BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

sábado, 31 de janeiro de 2015


A guerra do Islão


José António SaraivaJornal Sol, 26 de Janeiro de 2015

Depois dos atentados em Paris, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, e a chanceler alemã, Angela Merkel, fizeram uma declaração solene: «A luta é contra o terrorismo, não é contra o Islão».

O pior inimigo dos muçulmanos que hoje vivem na Europa é a inacção dos Governos nacionais – permitindo uma liberdade de acção aos fundamentalistas que acaba por virar a opinião pública contra toda a comunidade islâmica

A intenção era óbvia: tentar precaver acções racistas contra os muçulmanos – e, ao mesmo tempo, acalmar os países islâmicos amigos.

Mas dizer isto é tentar tapar o sol com a peneira.

Porque este tipo de terrorismo é indissociável do Islão.

Os terrorismos não são todos iguais – e o terrorismo islâmico tem características próprias, sendo completamente diferente dos terrorismos que conhecemos na Europa.

As organizações terroristas europeias das últimas décadas – o Baader-Meinhof na Alemanha, as Brigadas Vermelhas em Itália, o Sinn Fein na Irlanda, a ETA no País Basco, as FP-25 em Portugal – actuavam geograficamente e tinham objectivos políticos concretos.

O terrorismo islâmico, pelo contrário, não é localizado geograficamente – está disseminado por todo o planeta – e não tem um objectivo político determinado – visa atingir a civilização Ocidental no seu conjunto.

Há quem, como Ana Gomes, tente explicar o terrorismo islâmico com base nas más condições de vida ou numa deficiente integração dos muçulmanos nos países de imigração.

Ora, dizer isto é não compreender o fenómeno.

Se as condições de vida produzissem terroristas, já teríamos visto muitos pobres em Portugal, atingidos pela austeridade, pegarem em metralhadoras e irem por aí fora a matar pessoas.

E se fosse pela deficiente integração, muitos africanos em Portugal já se teriam transformado em homens-bomba.

As condições de vida e o desenraizamento podem facilitar o recrutamento de operacionais, mas a raiz do terrorismo islâmico é outra.

E se fosse esta também não teria solução, pois a Europa não vai sair da crise tão cedo e a integração dos muçulmanos nas sociedades europeias nunca será completa...

Como se vê em França, na Bélgica, em Inglaterra ou na Alemanha, as populações de origem árabe, por exemplo, conservam em geral os seus hábitos de vida: comem a sua comida, vestem à sua maneira, professam a sua religião, lêem os seus jornais, vivem nos seus bairros.

E depois, em virtude de serem cada vez mais associados ao terrorismo, os muçulmanos são olhados com desconfiança pelo resto da população – o que agrava a segregação.

Perante um muçulmano, as pessoas hoje pensam: quem sabe se por detrás deste homem não se esconde um terrorista?

Ao contrário de outros terrorismos, o terrorismo islâmico é de natureza religiosa – embora haja dificuldade em aceitar esta ideia, porque a cartilha marxista, que continua a condicionar o pensamento de muita gente, contempla sobretudo as condições socio-económicas.

Mas basta olhar para a História para o perceber: a guerra entre o Islão e o Ocidente cristão vem de muito longe (e nós sabemos isso melhor do que ninguém, pois ajudámos a expulsar os «infiéis» da Península).

Sucede que, ao contrário do cristianismo, o islamismo conservou uma vertente fundamentalista e violenta, bem expressa nas atrocidades de Khomeyni, de Bin Laden ou do Estado Islâmico.

E o fundamentalismo não tem parado de crescer nos últimos tempos – conquistando cada vez mais terreno no Norte de África e multiplicando os atentados terroristas pelo mundo fora.

Neste momento, a Europa é um paraíso para os terroristas islâmicos, pela ausência de fronteiras nacionais, pela liberdade de movimentos, pela liberdade de propaganda, etc.

Em nenhuma parte do mundo existem tais condições.

Ora isto pode fazer do continente europeu, nos tempos que aí vêm, um palco privilegiado para os ataques terroristas.

Até porque aqui vivem 50 milhões de muçulmanos, possibilitando que eles se escondam com tremenda facilidade (procurar um muçulmano em certos países da Europa é como procurar agulha em palheiro) e oferecendo um campo de recrutamento  muito grande.

Enfrentar o terrorismo islâmico na Europa é uma tarefa ciclópica.

Mas há uma coisa a fazer antes de mais nada: abandonar os preconceitos ideológicos, os complexos de esquerda e os clichés – e aceitar pôr tudo em questão.

A recusa dos partidos do sistema em debater descomplexadamente a imigração, está a entregar à extrema-direita o monopólio do debate sobre este tema.

Ora, isso é perigosíssimo.

Os partidos centrais têm de ser mais activos e firmes no combate a este flagelo.

Não podem revelar a passividade e a inocência que têm demonstrado.

Como aceitar, por exemplo, que alguns imãs continuem a pregar livremente a violência e a recrutar  homens nas mesquitas de Paris ou Bruxelas para ataques terroristas?

Como admitir que em Londres haja municípios ostentando à entrada placas dizendo: «Está a entrar numa zona controlada pela sharia [lei islâmica]»?

É inadmissível.

Muitos europeus começam a estar cansados, com medo, aterrorizados mesmo – e, se os Governos não derem respostas concretas, o racismo anti-muçulmano na Europa pode ficar fora de controlo.

E os partidos da extrema-direita continuarão a crescer eleitoralmente e começarão a ganhar eleições.

O tempo urge.

O discurso politicamente correcto já deu o que tinha a dar e não convence ninguém.

Os próprios muçulmanos estão fartos dele, pois a sua vontade é que se comece a separar o trigo do joio, não pagando o justo pelo pecador.

O pior inimigo dos muçulmanos que hoje vivem na Europa é a inacção dos Governos nacionais – permitindo uma liberdade de acção aos fundamentalistas que acaba por virar a opinião pública contra toda a comunidade islâmica.





sexta-feira, 30 de janeiro de 2015


A fuga de pessoal navegante da F. A.


João José Brandão Ferreira, Oficial Piloto Aviador

Com a constante fuga de pessoal navegante da Força Aérea, do serviço activo – pois de uma verdadeira fuga se trata – as esquadras que operavam os helicópteros EH 101 (e não só) – uma excelente, complexa e, naturalmente, cara aeronave – ficaram muito decapitadas de pilotos, nomeadamente comandantes de bordo. Tal facto levou, por exemplo, à incrível situação do helicóptero (deviam ser, no mínimo dois), que está destacado no Arquipélago da Madeira, não tivesse a tripulação completa, sendo o comandante de bordo, transportado de Lisboa (de Falcon) em caso de emergência SAR (busca e salvamento). Caso houvesse disponibilidade de avião e de piloto, acrescentamos nós.

A FA conseguiu, ao fim de seis meses, formar um novo comandante de bordo, obviando-se assim à situação. Devido às restrições orçamentais continuadas e outras, a FA encontra-se, já há muito, a viver três paradoxos: o de haver poucos pilotos que voam «de mais»; haver outros tantos que voam de menos (ou pura e simplesmente, não voam) e, mais grave de tudo, está quase sem capacidade para formar novos pilotos, nem de regenerar as qualificações dos existentes.





quinta-feira, 29 de janeiro de 2015


Oposição extraparlamentar

em marcha na Alemanha


António Justo

PEGIDA é o barómetro do estado de espírito da Nação

Numa sociedade em que o tema sobre estrangeiros desfruta de um interesse relevante tanto positivo como negativo, organiza-se uma oposição extraparlamentar que quer manifestar o seu descontentamento com a política dominante. Desta vez saem regularmente à rua os que não têm oportunidade de se expressar.

O movimento PEGIDA(1) surge, do descontentamento de massas, numa época política em que a democracia já não age em relação aos acometimentos do neocapitalismo e aos problemas sociais, limitando-se a reagir e a esconder-se por trás de um discurso público onde sobressai a hipocrisia. O povo desorientado cada vez se vê mais confrontado com discursos em que falta a cultura dum debate à luz da dignidade humana que deveria ser a matriz da religião, da democracia e da discussão. Os políticos não entendem a voz do povo e o povo sente-se manipulado por interesses que não são os seus.

Causas de insatisfações manifestadas na sociedade europeia-alemã

Uma maioria silenciosa expressa-se em diversos grupos que lhe procuram dar voz. Um sistema social, com jovens e idosos pobres, desesperançados sem perspectivas profissionais, desempregados de longa duração, carentes sociais dependentes da assistência social sem lóbi, tem o descaramento de, com medo, difamar um movimento pacífico dos que não têm a chance de se tornarem visíveis nem oportunidade de dominarem as páginas dos jornais como outros grupos. A pressão na Alemanha exercida, pelos partidos estabelecidos e pela sua imprensa, sobre um movimento popular torna-se avassaladora. Quando o chanceler Kohl exigia maior rigor em relação aos delinquentes estrangeiros até o SPD esteve de acordo, mas agora que Pegida exige o mesmo, é considerada «indecente». (Penso que a exigência formulada é problemática, mas usar dois pesos e duas medidas para estigmatizar um grupo, como se faz hoje nos media contra a mesma tese, não testemunha a equidade na argumentação). Torna-se sempre problemático quando uma parte banaliza a problemática e a outra a singulariza. Tolerância deve valer para todos.

As teses escritas por Pegida soam bem mas os cartazes das manifestações permitem suspeita de infiltração de forças fundamentalistas interessadas em fender a sociedade. As teses são aceitáveis mas «sob uma fachada pode mover-se algo diferente». Medos reais ou difusos de manifestantes e contramanifestantes procuram encontrar qualquer pretexto para drenar o seu vapor. A raiva do povo foi crescendo ao observar que por exigências de muçulmanos (e outros por trás deles), têm sido fórmulas de juramento alteradas e o crucifixo e certos símbolos cristãos têm saído de lugares públicos; além disso observam o sistema de excepção com horários em piscinas públicas para mulheres muçulmanas, isenção de participação em visitas de estudo e em aulas de ginástica; além disso nomes de feiras tradicionais como o Mercado de Natal têm cedido o nome para Mercados do Inverno, etc., tudo incomoda ao não serem verificadas contrapartidas. Aqui junta-se o interesse de muçulmanos ao de organizações secularistas que não suportam referências públicas ao cristianismo (assim muita da agressão contra muitos muçulmanos deveria ser procurada noutros meios que instrumentalizam a religião, como se dá num radicalismo de extrema-esquerda em torno de Charlie). Tudo isto torna mais difícil identificar as causas da insatisfação que depois é atirada para as costas da religião. (Em Portugal também se assiste a uma luta contra a face pública do cristianismo por parte de um socialismo e de uma maçonaria radicais, não se podendo culpar os muçulmanos por tal). Os muçulmanos além da sua situação problemática de comunidade minoritária que se quer afirmar é utilizada por forças secularistas camufladas radicais (instaladas nos estados e com grande lóbi na UE) como pretexto para impor interesses que não têm nada a ver com os religiosos, pelo contrário.

Quem apoia incondicionalmente as caricaturas de Charlie e critica as manifestações de Pegida julga com duas medidas. As caricaturas expressam, a seu modo, as suas críticas e as demonstrações expressam pacificamente, a seu modo, os seus medos colocando perguntas à classe política dominante e a que esta não responde e adia.

A classe política sente-se insegura e questionada

O fenómeno Pegida e as reacções em torno dela são típicos da sociedade alemã; através das intervenções dos políticos nos media, das manifestações e contramanifestações, formam-se consensos que estabilizam o sistema.

Com Pegida a classe política sente-se especialmente incomodada porque o movimento parece conseguir expressar não só os rumores do ventre popular mas também os receios da classe média. O novo partido AfD já metia medo à actual constelação parlamentar e agora junta-se Pegida, associação de utilidade pública, com temas problemáticos quentes que poderão desestabilizar, nas próximas eleições, o partido CDU. O perigo para a concorrência partidária é real, Merkel (CDU) nunca se expressou tão claramente como fez agora em relação a Pegida embora este movimento se expresse dentro da conformidade democrática!

Para a classe política, o importante é trazer o povo alinhado e neste sentido, não importa a argumentação fundada, quando muito, a opinião!

Nas ondas do sentimento, longe das raízes dos factos, surge a provocação de grupos de manifestantes que fomentam conflitos porque cada qual rebaixa o outro em nome do seu direito à liberdade esquecendo que a sua liberdade deve conter a liberdade do outro. Em luta todo o pretexto vale e assim todos se tornam culpados. Pegida tem medo da imigração muçulmana e os manifestantes contrariadores têm medo de perder o poder ou de movimentos de centro-direita virem a ocupar parte dos seus nichos na sociedade e na política.

A sociedade encontra-se doente e cheia de preconceitos tanto nos que motivados pela emoção como, em grande parte, nos que aparentemente motivados pela razão.

Massas à deriva

Tudo se limita a reagir sem pensar as coisas até ao fim. Os fundamentalistas servem-se da generalização, dum modelo de pensar a branco e preto não poupando atributos como «islão terrorista» e «pegida nazi». Outrora argumentava-se com o comunismo para dividir e ordenar a população, hoje faz-se o mesmo com a religião e com grupos incómodos ao sistema. A liberdade de opinião e manifestação deve valer para todos, também num sistema em que o desprezo do pobre não é considerado racismo nem a extrema diferença entre pobre e rico é tida como discriminação.

Os caricaturistas sob a bandeira republicana e em nome da liberdade provocaram muita gente e sentiam-se no direito de ridicularizar a religião, como se não houvesse outros valores ao lado da liberdade nem outros valores a defender senão os do estado laico. O outro lado reage em nome de Deus para calar a voz secular. Os pequenos grupos de provocadores instrumentalizam politicamente a religião e os estrangeiros para rasgarem a sociedade. Como quem usa a violência ganha, a curto prazo, a sociedade tornou-se mais violenta.

A Europa está com medo que a sua fortaleza não resista à sua preponderância económica e cultural; tem medo de ver os seus valores ameaçados (Charlie, Pegida, manifestantes e contramanifestantes). Aqui no centro da Europa, a sociedade ferve; o que impede a explosão é o facto de ter um alto nível de vida económico e social. Um medo difuso e uma insatisfação geral provocam um clima de guerrilha entre uns e outros. Há muito que a Europa não age, apenas reage às investidas do neocapitalismo e aos problemas sociais. A consequência é uma magnetização política e social fomentadora duma desconfiança onde, perante a incapacidade da política, cada qual procura ganhar à custa do outro.

Por vezes a imprensa corre o perigo de apresentar os terroristas como vítimas; por outro lado transmitem a impressão que religiões são o instrumento propício, para a origem de guerras, lançando, além disso, todas as religiões no mesmo pote. O fundamentalista não está interessado em construir pontes, arrenda a razão e a verdade só para si.

Uns defendem a multicultura outros a intercultura.(2) Precisa-se de gente que saiba encontrar o ponto de intersecção dos pontos comuns para, a partir daí, se construir pontes no diálogo social. Tarefa difícil atendendo à força dos lóbis e ao pensar politicamente correcto em função duma classe política promiscuída com a oligarquia do capital. Quem não tem lóbis não tem voz nem risca no sistema.

Gueto contra gueto, generalizações simplistas, muita lavagem ao cérebro, a má avaliação de uns e outros constituem impedimento para encarar os assuntos no seu âmago. Precisa-se de mais ironia em relação à opinião pública e à opinião do outro. Uns media acríticos e acólitos da classe política falhariam a sua função social se continuassem a ter de esconder factos também incómodos em relação à realidade social com a desculpa de quererem impedir argumentos que xenófobos poderiam usar. A focagem deve ser centrada nas falhas da política e da economia que manifestam um vácuo de acção onde prospera a dessolidarização da sociedade.

Os muçulmanos têm de esclarecer que os extremismos de jihadistas e do Estado Islâmico não são consequência do Corão e das Hadith; Pegida tem de se distanciar de extremismos e a política tem de deixar de se envergonhar do cidadão. Pegida reage com medo do islamismo e este medo, se articulado com agressão, leva o muçulmano a encerrar-se em si mesmo com medo de se manifestar fora. O medo e a luta não ajudam ninguém mas poderiam levar os mais distantes a ocupar-se a fundo do assunto.

Todo o crente ou ateu que, em nome da ciência ou da religião, se arroga o monopólio do saber, para condenar ou desqualificar o outro, segue as pegadas do fundamentalismo, alimentando-se no mesmo húmus que conduz ao radicalismo das barbáries de Paris e Nigéria. É fundamentalista um movimento, um partido, uma ciência, uma ideologia ou uma religião que se considere possuidor da razão e da verdade em relação aos concorrentes ao querer impô-la. A exclusão e a generalização alimentam o fanatismo. Todos somos maus, quer sejamos estrangeiros ou alemães, ateus, cientistas ou religiosos, quando se trata de atacar e julgar o outro! Por isso toda a afirmação tem apenas um aspecto de luz com muita sombra a acompanhá-la.


(1) PEGIDA é a sigla que designa em português «Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente»; a associação pretende: migração selectiva, política de lei e ordem mais estrita, a reconciliação com a Rússia e atitude crítica em relação à UE. O seu objectivo é «promoção da capacidade de percepção política e a consciência de responsabilidade política». PEGIDA organiza manifestações às segundas-feiras desde 20.10.2014 em Dresden, tendo-se associado outras cidades à iniciativa. O atentado de Paris ajudou a dividir a sociedade civil. Na Alemanha os ânimos da classe disputante encontram-se muito acesos.

(2) A problemática em torno da imigração é um sintoma de causas indiferenciadas que se apresenta como um pretexto para protestar contra a classe política distanciada das preocupações populares. Esquerda e direita procuram pescar turbando as águas do outro. Uma sociedade só orientada para o consumo e para a posse torna-se susceptível de demagogia. Esquece-se a experiência de estrangeiros descriminados mas também a de jovens alemãs serem muitas vezes apelidadas de «cadela vadia alemã» ou seja prostituta pelos seus hábitos sociais não corresponderem a códigos turcos ou árabes. Também a existência de bairros em cidades alemãs onde se não ouve falar alemão causa medo a muito cidadão vizinho. Denegrir uns ou outros não serve a democracia. Verifica-se que ao contrário do que acontece nas manifestações da Pegida, nas manifestações paralelas contra ela praticam-se actos violentos e ataques contra a polícia mas os custos de proteger as manifestações são atribuídos aos manifestantes pacíficos. A imprensa, geralmente mais ao lado da classe política ataca Pegida e não comenta os ataques violentos de manifestações de grupos de esquerda.





quarta-feira, 28 de janeiro de 2015


A questão das ilhas Selvagens


João José Brandão Ferreira Oficial Piloto Aviador

A Espanha único país com o qual voltámos a ter fronteiras desde a conquista de Ceuta, em 1415, continua a fazer-nos má vizinhança por causa das Ilhas Selvagens.

A questão última gira à volta de uma área de 10 000 Km2, que uma proposta do Estado Espanhol sobre o alargamento da Plataforma Continental das Canárias nos iria «roubar», caso seja aprovada.

Está na altura do que resta do governo português sair da sua modorra cobardolas, a que normalmente se remete, e faça qualquer coisa com verdadeiro significado político.

Dou alguns exemplos.

Colocar a resolução do problema de Olivença em cima da mesa na próxima cimeira Luso-Espanhola (não «Ibérica»).

Enviar uma ou duas fragatas e instalar, temporariamente, um pelotão de fuzileiros e uma bataria de mísseis antiaéreos, nas Selvagens (o que só lhes fazia bem: respiravam ar puro e observavam a natureza no seu esplendor – caso ainda haja dinheiro para lhes pagar as ajudas de custo, bem entendido).

Em simultâneo, uma esquadrilha de F-16 «voaria» até Porto Santo onde fariam umas missões de treino aos «abibes» (filhotes dos Falcões – nome dado aos pilotos em treino na esquadra do mesmo nome).

Tal não parece má ideia, mesmo que pudesse causar alterações do foro psicossomático aos deputados do Bloco de Esquerda, dado o seu conhecido credo pacifista. Tinha ainda a vantagem de aproveitar as horas de voo disponíveis à pala da venda dos 12 F-16 à Roménia – quando os romenos se forem embora, a esquadra fecha…

Finalmente aproveitava-se para fazer um exercício de mobilização parcial dos cidadãos até aos 35 anos, que estejam na «reserva territorial», o que sempre dava para explicitar, á luz do dia, o caos que uma tal decisão provocaria! Etc..

Acredito, porém, que nada disto se venha a passar; inclino-me, por outro lado, que se estabeleçam, á sorrelfa, umas conversações quaisquer em que os governantes «tugas» vão ceder em toda a linha, inventando-se uma contrapartida piedosa, para salvar a face.

*****

Abandonado que foi, por um governo, o programa dos «Navios de Patrulha Oceânica da Classe Viana do Castelo», que foi uma concepção da Armada Nacional, por via do encerramento dos estaleiros sitos na cidade que lhe deu o nome, vai agora comprar-se quatro patrulhas («Stanflex 300)», em segunda mão, à Marinha do Reino da Dinamarca.

Tal desiderato já foi aprovado na revista Lei de Programação Militar – sendo bom lembrar que, até hoje, nunca uma lei destas foi cumprida na sua plenitude, estando constantemente a ser revistas, significando na prática, ir-se cortando ou cancelando programas…

É lamentável que tudo isto tenha acontecido.

Primeiro porque a Marinha não vai obter o que pretendia e melhor cumpria os requisitos operacionais estabelecidos; depois, porque é material já usado, com uma expectativa de vida operacional limitada e implica mais um sistema logístico dispendioso; por último porque o País vai perdendo toda a capacidade de construção naval e de manter conhecimentos nesta área. Ficamos assim, sem qualquer autonomia e inviabilizando qualquer capacidade de exportação futura.

A cegueira estratégica das «elites» governantes anda ao nível das fossas abissais.

*****

A saga dos submarinos continua. A confusão também.

Esta confusão é, aliás, muito conveniente a quem, neste âmbito, não tem bons propósitos.

Uma distinção é prioritária fazer á cabeça: a de que a necessidade e a qualidade dos submarinos não têm nada a ver com eventuais actos de corrupção ou atropelos legais, na fase da sua aquisição.

Ora esta distinção não aparece clara nem ninguém fala nela, o que parece ser de propósito.

É preciso deixar bem claro, e assentar, que os submarinos são absolutamente necessários aos interesses nacionais; ao conceito estratégico de defesa nacional, aprovado, e às missões, dispositivo e sistema de forças que dele decorrem.

Aliás, deviam ser três submarinos e não dois, como inicialmente aprovado.

É necessário ainda não haver dúvidas que a qualidade dos submersíveis nunca esteve em causa, pois são do melhor que se fabrica e permitem às FA cumprirem um leque alargado de missões, com uma flexibilização táctica notável e, até, com alguma capacidade estratégica.

O seguinte ponto a esclarecer é que, os militares nada têm a ver com o negócio da compra dos submarinos, pois há muito que o poder político teve o «cuidado» de retirar os organismos militares do circuito da compra e venda de equipamento militar.

Por último o que parece ter corrido bastante mal é o processo das contrapartidas que são oferecidas/negociadas, a fim de tornar o contracto mais atraente e, desse modo, influir na decisão.

Estas contrapartidas costumam tomar a forma de investimentos, ou compras noutras áreas de negócio; transferência de tecnologia; incorporação de componentes subcontratados a empresas nacionais, etc..

Acresce, neste caso, o facto do financiamento da compra dos submarinos ter sido feita através de bancos em sistema de «leasing».

Enfim, entre decisão e negócio o assunto arrastou-se por cerca de duas décadas…

Se no meio disto tudo foram pagas «luvas» ou «comissões» indevidas, a pessoas singulares ou para eventuais «sacos azuis» partidários ou, por via disso, houve qualquer outro dolo, ou dano; se houve má-fé nas contrapartidas, ou estas apenas serviram de «cortina de fumo» para «inglês ver», ou qualquer outro ilícito, cabe às autoridades judiciais investigarem e actuarem em conformidade.

Haver empenhamento político para que as coisas se esclareçam; emendar procedimentos/legislação (ou não) e castigar eventuais infractores, é o normal que se deve exigir.

Até lá deixem os submarinos em paz e a Marinha operá-los e mantê-los.

Tenha-se esperança que nunca seja necessário usar as suas armas em termos reais, mas que não se hesite em fazê-lo caso seja necessário.

É que já não há pachorra!

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Com a constante fuga de pessoal navegante da Força Aérea, do serviço activo – pois de uma verdadeira fuga se trata – as esquadras que operavam os helicópteros EH 101 (e não só) – uma excelente, complexa e, naturalmente, cara aeronave – ficaram muito decapitadas de pilotos, nomeadamente comandantes de bordo.

Tal facto levou, por exemplo, à incrível situação do helicóptero (deviam ser, no mínimo dois), que está destacado no Arquipélago da Madeira, não tivesse a tripulação completa, sendo o comandante de bordo, transportado de Lisboa (de Falcon) em caso de emergência SAR (busca e salvamento).

Caso houvesse disponibilidade de avião e de piloto, acrescentamos nós.

A FA conseguiu, ao fim de seis meses, formar um novo comandante de bordo, obviando-se assim à situação.

Devido às restrições orçamentais continuadas e outras, a FA encontra-se, já há muito, a viver três paradoxos: o de haver poucos pilotos que voam «de mais»; haver outros tantos que voam de menos (ou pura e simplesmente, não voam) e, mais grave de tudo, está quase sem capacidade para formar novos pilotos, nem de regenerar as qualificações dos existentes.

Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes.

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Na sequência do escândalo dos «vistos gold», veio à tona, uma suspeita de actuação de elementos do Serviço de Informações de Segurança (SIS), que andariam a «limpar» provas de um dos detidos, mais concretamente o ex-director do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

Outros casos e suspeitas existem de actuação menos consentânea e até de ligações perigosas entre membros do SIS e negócios.

Passadas algumas semanas, o primeiro-ministro, algo discretamente, demitiu o director do SIS, suspeito de ligações à Maçonaria, substituindo-o pelo seu número dois, igualmente suspeito de pertencer à mesma agremiação.

Aliás confrontado com uma pergunta directa e pública de uma deputada do PSD – pergunta que não foi, certamente, inocente – o novel director, aos costumes disse nada.

Nesta questão de evitar que qualquer figura que vá ocupar um cargo público seja confrontado e tenha de responder a esta questão – o que seria do mais elementar bom senso e conveniência política – anda muito empenhado um antigo ministro socialista, também ele membro da «confraria do avental», e já com especiais responsabilidades na matéria, no seu curriculum.

Pergunta-se: porque é que o primeiro-ministro não aproveitou a ocasião para ir mais além, no «saneamento» dos serviços?

Porque se continua a manter possíveis membros de sociedades secretas/discretas à frente de organismos de especial relevância, sem tirar tal facto a limpo?

Porque é que, aparentemente, as obediências maçónicas têm tanto empenho em «infiltrar elementos seus nos serviços secretos? (Serviços que, desde 1974 são uma questão mal arrumada e ou, não funcionam, ou deixam muito a desejar).»

No estado em que estão as coisas, quando algum governo quiser endireitar os Serviços de Informação, vão ter que lá meter um militar, general ou não, que seja isento.

O que não se vislumbra que vá acontecer, já que esta gente dos Partidos, a começar no PSD, têm os militares na pior das contas. E, de resto, não descansaram enquanto não os tiraram de lá.





sábado, 24 de janeiro de 2015


Morreu o rei da Arábia Saudita,

promotor do terrorismo muçulmano


António Justo (extractos)

Morreu Abdullah, o rei da Arábia Saudita, o maior promotor do terrorismo islâmico sunita.


A Arábia Saudita financia o terrorismo internacional e a construção de mesquitas fora dos países islâmicos.

Na Arábia Saudita as mulheres só podem sair de casa na companhia de um homem, não podem conduzir e só podem estudar e casar com consentimento prévio. Desde 2001 já podem requerer um bilhete de identidade.

Pratica-se a tortura, o espancamento, o açoitamento, a privação do sono, a torção dos membros, choques electrostáticos, assim como a ameaça de mordidelas de animais; há execuções públicas como castigo normal para crimes como assassinato, adultério, sabotagem e apostasia.

Apesar destes crimes, o Ocidente é o grande aliado da Arábia Saudita.

A Arábia Saudita fomenta o wahhabismo (interpretação fundamentalista do islão) que produziu a Al-Qaeda e a ideologia do «Estado Islâmico».





Imigração ou invasão?







terça-feira, 20 de janeiro de 2015


Sobre os últimos eventos na terra da

«Liberdade, Igualdade e Fraternidade»


João José Brandão Ferreira Oficial Piloto Aviador

«By way of deception, Thou shalt do war»

Lema da Mossad (serviço secreto israelita)

Portugal teve a felicidade de nascer e formar-se neste cantinho ocidental da Europa.

Tivemos o azar de confinar com Castela/Leão o que nos importunou amiúde e a sorte da excelente companhia do Atlântico, autêntica janela de oportunidade e liberdade.

De riquezas naturais estamos remediados, assim tivéssemos tino para as explorar e preservar.

Tirando os abalos sísmicos fomos também bafejados pelo clima.

A coesão cultural, religiosa e linguística é outra riqueza extraordinária.

Só nos damos conta disto, porém, quando saímos de cá para fora e nos damos conta do que se passa noutras paragens.

Relativamente à emigração/terrorismo que é um dos (vários) problemas que estão em cima da actualidade política na Europa, também temos tido alguma sorte do nosso lado, embora não tenhamos feito muito por isso.

Como Portugal é excêntrico à grande massa continental e mesmo relativamente à Península Ibérica e, enfim, não sendo a economia brilhante, a quantidade de imigrantes que nos procuram tem sido relativamente pequena e ainda é gerível.

Não tem nada a ver com o que se passa na maioria dos países europeus, sobretudo aqueles que estavam do lado de cá da ex-Cortina de Ferro. E nós também não temos consciência disso.

De facto a comunidade imigrante estabilizou entre os 400 e 500 mil indivíduos, estando a decrescer há quatro ou cinco anos por via da «crise».

A grande maioria dos imigrantes vem de países que falam português – aquilo a que chamo de «pretos doces» – cujos problemas derivam apenas das gerações descaracterizadas, infiltrações de máfias do Leste da Europa e ainda de alguma banditagem brasileira que a degenerescência dos costumes daquele lado do Atlântico exportou para cá.

O número de muçulmanos é muito pequeno, a maioria com origem na Guiné e Moçambique e temos tido a sorte do líder da comunidade islâmica de Lisboa, Sheik David Munir, ser um homem moderado e inteligente, com uma grande costela portuguesa.

As recentes aquisições lá das bandas do Paquistão é que é provável trazerem problemas, que é necessário identificar e isolar rapidamente.

Finalmente, os portugueses são o único povo europeu que não é racista e isso está-nos no ADN há muitos séculos.

Isto quer dizer que, ao contrário do que acontece noutros países, os portugueses são aqueles que melhor conseguem integrar os imigrantes.

Porque integrar os emigrantes não é construir-lhes blocos de apartamentos nem cumulá-los com bonitas declarações de princípios: é convidá-los para irem almoçar connosco!

Ora o que se passa no resto da Europa não tem nada a ver com isto.

O que se passa é que hordas de milhões de indivíduos foram desembarcando no continente Europeu, fugindo à miséria, grande parte deles, sobretudo negroides e árabes/berberes, sem qualquer afinidade com as sociedades para onde se mudavam, de uma maneira anárquica.

Muitos deles recusam-se a integrar-se e foram encontrando sociedades europeias cada vez mais permissivas, amolecidas moralmente, egoístas e hedonistas, que não querem ter filhos nem desempenhar determinadas tarefas/trabalhos, tidos por menos condignos ou duros.

Isto para já não falar nas redes de tráfico humano e exploração do trabalho, que foram surgindo. A demagogia dos «direitos humanos» fez o resto.

Preconceitos e complexos de culpa vários e falta de autoridade militante foram tornando as leis permissivas, o que facilitou a obtenção de nacionalidade, o usufruto da segurança social e, até, a participação política.

Daqui para a reivindicação de situações de excepção e de enviesamento das leis a favor das comunidades extrínsecas aos países, foi um passo.

Inventou-se o «multiculturalismo» que debaixo da capa da igualdade de direitos foi segregando e auto segregando as comunidades em ilhas arco-íris, descaracterizando as sociedades dos países de acolhimento, sobretudo nas grandes cidades.

Ora chegámos a um ponto em que tudo deixou de ser sustentável: não é possível pagar tudo isto, não é possível absorver tudo isto; não é possível conviver com tudo isto, não é possível aturar tudo isto!

As nações estão pois, em vias, de implodir e, ou de deixar de ser elas próprias.

A permeabilidade das fronteiras permite que tudo se compre e tudo se venda e tudo e todos se movimentem. Começa a não se conseguir controlar seja o que for.

Acresce que há múltiplos conflitos no mundo onde os países europeus (e sobretudo os EUA) actuam por vezes militarmente. Os principais focos de instabilidades têm a ver com conflitos entre muçulmanos, venda de petróleo e gaz e com a questão fulcral, da existência do Estado de Israel.

E, agora, todos os dias são mortas pessoas um pouco por todo o lado, por meio de «drones», que ninguém vê, operados muitas vezes em salas com ar condicionado a muitos Kms do local de operação e com a decisão de matar delegada em baixos escalões de comando…

É pois natural que estes problemas passem a repercutir dentro das fronteiras europeias.

E, é claro que os europeus sentem muito diferentemente o que se passa lá longe, com aquilo que acontece dentro das suas fronteiras…

Acresce o facto de em vez de serem as comunidades imigrantes a cumprirem as leis dos países para onde imigram e respeitarem os costumes e tradições locais, tem passado a acontecer precisamente o contrário.

A insanidade é total e está aberto o caminho para uma guerra civil generalizada.

Ora tem que se arrepiar caminho rapidamente e a primeira coisa a fazer é tomar consciência que os sucessivos governos europeus são os verdadeiros culpados disto tudo, mesmo que algumas das ideias postas em prática tivessem origem em boas intenções.

Porém, quão longe da verdade das coisas e dos humores da natureza humana…

A reacção aconteceu agora pelos piores motivos, isto é, não pela liberdade de expressão e de informação, mas sim por causa do abuso que foi feito dessa liberdade. O que serviu de «desculpa» para a eliminação física de 12 pessoas.

Toda a gente sabe, embora nem todos aceitem, que a liberdade de cada um acaba onde começa a do outro, por isso a «Liberdade sendo um conceito absoluto – logo intangível, tem aplicação relativa.

Veja-se aliás, o que aconteceu em França (que deve ser presentemente o país europeu mais moralmente destroçado), para implantar a trilogia jacobina e mentirosa da «Liberdade, Igualdade e Fraternidade», quantas centenas de milhares de pessoas foram guilhotinadas ou afogadas nos rios franceses, para impôr «La Republique»?

Ora o tal «Charlie Hebdo» assemelha-se a um pasquim de anarcas alucinados, que não respeitam nada nem ninguém. E podiam cair vítimas de um radicalismo islâmico ou outro. Razões de queixa não faltavam…

Os jornalistas existem para dar notícias e tratar com isenção os temas da actualidade tendo o «estatuto» de comentadores podem e devem, criticar situações, pessoas ou instituições, mas tal não implica o insulto, a mentira ou a insinuação, só para referirmos estas.

Tão pouco, os jornalistas se devem arrogar o direito a influenciar a sociedade mais do que qualquer outro grupo profissional ou social. A que propósito o fariam?!

Vamos mesmo ter que ganhar juízo e preparar-nos para o pior.

Independentemente de terem sido muçulmanos a puxar o gatilho, terroristas ao serviço de uma qualquer causa, ou ter sido mais uma das operações da «Mossad».

A procissão nem sequer chegou ao adro.

Pode ser que se consiga estabilizar a situação, não só porque a Europa já viu temporadas alargadas de outros terrorismos ou, simplesmente, por uma questão de sobrevivência.

Mas vai ser difícil: desta vez estão muitas dezenas de milhões de problemas cá dentro; a autoridade e as forças militares têm sido dizimadas e o relativismo moral impera.

Os portugueses vão ter que pensar seriamente como vão sobreviver ao que aí vem.

E ainda nem sequer começaram a pensar nisso.




sábado, 17 de janeiro de 2015


Se não fosse o 1.º de Dezembro


José Ribeiro e Castro

1. São, hoje à tarde (quinta-feira), discutidos no plenário da Assembleia da República, vários projectos de lei sobre a questão dos feriados. Também decidi apresentar um projecto, a título individual, que, graças ao consenso favorável dos grupos parlamentares, também poderá ser discutido hoje e votado amanhã. A imprensa, de uma forma geral, nomeadamente o Observador, já deu nota dos seus pontos mais salientes.

Porém, soube que, no debate em plenário, só terei direito a usar da palavra por 1 minuto para o discutir e defender. A apresentação dos outros disporá de 4 minutos cada um. As regras são assim – são para cumprir.

Isso alterou, porém, a ideia quanto ao discurso que tencionava fazer, focado na questão do 1.º de Dezembro, que é o feriado nacional que mais me tem ocupado. Não é essa a única questão do meu projecto; mas tinha pensado actualizar, perante o plenário da Assembleia, um texto que escrevi há quase três anos e que me ajudou a aprender ao correr da pena, à medida que o escrevia. Teria gostado de o partilhar directamente, de viva voz, com os meus colegas parlamentares.

Não o podendo fazer, por falta de tempo de palavra, antecipo-o aqui, junto com os leitores do Observador, admitindo que ao menos alguns deputados o possam ler. E sorrir. E ponderar.

2. Na reavaliação desta questão dos feriados que tanta tinta fez correr, centro-me na reposição do 1.º de Dezembro, o mais alto dos feriados nacionais, porque celebra o valor mais alto e essencial de Portugal: a independência e a liberdade nacionais.

Quando tudo isto começou, há três anos, cansei-me de ouvir pessoas – creio que minoritárias, mas influentes e poderosas – a sustentar que «o 1.º de Dezembro não tem importância de maior», que «não tem grande valor», que «não representa nada de fundamental», que «podemos bem pensar sem ele». E comecei a escrever um texto ligeiro, quase por brincadeira, apenas a imaginar o que seríamos e o que seríamos, se não fosse o 1.º de Dezembro. É isso que escrevi que vos quero dizer, neste tempo em que decidimos se vamos, ou não vamos, chumbar uma vez mais, pela terceira ou quarta vez consecutiva, o nosso 1.º de Dezembro.

3. Este texto não seria escrito se não tivesse havido 1.º de Dezembro. Ou seria escrito em Castelhano. Não seria dito aqui, porque não estaríamos aqui. Porventura este «aqui» nem existiria, mas qualquer outra instituição.

Não haveria Língua Portuguesa como a conhecemos hoje – teríamos sido sujeitos a longa aculturação espanhola, somando mais 370 anos de usurpação aos sessenta de domínio dos Filipes.

Não haveria a querela do Acordo Ortográfico – porque não haveria o Português, nem o problema da regulação do uso universal da nossa língua. Estaríamos hoje com os galegos, esbracejando pela cidadania linguística.

Não haveria Rui Reininho e a sua «Pronúncia do Norte», nem Pedro Abrunhosa e o seu «Momento» ou Jorge Palma e «Encosta-te a Mim», o «Ó gente da minha terra» de Mariza, o «Fado Tropical» de Chico Buarque.

Fernando Pessoa não seria o que é, nem a «Mensagem». Camões e «Os Lusíadas» seriam talvez desconhecidos, literatura esquecida ou clandestina.

Veríamos filmes dobrados – em Castelhano.

O Fado não seria Património Imaterial da Humanidade. Não existiria sequer o fado, antes outra coisa qualquer de sonoridade espanhola.

Já não teríamos declarado o sobreiro árvore nacional. Não seríamos o maior produtor mundial de cortiça – seria Espanha.

O nosso porco preto alentejano seria porco ibérico para toda a vida, sem apelo nem agravo.

Teríamos centrais nucleares na bacia do Tejo – e talvez também na do Douro –, não só do lado de lá, mas do lado de cá.

Não haveria lado de cá e lado de lá.

A política espanhola de transvases, afectando os nossos rios, estaria aí em pleno.

Não haveria D. João IV, nem D. João V e o seu Convento de Mafra, nem D. João VI e a originalidade fundadora da corte no Brasil.

Não haveria o próprio Brasil. Em lugar dessa criação do génio e do acaso português, teriam surgido outras coisas, fruto de colonizações retalhadas de holandeses, franceses, espanhóis e ex-portugueses falando espanhol. Não haveria o samba e a bossa nova.

Não haveria Angola, nem Moçambique. O espaço de Moçambique estaria repartido por países anglófonos; e no de Angola seria outro retalho qualquer de colonizações holandesa, alemã, francófona, talvez espanhola. São Tomé e Príncipe estaria na Guiné Equatorial, como Fernando Pó e Ano Bom. A Guiné-Bissau moraria na francofonia; Cabo Verde provavelmente também. Não haveria a morna, nem a coladeira, talvez o zouk de Guadalupe e Martinica. Timor seria holandês e, portanto, indonésio. Macau teria logo acabado, pouco depois de ser.

Não teria havido a guerra de África – não teria havido Ultramar ou colónias. Não existiria a CPLP. Nem haveria sequer o Fórum Ibero-Americano, antes qualquer coisa hispano-americana.

Não haveria o navio-escola «Sagres». O nosso mar português não seria.

Não teríamos o Eusébio. Não teríamos festejado o louco terceiro lugar do Mundial de Inglaterra 1966, mas alguns teriam celebrado a Espanha campeã do Mundo na África do Sul 2010. O Benfica e o Porto provavelmente nunca teriam sido campeões europeus. A Académica nunca teria ganho a Taça de Portugal – não haveria Taça de Portugal. Com sorte, Benfica, Porto, Sporting, outro, poderiam ter ganho a Copa Generalíssimo ou a Taça do Rei.

Não haveria Cardeal Patriarca de Lisboa, título do século XVIII. Não haveria um só cardeal português no Consistório de Roma. Não existiria a Conferência Episcopal – os nossos bispos estariam na conferência espanhola.

Teria havido o terramoto de 1755, mas não o Marquês de Pombal, nem a baixa pombalina. As invasões francesas teriam sido uma passeata com cicerone espanhol. Não haveria a questão de Olivença – seríamos todos nós Olivença.

Teríamos tido na mesma as lutas liberais, mas não entre D. Pedro e D. Miguel, antes envolvidos nas longas guerras do carlismo. Não teríamos tido nem Afonso Costa, nem Salazar, mas dois breves episódios republicanos, um fugaz no século XIX, outro nos anos '30 do século XX, seguido da guerra. Teríamos tido a Guerra Civil, seguida do Generalíssimo e da restauração monárquica com rei espanhol. Teríamos sofrido o terrorismo da ETA.

Não haveria Cavaco Silva, presidente; nem, antes, Jorge Sampaio, Mário Soares, ou Ramalho Eanes. Seria D. Juan Carlos; e, hoje, Filipe VI de Espanha – talvez Filipe V de Portugal, se permanecesse a formalidade dos reinos separados e da monarquia dual, o que é duvidoso.

Não teríamos Passos Coelho, nem Paulo Portas, antes Mariano Rajoy e Garcia-Margallo ou Soraya Sáenz de Santamaría.

Não teríamos Ministério dos Negócios Estrangeiros – seríamos somente um negócio de estrangeiros.

Não teríamos Assembleia da República, apenas as Cortes Generales.

Aqui chegados, eu compreendo perfeitamente que as Cortes de Madrid chumbassem o nosso feriado do 1.º de Dezembro, primeiro o Congresso dos Deputados, logo a seguir o Senado. Mas a Assembleia da República fazer isso? Não pode ser.