BLOGUE DA ALA DOS ANTIGOS COMBATENTES DA MILÍCIA DE SÃO MIGUEL

domingo, 17 de abril de 2016


Em defesa do Colégio Militar


Francisco Rodrigues dos Santos, 14 de Abril de 2016

O relativismo moral deste tempo abriu uma fenda que destacou, em dois campos opostos, os que sentem apego e confessam os valores absolutos, adquiridos consuetudinariamente pela axiologia civilizacional e que foram transpostos para a organização da sociedade; contra os vendilhões das novas ordens, que proclamam o progressismo serôdio e a modificação das normas, ao passo que apresentam a modernidade como arte de destruição das molduras éticas conhecidas.

À velocidade sôfrega a que se procura impor a força da mudança, sem que dela possamos duvidar ou desconfiar, sob pena de nos tomarem por imobilistas datados ou retrógrados inveterados, vão sucumbindo gélidas as tradições e institutos comunitários, corrompem-se as convenções clássicas e embarga-se a essência das coisas.

O vanguardismo liberal, moldado em peça quadrada, insiste em encaixar-se violentamente num buraco redondo. A peça não joga com o molde, mas algum há-de ceder aos estragos provocados pelo confronto. Assim prossegue a ideia do novo tempo, enxaugada numa lógica de utopia revolucionária, erigida sobre esgotamento das causas comuns, na ultrapassagem (pela esquerda) da fidelidade às convicções, na abolição da constância no modo de vida, e na caducidade da moderação, que tempera o gradualismo no sentido da evolução para que se evitem rupturas.

Percebemos que o espírito que preside a esta era é o da transformação abrupta e radical – e não o da valorização do consolidado e a sua merecida protecção – o que se torna evidente através da barbárie perpetrada contra quem não esteja em harmonia com esse desiderato. É urgente decretar um igualitarismo estéril entre tudo e todos, num golpe uniformizador que planifica as escolhas. O exercício de governo é a ditadura das minorias, num refluxo do politicamente correcto, não sendo admitidas excepções ao guião.

O princípio é o de que a realidade natural é dinâmica e maleável, por isso impõe-se que seja trabalhada indiscriminadamente pelas mãos de um único artesão; ao contrário, o seu produto é majestático e irredutível. Resulta claro o paradoxo do pós-conservadorismo ultra conservador. De facto, os liberais de hoje serão os conservadores de amanhã.

O ódio de estimação ao Colégio Militar (CM) voltou a destilar-se às golfadas. Mais do mesmo, porque ainda falta matá-lo.

A má convivência de alguns quadrantes políticos com o CM é um problema crónico, não é circunstancial. É uma contenda ideológica profunda, porque ele representa uma expressão da liberdade (de aprender e de ensinar), cuja pedagogia é invulgar e distinta na oferta estatal. É uma querela doutrinária, que encontra guarida numa corrente anti-militarista disfarçada, que tem como eixo estratégico a abolição por inutilidade das forças armadas e dos seus estabelecimentos militares de ensino. É um caso de intolerância, uma vez que o contraditório não admite a pertinência da sua existência. É um vaticínio do preconceito, já que condena à excomunhão os seus alunos.

A matriz fundadora desta Casa bicentenária é vista como démodé, de um obsoletismo que enjoa e entedia os visionários do futuro. O CM é um anátema para os que queimaram o velho código de conduta e o substituíram por uma tábua rasa, qual prancha com que surfam as ondas da demagogia e do populismo.

O CM repela e indigna, porque não é como as outras escolas – e a sua riqueza reside precisamente neste facto; porque estende a sua missão e metodologias educativas para além dos muros dos conhecimentos técnico-científicos; porque é um acervo de valores perenes a que todos os dias se limpa o pó; porque cultiva o amor a Portugal; porque tem como lema Servir e como divisa Um por Todos, Todos por Um; porque a disciplina é autêntica e dignifica as hierarquias; porque ensina o institucionalismo aos estudantes, para que compreendam que não pertencem única e exclusivamente a si próprios, isto é, os seus actos têm reflexos na Casa que representam; porque a camaradagem é regra sagrada no relacionamento; porque compensa o mérito e o esforço, condenando o laxismo e o comodismo; porque premeia a assunção das responsabilidades e a firmeza com que se aceitam as suas consequências; porque repudia a violência, a delapidação e o despotismo, admoestando-as com sanções adequadas; porque personifica a liderança pelo exemplo; porque faz da modéstia e da confiança instrumentos de gestão dos êxitos e das dificuldades; porque prova que não há outro caminho que não seja o da generosidade e o da prática do bem.

É ao arrepio destes cânones que muitos se levantam e fazem ouvir a sua voz discordante, considerando-os ultrapassados, de terem caído em desuso e prescrito no antigamente, acusando a sua transmissão aos mais novos de constituir uma enormidade grosseira de tão afirmativa que é.

É esta declaração de princípios que vale a reputação do Colégio Militar e mais nenhuma outra que lhe queiram maliciosamente enxertar. É sobre ela que deve recair o julgamento da Instituição. O chumbo destes valores revela mais sobre quem os avalia negativamente do que quem os pratica.

O Colégio Militar é uma Casa de inclusão, interclassista, albergue de várias nacionalidades, raças e religiões, um espaço de partilha, em que a farda é condição de igualdade entre pares, lugar onde se pratica a solidariedade entre camaradas. Não há espaço para a discriminação de qualquer espécie ou natureza.

A homossexualidade, especialmente numa Escola em regime de internato, que forma alunos dos 10 aos 18 anos, é um fenómeno susceptível de provocar alguma confusão, embaraço e/ou constrangimento, em mentes de crianças e jovens de ambas as orientações sexuais. O CM, pela sua organização, está habilitado a responder de forma competente e eficaz, prevenindo que as relações humanas se degradem, em benefício do colectivo e salvaguardando o seu normal funcionamento.

Não queiramos situar o CM à margem da Constituição, cujos militares que o dirigem juraram defender. Olhemos sim para a galeria de honra dos homens distintos e patriotas que lá receberam a sua formação e que se distinguem nos diversos sectores da sociedade. Eles são o produto da oficina da humanidade que Portugal deverá ter a honra de manter. Da minha parte, continuarei a ostentar na lapela do casaco a barretina do Colégio Militar com incomensurável orgulho.





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