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quarta-feira, 16 de setembro de 2015


Espiando Amigos:

Estados Unidos e Israel


Machla Abramovitz, Mishpacha 5 de Agosto de 2015

http://pt.danielpipes.org/16105/estados-unidos-israel-espionando

Original em inglês: Spying on Friends: The U.S. and Israel

Veio a público em 2013, exposto pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden, até que ponto os Estados Unidos espionam países amigos, inclusive Israel. Há praticamente quatro anos, num documento ultra-secreto, o Tribunal de Vigilância de Inteligência Estrangeira deu autorização à Agência de Segurança Nacional (NSA em inglês) o direito de monitorar mais de 190 governos e entidades estrangeiras. Assim sendo enquanto Jonathan Pollard foi sentenciado a prisão perpétua por passar informações sigilosas a um aliado (Israel), o que indicam as revelações da NSA sobre a espionagem dos Estados Unidos em relação a Israel?

O especialista em política Daniel Pipes vem pesquisando exaustivamente o ponto fraco do relacionamento secreto entre os EUA e Israel. Do quarto do hotel onde estava hospedado em Estocolmo na Suécia, ele explicou a natureza complexa desse relacionamento, bem como as actividades de Pollard e a subsequente condenação em todo esse contexto. – M.A.

Pergunta: Dadas as revelações da NSA, as acções de Pollard não faziam parte do jogo entre amigos? Porque a condenação, sem precedentes, a prisão perpétua por espionar para um país amigo, cujo governo, até agora, se recusa a reduzir a pena?

Resposta: Deixe-me começar dizendo que Pollard cometeu um crime e que deve ser punido por isso, mas de forma proporcional. O que Pollard fez não foi nada de mais se comparado a espiões condenados como John Anthony Walker, que durante décadas entregou informações altamente confidenciais sobre submarinos aos soviéticos.

A dura reacção do tribunal pode ser atribuída em parte ao Secretário da Defesa Caspar Weinberger, que fez com que os advogados americanos voltassem atrás num acordo fechado após uma negociação com Pollard. Weinberger, no entanto, não estava sozinho na exigência e insistência na manutenção dessa pena fora do comum.

De acordo com o ex-director de política do American Israel Public Affairs Committee (AIPAC) Steven Rosen, há um entendimento vindo da contra-inteligência do FBI que Israel se infiltrou na inteligência dos EUA e que essa rede de espiões tinha que ser totalmente desmantelada. Pollard era visto com a parte visível dessa rede. Essa teoria pode explicar porque todos os agentes da inteligência americana continuaram a insistir para que Pollard não fosse solto, mesmo quando Weinberger não desfrutava mais de poder.

Pergunta: Em 29 de Agosto de 2013, Edward Snowden entregou um documento ao jornal Washington Post expondo o custo aos EUA da sua gigantesca rede de espionagem. Nela, Israel juntamente com a China, Rússia, Irão e Cuba são alvos prioritários. Isso enfatiza ainda mais a hipocrisia americana em relação a Pollard?

Resposta: A história de espionagem mútua entre EUA e Israel vem de longa data,  ainda antes da criação do Estado. Em meados de 1980, houve um caso inverso ao de Pollard. O agente de inteligência Major Yosef Amit, que mantinha estreitas relações com o Shin Bet, foi recrutado pelo agente da CIA Tom Waltz, que subsequentemente lhe forneceu informações sigilosas sobre posicionamento de tropas e directrizes em relação aos territórios e ao Libano. Em 2004, a marinha israelense interceptou um submarino espião americano e perseguiu-o para fora das suas águas territoriais.

Condoleezza Rice tinha um papel de liderança
na espionagem americana sobre Israel.
Uma das evidências mais danosas da espionagem americana sobre Israel foi encontrada num memorando de 2008, revelado pela WikiLeaks, no qual a Secretária de Estado Condoleezza Rice aprova a obtenção de informações militares e políticas altamente confidenciais relacionadas à segurança de Israel. As revelações de Snowden, contudo, permanecem como sendo as mais abrangentes e específicas. Os documentos da NSA, que ele disponibilizou, revelam a estreita colaboração entre a NSA e a Israel SIGINT National Unit (ISNA), na qual a NSA entrega aos seus pares israelenses dados originais, não filtrados, para serem analisados. Mas expõem, paralelamente, o rastreamento da agência de «alvos militares israelenses de alta prioridade» como drones e o sistema de mísseis Black Sparrow e o facto de uma estimativa do Serviço Nacional de Informações ter classificado os serviços de inteligência de Israel como o terceiro mais agressivo contra os EUA.

O primeiro-ministro Netanyahu também está a ser pessoalmente visado. Sabendo disso, age, intencionalmente, de forma misteriosa. Não tem telefone privado, não envia e-mails e não tem computador no seu gabinete. As suas conversas mais confidenciais acontecem nos escritórios da Mossad e mesmo assim gosta de fazer uso de gestos com as mãos, dar ordens por escrito e falar em código. Nem sequer esclarece o significado do código, consternando as autoridades israelenses.

Pergunta: Com o passar dos anos, o caso Pollard continuou a ser motivo de constante atrito no relacionamento entre israelenses e americanos. Será que a saída da prisão de Pollard irá aliviar as tensões entre os dois países?

Resposta: Não fará diferença nenhuma. Se a saída da prisão tivesse vindo noutra altura, quando os desafios eram menores, poderia ter sido usada pela administração Obama, de alguma maneira, para mudar opiniões. Mas dada a enormidade do acordo com o Irão e a banalidade disso, não vejo como alguém aprovaria o acordo com o Irão com base nesse gesto.


Tradução: Joseph Skilnik





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