BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

domingo, 31 de agosto de 2014


Sociedade do cunhacimento



Fazem parte dos quadros da PT os filhos e filhas de:

– Teixeira dos Santos.
– António Guterres.
– Jorge Sampaio.
– Marcelo Rebelo de Sousa.
– Edite Estrela.
– Jorge Jardim Gonçalves.
– Otelo Saraiva de Carvalho.
– Irmão de Pedro Santana Lopes.


Estão também nos quadros da empresa, ou da subsidiária MEO os filhos de:

– João de Deus Pinheiro.
– Briosa e Gala.
– Jaime Gama.
– José Lamego.
– Luís Todo Bom.
– Álvaro Amaro.
– Manuel Frexes.
– Isabel Damasceno.

Para efeitos de «pareceres jurídicos» a PT recorre habitualmente aos serviços de:

– Freitas do Amaral.
– Vasco Vieira de Almeida.
– Galvão Telles.

Assim não há lugar para os colegas da faculdade destes meninos, que terminaram os cursos com média superior e muitos estão ou a aguardar o primeiro emprego, ou no desemprego, ou a trabalhar numa área diferente da sua licenciatura.


E depois venham falar do Estado Novo!

Ah! Ah! Ah!





sexta-feira, 29 de agosto de 2014


Os condescendentes


Helena Matos

Centenas de jovens afluíram ao Centro Comercial Vasco da Gama, em Lisboa, numa acção convocada através do facebook.

O objectivo seria manifestarem-se contra o racismo.

Geraram-se confrontos entre grupos rivais de jovens.

Algumas lojas fecharam com receio de desacatos.

A PSP foi chamada.

Dois jovens foram acusados de resistência e coação a agente de autoridade.

Duas raparigas foram acusadas de posse de arma branca utilizada durante o roubo de um telemóvel e uns óculos a uma menor.

Um rapaz de 15 anos sofreu ferimentos provocados por uma chave de fendas.

Cinco agentes ficaram feridos.

Tendo em conta a juventude dos intervenientes, a presença da polícia (que, note-se, acabou com cinco agentes feridos) deve ser agradecida por todos, a começar pelas famílias dos jovens, pois nestas idades a distância entre um desacato e uma tragédia é uma linha finíssima. Mas há um problema: os jovens seriam maioritariamente negros e aí o desacato deixa de ser um desacato e torna-se um problema racial. Os polícias deixam de ser forças da ordem e tornam-se agentes da opressão. Os lojistas deixam de sofrer prejuízos e passam a símbolos da intolerância. Os jovens deixam de ser jovens em idade parva e com propensão para o disparate como são todos os jovens daquela idade para se tornarem em vítimas da discriminação e, por fim mas não por último, os jornalistas redigem as notícias sobre os factos com pinças não venha de lá a acusação de racismo. Por último vem como não podia deixar de ser o comunicado da associação que diz lutar contra o racismo. No caso a SOS Racismo.

O comunicado a denunciar o racismo é hoje uma peça incontornável. Segundo os jornais os acontecimentos do Vasco da Gama valeram a seguinte apreciação ao SOS Racismo: «São inúmeras as situações de aglomerados de jovens por todo o país, em particular em período de férias de Verão, são vários os furtos em espaços públicos e muitas as discussões e altercações que não ocasionam nunca nenhuma intervenção policial tão violenta como aquela ocorrida no Centro Comercial Vasco da Gama. E portanto, a única diferença deste caso residiu na cor da pele dos jovens que ali se encontravam.» Não sei onde viu em Portugal o SOS Racismo as inúmeras situações em que centenas de jovens confluem para um mesmo local, se envolvem em confrontos, alguns com armas brancas – saberão que uma chave de fendas pode matar? – e praticam furtos até que cansaditos desistem. Mas o que posso garantir é que qualquer pai ou mãe ao saber que os seus filhos estão envolvidos numa situação dessas espera que a polícia chegue a tempo de evitar o pior.

Mas o SOS Racismo vai mais longe e pergunta ainda «O que leva a PSP a impedir a mobilidade de jovens e a utilizar a força, só por serem negros?» E com esta pergunta chegamos ao cerne da questão: por eles serem negros a intervenção foi diferente ou deveria ter sido diferente? O que me parece que está subjacente a esta denúncia de racismo é na verdade uma reivindicação de racismo sob a forma de uma tolerância condescendente. Aliás se os envolvidos não fossem negros provavelmente estaríamos a discutir como foi possível que a PSP deixasse que um jovem fosse agredido com uma chave de fendas ou como é que as famílias não os conseguiram impedir de tais comportamentos. Muito menos alguém perante desacatos provocados por grupos de brancos ou de asiáticos se indignaria com o facto de a polícia procurar controlar as movimentações de jovens brancos ou asiáticos pois sendo brancos ou asiáticos os envolvidos dirigir-se a outros grupos seria uma absurda perda de tempo.

Mas como são negros não se discute nada disso. E espera-se de facto que os factos sejam olhados com uma condescendência que não é mais que racismo encapotado.

Esta condescendência é profundamente nociva pois na verdade ela fomenta a segregação. Ao contrário de muitas das pessoas que vivem exaltadas a denunciar discriminações e se indignam quando se pede que a polícia intervenha perante este tipo de comportamentos, utilizo os transportes públicos e matriculei os meus filhos em escolas públicas. Vi e vejo serem toleradas atitudes erradas, agressivas e ofensivas simplesmente porque são praticadas por ciganos, negros ou aquilo que em França se vai conhecendo como «les petis blancs». Vi e vejo as pessoas a mudarem de lugar no autocarro, a mudarem os filhos de escola, a deixarem de ir a uma determinada praia… Nunca se interrogaram porque são negros os seguranças dos supermercados nos bairros da periferia? Porque a eles ninguém os acusa de racismo quando proíbem um determinado cliente de entrar ou lhe pedem para abrir o saco antes de sair.

Sacrificado o serviço militar obrigatório no altar do alegado pacifismo, escaqueirada a escola pública em nome da pedagogia, não sobram além dos estádios de futebol e de alguns centros comerciais muitos espaços onde os filhos dos portugueses se cruzem independentemente da sua origem social e étnica.

O fim do marxismo levou a uma substituição das questões de classe pelos assuntos identitários. E assim, onde antigamente estava a luta de classes estão agora as comunidades. E tal como há quarenta anos os filhos da burguesia gritavam contra a sociedade de classes e as universidades se enchiam de estudos sobre a relação entre o marxismo e a linguística, o marxismo e a filosofia, o marxismo e a história, agora outros, nascidos em berço igualmente acomodado, estudam as questões de identidade das diferentes comunidades que paulatinamente substituíram a noção de classes. Em torno da luta contra a exclusão real e imaginada de cada uma das várias comunidades em que a sociedade está fraccionada foi criado todo um imaginário, uma linguagem, um acervo de teses, congressos, seminários, estudos, observatórios e um mundo de activismos.

A abordagem a cada comunidade varia no conteúdo mas nunca na forma: a comunidade é identificada enquanto tal sempre que é vítima, os seus comportamentos mais excêntricos ou mesmos contrários às leis do país – veja-se o caso dos direitos das mulheres entre os muçulmanos ou a expressão do ódio racial entre algumas dessas comunidades – são tidos como naturais ou uma reacção aos dominadores. Os actos condenáveis ou criminosos de alguns dos membros da comunidade são apagados. E assim chegamos ao paradoxo de os mesmos jornais que denunciam os problemas das famílias ciganas no acesso à habitação omitirem a condição cigana de alguns dos envolvidos na exploração de alcoólicos e doentes mentais. Se isto não é racismo o que é racismo? Aliás não me recordo que as associações que lutam contra o racismo tenham denunciado a presença de famílias ciganas na captação de mão-de-obra escrava para o sector agrícola em Espanha. Mas nunca é tarde para se fazer o primeiro comunicado.

Fechar os olhos perante incidentes como aqueles que tiveram lugar no Vasco da Gama pode levar a que se acentue ainda mais a clivagem entre os portugueses que se vêem como habitantes do seu país e aqueles que são apresentados como membros das comunidades. A condescendência que alguns tendem a confundir com a tolerância mas que não passa de uma banalização do desprezo é nesta matéria uma péssima companhia.





quinta-feira, 28 de agosto de 2014


Israel-Hamas

Defender-se e defendê-los


Jeff McMahan é um filósofo americano recentemente nomeado para a White’s Chair de Filosofia Moral em Oxford. Escreveu um texto denso e brilhante na Prospect, intitulado Gaza: Is Israel Fighting a Just War?, em que fala do conceito de proporcionalidade, um tema tão caro aos superficialmente indignados com a morte de civis na Faixa de Gaza.

Fala da diferença entre «retaliação» e «ataque defensivo», a designação correcta para a operação bélica israelita e sobre o Hamas ser apoiado por menos de metade da população palestina, que usa como escudo humano contra os ataques anunciados pelas forças armadas de Israel, tornando assim inevitável a perda de vidas inocentes.

Jeff McMahan conclui que a única maneira de acabar com esta guerra é Israel destruir o Hamas politicamente ao conceder e defender a liberdade e o direito ao povo palestino de viver em paz.

Por outras palavras, cabe a Israel fazer o que o Hamas não faz: cuidar dos palestinos.





quarta-feira, 27 de agosto de 2014


António Pires Veloso,

herói do 25 de Novembro


Heduíno Gomes

Cada vez que surge uma efeméride ou acontecimento relacionado com o fim do prec, em 25 de Novembro de 1975, lá se vem falar dos pseudo-heróis do acontecimento, omitindo ou diminuindo os verdadeiros heróis.

As pessoas informadas sabem perfeitamente que, além de muitos militares envolvidos nas operações, e também muitos civis, os três pilares da vitória sobre o bloco soviético no 25 de Novembro foram Pires Veloso, comandante da Região Militar do Norte, Lemos Ferreira, chefe da Força Aérea, e Jaime Neves, comandante do Regimento de Comandos.


António Pires Veloso,
comandante da Região Militar do Norte
Porém, os interesses obscuros – logo tornados claros a 26 de Novembro – do grupo de Melo Antunes haveriam de manifestar-se e reescrever a história. O grupo, para prosseguir os seus interesses mesquinhos de poder pessoal e outros, precisava de uma cara anónima, saída do mistério da resistência palaciana – não militar. E assim temos Eanes.

Verificou-se que a acção deste grupo chefiado por Melo Antunes foi, no prec, de resistência calculada segundo os seus próprios interesses pessoais e de grupo, como havia sido já no golpe militar do 25 de Abril.

Primeiro, a 25 de Abril, foram incendiários. Puseram Portugal em chamas. Por inveja corporativa, manipulando camaradas de armas politicamente ingénuos.

Depois, no prec e 25 de Novembro, foram bombeiros. Eles próprios tinham as barbas a arder na fogueira que haviam ateado e precisavam de salvar a pele.

José Lemos Ferreira,
chefe da Força Aérea
Finalmente, a 26 de Novembro, já estavam de novo em incendiários. Antecipando-se na televisão, opuseram-se a um verdadeiro processo de normalização política e colocaram os resistentes perante o facto consumado da continuação do abrilismo embora mais moderado. Opuseram-se ao rescaldo do incêndio e estabeleceram uma ponte com o bloco soviético para prosseguirem os seus jogos palacianos de poder e outros.

Três situações políticas diferentes, três estratégias pessoais, sempre os mesmos objectivos pessoais.

Tudo por eles. O que fizeram por Portugal no 25 de Novembro foi circunstancial e pura coincidência. Nada genuinamente por Portugal.

Jaime Neves,
comandante do Reg. de Comandos.
Por isso nada há a agradecer-lhes. Devemos estar gratos, sim, a Pires Veloso, Lemos Ferreira e Jaime Neves, e a tantos anónimos, que o fizeram desinteressadamente e por patriotismo.





sexta-feira, 22 de agosto de 2014


Barbaridades contra a Língua Portuguesa


Brasil pretende acabar com o «h» no princípio das palavras
e substituir o «ch» pelo «x»

António Justo

A actual discussão no Senado brasileiro sobre a simplificação da ortografia revela-se contraprodutiva em relação ao acordo ortográfico. A crença de Ernani Pimentel e do «Movimento Simplificando a Ortografia» de que «a simplificação ortográfica é a porta para a eliminação do analfabetismo», revela-se como despiste ou desorientação. A iniciativa pretende inverter o desenvolvimento linguístico ao copulá-lo com a camada social menos desenvolvida; enfim, uma posição decadente tendente a que as árvores passem a ter a rama na terra e as raízes no céu.

Os Diálogos Lusófonos, tal como outros meios de comunicação brasileiros têm vindo a referir que o senador Cyro Miranda, presidente da Comissão de Educação, lidera um projecto da comissão conducente à simplificação da ortografia da língua portuguesa. O projecto «propõe a extinção da letra «h» no início das palavras e a troca de todas as expressões com «ch» pelo «x», passando palavras, tais como «homem e hoje», a serem escritas com a grafia «omem e oje» e palavras como «macho» a serem escritas «maxo». Exemplos das intenções em vista: flecha flexa, analisar analizar, blusa bluza, exigente ezigente, exame ezame, amassar amasar, açúcar asúcar, moço moso, deuses deuzes.

Segundo as intenções dos mentores do projecto, este poderia ser aplicado em 2016, após consulta aos países de língua portuguesa.

É estranho que o Brasil queira fazer equivaler a língua escrita à língua oral quando escreve dia e pronuncia dʒja ou dja. A língua não pode ser posta à disposição arbitrária de ideologias (socialismo mal-entendido) nem de lógicas a que falta a supervisão racional abrangente. Sem respeito pela linguística, atacam a ortografia, a etimologia, a conexão entre palavras cognatas.

Depois do tão discutido acordo ortográfico da língua portuguesa aprovado em 16 de Dezembro de 1990 que pretende criar uma ortografia unificada e em vigor desde 2009 aparecem forças radicais a quererem colocar-nos na fase antes dele; na realidade pretendem o desacordo agora incentivado em nome de uma massa anónima «não consumidora de cultura».

Ainda o acordo ortográfico não se encontra aplicado e já surgem novas propostas de tendências partidárias e nacionalistas a pretender novas mudanças em nome de uma democracia que quer ver a inclusão social dos seus povos à custa de simplificações arbitrárias e desaferidas, como se a produção intelectual, artística e científica se devesse orientar, pelo princípio do menor esforço, como parece pretender o «Movimento Simplificando a Ortografia». Pretende um nível simplista que evite o analfabetismo e que reduza o tempo de ensino da ortografia para impedir reprovações no currículo de aprendizagem. Esquece que as suas razões de liberdade, igualdade e economia teriam como consequência mais lógica a extinção da educação e das escolas ou a emigração de grupos mais conscientes para o ensino particular. Na sequência ter-se-ia de acabar com o estudo da História e de muitas coisas mais; sim, até porque, na realidade, em termos imediatos cultura não enche barriga.

Querer motivar a mutilação do português, com argumentos de que grande parte do povo brasileiro tem dificuldade em «escolher a letra adequada entre x/ch, j/g, s/x/z, s/ç/c/ss/sc/sç/xc/xç, presença/ausência de h inicial», seria desconhecer a história e a lógica da língua e desqualificar o ensino brasileiro e a capacidade de aprendizagem de um povo que é tão inteligente como outros países lusófonos que parecem ter menos dificuldades com a ortografia da língua.

Por trás da problemática em torno da ortografia, esconde-se também uma falta de sistemática na aprendizagem da língua e de um ensino que domine os rudimentos da língua mãe (o latim).

Não é certamente por falta de tinta mas talvez por protagonismo político de interesses ideológicos que se equivoca ao qualificar rigor de qualidade intelectual com «alienação do povo». Por trás de uma identificação com os interesses da pretensa massa popular esconde-se a atitude paternalista de que o povo simples deve ser poupado de elucubrações complexas querendo apresentar a língua como produto fácil e barato à altura do porta-moedas de um mercado orientado pelo poder da oferta e do mais barato.

A questão da língua não pode ser equacionada em perspectivas meramente políticas, geralmente de vistas reduzidas a mentalidades condicionadas a períodos eleitorais quatrienais ou quinquenais e a ideologias de massa anónima sem consideração pelos processos de individuação e diferenciação inerentes à evolução individual e colectiva.

A evolução da língua também não pode ser abandonada a pessoas, talvez de boa vontade mas que não têm a mínima ideia do assunto nem o respeito advindo do conhecimento do evoluir da língua.

Para trás anda o caranguejo!

A iniciativa é absurda e prejudicial porque para corresponder às necessidades imediatas de gente simples, opta por cortar os ramos frondosos da árvore linguística pelo facto de se estar com o sentido na sua madeira ou porque se quer fazer da árvore um arbusto para que qualquer gaiato possa subir a ela sem o mínimo de esforço ou dificuldade. Deixem-na continuar a ser uma grande árvore, uma casa grande onde todas as espécies de pássaros, grandes e pequenos, possam fazer o seu ninho, segundo as suas capacidades e potencialidades. Seria disparate cortar as asas às aves grandes para que todas possam viver nos primeiros ramos da árvore. Se a natureza e o desenvolvimento se deixassem reger apenas por princípios de massa ou democráticos não teria produzido a humanidade, para nos manter na igualdade do estádio das amebas ou das medusas.

A estratégia de comunicação anunciada pelo senador, de tencionar chegar a acordo com os outros países lusófonos, através de videoconferências, é testemunho de método manipulador de quem quer forçar a sua ideia de legitimação dúbia fruto do arbitrário para evitar a discussão nas legítimas instituições científicas competentes para a língua. Nestas coisas precisa-se tempo, calma, independência e ponderação para se evitar confundir um pirilampo com uma estrela. A iniciativa não passa de uma tentativa de desorganização e de desinformação no sentido de desviar as energias do último acordo ortográfico.

A reforma da língua é assunto para linguistas e disciplinas afins atentas às massas e aos diferentes interesses dos países lusófonos, longe de qualquer interesse hegemónico ou de estratégica particular. O resto corresponde a uma perspectiva minimalista e míope de que sofre em grande parte o nosso sistema democrático. O nivelamento da cultura por baixo tem sido um facto tendente a desacreditar e banalizar a democracia (de interesse comum a um capitalismo e a um socialismo radical); a democracia não deveria merecer tal desconsideração. Imaginemos que, para acabar com o racismo, os brasileiros determinavam manipular o gene da sua pele, de modo a todos os brasileiros conseguirem uma cor neutra para os seus habitantes! A intenção que se encontraria por trás do objectivo seria boa mas a estratégia e os meios para o alcançar seria inadequada, indiferenciada e de consequências catastróficos. A ideologia, por muito potente que seja, não deve desprezar as leis da evolução nem a variedade da realidade integral. Para trás anda o caranguejo!

A ignorância e a precaridade não podem constituir motivo de desenvolvimento cultural e linguístico. Os programas correctores de língua em via na internet serão um grande serviço para aqueles que confundem o «ch»  com o «x».

A língua portuguesa não existe isolada no mundo e, também por isso, não deve ser avaliada por critérios proletários simplistas nem pela dimensão populacional de uma nação! É óbvio que se mantenham os critérios de qualidade. O seu desenvolvimento não pode ignorar a riqueza atingida pelas línguas latinas nem o seu rico contexto. Tão-pouco poderá ser critério da afirmação de identidade de um país a negação da História nem o estádio cultural de um grupo social. Tal proposta, como o emprego de energia unilateral e exagerada na integração do galego no mundo lusófono só complica e ajuda a desmotivar a reflexão e a aplicação do acordo ortográfico.

O Português não é uma língua difícil. É uma língua muito rica e como tal complexa, com moradas para todos os estados do desenvolvimento social e intelectual até hoje possível e conseguido. Na riqueza de uma língua e na sua complexidade se reflecte o desenvolvimento de um povo. Tentar aniquilar as leis da evolução pode ser democrático mas não é natural nem razoável. A existência de favelas e de casas sem jardim não pode ser o motivo para se destruir os palácios e os jardins. O objectivo será construir acesso aos jardins e aos palácios para todos.

Sem querer negar a luta de classes e de interesses, precisamos primeiramente de sociedades adultas que discutam os problemas do seu desenvolvimento e daquilo que constitui a sua identidade, com realismo, sem complexos de superioridade nem de inferioridade.





segunda-feira, 18 de agosto de 2014


BES

A tragédia menor


Alberto Gonçalves

A propósito da solução para o BES, António José Seguro teme que os contribuintes venham a assumir os erros dos privados, António Costa lamenta que os pequenos accionistas se afundem com o «banco mau», a menina Catarina do BE disse umas coisas naturalmente desvairadas e o PCP, que ainda há semanas pedia a nacionalização do banco, acusa o Governo de resgatar o banco com dinheiros públicos. Eu, que acho misteriosa qualquer operação financeira acima dos cem mil euros, tenho uma única certeza: com ou sem BES, o «novo» ou o «velho», o fisco continuará a aliviar-me com regularidade.

Se o caso BES serve de alguma coisa, é de lição. O arranjinho encontrado é uma desgraça? Talvez, mas talvez não pudesse ser melhor, ou talvez, a julgar pelas assarapantadas reacções da esquerda, pudesse ser bastante pior. E este falso paradoxo é, afinal, uma educação acerca do máximo que se deve esperar da acção governativa, que nunca é a arte de procurar a resposta ideal, e sim a de tentar fugir à resposta catastrófica. Décadas de recorrentes desilusões democráticas teriam sido evitadas se os cidadãos – e os políticos – observassem esse simples preceito.

Esqueçam o pormenor (desculpem o eufemismo) do BES e pensem no «quadro geral»: o Governo é lamentável? Das indecisões às péssimas decisões, da retórica reformista à incapacidade de reformar, da fama «neoliberal» ao proveito dos impostos, do folclore de Relvas aos amigos na Santa Casa, claro que sim. Só que a questão é outra: descontados os fiéis e os oportunistas, alguém encontra nas oposições o esboço de um governo preferível? Dito de maneira diferente, o País estaria menos sufocado com o dr. Seguro ou o dr. Costa (a fim de evitar embaraços, nem menciono o PCP e as setenta agremiações destinadas a unir a esquerda)?

Semanalmente, diversos exaltados acusam-me, nas «caixas» de comentários do DN online, de escrever a expensas do poder ou de sonhar em alcançá-lo. Para mal da minha conta bancária, a primeira acusação é falsa; para bem da nação, a segunda é delirante: antes de irromper no fascinante universo partidário, tentaria a sorte como chofer de praça, carpinteiro de limpos ou pequeno traficante de analgésicos. A dignidade acima de tudo. Se pareço tolerar um Governo atroz é apenas porque as alternativas me parecem intoleráveis. Parece absurdo? Eis a política, sobre a qual toda a repulsa peca por escassa.






domingo, 17 de agosto de 2014


A causa primeira, última e única, da crise[1]


João J. Brandão Ferreira Oficial Piloto Aviador



«Devo à Providência a
Graça de ser pobre.»

A. O. Salazar[2]

Nós, os humanos, aprendemos pouco e tarde.

E quando sabemos algo que se aproveite, morremos.

Esta é uma das chaves para se entender o sempre presente conflito de gerações e para perceber a importância de preservar a Informação, o Conhecimento e o Saber (três coisas distintas), nos centros de Saber tradicionais: a Universidade, a Igreja, a Magistratura, a Diplomacia e a Instituição Militar.

No fundo conseguir ampliar, ordenar e arquivar toda a sabedoria que os avós passavam aos netos desde que a organização social não ia além dos clãs e tribos nómadas.

Uma das coisas que julgo ter aprendido foi que, entre a natureza humana – que não muda na sua essência ao longo dos séculos, por mais que isso possa doer ao Rousseau e seus discípulos – existe uma matriz que, grosso modo, funciona assim:

Dez por cento das pessoas porta-se sempre bem; outros dez por cento, portam-se sempre mal e os restantes oitenta por cento, portam-se bem ou mal, conforme. Conforme as referências em vigor e conforme o «pau e a cenoura» existentes (portas-te bem comes cenoura, caso contrário, levas com o pau…).

Dito de outro modo: muitas das pessoas só não se porta mal se forem devidamente educadas, forem dissuadidas e, ou, não tiverem oportunidade para isso![3]

Lembremos o que disse o cronista depois da morte do agora Santo, Nuno Álvares Pereira: «Foi em seu tempo claro espelho de honestos costumes»; e dele dizia amiúde o próprio Rei D. João I, «Que os bons costumes que havia em Portugal que o Condestável os pusera todos».

Numa palavra, é necessário – e é uma luta de sempre – organizar a sociedade no sentido do Bem e no castigo do Mal. Para isso é preciso que haja boas referências (foi esse o maior legado de Cristo na Terra) ensiná-las e pô-las em prática.

A «prática» é corrigida e mantida por um adequado sistema de Justiça e uma activa consciência cívica que leve a uma aprovação ou censura social, saudável.

Toda esta arenga serve para dizer que aquilo que entendemos pela «crise» actual tem uma hierarquia de causas e a primeira é, justamente, moral, depois política e só a seguir vem a financeira as quais originam, em consequência, um desastre económico e social.

Ora como a evidência da crise só ganha foros mediáticos com o que se passa no campo das finanças e a maioria das pessoas só se indigna quando lhes vão ao bolso (e, mesmo assim, poucos agem), as verdadeiras causas morais que influenciam a política e a sociedade, tendem a ser ignoradas e, até, tidas por incorrectas.

Daqui resulta atacarem-se os efeitos em vez das causas dos problemas. Ou seja, estes nunca se resolvem…

De facto o fulcro dos problemas no mundo Ocidental, sobretudo após a queda do muro de Berlim, nada tem a ver com ideologias políticas – todas elas, aliás, já experimentadas e gastas, num caminho já feito pela humanidade de que só resultaram guerras e desgraças; direito internacional – de que a ONU é apenas um arremedo sombrio; organização do comércio mundial – cujo principal organismo, a OMC, aparenta estar ao serviço dos tubarões da finança; enfim, com justiça relativa ou a procura da paz – os dois termos mais invocados em vão, desde a invenção da escrita!

O que se tem passado tem a ver quase exclusivamente com a avidez e ganância humanas que leva ao mau uso que se faz do dinheiro.

Neste particular, o dinheiro – essa extraordinária invenção que como todas as invenções podem ser bem ou mal utilizadas – serve para acumular riqueza, comprar bens (e consciências), etc., podendo tornar-se num dos mais maquiavélicos instrumentos do Poder.

O dinheiro cuja origem e história é ignorada por 99,9% da população – algo que estranhamente não se ensina quase a ninguém – passou a ser o alfa e o ómega de tudo. «Hélas», o Deus Mamon!

O que faz bem jus ao aforismo latino de que «nenhuma cidade cercada resiste a um burro carregado de ouro»…

Na actualidade assiste-se a um verdadeiro conúbio e promiscuidade entre políticos e banqueiros, escritórios sonantes de advogados e lugares rendosos (quer públicos quer privados), que sequestraram o poder político através de uma teia de leis e compromissos que blindou o «sistema», visando a sua perpetuação em circuito fechado.

E como se defende mentirosamente, que tudo se passa segundo as regras «democráticas», eis que tudo passa a legal e legítimo. Uma verdadeira armadilha.

Na prática, porém, nada do que se passa visa o bem comum nem o governo da cidade. Visa o lucro desmedido, usura, controlo político – logo social e económico – e baseia-se na falta de escrúpulos, corrupção e muitas fraudes e outros ilícitos criminais.

Tudo envolto em secretismo e em «organizações» de que apenas se fala à boca pequena.

O poder político fica deste modo cativo e refém de interesses inconfessáveis e a Nação perfeitamente desprotegida e «escravizada».

Como medida cautelar, não vá o diabo tecê-las, apaga-se e eliminam-se as Forças Armadas da face do País.

Como lapidarmente escreveu o professor Pedro S. Martinez em artigo recente, «Quando os governantes são de mãos limpas, também os banqueiros têm dificuldade em sujar as deles».

A teia que levou a este estado de coisas começou a ser tecida no mundo há mais de 200 anos, embora em Portugal só tenha sido implementada a partir dos anos 80 do século passado.[4]

Neste momento estamos completamente enredadas nela (a teia) e apesar da grande «débacle» só ter estalado a partir de 2008, ainda agora a procissão vai no adro.

E não iremos sair da crise senão pelos factores morais: pela instituição de valores e princípios que não sejam relativos nem relativizados, que imponham a supremacia do espírito sobre a matéria e tragam para a política pessoas integras – de preferência que não queiram ser ricas e tenham a coragem (rara) de agradecer à Providência a graça de ser pobres.

Políticos – cuja primeira qualidade a exigir, é que sejam patriotas – que consigam elaborar uma constituição simples, se ela for mesmo necessária – já repararam que a melhor constituição alguma vez escrita, são os 10 Mandamentos da Lei de Deus? – com poucos artigos, despida de ideologia e onde os deveres estejam à frente dos direitos e onde estes derivem do cumprimento daqueles.

E onde um modelo jurídico, que dela decorra, permita meter em prisões adequadas (não hotéis de três estrelas), os muitos «Madoff» que por aí pululam, de modo a fazer do sermão do bom ladrão, do eterno padre António Vieira, um resquício do passado: «Não são ladrões apenas os que cortam as bolsas. Os ladrões que mais merecem este título são aqueles a quem os Reis encomendam os exércitos e as legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais, pela manha ou pela força, roubam e despojam os povos.

Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam correndo risco, estes furtam sem temor nem perigo.

Os outros, se furtam, são enforcados; mas estes furtam e enforcam.»

Deixo à consideração dos leitores se será possível fazer tudo isto, democraticamente.

Isto é, se conseguimos convencer a maioria dos 80% da população a querer comportar-se dessa maneira.


[1] Ou a eterna luta entre o Bem e o Mal…

[2] «O meu depoimento», discurso proferido a 7 de Janeiro de 1949.

[3] Lembro o ditado: «A ocasião faz o ladrão».

[4] Sem embargo do que se passou a partir das invasões francesas e suas consequências, que quase destruíram o país e a que só a reforma financeira de 1928, começou a por cobro. Com êxito.





sábado, 16 de agosto de 2014


Aterrorizam o Iraque e cobiçam Portugal


Leonídio Paulo Ferreira, Diário de Notícias, 11 de Agosto de 2014

Já aparecem pintados de negro Portugal e Espanha, esse Al-Andaluz que sempre fascinou os árabes e agora alimenta a cobiça dos jihadistas. E também a Grécia, o resto dos Balcãs e até a Áustria. É um mapa que mostra tanto as ambições como a ignorância do Estado Islâmico, o grupo que controla muito da Síria e do Iraque e que nestes dias ganhou ainda pior fama por ameaçar exterminar os cristãos e outras minorias.

Comecemos pela ambição: liderado por um autoproclamado califa, o Estado Islâmico é um fenómeno com meses, que aproveitou a guerra civil na Síria e o caos pós-Saddam para conquistar território nos dois lados da fronteira e tomar Mossul, a segunda cidade do Iraque. E se uma coligação entre os curdos e os xiitas iraquianos, agora com cobertura aérea da América, o impede de marchar sobre Bagdad, a verdade é que a recente mudança de nome, cortando de Estado Islâmico do Iraque e do Levante a parte que limitava os seus horizontes, denuncia uma estratégia.

O Médio Oriente é pequeno para Abu Bakr al-Baghdadi; o objectivo é conquistar parte da Europa, metade de África e toda a Ásia até ao rio Indo. E aqui entra a ignorância, apesar de os escassos dados biográficos sobre o líder do Estado Islâmico o dizerem doutorado: no mapa a circular na net, e que os espanhóis do ABC mostraram na edição online, surgem territórios que chegaram a ser islamizados durante séculos como a Península Ibérica ou os Balcãs, mas onde hoje são escassos os seguidores do islão. Contudo, esquece uma Índia onde a minoria muçulmana supera os 150 milhões e até o Bangladesh, tão fiel a Alá, que já se chamou Paquistão Oriental.

E inclui a Áustria (que repeliu os dois cercos otomanos a Viena), excluindo, porém, a Sicília, durante 200 anos muçulmana, ou Malta, cuja língua deriva do árabe do ano 1000.

Não é nova a obsessão dos jihadistas com o Al-Andaluz, exemplo de islão tolerante com capital em Córdova. Há discursos em que Al-Zawahiri, sucessor de Bin Laden à frente da Al-Qaeda, refere a Península Ibérica como «sob ocupação». Mas a banalização de uma ameaça não a elimina. Assusta a facilidade com que uma célula islamita organizou os atentados de 2004 em Madrid. E que tantos europeus estejam a ser atraídos pela «guerra santa», unindo-se a um grupo que junta líbios e iemenitas, egípcios ou paquistaneses. Voltando ao ABC, ainda ontem revelava que duas adolescentes espanholas tentavam ir para o território do Estado Islâmico servir de escravas sexuais, após «um processo acelerado de fanatização». Sem alarmismos, Portugal tem de estar vigilante. O relatório de segurança interna falava já dos jihadistas. E pode haver uma dezena com nacionalidade portuguesa. Como tem reafirmado Fernando Reinares, um especialista espanhol, pelo seu passado islâmico os dois países ibéricos têm uma «vulnerabilidade diferencial» em relação a outros europeus.





domingo, 10 de agosto de 2014


A.J. Jardim, leviandades,

ou como não se deve fazer política em Portugal


João J. Brandão Ferreira Oficial Piloto Aviador



«Passámos a grande ilha da Madeira
Que do muito arvoredo assim se chama,
Das que nós povoámos a primeira,
Mais célebre por nome que por fama».


Camões, Canto V, 5.


O Dr. Alberto João Jardim (AJJ), usando da palavra na habitual «festa/comício» do Chão da Lagoa, no passado dia 30 de Julho, pariu uma catilinária contra o que ele definiu, sem explicar, de «Estado Português Unitário» e usou, mais uma vez, de demagogia barata sobre os «poderes» de Lisboa.[1]

Não demos conta que algum órgão do Estado ou força política lhe tenha respondido ou actuado e nenhum comentador, comentou…

Fazem-no, possivelmente, na esperança (vã) que ele se cale ou fique a falar sozinho. Outros porque julgarão que ele é tolo e não vale a pena gastar sebo com tão ruim defunto.

Fazem mal.

As razões são simples: há coisas por demais importantes que não devem ser deixadas passar em claro. É o caso, e AJJ também não é propriamente o 4.º secretário de uma agremiação de bairro.

Por outro lado AJJ está longe de ser tolo. Estamos até em crer, que mesmo debaixo da influência de umas quantas «ponchas», ele sabe perfeitamente o que diz e pensa o que diz.

A verdadeira razão porque não o criticam, porém, não é essa – note-se que a chamada «esquerda» está sempre na 1.ª fila do ataque a Jardim e sobre este âmbito aos costumes nada diz. A coisa é mais profunda e tem origem na herança «vinte cinco abrileira» e na agonia apóstata da «descolonização».

Até agora nenhum «filho d’algo» se demarcou publicamente do discurso oficial, nem tentou emendar o que mentirosamente vem escrito nos livros «oficiais», sobre os quais o Ministério da Educação (que nem instrução ministra…), obriga os nossos filhos e netos a fazer exame – só para referência claro!

De facto quando oficialmente está instituído que os povos das «colónias»[2]  tinham direito à autodeterminação (que nunca foi realizada) e à independência (que até hoje não lograram) – mesmo que soprada de fora – e a maioria dos portugueses que queriam manter a secular Nação incólume, não tinha o direito sequer a lutar por isso, está tudo dito!

Pior, quando alguns daqueles da «geração mais bem preparada» (deixa-me rir), que nos passaram a governar, ignoram por completo, ou fazem por ignorar, e confundem autodeterminação com substituição de soberanias e neocolonialismo, e não sabem destrinçar o termo «colonização» de «colonialismo», o que se pode esperar?

Como se podem opor a que um vicioso qualquer possa vir bolsar as baboseiras «jardínicas» quando a Madeira está na mesmíssima posição que S. Tomé e Príncipe antes da independência apenas com a diferença – para o caso irrelevante – de que a pigmentação da pele da maioria dos São Tomenses é substancialmente mais escura do que a dos conterrâneos do agora faltoso conselheiro de Estado (será que nem ao menos aí o criticam?).

Sim, sim, AJJ é conselheiro de Estado, mas acha que não tem direito a nada nem lhe ligamos nenhuma…

AJJ queixa-se da Constituição? Também eu e muitos mais. De facto a CR está errada e mal escrita, em muitos aspectos, mas naquilo de que agora se queixa o político há mais tempo em exercício, está até escorreita!



Bom, mas o coitado não quer pertencer a um estado unitário, quererá pertencer a quê, então?

A um estado «partido»? Um estado «fragmentado»? Um estado «assim-assim», ou apenas a um estado patético que é o estado da figura triste, apesar de florida, a que AJJ aparenta ter chegado?

Vejamos, o Estado é a Nação politicamente organizada; e unitário refere-se à unidade política de um país. Ora é evidente que AJJ ao dizer que não quer pertencer a um estado unitário está a dizer que não quer pertencer à mesma Nação.

Ou será que AJJ como presidente de um órgão que não serve em rigor para nada – a não ser para arranjar clientelas e esbanjar dinheiros públicos – quer simplesmente fazer o que lhe der na realíssima gana e não ter responsabilidades ou ser criticado; e que as consequências negativas do que faz sejam pagas pelos outros, leia-se Açorianos e Continentais?

Não lhe chega uma boa descentralização?

E o arquipélago da Madeira também quer ser unitário? Os de Porto Santo querem aturar o «colonialismo» dos «cubanos» da Madeira? E as Selvagens que estão quase tão longe do Funchal como Lisboa, também não terão direito a uma delegação da Assembleia Regional?

O que é que AJJ quererá fazer que o governo «unitário» não deixa? Quer que a gente lhe compre a banana a cinco euros e lhe revenda o gasóleo a 20 cêntimos?

Quer impedir a GNR de actuar na sua terra, por razões que só podemos imaginar?

Ou quer que seja o governo regional a mandar no central?

Diga-me Dr. AJJ, o que é que o faz pensar que tem mais direitos do que os habitantes do Minho?

Veja se atina!

Estamos cheios de aturar desconchavos políticos e também de iluminados muito democráticos que defendem que todas as opiniões são respeitáveis.

É mentira, muitas não o são – defender a pedofilia, por ex., não é respeitável (embora não esteja longe de vir a ser legal…) – e algumas merecem, quando não exigem, umas bengaladas!

AJJ já devia, há muito tempo, ter sido objecto de um processo, ao abrigo do artigo 308 do Código Penal. Mas parece que a PGR não está para aí virada.

Tão pouco os restantes órgãos do Estado com maiores responsabilidades.

O PR assiste a tudo assobiando para o lado – parece até ter medo do personagem; os governos, cheios de telhados de vidro e conivências de ofício partidário, evitam pisar-lhe os calos; os políticos de um modo geral são farinha do mesmo saco e da manjedoura comum; os chefes militares há muito que não existem e já nem as tropas os conhecem; os diplomatas andam escondidos no receio da própria sombra, alegando discrição; a Universidade virou negócio e campo de lutas ideológicas e de influência, onde a maioria dos alunos anda ao «Deus dará» tirocinando em muito álcool, sexo e rock e pouco estudo pelo meio (fora o que designam por «praxes»), etc..

Os comentadores esfregam as mãos, pois são casos destes que lhes mantêm o filão inesgotável e as notícias são sempre bem-vindas, pois ajudam ao negócio da venda de papel, som e imagem dos «média».

Assim vamos vivendo.

Parece restar apenas ser um cidadão ou grupo de cidadãos, a fazer queixa das atitudes antipatrióticas e seccionistas de AJJ.

A cena carnavalesca, também ocorrida no Funchal, com os encapuzados a imitarem a «ETA», é bem o retrato de como a vida política e social se degenerou no nosso país.

O João G. Zarco, o Tristão V. Teixeira e o Bartolomeu Perestrelo, descobridores e povoadores do arquipélago, que Camões cantou, bem mereciam melhores descendentes.

Dr. AJJ não vou ser tão radical como o seu colega de Partido (lá está outra coisa que não é unitária…) – e que rico Partido, sim senhor – que por um acaso do destino ocupa temporariamente o cargo de PM, e sugerir-lhe que emigre.

Limito-me apenas a mandá-lo cavar semelhas para o Pico do Areeiro. Sempre lhe refrescava as ideias.



[1] Presume-se que se estivesse a querer referir ao artigo 6.º da Constituição.

[2] Que, por acaso, só se chamaram colónias entre 1920 a 1926 e entre 1930 a 1951, por modismo da época, tendo sido ao longo dos séculos conhecidos também, como «Praças», «Fortalezas», «Estabelecimentos», «Feitorias», «Presídios», «Capitanias», «Domínios», «Conquistas», «Províncias», «Estados» e até, «Reinos»…