara amancebado. Costa encheu-se de mais coragem. A poucos dias do fim da campanha eleitoral deu uma valente guinada para a extrema-esquerda. E no dia seguinte às eleições perdidas, encheu-se da coragem toda: declarou guerra contra os eleitores.

Tenho-o visto como os grandes campeões de xadrez que se deslocam de mesa em mesa jogando com vários parceiros ao mesmo tempo. Mas Costa não é campeão de nada (com a possível excepção de um sórdido tacticismo). Transformou-se num pedinte que mendiga apoio para um governo seu. Renega a Tradição do PS como fronteira da liberdade e arrasta o partido pelo chão até às moradas dos seus piores inimigos. Nada disto o envergonha. E, espantosamente, não lhe ocorre que o feitiço se possa virar contra o feiticeiro. A primeira porta a que bateu foi a do PC, catedrático da astúcia estalinista. Jerónimo, aconselhado pelo ainda mais indefectível Francisco Lopes, mostrou-se afável, tolerante, aberto, com a singela condição de que o PS «corte com as políticas de direita» que ao longo das décadas têm feito dele um servo do Capital. Costa saiu satisfeito, a reunião foi «muito positiva». Ou seja, muito naturalmente, da noite para o dia, o PCP fizera uma transfusão de sangue e eliminara Cunhal, a Tradição e Toda a Tralha Estalinista. Costa meteu-se pela boca do lobo dentro e pediu o Diabo em casamento. Mas necessita de bigamia, porque os deputados comunistas não bastam. Amanhã, segunda, ainda terá de levar o PS a rastejar até à morada do Bloco.

Disse que já havia escombros. O PS sempre foi um partido com uma ala mais centrista e uma ala mais a puxar à esquerda. Sócrates deixou lá dentro uma facção própria que complicou esta antiga arrumação a que todos estavam habituados. Mas com António Costa, o Partido Socialista está inextricavelmente balcanizado: são os socratistas, os alegristas, os seguristas, os galambistas, os soaristas de Mário e de João Soares, alguma «tralha guterrista», e, surpresa das surpresas, os novíssimos «nunistas». Sim, nunistas, uma seita ruidosa cujo representante máximo, um tal Pedro Nuno Santos, Costa leva sempre consigo na augusta delegação socialista que peregrina pelas outras sedes partidárias. Galamba há muito que se celebrizou por ser sempre uma espinha cravada da garganta de qualquer moderado. De Nuno Santos só me lembro do momento em que berrou no Parlamento, com hercúlea coragem, «Quero lá saber da Troika ou da Europa!» Pelos vistos, singrou. Finalmente, há pelo menos ainda um grupo de «costistas». Mas quem são, afinal, os costistas? Indaguei junto dos meus amigos socialistas (que são a maioria). Ninguém me soube dizer ao certo. Concluí, portanto, por minha conta e risco. «Costistas» são todos aqueles que se servem de António Costa para que ele usurpe o poder contra o eleitorado e lhes devolva a «importância», os «lugares», as prebendas e o acesso ao «spoils system» a que já se tinham habituado. Uma excepção honrosa cumpre desde já destacar: Sérgio Sousa Pinto não teve estômago para semelhante caldeirada. Demitiu-se ontem do secretariado do PS.

Toda esta tropa heterogéna só perdoará a Costa a hecatombe em que lançou o partido se for transitória e rapidamente invertida. Costa carece do seu apoio para conferir existência coerente ao «costismo» e dispor de novo de um partido submetido à sua autoridade, que aliás nunca chegou a ser indiscutível. Para tanto, precisa de ser primeiro-ministro. Menos um milímetro do que isto já não lhe chega para salvar a sua pele. Pague quem pagar, pague o PS e o País todo. Porque se lá chegar, a história ainda estará muito longe de terminada.





domingo, 11 de outubro de 2015


O Coronel Comando Raúl Folques

foi condecorado como Oficial da Ordem Militar

da Torre e Espada, com Palma












Suicídio colectivo da Europa


F.S.

A Europa é como um edifício cujas fundações têm vindo a ser minadas de forma sistemática e programática nas últimas décadas. A ideologia revolucionária que, de forma paciente, vem levando a cabo este trabalho não tem o apoio da maioria das populações mas avança praticamente sem oposição. Porquê?

A resposta de certo modo é simples: uma máquina de propaganda colossal que tem nos grandes media (televisões, música, cinema e imprensa) os seus veículos privilegiados e uma fórmula mágica para fazer avançar a sua agenda – o relativismo moral.

O relativismo moral corrói as bases morais de uma sociedade, a sua identidade e convicções, proporcionando condições favoráveis à revolução. Não é por acaso que «moral» significa tanto costumes e valores como força mental. Nenhuma civilização histórica se fundou sob a dúvida, a incerteza ou o cepticismo. Ninguém combate por coisa nenhuma. Quem não possua convicções e valores não tem força mental para suportar os desafios e até os sacrifícios que a vida apresenta e requer. Está sempre mais perto da desistência e do conformismo. O que é válido para um individuo é-o em maior grau para uma sociedade.

Nas nossas sociedades o radicalismo revolucionário dos anos 60 e 70 (tanto na Europa como nos Estados Unidos que fazem parte da mesma civilização Ocidental) não se impôs como norma moral porque existia ainda uma matriz conservadora forte. No entanto ele produziu o resultado desejado que era o de abalar os alicerces morais do Ocidente e questionar os seus valores, abrindo caminho ao relativismo moral.

73% dos franceses tem uma visão negativa na presença islâmica na Europa.
Na foto, oração colectiva de muçulmanos numa rua de Paris.

É também importante perceber que o relativismo moral não é o fim em si mesmo da mentalidade revolucionária. Ele é um meio para promover a «igualdade» dos valores mas o objectivo final é substituir os valores antigos pelos revolucionários. Só os ingénuos – e existem muitos, que se prestam ao papel de serem instrumentos da revolução – acreditam no relativismo moral. Um indivíduo teria que ser criado num laboratório esterilizado da vivência humana para poder ser moralmente asséptico, moralmente neutro.

O relativismo foi e continua a ser um instrumento que serve para tornar aceitáveis práticas aberrantes ou até moralmente hediondas como o aborto, introduzindo propositadamente a confusão e pervertendo a linguagem para criar um véu que oculta a realidade. O exemplo mais claro disso é o do aborto, uma morte espontânea ou forçada que os seus promotores apresentam como «direito das mulheres» ou até como parte dos «direitos reprodutivos das mulheres».

Na fase em que nos encontramos, o relativismo está em vias de ser ultrapassado e de dar lugar a um discurso abertamente anti-valores morais e religiosos (já dominante entre as elites «bem-pensantes», ou seja aquelas que têm acesso aos grandes media). Um exemplo claro disso é o que se passa com a homossexualidade. O objectivo é suprimir todo o discurso que não seja de apologia da homossexualidade e respectivas uniões, inclusivamente por via legislativa. Foi assim inventado o «crime» da «homofobia» que é tão simplesmente a instituição do delito de opinião. Os programas curriculares das escolas estão já a endoutrinar as crianças e em breve as Igrejas serão forçadas a ministrar o matrimónio a pessoas do mesmo sexo sob pena de ilegalização.

No entanto, está ainda por determinar qual será o ponto de chegada desta senda revolucionária porque o assalto aos valores europeus conhece nos nossos dias uma nova frente que é a da ameaça da religião de Maomé. Esta prescreve a conversão forçada ou exploração económica dos não-muçulmanos e a aplicação universal da sharia ou lei islâmica, que entre outras provisões estende as normas sobre blasfémia aos não-crentes em Maomé.

Ora o mais curioso e intrigante nos nossos dias é que a esquerda europeia e norte-americana, que tanto combate os valores da religião cristã, seja hoje a grande defensora do Islão. As grandes estrelas de Hollywood e as figuras mais progressistas da esquerda ocidental surgem hoje com um discurso de defesa do Islão bem preparado, ainda que assente em argumentos ingénuos ou dissimulados e factos enumerados de forma parcial e selectiva. A conclusão que desejam popularizar é a de que o problema não reside na religião mas na interpretação extremista da mesma. É de facto uma posição tanto mais desconcertante quanto hoje todos sabem o que se passa na Arábia Saudita, país fundador, guardião dos lugares santos e da doutrina do Islão, e no Irão, país bastião dos xiitas, assim como no Paquistão, país fundado para acolher os muçulmanos da Índia, ou tantos outros. Não se percebe pois onde existe esse Islão moderado que os apologistas proclamam.

Por outro lado, o Islão militante é bem visível e já chegou à Europa e aos Estados Unidos, com atentados, ameaças de morte e ataques impiedosos aos alegados blasfemos ou simples infiéis. Sob a pressão e ameaça do Islão militante, o Ocidente já aceitou a auto-censura, capitulando naquilo que alegadamente seria um valor sacrossanto das sociedades democráticas: a liberdade de expressão. A Europa capitula igualmente na sua soberania, ao abdicar do controlo das suas fronteiras.

Sendo impossível determinar quais as intenções finais da esquerda revolucionária, entre a qual as evidências nos forçam a incluir Angela Merkel e François Holande (que continuam a promover o fluxo descontrolado de muçulmanos para a Europa, ao mesmo tempo que permitem que os cristãos, «esquecidos e traídos»[1], sejam perseguidos e assassinados no Médio Oriente), nem por isso deixamos de ver com clareza as consequências da sua acção: a destruição da cultura e das bases morais da civilização Ocidental. A esquerda está objectivamente a destruir todos os valores tradicionais da Europa ao mesmo tempo que promove o expansionismo islâmico. As incongruências são óbvias mas as consequências são imprevisíveis.


[1] http://rr.sapo.pt/noticia/36406/diario_do_sinodo_8102015





sexta-feira, 2 de outubro de 2015


«Refugiados»

Conselho Europeu: qual o preço da verdade?


Mário David, Vice-presidente do Partido Popular Europeu

Quem não se sente incomodado e solidário com as imagens de sofrimento que quotidianamente entram nas nossas casas relativas ao fluxo de migrantes que invade a Europa? Mas que podemos fazer?

O Conselho Europeu desta semana, infelizmente, voltou a ser apenas politicamente correcto! E, por essa razão, a desiludir os cidadãos europeus, excepção feita aos populistas e demagogos de esquerda e de direita!

A principal crítica é que o Conselho nos ocultou a verdadeira dimensão do problema. Na véspera os ministros do Interior anunciaram com fanfarra que tinham «resolvido» a distribuição de 120 mil refugiados na UE.

O Alto Comissário das Nações Unidas para os refugiados falava em «apenas» 500 mil, um por cento da população comunitária, que a nossa crise demográfica «facilmente» absorveria.

O que foi dito em Bruxelas e continua sem ser divulgado e enfrentado é que se esperam, nos próximos 6 meses, 4 milhões!
 Só falando de refugiados sírios já deslocados nos países vizinhos.

As mensagens que partem da Europa para familiares e amigos e que são interceptadas são extremamente simples: «venham, eles aceitam todos»!

Sabe-se que na Síria há mais de 8 milhões de deslocados. Não estamos a falar da Líbia, Iémen, Iraque, Afeganistão, Paquistão, Nigéria, Eritreia, Somália, Mali, etc, etc… É certo que em países como a Jordânia metade da população são refugiados, se adicionarmos os palestinianos e os sírios. No Líbano, nos ensinos primário e secundário, já há mais alunos sírios que libaneses.Mas é assim que vamos querer viver?

Os Serviços de Informações europeus já tinham notado no início da Primavera uma mudança de atitude nos campos de refugiados, a que não será alheia uma instigação turca e russa.

As autoridades egípcias, quando solicitadas a semana passada a aumentar em troca de substancial ajuda financeira o contingente de cerca de 150 mil sírios que já albergam,responderam ter antes 10 milhões de emigrantes económicos egípcios desejosos de atravessar o Mediterrâneo.

A Polónia está a receber 1 milhão de ucranianos por ano. Os deslocados da guerra na Ucrânia já são outros 4 milhões.

Segundo a ONU, no mundo há 60 milhões de refugiados: 20 milhões estão na nossa vizinhança próxima.

África tem agora 1 bilião de pessoas, e o número vai duplicar até 2050. Mais 1 bilião! Para bom entendedor… 35 anos voam num ápice! Mas nem é preciso esperar tanto: o que agora é difícil de gerir, dentro de 6 meses será impossível!

A História ensina-nos a nunca desperdiçar uma crise para perspectivar o futuro e fazer as necessárias reformas. O Conselho Europeu não o fez!

Preferiu minorar as consequências em vez de enfrentar as causas.

Atiram-se mais de 1 bilião de euros para cima do problema, não que a assistência humanitária não seja também imprescindível. Mas reformas, nada! Não há uma linha sobre uma proposta de uma ambiciosa refundação de Schengen, em que:
  • a FRONTEX deixe de ser uma simples Agência Europeia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas mas seja uma verdadeira força de segurança europeia;
  • a liberdade de circulação seja um privilégio dos cidadãos comunitários, e em que haja a coragem de estabelecer mecanismos de controlo para cidadãos não comunitários;
  • os vistos Schengen sejam atribuídos nas representações diplomáticas da UE, com um procedimento uniforme, e não nas embaixadas dos Estados Membros;
  • a União adopte uma política de asilo e migração comum;
  • as condições de acolhimento e segurança social dada aos refugiados seja idêntica nos 28 Estados Membros, para que estes não «escolham» por razões puramente económicas onde se querem instalar;
  • seja criado um grupo Schengen permanente, à semelhança do Euro Grupo;
  • a protecção das fronteiras externas seja algo de sagrado e universalmente respeitado: sejam os postos fronteiriços, sejam os milhares de quilómetros de «fronteiras verdes».

E depois há a LEI. Que também os refugiados têm que cumprir.

A começar por aquela que foi feita expressamente para os proteger: a Convenção das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados, conhecida por Convenção de Genebra de 1951, cujos limites geográficos e temporais foram alargados pelo Protocolo de 1967, subscrito por 146 países. Mesmo alongando este texto, é fundamental recordar o número 1 do artigo 31: «Os Estados Contratantes não aplicarão sanções penais, devido a entrada ou estada irregulares, aos refugiados que, chegando directamente do território onde a sua vida ou liberdade estavam ameaçadas, entrem ou se encontrem nos seus territórios sem autorização, desde que se apresentem sem demora às autoridades e lhes exponham razões consideradas válidas para a sua entrada ou presença irregulares».

A expressão «chegando directamente» impõe que no primeiro Estado a que chegam, e que seja um Estado considerado «seguro» pela comunidade internacional, o refugiado se apresente e se faça recensear como tal, indicando qual o país para onde se quer deslocar e aguardando a competente autorização.

Ora o primeiro país onde estes refugiados transitam (e só nos referimos aos sírios, não às dezenas de milhar de outros refugiados económicos que vêm «à boleia») é a Turquia. A Turquia, membro da OTAN e candidato à União Europeia, não é um país «seguro»? Nem a Grécia? Nem a Macedónia, a Sérvia, a Bulgária, a Croácia? Porque nenhum deles exerceu as responsabilidades assumidas ao subscrever a Convenção? E destes, a Grécia, país do espaço Schengen, porque não cumpriu também a Convenção de Dublin? Claro que estamos habituados à permissividade grega, agora «abençoada» pelo facilitismo sirizista!

Assiste assim a qualquer Estado, à luz da Lei Internacional, devolver ao Estado vizinho de onde entrou, qualquer refugiado que não tenha cumprido essa regra. Por isso, para não «premiar» incumprimentos nem aventuras, alguns Estados Membros já manifestaram a intenção de acolher apenas refugiados que se encontram registados nos países limítrofes da Síria, e não os participantes nesta «invasão».

O tema é demasiado sério, o drama humano assume proporções inaceitáveis, mas a realidade e a dimensão que pode assumir obrigam a uma atitude humanitária mas bem ponderada e proporcional às nossas capacidades.

É preciso resolver a guerra na Síria; a questão do Daesh é neste momento o maior factor de terrorismo, fanatismo e intolerância no mundo; ir às causas deste êxodo incluindo os problemas dos refugiados económicos e dos refugiados ambientais.

Mas a questão coloca também problemas políticos graves a curto prazo para as nossas sociedades.Não nos referimos a valores culturais, religiosos, civilizacionais ou securitários, embora pudéssemos desenvolve-los todos. Manter o laxismo que a esquerda propõe neste caso, amplificado por uma comunicação social que joga com as nossas emoções, está a alimentar um crescimento galopante dos Partidos xenófobos de esquerda e de direita, que ameaçam minar a nossa democracia.

Do Conselho Europeu os cidadãos comunitários esperavam mais responsabilidade, mais transparência!

O assumir de responsabilidades implica reconhecer que, mesmo com toda a boa vontade, infelizmente a Europa não pode receber todos os que o desejam!